segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Benfiquismo genuíno na gestão do Benfica


"Sendo conhecida a composição da SAD do Benfica, após a imposição por parte de José António dos Santos de um administrador que ninguém desejava e nada acrescenta, serviu esta "dança das cadeiras" para trazer uma reflexão essencial:
Quem deve compor a gestão do SLB (não apenas na SAD, mas igualmente no Clube)? O que precisa e de quem precisa o Benfica na sua gestão/estrutura decisória? Que critérios deverão ser utilizados para essa escolha?
Desde logo, creio que o Benfica precisa de mudar e renovar, sendo esse um sentimento comum a grande parte da nação Benfiquista. Para isso, deverá desde logo abrir a sua gestão (Clube e SAD) a vários saberes e origens. A pluralidade de perspetivas, pontos de vista e experiências profissionais e pessoais deverá ser valorada. Quem trabalha e decide habitualmente em equipa sabe o valor de opiniões díspares e de diferentes pontos de vista.
Parece que o Benfica não está (ainda) preparado para um verdadeiro debate de ideias e de decisões plurais (hábitos antigos que devem mudar), desperdiçando assim o crescimento que a procura de consensos gera. O tempo dos "iluminados" já lá vai, sendo altura de expandir horizontes, não se encontrando razões para a resistência à mudança. Novas perspetivas e abertura ao mundo são necessários à estrutura decisória do Benfica, aliados a comprovada competência.
Para além do acima referido, há também algo que o Benfica não tem conseguido trazer à sua de gestão/decisão: o "Benfiquismo", naquela forma genuína e especial de viver o Clube, aquele sentimento de adepto que está profundamente enraizado. E esse é um bem precioso que o SLB não tem aproveitado, traduzindo-se num desperdício incomensurável.
Neste sentido, para quem acha que esta forma de Benfiquismo deve cingir-se às bancadas e não às salas de decisão (porque, segundo alguns, razão e coração não podem coabitar), deixo apenas um exemplo paradigmático de que se tivesse a gestão do Benfica um elemento com essa "mentalidade", poderia ter enormes benefícios.
Recordo que em plena pandemia, o Benfica (sem sequer perguntar aos sócios) devolveu aos detentores de "Red Pass" (lugares cativos) o valor equivalente a 5 jogos da época 2019/2020 (fruto da impossibilidade de ter público). Em concreto, e segundo o último relatório e contas, esse valor totalizou € 1.868.000,00.
Estivéssemos a falar de uma qualquer empresa e esta devolução não traria grandes questões. Contudo, o Benfica é o Benfica e, por isso, não pode ser encarado e gerido "apenas" como uma empresa.
Perante o exemplo, faltou a quem decide lembrar o contexto e a forma de sentir o Clube… Nesse sentido, deixo a pergunta: Porque não propôs o Benfica aos sócios que ao invés da devolução do valor (ainda que através de saldo na "carteira"), pudesse por exemplo ser criado um mural no estádio homenageando os sócios (e constando o nome de todos eles) os quais, num momento difícil de pandemia, prescindiram dessa devolução, honrando o lema e tradição do Clube?
Estou certo de que para a maioria dos sócios a eternização desse momento para as gerações vindouras (filhos e netos, quando um dia esses sócios vejam o Benfica do alto do "quarto anel") seria bem mais valiosa que essa devolução. E estou convencido que mais de 90% dos sócios nessas condições optariam por constar nesse mural (e os que não optassem seria por impossibilidade financeira, sendo a esses naturalmente devolvido o valor), ajudando assim o Benfica.
Isto porque os sócios do Benfica têm uma paixão ao Clube única e uma resiliência historicamente comprovada, onde a vontade de eternizar a ligação ao Benfica não tem limites. Assim lhes seja dada essa possibilidade. Alguém pode esquecer os incontáveis exemplos de colaboração na construção do (antigo) Estádio da Luz?
Dito isto, com o referido exemplo, mesmo levando em conta o custo da construção desse mural com os nomes de todos os sócios e a devolução do valor a quem o solicitasse, acredito que com essa medida o Benfica teria, em momento de aperto financeiro global, poupado mais de 1,5 milhões de euros. E ninguém se lembrou, precisamente porque não têm a tal perspetiva do Benfiquismo.
Este é apenas um exemplo ou ideia com o intuito de realçar a importância de a estrutura decisória do Benfica ter alguém que consiga genuinamente entender e personificar essa forma de Benfiquismo. Isto nada tem a ver com ser mais ou menos Benfiquista, mas sim com formas diferentes de ver e sentir o Clube, fruto das experiências de cada um (profissionais, sociais, pessoais, geográficas ou de vivência enquanto adepto).
A gestão do Benfica não pode continuar tão distante dos sócios, desaproveitando as suas capacidades, conhecimentos e outras perspetivas valiosas do Benfica a vários níveis.
Neste sentido, falta ao Benfica a criação de uma estrutura que aproveite efectivamente as contribuições dos sócios. A meu ver, para além de uma equipa para o efeito, passará por ter um administrador (e/ou vice presidente) específico com este "pelouro", que sinta esse Benfiquismo e necessariamente o represente de igual forma, transformando-se num "provedor/embaixador" dos sócios do Benfica.
Hoje em dia, um sócio do Benfica não tem um canal efetivo e uma estrutura a quem se dirigir se quiser apresentar uma ideia/projecto que considere benéfica para o Clube. E isso necessita ser mudado.
Desde 1904 que os fundadores perceberam que a maior riqueza do Benfica são os seus sócios e adeptos, mas mesmo quase 120 anos volvidos, nunca é demais relembrá-lo.
O Benfica não pode ser gerido tendo (apenas) por base "folhas de cálculo", até porque não existe fórmula para contabilizar ou quantificar o valor desta forma de Benfiquismo."

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