segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Ao 14.º jogo, um duelo sem balizas travou o Benfica


"Pela primeira vez na temporada, a equipa de Roger Schmidt não venceu um encontro, empatando (0-0) em Guimarães. O Vitória, muito apoiado pelo seu público, foi competitivo e agressivo e teve um Bamba imperial na defesa, num embate sem verdadeiras ocasiões de golo e em que cada conjunto só fez um remate à baliza adversária

Os minutos que antecederam o Vitória - Benfica trouxeram um espectáculo de festa vimaranense que dava a sensação de jogo grande. No D.Afonso Henriques abraça-se com tanta força a equipa da casa que esta às vezes sufoca, mas quando público e jogadores se unem há poucos estádios que produzam a mesma sensação de fortaleza em Portugal. Aqueles minutos, intensos e apaixonados, deram o mote para a exibição da equipa de Moreno.
Durante todo o jogo, o Vitória fez do relvado um campo minado para o Benfica, cheio de duelos desconfortáveis, fricção turbulenta, armadilhas e truques. Com as setinhas da agressividade nos limites, os locais cedo mostraram que não iriam oferecer nada ao adversário.
Do outro lado estava uma equipa embalada por 13 triunfos em 13 partidas em 2022/23, mas que, seja pela valia do rival ou por um dia menos inspirado, nunca conseguiu contrariar as bases em que o Vitória fez assentar a contenda. O plano de jogo de uns casou-se com a incapacidade de o alterar de outros para nos dar uma partida que, basicamente, não teve balizas.
O 0-0 que ditou que o Benfica perdesse, pela primeira vez, pontos na I Liga foi a crónica de um jogo sem claras oportunidades de golo, no qual cada lado só fez um remate à baliza rival. Deu a sensação de que, nas bases em que o desafio estavam, seria impossível que o encontro saísse do cenário em que estava, sempre com a bola a viajar sem muita clareza, sem obrigar Bruno Varela ou Vlachodimos a defesas.
Começando com três centrais, os minhotos entraram cheios de energia. O público celebrava cortes como se fossem golos, enquanto do outro lado Florentino ou Gonçalo Ramos perdiam bolas algo displicentes, para desespero de Otamendi. O agitador Nélson da Luz teve algumas arrancadas prometadoras, mas só num cabeceamento de Jota, aos 21', Vlachodimos teria de intervir. Não mais o Vitória voltaria a rematar à baliza dos visitantes.
Só aos 42', num tiro de Enzo Fernández que foi mais um alívio após um canto, o Benfica alvejou pela primeira vez as redes de Varela. Pouco antes disso, um passe longo de António Silva — que se começa a evidenciar como especialistas destes lançamentos a muitos metros de distância — encontrou a corrida de Rafa, perante uma saída algo a destempo do guardião local. Em sintonia com o desacerto ofensivo da partida, o atacante do Benfica não conseguiu rematar e a situação perdeu-se.
Com uma linha defensiva bem coordenada, o Vitória condicionava o jogo interior do Benfica. Só uma vez conseguiu Rafa receber entre-linhas, num lance em que Florentino não foi devidamente pressionado e que se viria a perder após cruzamento sem precisão de João Mário. Enzo foi bloqueado na saída de bola e Neres passou ao lado do jogo.
Na segunda parte, o Benfica entrou dando alguns passos à frente. Grimaldo, de livre lateral, fez o único remate dos encarnados à baliza rival, tendo o espanhol também executado um par de cruzamentos que poderiam ter levado perigo. Mas foi escasso esse momento de domínio dos líderes da I Liga, já que pouco depois o Vitória voltaria a dar passos à frente.
Schmidt olhou para o banco e lançou Aursnes, Musa e Draxler, mas o cenário de desinpiração manteve-se. O Vitória pediu dois penáltis, um num lance entre Florentino e André André e outro numa ação com Safira e Vlachodimos. Na segunda ação, Rui Costa chegou a assinalar falta, mas, depois de consultado o VAR, reverteu a decisão.
Com o aproximar do final da partida, o Benfica tentou ter mais a iniciativa, mas as intenções não se concretizaram na criação de perigo. Um dos principais responsáveis por isso foi Bamba, o central do meio do trio do Vitória. Uma e outra vez, o jovem que já entrou no radar da seleção italiana cortava os lances, fosse dando o corpo a um remate de Enzo, chegando primeiro a uma rotura de Rafa ou evitando uma arrancada de Draxler. E ainda teve tempo de ir à ponta esquerda do campo fazer uma finta à Cruyff. O melhor em campo.
Sem recursos para dar a volta ao texto, Roger Schmidt lançou, já nos descontos, o central Brooks para a frente de ataque. O recurso do gigante central como referência ofensiva, para ser o alvo dos lançamentos longos, disse muito da falta de soluções do Benfica. Brooks ainda amorteceu uma bola para um remate por cima de Draxler, mas de resto foi peixe fora de água, cometendo faltas e dando a sensação de elefante numa loja de porcelanas.
Com Guimarães a rugir, num intenso abraço com a sua equipa, o Vitória jogou de forma condizente com a paixão do seu público. No arranque de seis semanas que trarão futebol sem parar até colocarmos todos os olhos no Catar, o Benfica não teve energia para contrariar a alma vimaranense. Segue-se a visita do universo galáctico de Neymar, Messi e Mbappé ao Estádio da Luz, na quarta-feira."

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