terça-feira, 11 de outubro de 2022

O paradoxo do futsal do SL Benfica


"O Sport Lisboa e Benfica criou uma equipa de futsal no ano de 2001, sendo que não precisou de muito tempo para se tornar no dominador da modalidade a nível nacional.
No ano de 2009, o futsal do Benfica sagrou-se tricampeão nacional e no ano seguinte atingiu o ponto mais alto da sua história, ao tornar-se na primeira equipa de futsal portuguesa a sagrar-se campeã europeia, derrotando na final a poderosa equipa do Interviu, para muitos, a melhor equipa da história da modalidade.
Mas aquele que terá sido provavelmente, o maior feito no ciclo hegemónico do futsal encarnado, foi o facto do Benfica ter conseguido assumir este domínio com uma equipa que possuía uma espinha dorsal composta por jogadores portugueses.
Na equipa que conquistou o ceptro europeu em 2010, o guarda-redes Zé Carlos e o fixo Zé Maria eram os únicos resistentes da primeira equipa de futsal do Benfica. A estes, foram-se juntando vários internacionais portugueses com o passar dos anos, tais como André Lima (que viria a transitar directamente de jogador para treinador), Arnaldo Pereira, Ricardinho, Pedro Costa, Gonçalo Alves, Bebé e Joel Queirós. A estes, juntar-se-iam estrangeiros de grande qualidade como o fixo Davi e o pivot César Paulo.
No entanto, uma dinastia que tinha tudo para durar mais alguns anos no futsal português, mas que viria a ser forçosamente terminada. Depois do título europeu, o Benfica viria a ser copiosamente derrotado pelo Sporting na final do play-off, levando a direcção do futsal encarnado a entender ser necessário renovar a equipa. Uma renovação forçada e que o tempo viria a forçar que seria precoce.
Ricardinho e Zé Maria saíram em 2010; Arnaldo e Pedro Costa saíram no ano seguinte. O Benfica desfez-se desnecessariamente de uma equipa que ainda tinha muito para dar por mais dois ou três anos e nunca soube encontrar soluções a altura das perdas, dando assim início ao domínio do rival lisboeta que ainda hoje prevalece.
A partir da época 2015/2016, a UEFA viria a impor uma nova regra na modalidade, de que em cada jogo para as competições internas, cada equipa só poderia convocar um máximo de cinco jogadores não-formados localmente. Esta regra viria a limitar o número de estrangeiros nos plantéis, estrangeiros esses que viriam a ter cada vez maior predominância nos clubes nacionais.
Hoje, 12 anos após o título europeu do Benfica, o clube encarnado é completamente dominado pelo Sporting a nível nacional, sendo que o clube leonino também já conquistou dois títulos europeus. E em parte, a diferença entre ambas as equipas pode explicar-se pela qualidade dos jogadores portugueses.
Hoje, ao contrário de há 12 anos, é o Sporting que possui a base da selecção nacional, que venceu o campeonato do mundo, o campeonato da Europa e a Taça intercontinental, graças a jogadores como João Matos, Pany Varela, Erick Mendonça, Tomás Paçó e Zicky.
Fazendo uma comparação a ambas as equipas campeãs europeias, há uma questão que não pode ser ignorada: nos dias de hoje, o futsal de formação em Portugal está muito mais desenvolvido do que estava há dez anos atrás, o que permitiu ao Sporting formar os seus próprios jogadores, elevando-os a um nível de topo em tão tenra idade.
Mas mais do que isso, a ascensão desses jovens também se deve ao trabalho feito na equipa principal. Nuno Dias é um treinador que demonstra ter a metodologia de treino e a ideia de jogo necessárias para potenciar e extrair o melhor rendimento de um jogador.
Por outro lado, no Benfica, têm sido cometidos vários erros a nível da gestão dos jogadores nacionais, nomeadamente, a decisão absurda de ter dispensado os internacionais portugueses Tiago Brito e Fábio Cecílio no Verão de 2021, dois dos portugueses que davam então mais garantias no plantel.
Para além disso, nem Joel Rocha, nem Pulpis me parecem ser treinadores com o perfil indicado e capazes de extraír o máximo potencial de um jogador. E como se não bastasse, ainda houve os azares com as jovens promessas Carlos Monteiro e Lúcio Rocha, que se encontram a recuperar de lesões graves.
Todas estas circunstâncias levam a que a equipa de futsal do Benfica tenha uma base de jogadores formados localmente que a do Sporting. E a meu a entender, a tendência é que continue a ser assim nos próximos anos e não vejo a direcção da modalidade a fazer tudo o que é necessário para reduzir esta distância."

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