sábado, 15 de outubro de 2022

Jordão em terra


"O avançado só deu conta de que a equipa tinha partido sem ele quando olhou à volta e não viu ninguém do Benfica

Ascensão à equipa de honra é um passo bastante exigente. De repente, passa-se a partilhar balneário com os nossos ídolos e a pedir a bola a quem até há pouco tempo se pedia autógrafos. O processo é vertiginoso. A popularidade aumenta de um momento para outro, tal como a exigência. Para se afirmar, é necessário adaptar-se o mais rapidamente tanto ao que se passa dentro de campo como fora. Quem resiste, prova que tem todas as condições para almejar a uma carreira como a dos seus ídolos e assim tornar-se referência para os mais novos.
Em 1972, Jordão cumpria a segunda temporada ao serviço da equipa de honra. Dentro de campo, o avançado demonstrava um à-vontade próprio de um veterano e a audácia própria de um jovem, não temia o erro e encarava os adversários sem qualquer preocupação. Apesar de plenamente integrado, o jogador ainda revelava bastante timidez fora das quatro linhas, tal como ficou evidente na deslocação dos encarnados à Suécia.
O Benfica iniciou a campanha na Taça dos Clubes Campeões Europeus frente ao Malmo. A 1.ª mão foi disputada na Suécia. O Benfica viajou dois dias antes, num percurso em que se fazia escala em Copenhaga. Tudo parecia correr normalmente, até que na chegada à Suécia se notou a falta de um jogador: Jordão. O avançado 'não ouvira a chamada dos passageiros e, quando deu por isso, já não viu ninguém do Benfica'. Como a viagem de Copenhaga até à cidade sueca de Malmo era de apenas 10 minutos, o jogador optou por aguardar que a sua ausência fosse notada.
Assim que os dirigentes benfiquistas deram conta do sucedido, entraram em contacto com os funcionários de uma avioneta, que localizaram Jordão e o levaram para a Suécia. 'E tudo acabou em bem, como nos contos em que os meninos se perdem'.
A viagem atribulada pode ter-se repercutido na exibição dos benfiquistas, que perderam por 1-0. Na 2.ª mão tudo seria diferente, com Jordão a voltar a ser figura central. O avançado inaugurou o marcador, empatando dessa forma a eliminatória. Os encarnados galvanizaram-se para uma prestação de gala e triunfaram por 4-1.
Jordão realizou uma excelente exibição, mesmo tendo sido alvo se marcação cerrada por parte dos suecos: 'assinou boas jogadas e alguns remates de categoria', um dos quais 'de fora da área, a bola embateu na trave, ressaltou para o rectângulo, e Eusébio, na recarga, fulminou as redes suecas'. A um minuto do fim, os suecos ainda reduziram, mas o passaporte do Benfica para a fase seguinte já estava garantido.
Saiba mais sobre este fantástico jogador na área 22 - De Águia ao Peito do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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