sábado, 21 de maio de 2022

39


"O jogo corria para o final mais devagar do que 10 atarantados lagartos certamente desejariam. Um Benfica poupadinho tinha deixado a primeira equipa às riscas verdes e brancas tão distante da final da Taça da Liga que nem com o telescópio Hubble a conseguiriam descortinar no horizonte. Nisto, um rapaz meio desengonçado nascido em Juan Eulogio Estigarribia recebe a bola de costas para a baliza, a meio do meio campo da casa, descaído para a esquerda. Num movimento pesado e lento, roda sobre si próprio, encara a baliza e vê-se sozinho. Em redor, quase uma dezena de pinos estáticos e mal vestido olha para ele com aquele ar plácido que uma NBA inteira deitava sobre Dennis Rodman em posse de bola para lá da linha de triplo. Só o guardião lagarto gesticulava preocupado para os colegas, enquanto calçava outras luvas em cima das luvas que já tinha nas mãos.
Óscar Réne Cardozo Marin não conseguiu disfarçar a ofensa que sentiu. Já há 2 anos e meio que desgraçava relva nacional com “ambos os dois” 48 biqueira larga, tempo suficiente para demonstrar que só a linha da grande área Benfiquista era longe o suficiente para garantir a sobrevivência adversária. No seu espanhol meio enrolado de pernambucano murmurou “ai vocês acham que não?”. Sem balanço, levantou a marreta zurda até à homoplata e cortou o cabo de segurança. Em queda livre o botim pitonado embateu na bola. Rui Patricio voou como sempre voava nos golos cardozianos, ciente da incapacidade de os evitar, mas plenamente consciente da homenagem estética que lhe cabia verter em cima do momento. Para o jogo, o golo já pouco contou, é verdade, mas o poder do pontapé chunhou-o na memória coletiva para sempre. Feliz 39º aniversário Ídolo Maior dos últimos 25 anos."

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