sábado, 12 de março de 2022

Cartão vermelho à regularidade


"Jogando com 10 desde o minuto 7, devido à expulsão da montanha-russa que é Taarabt, o Benfica empatou (1-1), em casa, contra o Vizela, falhando o objetivo de chegar às três jornadas seguidas a vencer na Liga— o que não consegue desde setembro. A superioridade numérica permitiu à equipa de Álvaro Pacheco mostrar qualidade, mas, após chegarem ao 1-0, os visitantes encolheram-se, a Luz rugiu e o jovem Henrique Araújo, um minuto depois de entrar, deu um ponto que sabe a pouco às águias

Ainda pouco tinha acontecido no Benfica - Vizela quando, descaído para a direita do meio-campo, Valentino Lázaro passou para Adel Taarabt. A madrugada do duelo não apaziguou o instinto do médio, para quem não há meias-medidas: ou sai do lance com um drible fantástico, ou coloca a sua equipa em problemas. Já na jornada passada do campeonato havia ficado evidente que dar tanto protagonismo ao marroquino era como ter uma roleta em constante agitação no centro do terreno. Sempre fiel à sua natureza, Taarabt tentou superar um adversário, só que o trânsito no miolo levou a um ressalto de bola. E, novamente, Adel não se fez ao duelo de maneira prudente ou conservadora.
Não há dúvidas de que Taarabt gosta da bola, acaricia-a, deseja-a, mas essa sofreguidão é pouco amiga de relações estáveis. E ali, ainda tão cedo na noite de sexta-feira, a impetuosidade do marroquino levou-o a abordar o lance com Andrés Sarmiento claramente fora de tempo. O colombiano foi pisado e, após consulta do VAR, Manuel Oliveira decretou a expulsão mais madrugadora para um jogador do Benfica jamais vista na Luz.
Fiel à natureza inconstante do seu médio, o Benfica voltou a ser intermitente, não indo além do empate a um golo frente ao Vizela. Após baterem Vitória de Guimarães e Portimonense, surge novo tropeção para as águias, que não conseguem somar três triunfos seguidos na Liga desde setembro. Com muito coração, os homens de Nélson Veríssimo resgataram um ponto e terminaram lamentando o desperdício que os impediu de vencer, mas — por muito que as noites de sexta-feira possam convidar ao contrário —, tanta sofreguidão e pouca cabeça não costumam trazer a estabilidade e regularidade na felicidade que o técnico do Benfica tanto diz serem necessárias.
Com mais um durante todo o desafio, o Vizela viu uma oportunidade para somar os pontos de que tanto precisa para conseguir, pela primeira vez na sua história, estar duas temporadas seguidas entre a elite do futebol nacional. Samu Silva e Kiko Bondoso, finos de recorte técnico, agradeciam o espaço dado pelo Benfica — Veríssimo optou por não fazer entrar nenhum jogador após a expulsão, baixando Gonçalo Ramos mais para perto de Weigl —, mas durante a primeira parte os visitantes tiveram alguma vergonha em explorar as fragilidades dos inferiorizados visitados.
Com exceção de um remate de Cassiano para boa defesa de Vlachodimos, foram do Benfica todas as oportunidades de golo do primeiro tempo. No entanto, a falta de pontaria de Weigl ou Morato após cantos e uma soberba intervenção de Pedro Silva, saltando de mãos e pernas abertas fazendo lembrar Peter Schmeichel, levaram o jogo para o descanso com um nulo no marcador.
Ao intervalo, Álvaro Pacheco colocou Marcos Paulo e Nuno Moreira para os lugares de Rashid e Sarmiento, e o impacto das mudanças foi imediato. Com mais dinâmica na circulação e melhores envolvimentos ofensivos, o Vizela passou a criar o perigo que tanto havia custado construir na etapa inicial. Marcos Paulo, Kiko Bondoso ou Nuno Moreira ameaçaram o 1-0, situações que levaram à intranquilidade do público, que fez chegar o seu descontentamento em forma da sentença de rejeição que são os assobios.
Coerente com o que se via na Luz, o golo dos minhotos chegou aos 65’. Logo após Veríssimo ter colocado Meïté para o lugar de Diogo Gonçalves, desprotegendo o seu lado esquerdo — por onde o Vizela mais atacava —, Kiko Bondoso filtrou um passe, Nuno Moreira abriu as pernas e Koffi, sempre veloz a subir e sem oposição, serviu Cassiano para o 1-0.
No entanto, ao somar a vantagem no marcador à numérica, o Vizela encolheu-se. Deixou de ligar futebol ofensivo, passou a queimar tempo e permitiu ao Benfica crescer. O público terá pressentido o nervosismo do rival, voltando-se a ligar e a empurrar a sua equipa, usando até a revolta de uma ação em que houve vigorosos protestos de penálti para gerar um clima quente que contagiasse os jogadores.
O improvável Meïté esteve perto de um grande golo, acertando na barra, e o empate chegaria mesmo aos 75'. Um minuto antes, o jovem de 20 anos Henrique Araújo saltara do banco, indo praticamente da zona de suplentes até à área do Vizela para aproveitar uma defesa incompleta de Pedro Silva e dar ao Benfica a esperança da reviravolta.
Faltava ainda muito tempo, pois devido às diversas paragens de jogo — os clássicos membros dos bancos de suplentes voltaram a fazer, de parte a parte, as suas aparições — o duelo prolongou-se até à centena de minutos. E o Benfica agarrou-se ao seu orgulho, à força que vinha das bancadas e ao mesmo coração que noutras alturas havia prejudicado a equipa, mas que ali parecia empurrá-la para tentar os três pontos lutando contra o cansaço.
Rafa, num lance de um contra todos, viu Kiko Afonso tirar-lhe o golo em cima da linha. Henrique Araújo, num lance de aspirante a dianteiro de área, viu Pedro Silva fazer nova grande defesa. E Darwin, na última ação da partida, agarrou na réstia de força que tinha dentro de si, levou tudo à frente e conseguiu rematar, mas o guardião adversário voltou a defender.
O uruguaio estatelou-se, exausto, no chão. Após 100 minutos de inconstâncias, erros e suor, o Benfica voltou a perder pontos em casa. Compreensivo ante o esforço, o público despediu-se da equipa com aplausos. Para um conjunto que vive numa montanha-russa emocional, segue-se a visita ao terreno do Ajax. Na casa de Johan Cruijff decidir-se-á muito do futuro deste Benfica que não consegue expulsar a irregularidade."

1 comentário:

  1. Não consegue expulsar irregularidade nem o roubo contínuo.

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