"A Premier League está com uma qualidade que não admite comparação. Os jogos apresentam um andamento incrível e os talentos multiplicam-se graças a uma capacidade de investimento que também não autoriza cotejo. E nada pode ser dado como adquirido, quando setembro mal começou. Aos primeiros sinais, equipas de gastos milionárias como West Ham, Aston Villa e Nottingham Forest esbracejam no fundo da tabela, enquanto exibem eficácia projetos realistas mas coerentes (e bastante distintos na proposta tática, já agora), como os de Brighton ou Brentford. Os maiores perdem pontos, todos eles, e o Liverpool experimenta mesmo dificuldades semelhantes às de há dois anos. Já o Manchester United, como aqui previ há um mês, reergue-se debaixo da competência de Ten Hag, com o genial Antony a reforçar argumentos e Cristiano Ronaldo a fazer o caminho das pedras em resultado das más decisões que tomou no defeso. Mas começa a não haver dúvidas de que volta a haver uma equipa a sério em Old Trafford. E Arteta criou um Arsenal encantador como há muito não se via, mais o Tottenham com a competitividade costumeira nas equipas de Conte e ainda um Chelsea que, passada a turbulência do pós-Abramovich, se há de reencontrar pela mão competente de Tuchel. Acima de todos estará ainda o City, mais ainda quando tem em atividade permanente o furacão Haaland. Na aparência seria um corpo estranho, numa ideia de jogo feita de associações consecutivas. Acontece que nenhuma equipa como a de Guardiola está treinada para esperar pacientemente pelo momento de atacar o espaço certo e desferir o golpe certeiro. Passou simplesmente a ter em campo a arma mais letal para o fazer com sucesso. Os números não mentem.
Em Espanha, também o Barcelona mostra que a coerência é um trunfo. Xavi Hernández comprova que sabia o que queria, mesmo sendo mais fácil fazê-lo com muito dinheiro, como foi o caso. Revolucionou o plantel seguindo o método tradicional de livro de cheques numa das mãos e uma vassoura na outra, mas de caminho estabilizou um onze que se alimenta do talento imberbe de Gavi e Pedri e se orienta pelo farol raro que é Lewandowki. Aos 34 anos, o polaco está na plenitude do conhecimento sobre o jogo, tendo na cabeça todas as soluções com que ocupa os espaços para encerrar as jogadas. Vai ser emocionante seguir o duelo dos velhos sábios, que Benzema não faz por menos em Madrid, finaliza e arrasta, descobre espaço e serve. Em particular serve o jogo agora profícuo de Vinícius, já intrometido entre os melhores do mundo. Quanto ao Atlético mantém-se no lado sombrio do jogo e continua a ser frustrante ver João Félix tantos minutos longe da zona onde faz a diferença e em correrias inúteis para provar que é hoje um jogador mais “completo”. Não sei se ele próprio terá hoje noção do tempo que anda a perder em Madrid.
Em França, o PSG é, finalmente, qualquer coisa diferente para melhor do que a reedição futebolística dos Globetrotters. O discreto Galtier estabilizou a equipa com uma estrutura de três defesas e sobretudo percebeu o que era decisivo para garantir assistência de qualidade ao seu ataque de sonho. Deixou a ideia de médios guarda-costas (Paredes, Gueye, Danilo) e optou por um suplemento de qualidade no serviço, com recurso à dupla vitamina V, Verrati e Vitinha. Deles saem mais vezes os passes que os da frente reclamam. E resto é com eles, os membros do trio mais fabuloso que o futebol já viu numa mesma equipa de clube: o génio influenciador, o malabarista de sonho e o foguete que concretiza. Dificilmente veremos outros assim, ainda para mais ao mesmo tempo."
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