"A Crónica: Neres Matou, Gonçalo Esfolou
Na altura do ano em que os jogos a valer começam, o sol ainda tem as cores de agosto e faz-se dia até tarde. Uma luz diferente a que ilumina as cadeiras dos estádios, onde se sentam os que vêm com fome de bola devido à dieta imposta pelo interregno entre temporadas. O que também não mudou de uma época para a outra foi o cheiro das bifanas nas roulottes, os cachecóis a cinco euros e o metro a abarrotar em dia de jogo, tudo em procissão para ver o SL Benfica.
Já a versão 2022/23 trouxe novidades ao Estádio da Luz. Os mais ávidos de conhecimento acabaram de pedir uma certidão de óbito para a curiosidade, pois a primeira mão da 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões frente ao FC Midtjylland expôs, de maneira oficial, os métodos com que as águias querem voar.
O novo treinador do SL Benfica, Roger Schimdt, foi revelando ao longo da pré-temporada o baralho que tinha. A pressão alta e a verticalidade eram cartas na manga prontas a serem lançadas. Só que a melhor estratégia é aquela que o inimigo só descobre quando está a sofrer com os efeitos.
Os encarnados esperaram até ao quarto de hora para começarem a mostrar os trunfos que tinham. David Neres foi sendo a carta mais valiosa contra um FC Midtjylland que esperava coroar o empenho defensivo com uma transição bem-sucedida. O brasileiro arrasou as tentativas de oposição que se interpunham entre si e a baliza e foi assim que deu a Gonçalo Ramos dois golos.
Gonçalo Ramos teve oportunidade de chegar ao hat-trick, mas seria Enzo Fernández a dar ao SL Benfica o 3-0. João Mário bateu um canto à boa maneira do futsal e o argentino correspondeu.
Sucediam-se oportunidades que os ferros da baliza ou o guarda-redes Ólafsson se encarregavam de impedir que vingassem. O terceiro golo chegou para Gonçalo Ramos satisfazer um desejo que até os colegas pareciam querer que se cumprisse.
O FC Midtjylland conseguiu ainda mostrar que a muralha defensiva das águias não é de betão. Morato fez falta dentro de área sobre Paulinho e Sisto fez de panenka o 4-1.
A passagem do tempo fizera esquecer como era ver as águias jogarem em modo rolo compressor. Roger Schmidt trouxe a energia que há muito não se via no SL Benfica. A estreia deixa vontade de ver os próximos episódios. A ida à Dinamarca, em condições normais, não vai alterar o vencedor da eliminatória.
A Figura
David Neres – Tal como Enzo Fernández, funcionou como um verdadeiro reforço, tal a qualidade que acrescentou ao jogo do SL Benfica. A proficiência esteve presente em grande parte dos lances que desenvolveu, deixando os adeptos a torcer para que as fintas que arriscava tivessem sucesso, como se de uma oportunidade de golo se tratasse. Golias não teve força para conter este David. O Gonçalo Ramos e o seu hat-trick que me perdoem esta nomeação.
O Fora de Jogo
Anders Dreyer – Era justo esperar mais do melhor jogador do FC Midtjylland. Acabou por ser a cara da desinspiração ofensiva dos dinamarqueses.
Análise Tática – SL Benfica
O SL Benfica não trouxe novidades em relação ao que se viu na pré-época. Roger Schmidt lançou o onze esperado com os reforços Enzo Fernández e David Neres. Gilberto continuou a ser a aposta para lateral-direito, Florentino para médio-defensivo e João Mário para falso extremo-esquerdo.
Destaque para as constantes permutas entre João Mário, vindo da esquerda, com Rafa. Também Neres se tentou envolver no corredor central para que o SL Benfica tivesse opções de jogo interior. De salientar que, na dinâmica ofensiva do treinador alemão, Gonçalo Ramos atuou muito mais no espaço dos adversários contrários.
A pressão alta manteve-se como tónica de uma equipa muito mais pronta para atacar do que para defender. Quando a bola entrava nos laterais contrários, as águias tentavam condicionar o jogo dos dinamarqueses com um avançado, um extremo, um lateral e com a aproximação do central.
11 Inicial e Pontuações
Odysseas Vlachodimos (6)
Gilberto (6)
Nicolás Otamendi (6)
Morato (6)
Álex Grimaldo (6)
Florentino (6)
Enzo Fernández (7)
David Neres (8)
João Mário (6)
Rafa Silva (6)
Gonçalo Ramos (8)
Subs Utilizados
Roman Yaremchuk (-)
Henrique Araújo (-)
Chiquinho (-)
Análise Tática – FC Midtylland
O FC Midtjylland não alterou o 3-4-3 que tem apresentado nos jogos oficiais que já disputou. No entanto, apresentou uma nuance na frente. Sory Kaba foi o jogador que atuou mais ao centro do ataque. O avançado demonstra mais características de homem de área, contrariando a matriz que a equipa dinamarquesa mostrou anteriormente ao apostar num jogador mais móvel na frente.
Ainda no que toca ao ataque, Pione Sisto e Anders Dreyer, os extremos, atacaram a profundidade com intencionalidade, promovendo que Sory Kaba jogasse em apoio com os colegas. A dupla de médios, constituída por Rigon e Sorensen, não demonstrou particular capacidade de desdobramento ofensivo, permanecendo focada no equilíbrio da equipa.
As transições ofensivas que tentaram explorar não funcionaram como pretendido. Um pouco mais de qualidade de definição na frente e o resultado da estratégia podia ter sido outro.
Do ponto de vista defensivo, os orientados de Henrik Jensen atuaram muito em função do posicionamento da bola. Sempre que o esférico chegava aos corredores, os laterais Joel Anderson e Nikolas Dyhr não hesitaram em saltar na pressão, nem que para isso tivessem que deixar espaço nas costas.
11 Inicial e Pontuações
Elías Ólafsson (5)
Joel Andersson (5)
Henrik Dalsgaard (4)
Erik Sviatchenko (4)
Juninho (4)
Nikolas Dyhr (3)
Charles Rigon (4)
Oliver Sorensen (4)
Anders Dreyer (4)
Pione Sisto (6)
Sory Kaba (5)
Subs Utilizados
Edward Chilufya (3)
Paulinho (4)
Gustav Isaksen (3)
Mads Thychosen (3)
Chris Kouakou (3)
BnR na Conferência de Imprensa
FC Midtylland
BnR: O Benfica marcou três golos na sequência de cruzamentos. Gostava de ter visto mais agressividade por parte dos seus jogadores hoje?
Henrik Jensen: Podemos sempre dizer isso, mas jogámos contra uma grande equipa, que tem grandes jogadores. Cometemos alguns erros e o SL Benfica mostrou o quão bom é a aproveitá-los. Demos alguns espaços, é verdade. O Benfica atacou muito bem e mostrou toda a sua classe.
SL Benfica
BnR: O FC Midtjylland é uma equipa que normalmente deixa muito espaço entre centrais e laterais. Essa era uma zona que queria explorar no jogo de hoje? O FC Midtjylland deu-lhe os espaços que tinha pensado explorar na preparação do jogo?
Roger Schmidt: Eles usaram três centrais, todos muito fortes e físicos. A qualidade e criatividade dos nossos jogadores ajudou-nos a encontrar os espaços. Acabámos por encontrar situações de um para um dentro da área. Chegámos com muita gente à área para finalizar, que é uma coisa que treinamos muito. O facto de termos criados grandes oportunidades mostra que fomos capazes de encontrar soluções."
Finalmente encontrámos o sucessor de José Águas.
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