terça-feira, 17 de maio de 2022

Passeio em família


"Em português, o título desta coluna é vulgar, comezinho até. Em ucraniano já não é assim, porque, infelizmente, pertence a um passado recente que uma guerra sem escrúpulos arrasou juntamente com a normalidade e a pacatez de todo um povo. É como uma saudosa memória de um tempo distante e feliz que se foi e levou nas suas brumas familiares e amigos, casas, bairros, escolas, empregos e cidades inteiras, empregos e cidades inteiras. Para estas famílias, na maioria mães e filhos com pais ausentes em combate, ou assistência humanitária, a segurança de um país distante como Portugal apagou o medo consciente, mas deu lugar ao trauma, à incredulidade e à revolta impotente para resolver. Resta esperar, ter esperança, mas, como alguém disse e todos sabemos, a esperança não faz ninguém abandonar a sua pátria de um momento para o outro, só o desespero tem essa força coerciva e urgente. Essa é a dura realidade do momento dramático que estas famílias vivem entre nós, no meio deste sol atlântico e deste povo acolhedor. Reconheçamos, com humildade, que a normalidade é um bem precioso e não uma garantia vitalícia embora assim o parecesse. Saibamos gozar e cultivemos essa normalidade que tanto apreciamos e partilhamos como um tesouro com o povo amigo da Ucrânia."

Jorge Miranda, in O Benfica

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