sábado, 23 de julho de 2022

Curso de cartilheiros


"Quem lê as caixas de comentários dos jornais desportivos, dos sites sobre desporto, como o zerozero, e muito em especial as milhentas páginas de Facebook constata com uma tristeza cada vez maior que não só a intolerância atinge picos da mais perfeita irracionalidade, como a vocação censória de gente presumivelmente inteligente e culta atinge patamares dignos de um qualquer ditadorzeco do século passado numa qualquer República das bananas.
E nalguns casos a ferocidade com que combatem (felizmente apenas por palavras) os adeptos de clubes adversários só é ultrapassada pela violência sectária com que atacam os que sendo do mesmo clube não pensam da mesma forma sobre este ou aquele assunto.
O problema, para além dos enunciados que são muitos e graves pelo menos para quem tiver do Desporto uma visão saudável que não admite o conceito de "inimigo", é que essa gente em larga percentagem escreve mal, dá erros, não sabe exprimir uma ideia que necessite de mais de dois parágrafos, dá à língua portuguesa tratos de polé.
E assim envergonham os seus clubes, envergonham aqueles que querem servir (normalmente as direcções queiram elas ou não conforme os casos) e prestam um mau serviço ao futebol. São aquilo a que se pode chamar cartilheiros de contrafacção. E por isso parece-me que seria útil a Liga portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) ter uma iniciativa pioneira e criativa e, na defesa da imagem do futebol, promover cursos de formação para cartilheiros!
Para professores poderia recorrer a comentadores da RTP, SIC, TVI e CMTV, que os tem às manadas e com valiosos serviços prestados a três clubes (claro que no curso teriam de se abster de fazerem a habitual propaganda deles) e para alunos poderiam inscrever-se adeptos do futebol que demonstrassem conhecimentos mínimos da língua portuguesa e inequívoca vontade de (ao que acham ser) ao serviço dos seus clubes serem cartilheiros de excelência.
Claro que os associados da Liga teriam a prerrogativa de em número a determinar também poderem propor os seus cartilheiros próprios para com a aquisição de conhecimentos poderem abandonar um amadorismo confrangedor e passarem a exercer uma cartilha profissional que não envergonhasse o clube e quem os contrata.
Já que estamos "condenados" à arte da cartilha ao menos que passasse a ser bem feita.
E quanto a matérias a leccionar?
Deixaria aqui algumas sugestões para módulos a serem ministrados mas naturalmente que o corpo docente e a própria LPFP terão vastas ideias sobre o assunto, e sobre as matérias mais interessantes, dado possuírem enorme experiência nestas coisas.
As sugestões dos módulos a leccionar seriam então:
1) O nosso Presidente é um génio.
2) A nossa SAD é a melhor do mundo.
3) Deixem-nos trabalhar.
4) Bons são os calados.
5) Quem critica é porque não gosta do clube.
6) Os que pensam diferente têm de ser arrasados.
7) Temos de estar unidos e de preferência calados.
8) Antes era o inferno e agora o paraíso.
9) Abanar a cabeça a tudo é amar o clube.
10) Falem nas Assembleias Gerais.
11) Quando houver eleições candidatem-se.
12) A arte de dar o dito por não dito.
13) Mais vale insultar que argumentar.
14) O croquete como prémio supremo da subserviência.
15) A arte de bem cavalgar toda a sela no século XXI.
Concluídas as aulas os alunos teriam de apresentar um trabalho final de curso subordinado ao tema: "O que hoje é verdade amanhã é mentira".
Os que merecessem aprovação teriam direito a diploma de curso, a um pin com a inscrição "cartilheiro de excelência" e a uma certificação de qualidade por parte da LPFP.
Fica a sugestão no interesse do futebol, da imagem dos clubes, do povo que consome produtos de cartilha e desta nova e tão mal servida profissão.

P.S Tal como é moda actual no futebol o curso poderia também ter uma mascote condizente com os fins a que se destina. Sugeriria um papagaio."

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