sexta-feira, 7 de outubro de 2022

É só uma mensagem, dizem


"“Anda tudo à procura de indemnizações.”, “Davam conversa para serem titulares na equipa.”, “Quem cala, consente.”, “Não sei onde existe assédio.”. Quando as mensagens de Miguel Afonso saíram a público, estas foram algumas das reações que surgiram nos mais diversos lugares. Entre tristeza e revolta, não sei qual dos dois sentimentos levou a melhor.
Quando nos ensinam a diferença entre o certo e o errado, o significado que damos a cada uma das conceções é automaticamente condicionada pela educação e vivências de cada um. No entanto, aquilo que por vezes não ensinam – ou que alguém não quer reter – é que há tópicos que nem merecem essa discussão.
Perante uma situação que não devia ter duas faces, foram precisas escassas horas para darmos conta da saída das cavernas dos australopitecos das redes e dos “saberes”, habituados a que lhes seja passada a mão no pêlo quando têm atitudes similares e que são vangloriados por quem compactua com um sistema corrompido pelo complexo de superioridade e pelo abuso de poder. Nada que me surpreenda, tal como não surpreendeu as demais internacionais portuguesas questionadas acerca do tema. Afinal de contas, e tal como também li na praça pública, “a mulher não devia estar no meio do futebol”, subjugando-se a quem se coloca no topo da hierarquia social por decisão própria.
Aquilo que as jogadoras envolvidas no caso fizeram foi um ato de coragem. No meio do desconforto que ficou bem patente nas conversas com o pseudo-treinador, ainda tentaram manter uma relação estritamente profissional através de respostas cordiais. Mesmo assim, não foi suficiente e decidiram usar a voz para dar voz. Que se julguem os Migueis Afonsos e os Samueis Costas e quem envia este tipo de mensagem; que se julgue quem é informado sobre comportamentos indevidos e decide assobiar para o lado; que se julgue quem não tem capacidade para agir conforme valores e práticas que deviam coadunar com o tempo em que vivemos, seja no desporto ou em qualquer área. Não aprendemos nada.
Nunca aprendemos nada. E numa altura em que fomos assolados por uma pandemia que poderia servir para uma maior humanidade, torna-se cada vez mais notório que a maior pandemia que existe está relacionada com a falta de caráter e de respeito pelo outro.
Não, não foi só uma mensagem. E custa-me ver que há quem não tenha – ou não queira ter – capacidade para o perceber."

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