terça-feira, 9 de agosto de 2022

Bancadolândia


"Da memória curta à prolongada e enérgica continência
O tempo é inexorável. Por mais que identifiquemos uma eterna, inquebrantável e jovial figura naqueles momentos em que, forçando o melhor ângulo, massajámos o nosso ego e afagamos a nossa autoestima diante do espelho, a vida, os seus ciclos e a irreprimível erosão encarregam-se de nos mostrar, e/ou de nos fazer sentir, a finitude. Na verdade, não somos como os diamantes, mas, de facto, há uns entre nós, mortais, que brilham de forma diferenciada e tocam o céu. Pizzi, que há poucos dias despiu a camisola 21 do Gloriosa e encerrou uma ligação contratual de oito anos ao Sport Lisboa e Benfica, é um dos ímpares dos melhores da classe. Para lá dos 360 jogos, dos 94 golos e da (quase) centena de assistências de águia ao peito, números marcantes aos quais, todavia, a memória mais recente não terá prestado a devida valorização, prevalecem gravadas na incomensurável pedra do futebol a criatividade de um médio muito especial, a magia, o rasgo, o repentismo e os golos bonitos, de levantar bancadas, nos melhores e mais festivos períodos do Benfica na última década. Uma veemente continência a Pizzi é também uma forma eloquente e digna de dizer 'obrigado' a quem, por mérito próprio, tem o nome embutido em invejáveis páginas da história do futebol do Clube.

Os bolorentos e a 'bofetada' de Wembley
Para os que têm os pés no tempo da nossa existência, mas cujas mentes persistem amarradas aos preconceitos e às desigualdades arquitetadas em séculos idos, a final do Europeu feminino de futebol, que no domingo, 31 de Julho, juntou 87192 espectadores em Wembley e assim produziu um recorde absoluto de assistências em Campeonatos da Europa nos dois géneros, foi um hino à modalidade e ao melhor que o desporto enquanto promotor de entretenimento e forrador de bancadas tem para oferecer aos seus mais fiéis e incondicionais apreciadores. O espetáculo proporcionado pelas selecções de Inglaterra e da Alemanha, a qualidade de arbitragem, o maravilhoso primeiro golo do encontro e o fantástico, descomplexado e tão natural festejo do (resolutivo) 2-1 a favor da equipa nacional inglesa, já na segunda parte do prolongamento, valeram a tarde e golearam os bafientos."

João Sanches, in O Benfica

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