quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Golos que abafam dúvidas


"Depois de três jogos sem vencer, o Benfica voltou às vitórias, na casa do Tondela. Equipa de Nélson Veríssimo venceu por 3-1, com golos de Everton, Darwin e Gonçalo Ramos. Eduardo Quaresma reduziu para a equipa da casa

Nem sempre é necessário mostrar a melhor versão para ganhar um jogo de futebol. Basta ganhar mais duelos, estar posicionado em zonas que fazem mossa ao rival e, quando os futebolistas são melhores, permitir que a técnica fale por si. Esta noite, no campo do Tondela, o Benfica foi melhor. Em tudo. Teve momentos de dúvida, sim, a bola nem sempre obedeceu. Mas os problemas nunca foram demasiado grandes para a equipa de Nélson Veríssimo e, já se sabe, no pântano cada golo é um candeeiro. À medida que as bolas iam entrando, a serenidade ia entrando com mais autoridade. E assim se explica o tranquilo regresso do Benfica às vitórias.
A equipa da casa tentou condicionar os visitantes no arranque, talvez aproveitando o momento de dúvida. Afinal, eram já três jogos sem vitórias nos 90 minutos (Boavista, Sporting e Gil Vicente). Nélson Veríssimo, que voltou a apostar em Lázaro, Rafa (parece recuperar a versão mais triste) e Darwin, apostou numa espécie de 4-4-2 que nunca o seria, pois claro. É que Gonçalo Ramos baixava ou mostrava-se para fazer a ligação com os médios (até a defender); do lado esquerdo, Everton descaía para dentro para o vaivém de Grimaldo; no lado direito havia mais riqueza no movimento, num triângulo entre Lázaro, Rafa e Paulo Bernardo, que apareceu esclarecido, a querer ser o homenzinho da equipa, ajudando o generoso Weigl a arrumar a casa – o alemão, sempre chave no jogo encarnado, acumulou alguns erros na construção. Darwin, sempre à procura do espaço, ora funcionava como referência, ora surgia nas linhas a forçar 1×1.
Do outro lado, Pako Ayestarán, que falou num Benfica ferido no orgulho, também promoveu três alterações: Ricardo Alves, João Pedro e Boselli entraram pelos castigados Sagnan, Rafael Barbosa e Pedro Augusto. À pressão inicial juntou-se a tentativa do contra-ataque, nomeadamente explorando Daniel dos Anjos, Boselli e Salvador Agra, que obrigaram Vertonghen e Otamendi a muitos duelos (estiveram quase sempre confortáveis). No meio, Javier Avilés e Iker Undabarrena, tanto pelo passe como pela condução, tentavam desequilibrar o intranquilo meio-campo benfiquista, sem grande sucesso. João Pedro, o tal rapaz do hat-trick de penáltis, era o médio mais posicional.
Cedo se viu um bom entendimento entre Ramos e Darwin. Logo aos 3’, o português colocou o uruguaio na cara do guarda-redes Pedro Trigueira, mas a mancha foi gloriosa. Everton ia parecendo um corpo estranho na equipa, tecnicamente falhando alguns toques, pouca potência, pouco drible, desacerto… mas os golos, magos curandeiros, mudam tudo. Depois de uma combinação com Grimaldo, o lateral canhoto, numa zona bem central, ofereceu o pãozinho ao internacional brasileiro. Com dois toques, Everton meteu a bola por baixo de Trigueira, 1-0. Pouco depois, o destro pela esquerda voltou a rematar com cheirinho a golo, mas desta vez o guarda-redes rival voou e evitou o bis. O desconforto ia assim levantando como levanta o nevoeiro e Everton, tal como a equipa, foi crescendo.
Mas o 2-0 chegaria mesmo, novamente pela esquerda. Nem há muita história: Darwin recebeu com muito, muito espaço perto da linha, encarou o defesa, puxou para dentro e bateu para o poste mais distante, por cima de Trigueira. Foi um golaço, 2-0. Ele festejou como os “9” festejam: como se fossem os mais importantes do mundo. O uruguaio, que a seguir quase marcou de livre direto (poste), celebrou o 21.º golo na época, o 16.º na Liga. Descontando os golos daquele despropósito no Jamor, não deixa de ser uma época de alto gabarito por parte do avançado que tantas vezes promete o céu.
Na segunda parte, já com Sessi D’Almeida no meio-campo do Tondela e apesar do atrevimento inicial dos caseiros, o Benfica voltou a ter 45 minutos tranquilos. Ainda mais após a expulsão de Neto Borges (66’) e do 3-0, cortesia de Gonçalo Ramos (53’), após assistência de Everton.
O jogo, esteticamente, nunca foi muito sedutor. O relvado parecia complicar a tarefa dos futebolistas, houve demasiadas falhas na receção, nos passes e até escorregadelas. Apesar de tudo, o Benfica mostrou uma veia competitiva interessante, recuperando a bola sempre com facilidade e mantendo-a na maior parte do tempo nos seus pés. Foi muito mais competente, encontrou espaços, colocou muita gente na área rival. E marcou golos.
Com os colegas a cair, Sessi D’Almeida foi demonstrando capacidade para jogar com segurança, sem medo da pressão alheia. Por outro lado, foi interessante ver também Eduardo Quaresma, emprestado pelo Sporting, em alguns duelos com o poderoso Darwin Núñez. Com bola, também costuma ser valioso. O golo, muito perto do minuto 90, seria um prémio justo para o jovem central (3-1), que assim se estreava a molhar a sopa no principal escalão do futebol português.
O jogo faltoso e com ritmo interessante observado na primeira parte dissipou-se definitivamente à medida que o tempo avançava no cronómetro. Para tal, muito contribuíram igualmente as substituições sem fim – Henrique Araújo voltou a jogar pelo Benfica. Num jogo cinzento, vale a pena deixar uma menção honrosa para a entrada de Telmo Arcanjo. Sem complexos, foi para cima dos rivais, com a sua canhota atrevida, fez uma grande variação de flanco, outra excelente receção e ainda bateu um livre lateral cheio de veneno.
O Benfica volta às vitórias e coloca-se novamente a 6 e 12 pontos de Sporting e FC Porto. Agora, seguem-se dois jogos para o campeonato, com Santa Clara e Boavista, e depois a equipa de Nélson Veríssimo vai sonhar acordada, quando receber o Ajax, no Estádio da Luz, a 23 de fevereiro."

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