segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

O dr. Varandas já não é um sábio humanista


"Extingui a minha admiração pelo renovador doutor Varandas no dia 11 de Maio, data de infausta memória, quando o autocarro leonino avançou por Lisboa fora e concentrou quase meio milhão de pessoas em plena era-covid (ainda a vacina não tinha chegado). Era o fim do tempo em que o médico presidente do Sporting andava pelas ações humanitárias a lutar contra a pandemia. Mas o título falou mais alto e o dr. Varandas agiu como agiria o bigbrother Bruno Carvalho. Um presidente de falange já sem Hipócrates ao peito.
Como se sabe, o 11 de Maio de 2020 nunca aconteceu. A lassidão do governo, liderado na pandemia por Mariana Vieira da Silva, a inação de Cabrita, o receio eleitoral de Fernando Medina, a que se juntou a sempre hesitante dupla da Saúde, Temido&Freitas, permitiram um camião TIR em Alvalade a incitar para a festa do título desde as 10h da manhã. E ela chegou, claro, com a Polícia de Intervenção a tentar evitar os contágios delta. Dezenas de feridos.
Não me lembro de nada tão grave e impactante na sociedade portuguesa resultante de um desvario do futebol. Estádios vazios, e depois aquilo. Sem castigo nem explicação. Até hoje. E também não há registo de um perdão a um clube (disfarçado de adiamento?) de mais de 150 milhões de euros que navegam pelas contas do Novo Banco a favor do Sporting e às costas do Fundo de Resolução (ou dos contribuintes - escolha a versão que quiser).
Imaginem quantos jogadores não estariam hoje a jogar no relvado verde e branco se este dinheiro estivesse em cobrança.
Mas o "fair-play" financeiro leonino vem de trás - assentou nessa costela historicamente verde dos Espíritos Santos, Salgados & Ricciardis, a que depois o poder angolano deu uma mão, achando que "status" em Portugal era igual a Sporting. Verdade. Um verdadeiro camarote de contactos.
Uma vez mais, ontem, os média trataram o futebol como a Fox News trata Trump. Ignorou-se o essencial do jogo em nome das audiências ao rubro. A equipa que liderava o campeonato, com seis pontos de avanço, entrou desde o primeiro minuto do jogo tão deliberadamente ao ataque que até aparecia que era o Porto que estava seis pontos atrás. Mas isso contou para alguma coisa?
Sabemos que o Sporting tem uma grande equipa, um treinador brilhante e marcou dois golos extraordinários (em contra-ataque...). Mas sofreu 7 cantos sem resposta em todo o jogo, como lamentou Amorim no pós-match, reconhecendo a intensidade do adversário. E depois o Sporting também fez o que fazem as equipas à rasca: o futebol do atira-te para o chão, de preferência com as mãos agarradas à cabeça. O futebol-teatro, exasperante, praticado tanto pelo Sporting como pelo Porto ou Benfica quando estão em vantagem, e muito mais pelas equipas pequenas que lhes seguem o exemplo. Um defeito de fabrico para um futebol português de exportação. Uma lástima. O dr. Varandas terá reparado nisso?
Finalmente: Coates foi mal expulso? No primeiro amarelo sim, mas no lance final até poderia ter tido vermelho direto. Aliás, se tivesse sido marcado o penalty a favor do Porto aos 10m, não teria havido o "caso Coates". E por aí fora. No essencial, friamente, ok, empataram. Aceita-se.
Ora, com a cruzada de ódio lançada no final, não só o presidente do Sporting legitimou e agudizou a absurda guerra tribal do relvado, como demonstrou que sabe exatamente onde ganhar ​​​​​​​vantagem para os jogos seguintes. Querer banir o treinador do clube rival diz muito da rede e poder que já construiu nos sítios certos. O sucesso vicia. O dr. Varandas ainda é a mesma pessoa?"

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