segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Passos de crescimento


"O Benfica venceu (2-0) o Paços de Ferreira, numa partida em que jogou todo o segundo tempo contra 10. As águias fizeram uma boa primeira parte, criando muitas oportunidades e mostrando detalhes de qualidade na organização ofensiva, mas quando estiveram em superioridade numérica baixaram de rendimento, ainda que só por desperdício não tenham chegado a uma vitória mais expressiva

Os avançados são uma espécie peculiar. Muitas vezes dependentes do rendimento coletivo para brilharem, ninguém como eles se sente, por vezes, alheio do sentimento coletivo quando as coisas não lhes saem bem. A equipa pode ganhar, mas nada tirará da cabeça do avançado a imagem daquela finalização ineficaz, daquele instante em que perdeu a oportunidade de atingir o objetivo do jogo e, ao mesmo tempo, de dar sentido à sua exibição. Ainda não se descobriu cura para diminuir esta dependência do avançado pelo golo.
Na vitória, por 2-0, do Benfica sobre o Paços de Ferreira, as expressões que Gonçalo Ramos, Seferovic e Darwin foram fazendo demonstram bem essa necessidade que os dianteiros têm de marcarem para se sentirem completos. A equipa de Veríssimo fez, no geral, uma boa exibição, criando muitas oportunidades perante um adversário que actuou todo o segundo tempo com 10 homens por expulsão de Denilson, mas as muitas chances desperdiçadas pelos avançados não só evitaram que as águias tivessem um resultado mais folgado, como também foram tirando o sorriso ao português, ao suíço e ao uruguaio.
O Benfica, que aproveitou a derrota do Sporting para reduzir para quatro os pontos de diferença para os campeões nacionais, mantendo-se a sete do FC Porto, voltou a apresentar-se em 4-4-2, com Ramos e Seferovic na frente, e a verdade é que, com excepção do começo da segunda parte – quando as águias revelaram um certo adormecimento e, mesmo contra 10, poderiam ter sofrido o 1-1 -, foram sempre donos e senhores dos acontecimentos.
Com a covid a tirar Vlachodimos, Vertonghen e Yaremchuk do onze do Benfica, a equipa da casa cedo impôs a sua superioridade. E, também, cedo começou o desperdício dos seus avançados. Aos 10 minutos, já Seferovic não tinha sido eficaz em duas ocasiões.
O Paços de Ferreira de César Peixoto chegou à Luz embalado por duas vitórias nos dois únicos encontros feitos com o antigo jogador do Benfica no comando técnico. Ainda assim, os visitantes ressentiram-se das ausências de Luiz Carlos, lesionado, e Nuno Santos, cedido pelo Benfica, evidenciando menos qualidade técnica no meio-campo. Durante os primeiros 45 minutos, o Paços raramente se aproximou de Helton Leite, fechando muitas vezes com uma linha de cinco homens, dado que Uilton se juntava à linha defensiva.
Para empurrar o Paços para trás, muito contribuiu a postura do Benfica. A equipa de Veríssimo apresentou-se pressionante, com fluidez na circulação e velocidade na frente. Em ataque organizado, as águias privilegiavam o lado esquerdo, com Grimaldo a atacar muitas vezes por dentro, deixando Everton mais na linha do que era normal com Jesus. O brasileiro sente-se confortável partindo de uma posição mais aberta, podendo receber a bola e partir para cima do lateral rival.
Com Rafa a invadir muito a zona central e Seferovic, inteligente nos movimentos, a detectar o espaço livre, o Benfica fez muitas combinações curtas que fizeram mossa na linha defensiva do Paços. Só que a falta de pontaria dos avançados ia-se mantendo: Seferovic, de cabeça após livre de Everton, disparou ao lado, tendo Ramos acertado na barra só com André Ferreira pela frente.
Se o Paços sentia dificuldades para travar a dinâmica ofensiva do Benfica com 11, as coisas pioraram ainda mais em cima do intervalo. Vítor Ferreira considerou perigosa a abordagem de Denilson num lance com Grimaldo e expulsou o avançado brasileiro.
Como um mal nunca vem só, no lance praticamente seguinte ao cartão vermelho, Seferovic combinou bem com Gonçalo Ramos – os dois avançados revelaram um muito bom entendimento nos seus movimentos – e este rematou na cara de André Ferreira. O guarda-redes defendeu, mas o ressalto foi parar aos pés de João Mário, que, aos 45’+5′, fez o 1-0.
A segunda parte começou por manter o tom da etapa inicial, com o Benfica a criar e os seus avançados a não conseguirem marcar. Gonçalo Ramos, de pé esquerdo dentro da área, rematou torto, sendo depois Seferovic, em dois cabeceamentos consecutivos, a desperdiçar.
Com o Paços com 10 e o Benfica com boa dinâmica ofensiva, o segundo tempo prometia tornar-se eterno para os visitantes, mas, durante boa parte da etapa complementar, não foi isso que se viu.
O Benfica pareceu adormecer, deixando a partida correr, sem a mesma dinâmica que já havia revelado. Everton deixou de desequilibrar pela esquerda e as combinações entre Grimaldo, Rafa ou João Mário não foram tão frequentes. A equipa de César Peixoto, que com 11 não tinha criado perigo, roçou o 1-1.
Aos 57′, o recém-entrado Diaby fez uso da sua passada larga para se isolar perante Helton Leite. O guardião brasileiro, em estreia na presente edição da I Liga, fez uma excelente defesa, evitando um muito inesperado empate. Também Antunes, num canto direto que obrigou Helton a defesa atenta, e Lucas Silva, num remate por cima, fizeram pairar a possibilidade do 1-1 sobre o Estádio da Luz, mas o desafio ficaria definitivamente selado no melhor momento de execução individual da noite.
À entrada para os últimos 15 minutos, era evidente que ou o Benfica fazia o 2-0 ou entraria numa toada de sofrimento que, ao intervalo, parecia colocada de parte. Aos 75′, Grimaldo dissipou as dúvidas. O espanhol tem o dom de saber executar livres em andamento, remates em arco que são mais normalmente vistos com a bola parada. Descaído para a esquerda da área, o espanhol fez a bola sobrevoar André Ferreira, tornando inútil o voo do guardião rival. Se os avançados do Benfica não marcavam de dentro da área, o lateral fazia-o de fora.
Até final, Darwin, que aos 59′ havia entrado por Gonçalo Ramos, não quis ficar atrás dos seus companheiros de sector no que toca a desperdício. Aos 87′, o uruguaio, com a baliza à mercê, acertou na barra após cruzamento de Diogo Gonçalves, e, dois minutos depois, atirou ao lado quando só tinha André Ferreira pela frente.
No total, Ramos, Darwin e Seferovic remataram, entre os três, 12 vezes, mas em nenhuma delas fizeram a bola beijar as redes. Na galáxia particular que é a relação de um avançado com o golo, nenhum deles vai para casa satisfeito.
Ainda assim, que os seus dianteiros tenham tido tantas ocasiões para marcar ilustra bem a capacidade ofensiva revelada pelo Benfica. No segundo jogo com Veríssimo no banco, as águias demonstraram novas soluções de ataque, com uma dinâmica que parece, novamente, apostar em trazer a Portugal o melhor do futebol de Everton. Frente a um Paços que, por circunstâncias várias, não conseguiu discutir a partida durante a maior parte do tempo, o Benfica de Veríssimo deu algumas boas indicações para o futuro próximo."

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