quarta-feira, 6 de julho de 2022

O Capitão — Henrique Vieira


"O que é a Mística do Sport Lisboa e Benfica? O Sr. Henrique Vieira.

Chegou ao Glorioso na época 81/82 com os seus 24 anos. Era um base “adaptado” 😊, que estava a despontar no mítico Atlético CP e que tinha raízes africanas, mais propriamente de Moçambique, tal como os heróis Eusébio e Mário Coluna. Em 1981, recebeu o convite do SL Benfica e juntamente com o seu amigo Rui Miranda chegaram ao antigo Estádio da Luz “A Catedral” e as suas pernas tremiam ao passar na “Rampa”. Era um menino emocionado que estava a cumprir o sonho.
Mas o início no seu clube do coração não foi nada fácil. Viviam-se tempos conturbados no Basquetebol do SL Benfica. Na primeira temporada tínhamos uma equipa mais fraca que os rivais, fruto de várias decisões erradas e falta de planeamento. Contudo, na época seguinte, foi tomada uma decisão que começou a mudar de forma positiva a modalidade no clube: a contratação do Prof. José Curado. Um “organizador, um craque na educação física”. O Sr. Henrique não o conhecia, mas José Curado e respetiva estrutura souberam dar um passo atrás para dar muitos à frente. Deixamos de ter estrangeiros, nem fomos à fase final e começamos a ter o núcleo de portugueses que viria a ser hegemónico em Portugal: Zé Luís, José Carlos Guimarães e Carlos Lisboa, entre outros. “Ganhar e Perder não era igual” – O Lema daquela equipa inigualável e ultracompetitiva.
Henrique era O Capitão dessa geração. Uma geração onde cada um sabia o seu papel dentro do conjunto. Recebia os novos jogadores, ele adorava fazer isso. Jean Jacques, José Carlos Guimarães, Pedro Miguel, entre muitos outros, falam do Capitão como alguém especial. Uma liderança a todos níveis desde tenra idade. Amava erguer as Taças, toda a gente falava com ele, era mais que um jogador. Era natural. Era um LÍDER, dentro e fora do campo! Unanimemente respeitado! “Nunca nos esquecemos de um título. Quanto mais ganhamos com esta camisola, mais queremos ganhar”.
De 1984 a 1987, o nosso SL Benfica foi Tricampeão, mas como eterno insatisfeito que era, aquele título perdido em 87-88 contra uma excelente Ovarense constituiu um enorme amargo de boca numa fabulosa carreira. Saiu José Curado e veio um homem que estava muito à frente no tempo a nível tático: Tim Shea. Com experiência em Itália e Espanha, trouxe para Portugal o scouting (filmava os jogos!) e também o 1.º fisioterapeuta para o Basquetebol, prescindindo de um adjunto. Somaram mais um Bicampeonato, Taça da Liga, Supertaça. Faltava o troféu maldito na sua carreira: a Taça de Portugal. Continuava a hegemonia da geração Dourada do Basquetebol português e na Europa começavam a dar luta a nomes consagrados da modalidade. Shea saiu, pois teve uma grande proposta da ACB, mas hoje está arrependido. Chegou então ao comando técnico o Sr. Mário Palma. Mais uma lenda da modalidade que soube manter a hegemonia daquela geração. Mesmo numa época cheia de problemas físicos, O Capitão Henrique e seus companheiros perdiam 0-2 na final com a Ovarense. Perdemos os 2 jogos na Luz. Toda a gente dava o título entregue aos vareiros. Havia festas marcadas. E o que aconteceu? A nossa equipa foi a Ovar vencer os 2 jogos seguintes, levando a decisão para a Luz. Aí, no Inferno que estava cheio a horas do início da partida, o Capitão faz um jogaço (23 pontos!) e leva a sua equipa ao Tetra e ao seu 7.º Campeonato em 8 anos de SL Benfica. Foi a sua despedida a fazer o que mais amava: ganhar e levantar troféus pelo Glorioso. E entregou a camisola ao adepto nº 1 do Benfica: o “Zé sem pescoço”. A Direção do clube quis renovar mais 2 anos com o Sr. Henrique, mas ele não aceitou. E porquê? Não queria prejudicar o seu clube. O seu Benfiquismo estava à frente de tudo. Já tinha passado o legado ao Pedro Miguel e os problemas físicos não davam para mais. Saiu com a Humildade de um Eterno Campeão! Com um Triplete. A Taça de Portugal já estava no bolso. Foram como jogador e Capitão “somente” 7 Campeonatos, 1 Taça de Portugal, 2 Taças da Liga, 3 Supertaças e várias noites épicas a nível Europeu. Lenda!
Após a extraordinária carreira como capitão e jogador, veio o natural percurso de treinador. Alguém com a sua liderança e capacidade de perceber o jogo só podia dar um excelente coach de Basquetebol. E também aí foi crescendo passo a passo, com a sua humildade e espírito de resiliência. Estoril Basket, Oliveirense e Ovarense (clubes com grande história na modalidade), mas faltava o seu Glorioso. Em 2007 chega à cadeira de sonho. E tal como em 81, o início do percurso de treinador no SL Benfica em 2007 foi complicado. O Benfica estava, há muitos anos, sem ganhar títulos e longe das decisões. Até foi parar à Proliga. Em 2008, sem ter como grande objetivo o campeonato, o Sr Henrique no comando consegue juntar uma série de jogadores portugueses de enorme qualidade como Diogo Carreira, António Tavares, Elvis Évora ou João Santos, aos quais se juntou outra grande figura e capitão do clube: Sérgio Ramos. Estes, juntamente com dois americanos - Ben Reed e Seth Doliboa - muito bem recrutados, formaram uma equipa que viria a sagrar-se Campeã Nacional com 4-0 na Final em Ovar, 14 anos depois do último título. Mais uma vez, o Sr. Henrique ajudou o nosso Benfica a regressar ao patamar mais alto do Basquetebol português. Ano seguinte e fez o Bicampeonato num percurso fabuloso com apenas 3 derrotas ao longo do ano na Liga e com um 4-1 na final contra o FC Porto, com o troféu a ser levantado na Luz. A missão do Sr. Henrique Vieira estava cumprida também como treinador! Foram 5 anos com 8 troféus para o Museu. “Treinar é perceber relações. Temos de conseguir ter uma boa relação com quem trabalhamos.”
A camisola 5 de Basquetebol tem que estar no teto do pavilhão! Como a do Mike Plowden, a do Jean Jacques, a do José Carlos Guimarães ou a do Pedro Miguel. Em suma, a melhor equipa portuguesa de todos os tempos tem que ser lembrada/homenageada sempre que um adepto ou sócio do SL Benfica entre no seu pavilhão. Esta 1h40 juntamente com os meus Amigos, Sérgio Engrácia e Ricardo Campos foi um privilégio enorme! Poder falar com o Monstro Sagrado dos Pavilhões. Uma Lenda do Ecletismo do SL Benfica. Muito Obrigado, Capitão Henrique Vieira! Não tenho palavras para agradecer tudo o que fez pela “minha” modalidade e pelo “meu clube”. O meu Benfica é o seu Benfica. Minha Vénia! Até Sempre, CAMPEÃO!
DISCIPLINA, SACRIFÍCIO E COMPROMISSO!"

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