"A vitória esforçada frente ao Newcastle United FC serviu para assinalar um regresso muito aguardado entre a massa adepta encarnada: desde 2018 que a Eusébio Cup não se disputava, desde 2016 que não era na Luz – que já houve infelizes ideias de a disputar no Algarve ou no… México, sob pretexto do King lá ter jogado (fez 10 jogos…)- e desde 2012 que o troféu não ficava em casa.
Assim, e como forma de recapitulação das edições duma prova já tradicional do calendário desportivo português, reunimos cinco dos momentos mais marcantes, além, claro está, da óbvia primeira edição e da edição 2022, a 11.ª – o Benfica ganhou a sua 4.ª.
1. Uma homenagem aos heróis italianos
O Torino FC dos anos 40 do século passado era a grande potência da Europa do Sul, numa altura em que não havia ainda competição que determinasse a melhor equipa europeia: a Copa Mitropa não se jogou entre 1940 e 51, a Taça Latina começou precisamente no ano da tragédia da Superga – em Junho, um mês depois. O Torino já não pode confirmar o poderio que vinha afirmando na Serie A, onde era tetracampeão (foi penta), porque decidiu vir a Portugal homenagear o grande capitão encarnado pré-Coluna, Francisco Ferreira.
O reencontro com o Benfica demorou 67 anos. Na Eusébio Cup de 2016, lá houve o bom-senso de conjugar a festa do King com o tão aguardado abraço fraternal aos italianos que o infortúnio da vida ligou aos encarnados. No dia anterior houve reunião de comitivas no Jamor, o último palco daquele Gran Torino. No último balneário utilizado por Valentino Mazzolla – o gran capitão – e companhia, erigiu-se uma lápide a assinalar a data.
2. A Eusébio Cup com toque de Samba
A época anterior terminara em tragédia, relação entre treinador, equipa e massa adepta era de cortar à faca e o São Paulo vinha de seis jogos sem marcar, numa série sem vitórias desde… Maio. Era 3 de Agosto. Quando Lima falha uma oportunidade flagrante à meia-hora, o estádio foi abaixo de tanta frustração – lembravam-se todos daquela exibição do brasileiro frente ao Estoril (1-1) uns meses antes e então pediam Cardozo, entretanto exilado devido ao episódio no final da Taça de Portugal.
O São Paulo FC, que era a primeira equipa sul-americana a homenagear Eusébio, aguentou na primeira parte – cansado pela Audi Cup, uns dias antes, que disputou em Munique – e foi de assalto na segunda, aproveitando dois erros clamorosos de um ex-jogador seu: Bruno Cortez, que demonstrou desde logo não estar à altura do desafio.
A derrota com o São Paulo na Eusébio Cup agravou o divórcio entre Jesus e adeptos, situação que quase se tornou irrevogável a 18 de Agosto, com a derrota nos Barreiros (2-1). A 25, o Gil Vicente FC vê-se a ganhar na Luz até aos 91, altura em que Lima empata, num momento de catarse único – exponenciado ainda mais pela reviravolta consumada por Markovic no minuto a seguir – que acabou por salvar o treinador do eminente despedimento e permitiu encarar 2013-14 com outro ânimo. Redenção tão dramática só poderia dar triplete.
3. Os cinco a José Mourinho
Era Mourinho no banco do Real, era Jesus ainda com o plantel bem-composto para 2012-13 (perderia Javi e Witsel no limite do mercado): havia muitas e boas opções, a equipa que alcançara os quartos de final da Liga dos Campeões era apetrechada com Nolito, Bruno César, o regressado Carlos Martins, e um tímido argentino regressado dum empréstimo ao clube de origem, o Club Estudiantes de La Plata.
É Enzo Pérez que até marca o 5-2 num cruzamento-remate de belo efeito, a coroar uma admirável demonstração de força sobre o campeão espanhol – que mesmo com os suplentes, mantém o nome e emblema. Enzo assumir-se-ia definitivamente nessa temporada como número ‘8’ e, simbolicamente, foi este o momento de viragem, até na própria relação com os adeptos.
4. Surge Gareth Bale
A homenagem ao Rei também já serviu como baptismo das grandes estrelas actuais em confrontos internacionais. Gareth Bale marcou o golo que decidiu a edição de 2010 e continuaria a boa forma para essa temporada de 2010-11, a definitiva em relação ao adiantamento no campo – de lateral para extremo – e à total afirmação como craque.
Em Agosto decidia o jogo em Lisboa, em Setembro estreava-se a marcar na Champions, numa goleada ao FC Twente (4-1) e a 20 de Outubro, a sua grande noite enquanto spur: o hattrick em San Siro, num jogo em que os londrinos perderam (4-3) mas jogaram com menos um desde os oito minutos.
5. Pablo Aimar vs. Andrea Pirlo
Foi aqui que se percebeu verdadeiramente o corte que Jorge Jesus e aquele conjunto de jogadores representavam – o corte com o passado recente de futebol adormecido e de baixa qualidade, muitas vezes submisso, mesmo naqueles laivos de sucesso como a caminhada na Champions de 2005-06, onde o Benfica chegou aos quartos de final, mas nunca demonstrou futebol por aí além que o justificasse.
Recebia-se o AC Milan, já não aquele portentoso até 2007, mas ainda com Pirlo, Gattuso e Nesta em campo. Era a derradeira prova se o futebol muito positivo apresentado na pré-época era para ficar. A Luz engalanou-se para perceber que sim, não era só fogo de vista, e tudo fica muito bem resumido naquele lance com que Aimar brindou Pirlo junto à bandeirola de canto: se calhar desde 1994 e o Parma AC que não se assistia a tamanha subjugação dum dos grandes do Continente em plena Luz."
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