segunda-feira, 25 de abril de 2022

Números que falam por si – Parte 2


"Voltamos a lançar a pergunta: o que faz a diferença quando nem sempre se pode ou se consegue fazer boas exibições? Há números que ajudam a explicar.
Começamos por reiterar a nota publicada em artigo anterior: O Benfica, face às condições que coloca à disposição da equipa, aos objetivos a que se propôs, ao investimento feito e à qualidade do plantel, deve a si próprio um desempenho no Campeonato Nacional consentâneo com os seus pergaminhos.
No entanto, não menos verdadeiro é o óbvio favorecimento ao FC Porto na presente edição da prova mais importante do calendário competitivo português. E há um aspeto sacramental: é quando não se consegue jogar sempre bem que mais se fazem notar as influências externas. O campeonato, sendo uma prova de regularidade, ganha-se aos pontos; as notas artísticas de pouco ou nada valem.
No artigo já citado evidenciou-se o cariz recordista do FC Porto no que respeita aos cartões vermelhos admoestados a adversários entre os cinco primeiros classificados dos campeonatos dos 15 países mais bem classificados no ranking europeu de clubes. Ficou também bem explanada a diferença substancial de minutos efetivos de jogo em superioridade numérica do FC Porto em relação ao Benfica, mais de 8 horas no caso portista, o equivalente a mais de 5 jogos completos. E, sem grande surpresa, passados escassos 3 dias da publicação do artigo, já este estava desatualizado, agravando-se os números em favor de FC Porto.
Os mais incautos poderiam, ao ler esse artigo, argumentar com o acaso estatístico ou uma estranha e inaudita confluência de fatores contributivos para meros dados geralmente reservados aos almanaques, mas quando se os tem em consideração na análise comparativa do desempenho dos clubes portugueses intra e extramuros, torna-se ainda mais evidente que há, sem margem para dúvidas, tratamentos desiguais.
São as duas faces da "moeda" portista emitida em 2021/22: imparável a nível doméstico, confrangedora nas competições europeias. Ora vejamos:
• Ao fim de 30 jornadas do Campeonato, o FC Porto lidera com 82 pontos, fruto de 26 vitórias e 4 empates. Sporting soma 73 pontos, tendo empatado 4 vezes e perdido 3. O Benfica não vai além dos 67 pontos, já com 4 empates e 5 derrotas averbados;
• Na Liga dos Campeões, o Benfica, depois de eliminar, sem qualquer derrota, Spartak Moscovo e PSV, alcançou o 2.º lugar na fase de grupos, na qual, frente a Barcelona e Dínamo Kiev, venceu 2 vezes e empatou outras 2, sem qualquer golo sofrido. Perdeu ambos os jogos com o Bayern Munique. Posteriormente eliminou o Ajax, empatando e ganhando, e saiu da prova nos quartos-de-final ante um dos candidatos à vitória final, o Liverpool, despedindo-se com um empate a 3 golos em Anfield Road;
• O Sporting também conseguiu o apuramento para os oitavos-de-final da principal prova europeia, não obstante as duas goleadas sofridas ante o Ajax, o mesmo que viria a ser eliminado pelo Benfica e não outro;
• O FC Porto quedou-se pelo 3.º lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões, ultrapassado por Atlético Madrid e Liverpool, frente ao qual perdeu, por 1-5, no Estádio do Dragão. Note-se, o mesmo Liverpool que viria a defrontar o Benfica numa eliminatória em que os ingleses foram mais fortes, mas longe de "triturarem" o Benfica. Seguiu então para a Liga Europa, tendo sido eliminado nos oitavos-de-final pelo Lyon, à data o 10.º classificado do campeonato francês;
• Para que fique mais explícito: o Benfica, em 14 jogos na Liga dos Campeões, perdeu apenas 3 vezes (Bayern 2, Liverpool 1), enquanto o FC Porto, que não perde há quase 60 jogos no Campeonato Nacional, não foi além de 2 vitórias em 10 confrontos europeus, empatando 4 e perdendo outros 4;
• Tendo em conta estes percursos, vale a pena observar o coeficiente europeu dos clubes na presente temporada. O Benfica está em 10.º, o SC Braga e o Sporting ocupam a 20.ª posição, o FC Porto situa-se na 43.ª.
Aprofundemos então um pouco mais a análise, não vão os mais incautos persistir na aleatoriedade dos números e em coincidências de ordem cósmica.
Nos tais 10 jogos em competições europeias disputados pelo FC Porto na presente temporada, ascende a 1 o total de vermelhos admoestados a adversários, e a cerca de 5 os minutos de jogo em superioridade numérica, ligeiramente abaixo, reconheça-se, dos 12 vermelhos recebidos por jogadores adversários em jogos do Campeonato e dos impressionantes 498 minutos efetivos de jogo em superioridade numérica nesta prova.
E, saliente-se, o FC Porto apenas dispôs de 1 grande penalidade nos 10 jogos europeus na sequência da decisão de marcação de uma falta, pretensa ou não, na área contrária sobre Mehdi Taremi, utilizado em 9 dessas partidas, o que não deixa também de ser revelador quando comparado com a prática habitual cá no burgo.
É caso para se dizer "mudam-se os palcos, mudam-se as vontades". A forma de atuar dos árbitros também é capaz de ter alguma influência.
🗞 Jornal O Benfica."

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