terça-feira, 1 de novembro de 2022

A família, um pilar essencial


"Acordei às 7h00 do dia da final, na Aldeia Olímpica dos Jogos Olímpicos Londres 2012. As eliminatórias não tinham corrido conforme planeado, pois não tínhamos garantido a passagem direta à final e tivemos de ir à semifinal, que foi mais difícil do que o que estávamos à espera. Mas nesse dia estava tudo planeado ao pormenor e preparado para uma excelente prova.
Recebi uma mensagem do meu pai a dizer “estamos a caminho da pista”. A minha família estava a caminho e eu pronto para lutar por uma medalha. Nós estávamos prontos para dar tudo.
Cheguei à pista, num típico dia inglês, e tudo estava a correr conforme planeado. Aquecimento feito, equipamento vestido, saiote colocado e o meu ritual de preparação para a competição efetuado. Tudo pronto.
Quando estamos a entrar para a pista, vi que faltava um pormenor, um pormenor muito importante. Recebi uma mensagem do meu pai a dizer que não estavam a conseguir entrar. E isso não podia acontecer. Falei com o pessoal do Comité Olímpico e pedi para resolverem a situação, pois precisava da minha família lá dentro. Era impensável que não estivessem lá.
Recuperei esta história na terça-feira, na sessão final do projeto Atletas Speakers, onde todos os atletas participantes tiveram de efetuar a sua apresentação final para o projeto que visa ajudar-nos a desenvolver técnicas de comunicação e apresentação.
De facto, a família desempenha um papel fulcral, muitas vezes oculto ou pouco falado no desenvolvimento da carreira do atleta. É um pilar essencial para a nossa estabilidade e bem-estar.
Esse assunto foi bem abordado no evento Power Talks, da Comissão de Atletas Olímpicos, dedicado à Saúde Mental, que se realizou na sede do COP. Ouvir um dos maiores especialistas mundiais, o professor Paul Wylleman, foi um importante momento de aprendizagem para todos os presentes. E a mesa redonda reforçou a importância e o papel que a comunidade, representada por um atleta, um treinador, uma psicóloga, um pai e uma esposa, desempenha no apoio aos atletas.
Para mim, a família estar presente naquele momento era de extrema importância. O facto de os saber nas bancadas a apoiarem-me impulsionou a minha energia e a minha autoconfiança. Aliás, tinha de ter o mítico assobio do meu pai presente nesta suprema prova.
Estava muito agitado com o facto de eles não estarem nas bancadas.
Até que recebi a informação que precisava:
“Emanuel, a tua família já está toda cá dentro.”
Respirei fundo e voltei a focar-me na prova. Estávamos prontos, mais do que nunca, para lutar pela tão desejada medalha. Durante o silêncio característico do momento antes da competição, só tinha os olhos na medalha. 3, 2, 1. Soa a buzina, cai o sistema de largada. Cá vamos nós… e o resto já sabem."

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