sexta-feira, 12 de março de 2021
Ouro
"Sou daqueles apreciadores do atletismo das grandes ocasiões. Gosto, mas falta-me o hábito de ver. Se, por acaso, der com a fase decisiva de uma prova importante na televisão, não mudo de canal. Abençoado mediatismo, devo reconhecer, o dos Jogos Olímpicos, que me impede, de quatro em quatro anos, de ignorar olimpicamente (não resisti) a modalidade.
Gosto particularmente das especialidades “mais técnicas” – se é que esta categorização existe – e das provas de velocidade. Provas longas de corrida aborrecem-me; afinal, correr, para mim, só com uma bola nas mãos ou nos pés. E a resistência diz-me pouco. Entusiasmam-me, sobretudo, a destreza física e a técnica inerentes às tais especialidades “mais técnicas”.
E leva-me a colocar algumas interrogações que me parecem interessantes, convidativas à reflexão, sem desdém ou falta de respeito.
Por exemplo, o que motiva alguém a dar os primeiros passos no lançamento do martelo? Ou por que razão, não obstante as prováveis indicações médicas em contrário, há pessoas que correm com uma vara na mão para se elevarem aos céus? Será que os atletas vencedores são, de facto, os melhores? Ou, pelo contrário, outros haverá, nas modalidades mais populares, que se acaso tivessem praticado uma especialidade desde a infância estabeleceriam recordes e se tornariam campeões crónicos?
Como se vê, o meu interesse por atletismo só não é filosófico porque é meu. Já o de uns poucos, como agora novamente demonstrado com o ouro de Pichardo, apesar de inegavelmente apaixonado, informado e intenso, teima obstinadamente em escamotear o papel do Benfica neste sucesso. Na página da IAAF não constam recordes de contorcionismo intelectual, de outro modo pululariam as medalhas de ouro em Portugal."
João Tomaz, in O Benfica
Riqueza nacional
"Santiago é a segunda maior cidade de Cuba, fica no sudeste da ilha e a quase 900 quilómetros de Havana. É a terra onde nasceram nomes da cultura cubana, como os músicos Compay Segundo ou Ibrahim Ferrer, estrelas do Buena Vista Social Club. É local de dança e de Carnaval, mas também de rica história. Foi em Santiago de Cuba que Fidel Castro proclamou a vitória da Revolução Cubana, no primeiro dia de 1959, e esta é a cidade onde, em 30 de Junho de 1993, nasceu o português Pedro Pablo Pichardo Peralta.
Pichardo foi campeão mundial de juniores em 2012, vice-campeão em 2013, e em 2015 alcançou aquela que é, ainda hoje, a quinta melhor marca da história no triplo salto:18,08 metros. Em 2017, durante um estágio da selecção cubana na Alemanha, Pichardo desertou para parte incerta. Ficou impedido de representar o país de nascença e foi proibido de voltar a Cuba nos oito anos seguintes. Numa operação que o desviou do Barcelona, Pedro veio para Portugal e assinou pelo Benfica. Teve de esperar cerca de ano e meio para poder representar a selecção nacional (e havia tanto para dizer sobre isso...), mas estreou o equipamento vermelho e verde em Agosto de 2019 com uma vitória no triplo durante o Europeu de Nações. Foi quatro nos Mundiais ao ar livre e conquistou agora o ouro nos Europeus de pista coberta.
Pedro e os seus terão, com certeza, saudades dos amigos e familiares que deixaram nas Caraíbas, bem como de Santiago de Cuba, da bela cidadela de San Pedro de la Roca (Património da Humanidade pela UNESCO) ou do Parque Baconao, Reserva da Biosfera desde 1987. Hoje, Pedro Pichardo vive no Pinhal Novo e treina arduamente em Setúbal, com foco, disciplina e apoio do Sport Lisboa e Benfica e do projecto do Benfica Olímpico. Vivemos no mesmo concelho, e eu tenho um orgulho enorme de ter um compatriota e vizinho como ele. Obrigado, Pedro!"
Ricardo Santos, in O Benfica
Já faltou mais para se jogar o triplo
"Queremos todos o mesmo: menos exibições iguais à primeira parte com o Belenenses e muitas mais exibições iguais à segunda parte com o Belenenses. Simples. Pelo menos, parece. Porquê jogar a ritmo de trator se já temos capacidade para jogar ao ritmo de um bom carro? Durante os 45 minutos iniciais, aquilo estava tão interessante, era pontapé de baliza para o Benfica, e decidi ir dar uma caminhada até ao Bom Jesus do Monte. Quando voltei, a bola ainda estava a circular entre os quatro defesas e o Weigl. Depois do intervalo, a equipa parecia outra. A dinâmica era de tal maneira maior, que até tive de confirmar se estava sintonizado no canal certo. Felizmente, estava mesmo. Tem sido visível a subida de rendimento em vários jogadores, e ainda existe margem para progredir. Para jogar o trilo tal como nos prometeram, temos de atingir o ritmo de um TGV.
Amanhã, o Benfica recebe o Boavista, encontro que assinala o regresso do Javi Garcia ao Estádio da Luz. Sinto-me numa posição muito incómoda, pois sou incapaz de demonstrar ingratidão. Desta vez, ainda bem que os adeptos não podem ir ao estádio. Como poderia lá eu ir para ali torcer que o médio espanhol falhasse passes, fosse penalizado com cartões ou até mesmo assobiá-lo, quando se trata do mesmo indivíduo que no dia 9 de Novembro de 2009, por volta das 22h00, cabeceou para o fundo das redes de Peiser, fazendo o 1-0 frente à Naval? Há vários episódios e momentos que me impedem de desejar qualquer tipo de mal ao Javi Garcia. Por isso, quero uma vitória do Benfica por 5-0, mas espero que o Javi esteja incólume de culpas em todos os golos."
Pedro Soares, in O Benfica
Sinais de retoma
"A avaliar pela fluidez de jogo apresentada na 2.ª parte da partida com o Belenenses SAD, parece que a pior face da equipa de Jorge Jesus já terá ficado para trás.
Para enfrentar qualquer crise de resultados, o primeiro passo é, como diria La Palice, voltar a vencer. E o Benfica soma já três vitórias consecutivas que, pouco a pouco, vão trazendo a confiança de que os jogadores andavam carecidos - e que é fundamental para o bom desempenho de qualquer atleta. Por outro lado, os efeitos do surto de covid-19 vão-se desvanecendo, e o potencial físico da equipa vai dando mostras de total recuperação.
É importante igualmente salientar que, desde o jogo de Alvalade, nas seis partidas de campeonato que se seguiram, os encarnados sofreram apenas um golo, de penálti, em Moreira de Cónegos. Ou seja, aquele que era o maior problema táctico da equipa na fase inicial da temporada aparenta estar também já debelado.
Lá na frente, Seferovic, com quatro golos nos últimos quatro jogos, vai voltando ao nível que lhe deu a Bola de Prata em 2019. Trata-se de um avançado muitas vezes mal-amado, mas que, no seu melhor, não tem paralelo no plantel, nem mesmo porventura na liga portuguesa.
Infelizmente, a desvantagem pontual é demasiado grande para qualquer optimismo quanto ao título. Resta o 2.º lugar, que, como já aqui disse e repeti, é extraordinariamente importante e merece uma ampla mobilização de todos - num contexto em que a simples participação na Champions garante dezenas de milhões de euros, e em que quase todas as outras fontes de receita se apresentam fortemente condicionadas pela pandemia."
Luís Fialho, in O Benfica
Os sete magníficos
"Parece que foi ontem - em 25 de Abril de 2017, Fernando Tavares e Ana Oliveira confidenciam-me que no dia seguinte será apresentada a futura estrela do atletismo do SL Benfica. Promessa feita, promessa cumprida. No dia seguinte, Pedro Pablo Pichardo é apresentado, na sala de imprensa do Estádio da Luz, e anunciado como a grande aposta do Benfica Olímpico. O atleta cubano do triplo salto era um dos cinco que haviam conseguido passar os 18 metros. Aos 23 anos, o campeão do mundo de juniores de 2012 e vice-campeão mundial em 2013 e 2015 era já considerado uma das maiores promessas. Passados quatro anos e após ter ajudado o SL Benfica a manter a hegemonia do atletismo nacional, Pedro Pablo Pichardo partiu para a Polónia com um único objectivo - sagrar-se campeão europeu em pista coberta. Chegou a Torun, viu e venceu. Pareceu fácil, mas não foi. Foram horas e horas a treinar com o seu treinador e pai, Jorge Peralta. Pichardo trabalha como poucos e é muito focado nas suas metas. A delegação portuguesa foi recebida no aeroporto com diretos de todas as televisões. Ao ser confrontado pelos jornalistas sobre os Jogos Olímpicos de Tóquio, a resposta de Pichardo diz tudo: 'Na minha cabeça está sempre o melhor resultado, o ouro!' Pichardo sabe do que fala, e também por isso ele é diferente. Um destaque muito especial para a notável prestação de Francisco Belo, no peso, à beira da medalha, e para os bons resultados alcançados por Ricardo dos Santos, Samuel Barata, Issac Nader, José Carlos Pinto e Marta Pen. Os nossos 'sete magníficos' honraram Portugal e o SL Benfica, provando que a estratégia delineada por Ana Oliveira, em 2004, está certa e deve ser mantida."
Pedro Guerra, in O Benfica
Toda a discriminação é má!
"Não há como defender, seja sob que perspectiva for, que a alguém se neguem direitos ou exijam deveres em demasia apenas por ser diferente. Não existe escala de valor universal sobre a diferença, ela é, simplesmente, o contraste e a diversidade genética e cultural que confere sustentabilidade ao próprio planeta que pisamos e sucesso à espécie humana. Não há, portanto, nenhum argumento válido que possa sancionar a discriminação pura e simples de indivíduos ou grupos tendo como base a diferença. E, no entanto, quer a história quer as sociedades contemporâneas estão cheias de exemplos, por vezes trágicos, de discriminação social.
Quando falamos destes temas, vem-nos logo à ideia e mais evidente das discriminações, a da cor da pele. E bem, porque é incompreensível que um simples pigmento seja capaz de tingir a pele humana e, ao mesmo tempo, irromper pela família e pela vizinhança tingindo de negro a própria vida. Mas quando a discriminação assenta no género, e as mulheres de todo o mundo carregam às costas, por milhares de anos, o peso da tradição e da história, então é das mães de toda a humanidade que falámos e é a elas que discriminamos. É certo que sobretudo o último século tem sido de uma enorme evolução neste aspecto, mas essa evolução acontece em múltiplas velocidades consoante a geografia, as culturais e a condição social, e, por isso mesmo, tanto há a fazer em termos quer absolutos quer relativos. É por isso mesmo que um Dia Internacional, ao chamar a atenção de todo o mundo para este problema, desperta consciências e impulsiona mudanças? Talvez, mas pedras insubstituíveis do caminho fantástico da humanidade.
Parabéns a todas!"
Jorge Miranda, in O Benfica
Núm3r0s d4 S3m4n4
"2
Grimaldo fez duas magníficas assistências para golo frente ao Belenenses, SAD, totalizando agora 6 em competições oficiais na presente temporada (35 desde que chegou ao Benfica). O líder da equipa é Darwin, com 8, seguido de Everton, com 7. Grimaldo e Rafa ocupam a terceira posição;
3
Triunfos consecutivos sem sofrer qualquer golo da nossa equipa de futebol. Trata-se de um registo que ocorre pela primeira vez na temporada, dando robustez à ideia de melhoria evidente da organização defensiva da equipa e, também, da evolução positiva pós surto de covid;
4
Seferovic bisou pela quarta vez nesta temporada e soma 15 golos desde o começo da época. Em 2018/19, fê-lo em seis ocasiões, o seu máximo numa temporada de águia ao peito. Em 170 jogos, incluindo particulares, pelo Benfica, Seferovic marcou 64 golos, um pecúlio que o coloca na 50ª posição no ranking de goleadores benfiquistas (58 em competições oficiais – 38º; 43 no Campeonato – 34º);
17,30
Distância percorrida no triplo salto que valeu a medalha de ouro no Campeonato da Europa de atletismo em pista coberta a Pedro Pichardo. E já que alguns parecem ter dificuldades em dizê-lo na hora da vitória, relembro que é atleta do Benfica;
21,28
E Francisco Belo ficou a escassos três centímetros de subir ao pódio no lançamento do peso. Não trouxe uma medalha na bagagem, mas está de parabéns. Lançou, pela primeira vez na carreira, para lá dos 21 metros e estabeleceu o recorde nacional na especialidade;
94
Passados 94 “jogos oficiais”, o Benfica voltou a ter um golo marcado, por um seu jogador, sem ser com os pés ou a cabeça. Frente ao Belenenses, SAD, Lucas Veríssimo fez o gosto ao peito. Rafa, na penúltima jornada da Liga NOS 2018/19, socorreu-se do joelho esquerdo."
João Tomaz, in O Benfica
E podemos imaginar um país sem desporto?
"“Imagine V. Exa. um país sem desportistas.” Assim começa uma carta aberta ao Primeiro-Ministro subscrita por um grupo de 12 atletas de elite e, seguramente, apoiada por milhares de atletas, tanto de elite como amadores, ou por todos aqueles que são apaixonados por desporto.
Nesta iniciativa, revestida de grande importância, este grupo de atletas, desprendido de motivações pessoais, apresenta a sua preocupação com a atual situação do setor do desporto em Portugal. Os números são alarmantes e ainda estamos longe de conhecer as suas verdadeiras consequências.
“O nosso papel, enquanto atletas Olímpicos, não se resume às nossas prestações desportivas, imbuídas que são de um enorme orgulho por representarmos o nosso país. É uma honra, mas também uma enorme responsabilidade fazê-lo. É precisamente por este amor a Portugal que entendemos, aliás, sentimos necessidade de contribuir para o seu desenvolvimento, por mais humilde que possa ser esse contributo. Temos plena consciência de que os nossos atos, a nossa forma de viver, são inspiração para milhões de pessoas. Essa inspiração move montanhas!”
Esta posição vem dar corpo às mudanças que estão a ocorrer no mundo, em geral, e no mundo desportivo, em particular, onde os atletas são uma voz ativa que tem de ser escutada! Cada vez mais têm uma participação ativa noutras matérias que transcendem o treino e a competição!
Por muito que ainda subsistam alguns resquícios de uma mentalidade retrógrada, que defende que os atletas devem estar calados e exclusivamente focados no treino e na competição, a verdade é que os tempos mudaram. E ainda bem!
É cada vez mais frequente ver atletas a, muito mais do que a apenas “dar a cara”, serem uma parte ativa em iniciativas e projetos diversos. O papel que a Diana Gomes e o João Rodrigues têm desempenhado no Observatório Nacional da Violência Contra Atletas, ou que o Fernando Pimenta e a Telma Monteiro desenvolvem como embaixadores do programa Believe in Sports do Comité Olímpico Internacional, bem como no Programa de Integridade do COP, aqui acompanhados pelo David Rosa, João Sousa e Patrícia Mamona, são exemplos, entre muitos outros, que o seu envolvimento é muito mais do que apenas um simples endorsment e que as suas experiências ou opiniões são cruciais para o desenvolvimento das estratégias a seguir.
De forma mais organizada ou de uma forma espontânea, é importante garantir que a sua participação e envolvimento seja progressivamente maior e que a sua voz seja ouvida. Este é o caminho!
“Porque acreditamos profundamente na importância da atividade física e do desporto na sociedade, apelamos a V. Exª que diligencie no sentido de serem encontradas medidas e soluções específicas, que visem valorizar e garantir a sobrevivência destes sectores.
Sr. Primeiro-Ministro: Não crie um país de sedentários!”
O desporto, pese embora algum esquecimento a que tem sido sujeito, tem um papel fulcral e sobejamente conhecido e reconhecido por especialistas das mais diversas áreas da sociedade. A atual pandemia só veio confirmar esta importância!
E podemos nós imaginar um país sem desportistas? Um país sem desporto?"