domingo, 17 de julho de 2022

Darwin: Teorias que fazem espécie


"Já aqui o dissemos imensas vezes. O futebol é (ainda) um lugar sem misericórdia. E já que estamos nisto estenda-se o pensamento à globalidade. Não só o futebol como o Mundo no geral. Mas, sendo que o que nos interessa aqui é o futebol (que até dá um bom ponto de vantagem para como funciona o Mundo), fiquemo-nos só pelo campo e pela sua periferia (análises, comentários, opiniões nos média e redes sociais acerca do fenómeno). Pois bem, o que é isto de misericórdia? Normalmente temos um conceito muito mais épico de misericórdia, do género de alguém muito poderoso poupar a vida de alguém que não tem meio de defesa. E visto desse prisma tornar-se-á idiótico misturar misericórdia com futebol. Mas a verdade é que, mesmo aquilo que parece um Mundo glamouroso como o do futebol de topo e mesmo pegando-se num jogador que ganha milhões, pode haver, e sofrer-se de, falta de misericórdia. Isto porque a misericórdia é, nada mais e nada menos, do que ‘tirar-se uma foto’ de alguém e formular o argumento de que a pessoa (ou neste caso o jogador) não é, nem será, mais do que isso. E isso sim, é idiótico.
E a mais mediática vítima (desta semana) em relação a esse nefasto aspecto (que já está tão impregnado que nem o questionamos), é alguém com o nome perfeito para ilustrar esta temática. Darwin, neste caso o Nuñez, que sofre com as ramificações das teorias de outro Darwin, neste caso o Charles. Só os mais fortes sobrevivem e, neste caso, bastou um clip de 10 segundos para se tentar instituir o que Darwin vale e condená-lo à categoria de flop. Bem sei que adiante, os minutos jogados na derrota contra o Manchester United, parecem confirmar tudo isso. Mas também sei que quem rejubila agora com essas fotos tiradas a Darwin mais não quer do que ver confirmada a (sua) ideia inicial: a de que Darwin não é jogador para o Liverpool ou a de que Darwin é só aquilo a que já chegou (com os seus defeitos e virtudes) e pronto, por aí ficará – sendo mais fácil descer até uns degraus do que subi-los.
Falamos de Darwin como falaríamos de outro qualquer. Isto porque no futebol e na análise de algibeira tornaram-se hábito estes snapshots. Sendo que muitos dos que defendem a evolução do jogador são também aqueles que querem ver a sua opinião validada. Ora isto é bem simples. Havendo duas hipóteses (ou dá ou não dá, ou vinga ou não vinga) não há pensamento intelectual que seja assim tão necessário. O Zé da tasca pode acertar e o pé de microfone errar – ou vice versa. E o que os dois querem é, basicamente, dizer ‘eu bem vos disse!‘ Como se estivesse escrito na pedra que ‘já falhou‘ ou ‘já deu‘.


Por certo já devem ter dado conta que não estou aqui para dar a minha opinião sobre Darwin. Facto que se explica facilmente pela razão de que não faço, nem posso fazer, a mínima ideia se Darwin terá ou não sucesso na cidade dos Beatles (e nas outras onde o Liverpool for jogar). O que se pode tirar disto é perceber-se que, ainda não tendo acontecido, há milhentas condicionantes a ter em conta. E para cada uma delas um argumento a favor e outro contra. Bem sei que a algumas pessoas lhes dará jeito jogar este jogo mas enquanto o fazem nunca sairão da mente linear, da mente dualista do certo e errado. E mesmo que tenham criado um espírito forte que lhes permite jogar bem esse jogo, esse é um que nada tem que ver com o futebol em si. Ora Darwin tem dificuldades a jogar de costas. Tem algumas carências técnicas, de criação, definição e de finalização. Tem também condições excepcionais para se dar à finalização (especialmente partindo da esquerda) como tem um poderoso remate e é fisicamente impressionante a desgastar defesas (em vários momentos do jogo) como é impressionante a facilidade com que pode virar um jogo tal a quantidade de situações-chave que torna possíveis. Somando-lhe o modelo de Klopp em que é que ficamos? Ah sim, pode dar. Mas também pode não dar. Ok. E então agora o que é que se faz?
Fugindo às certezas absolutas (umas mais refinadas pelo mediatismo, outras mais brutas pelo algum anonimato das redes) importa também dizer que a análise não parte de um desejo. E ao formarem-se opiniões tão definitivas (mas sempre subjectivas), acontece que, depois, tudo o que se passar terá de caber nessa caixa. Por exemplo, esta semana tivemos Darwin a aparecer num treino e a falhar um golo. Vimo-lo depois a falhar outro, já num jogo. Mas se para a semana fugir à defesa e marcar e, de seguida, ganhar um duelo e assistir, em que ficamos? As duas facções vão sempre tentar encaixar qualquer ideia no statement que já fizeram. Vai uma aposta? E se já está pré-definido onde haverá então margem para evolução? E é aqui que o futebol foge e se distingue da análise fácil.


O texto foi escrito antes do Liverpool-Palace desta sexta-feira. E os momentos de Darwin no mesmo confirmam o tal mapa que se desenhou aquando da sua contratação pelos reds. Dificuldades em estender o raio de ação e servir de fixo, servido na profundidade como principal arma. A novidade (que não é assim tanta se nos lembrarmos da sua chegada à Luz) será já a carga emocional num jogo de pré-época. Demasiado ansioso para demonstrar e justificar o valor, o uruguaio terá que perceber que pode trabalhar nas dúvidas que tem e chegar a um balanço confortável na reação à pressão externa que carrega agora nos braços. E pegando no vídeo acima será fácil ver por onde começar. Porém, ao contrário da adivinhação que já se fez, a chave do seu sucesso estará ainda num limbo difícil de prever e dependerá da análise a essas reações (já bem visíveis no segundo jogo de pré-época) e na transcendência das mesmas. Bem sei que a pressão será: ou é perfeito ou não vale nada. Mas Darwin terá que estar acima dessa dualidade e apresentar-se o mais neutro e tranquilo possível. E a evolução começa aí. Ainda bem que tem Klopp com ele.

Tudo isto para dizer que em futebol isso interessa zero. Bola. E o futebol real está tão longe desse pensamento a preto e branco que deveria envergonhar quem, do lado de fora, o ‘analisa’ com a sobranceria de tudo saber e de tudo prever. Já aqui o disse: é impossível saber se Darwin (mesmo tendo falhado um golo no treino) terá sucesso. Mesmo que dê jeito a uma ideia preconcebida e que valide o ego de quem a adoptou, é impossível. E porque é que é impossível, meus caros?
Porque o que tornará possível ou impossível não é o mapa que nós desenvolvemos ao ver o Darwin jogar. É o território real que o comanda quando ele joga: a mente. E bem sei que conhecem o físico do Darwin, as fintas do Darwin (e a falta delas), as movimentações… e que alguns até conhecem tudo isto a um detalhe muito interessante. Mas o que vai definir muito do sucesso de Darwin são as suas reações mentais. E essas virão da ideia de si próprio (já que tanto se fala em identidade) e da abertura da mesma para evoluir. Como irão depender da ideia de si próprio em relação ao jogo (já que se fala tanto na mente) e das emoções (positivas ou negativas) com que vai forçar essas duas ideias anteriores no seu jogo. E na análise a esses três factores mentais estará muito do que o Darwin é hoje, como estará muito do que Darwin poderá vir a ser no futuro. E o que preocupa agora Klopp não é se ele vai dar já ou não, ou se der quando o vai fazer. O que Klopp se foca agora é no processo de crescimento e transcendência do jogador, e mesmo esse dependerá da abertura de Darwin e das suas reações a esta nova (e intensa a todos níveis) realidade. O trabalho com Darwin será esse, o de primeiramente acabar com qualquer dúvida na sua mente para que possa agir livremente e não reagir aos medos que advêm dessas dúvidas. E só transcendendo essas poderá estar liberto para agir e não reagir a tantas e tantas ‘fotos‘ que vão tirar dele dizendo: isto é o que o Darwin é! Mas o que o Darwin é, primeiramente, é alguém que pode perfeitamente pegar num aspecto menos evoluído e, com o devido trabalho, transcendê-lo. Isso é o que somos todos, embora as dúvidas disso (e a falta de misericórdia) tenham tirado fotos de todos nós para nos definirem limites. E o futebol (e sua periferia) não pode ir nessa cantiga. Há um processo com vista à evolução. Esse em futebol é importante (nuclear até), no totobola nem tanto. Mas como dizia o outro: com a medida que me julgaste a mim, já te julgaste a ti próprio!"

2 comentários:

  1. Fosga-se, tanto palavreado para quê?
    90% do texto é rama. Só está lá a enfeitar.
    Afinal isto é para um concurso literário ou para um blog sobre futebol?

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  2. Um gajo que nunca consegue disfarçar a cor das camisolas às riscas do seu clube nunca será um bom escriba, nem sobre culinária, onde também há pimentos vermelhos. A prova está neste texto de... caca.

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