terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Recuperar o que perdemos


"Não vale a pena lamentar o que já passou. É preciso olhar com exigência e firmeza para os desafios que o futuro reserva e ter um propósito em mente: o Benfica pretende recuperar os dois pontos perdidos ontem, diante do Nacional da Madeira, o mais rapidamente possível.
Não só os pontos perdidos, mas também uma série de características que a equipa vinha solidificando, como a qualidade, a consistência e a intensidade de jogo que foram colocadas em campo diante do Tondela e, igualmente, no Dragão.
Esse é um desígnio que a todos convoca após o apito final da partida de ontem, mas que – infelizmente, porque gostaríamos que fosse já! – só poderá ser colocado em marcha nas próximas jornadas, e, no imediato, com uma resposta concreta já na quinta-feira, ante o Belenenses, SAD, nos quartos de final da Taça de Portugal. Que a todos convoca e que de todos, estamos certos, vai merecer resposta.
Esta foi, provavelmente, uma das semanas mais difíceis vivida entre o plantel do Benfica, com sucessivos casos de covid a minarem a confiança de todos, a desfocarem daquilo que são objetivos imediatos – renovados de três em três dias, esta temporada –, a desconcentrarem e a baralharem as rotinas e as dinâmicas que são a argamassa do crescimento de qualquer grupo. Não são desculpas, é uma constatação. 
É igualmente uma constatação que o Benfica continua a ser o único dos candidatos ao título sem um único penálti assinalado a seu favor neste Campeonato, apesar das demais evidências em sentido contrário. E isso merece uma reflexão desapaixonada, sem as amarras típicas de uma justificação desesperada, a procurar encobrir um mau resultado. Não é isso que está em causa: sabemos porque falhámos e cientes estamos quanto ao que é premente melhorar. Contudo, cumpre-nos perguntar: há alguma lei não escrita que proíba um árbitro de validar um castigo máximo só porque é a favor do Benfica?"

A última sinfonia


"Rui Costa 'endurou as botas' com a camisola do clube do seu coração

Desde início, é-nos instruído o que fazer, que postura devemos ter e como vamos sentir-nos sempre que fazemos algo pela primeira vez. Contudo, nada nos é ensinado quando fazemos alguma coisa pela última vez. Se, numa estreia, há momentos que nem se chegam a guardar na memória com a ansiedade a sobrepor-se à perceção, numa despedida, retemos cada ação pela familiaridade de gestos a que dizemos adeus.
A 11 de Maio de 2008, o Estádio da Luz estava quase cheio para ver Rui Costa pela última vez conduzir a bola de cabeça levantada, numa elegância pura, dominar o esférico com uma facilidade que parecia arrogância por quem não domina dessa forma e rasgar as defesas contrárias com passes brilhantes, encontrando um 'buraco' que parecia não existir até então. O 'maestro' ia comandar a sua última sinfonia!
Frente ao Vitória de Setúbal, cada vez que Rui Costa tocava na bola o público aplaudia intensamente. O jogador retribuía com a entrega e fantasia de sempre. Aos 25 minutos, com um excelente cruzamento assistiu Katsoranis para inaugurar o marcador. Mas, continuava a faltar-lhe o golo, tentou inúmeras vezes, porém, sem sucesso. Na verdade, o 'maestro' não precisava do golo para assinalar a sua despedida, já tinha deixado a sua marca na história do futebol. Foi um dos jogadores que, pelo seu virtuosismo, transformaram espectadores em adeptos.
Aos 85 minutos, o placard eletrónico anunciou a saída do número 10, decretando o fim da carreira de um dos responsáveis pelo encanto deste desporto. Os adeptos levantaram-se e aplaudiram-no, enquanto o viam sair num registo completamente diferente do habitual: não era Rui Costa, era emoção. Todo ele era emoção! De braços levantados, retribuiu os aplausos, num momento arrepiante, sentia-se que quanto mais se aproximava da linha lateral mais pobre o futebol ficava.
Para os benfiquistas, apesar da vitória do Clube por 3-0, a sensação era de perda. Passados vários anos, o 'maestro' continua a comover-se com esse momento: 'não o escondo... há pouco quando me lembrei do último dia a lágrima ainda veio aos olhos'.
Recorde a carreira deste fantástico jogador ao serviço do Clube na área 23 - Inesquecíveis do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

Dormir à sombra do… segundo poste


"O Benfica teve mais um resultado negativo, o terceiro consecutivo, e empatou em casa com o Nacional de Luís Freire. Num jogo em que na primeira parte até parecia estar a correr bem para os homens de Jorge Jesus, a equipa sofreu o empate cedo na segunda parte, através de um lance de bola parada. Curiosamente, foi o terceiro golo consecutivo sofrido na sequência de uma bola parada, depois dos dois golos frente aos bracarenses na meia-final da Taça da Liga. Estes três golos tem todos algo em comum, e que merece uma reflexão. Primeiro, é impossível ignorar o contexto. Nestes dois jogos o Benfica atuou com alguns jogadores que não têm jogado tanto devido às inúmeras alterações provocadas por casos de COVID no plantel. Segundo, e aí já num lado mais técnico, todos estes golos ocorreram não no primeiro passe da bola parada, aquele que é mais trabalhado, mas sim na consequência das jogadas, onde é necessário muito trabalho e concentração para manter certos comportamentos e posicionamentos.
Estes três golos acabaram por ser explorados por superioridades criadas pelos adversários na zona do segundo poste, a zona mais difícil de controlar nestas segundas bolas porque requer não só atenção à bola, que está em movimento, mas também coordenação com os colegas a subir/descer a linha e vigiar os adversários que podem aparecer nas costas. Muito mais difícil do que parece, mas que deveria ser muito melhor executado pelos encarnados do que aquilo que tem sido. Deixamos então um vídeo com algumas das semelhanças e pontos fracos do Benfica neste tipo de lances, algo atípico nas equipas de Jorge Jesus."

Dificuldades? Até para o chuveirinho – curtas do Benfica vs. Nacional


"Os primeiros 15min mostraram um Benfica diferente. No entanto, o golo anestesiou a equipa, algo que só Cervi pareceu querer contrariar.
- O sistema tático do Benfica foi um segredo, até iniciar o encontro: Weigl novamente no meio-campo, com os encarnados a apresentarem-se no seu tradicional 4-4-2.
- Os comandados de Luís Freire organizaram-se em 4-3-3, com Nuno Borges atrás de Koziello e Francisco Ramos.
- O Benfica entrou bem. Se o jogo terminasse aos 15/20min, o foco destas curtas podia muito bem ser o crescimento do jogo exterior do Benfica. O lado esquerdo funcionou muito bem, com excelente combinações entre Cervi e Chiquinho, salpicadas com apoios de Darwin. Bolas no espaço, criação de superioridade numérica e alguns cruzamentos, que deixavam antever outro jogo.
- No lado contrário, João Ferreira um pouco mais desligado de Rafa, por este último não ser tão combinativo e preferir ser ele a acelerar em condução. Ainda assim, fica o registo de uma excelente jogada, na qual 19cm não permitiram a validação do golo.
- Ao contrário do que tem acontecido esta época, o Benfica parecia ter encontrado alternativas para ferir o adversário por fora. Contem-se as vezes que as águias ligaram por dentro, com Darwin e Seferovic (apesar destes serem dois pontas mais “virados para a frente”)… Nenhuma, ou perto disso! E mesmo assim, estavam a conseguir criar situações para acelerarem jogo por fora e ferir o Nacional da Madeira. 
- Após esse bom período até ao final do encontro, o Benfica mergulhou num mar de tédio, que lhe retirou a velocidade que ainda estava a imprimir. Mesmo com as substituições, Jorge Jesus não conseguiu mexer com o jogo – Pedrinho procurou menos o espaço exterior e na profundidade quando os laterais do Benfica tinha a bola, Pizzi por fora também “ajudou” a travar o jogo e a entrada do ainda desinspirado Taarabt não surtiu qualquer efeito.
- A lentidão de processos foi tanta que, nos segundos finais, nem o tradicional chuveirinho houve. Digo-o com ironia, mas… que importa se é “feio”, quando o tempo está a passar e a falta de ideias é tão gritante?!
- Em relação ao Nacional, sai da Luz com um ponto sem ter feito muito por isso. Todavia, olhando para o que fez o Benfica, chegou.
- Os madeirenses procuraram sair quase sempre longo no pontapé de baliza, não se expondo à eventual pressão alta do Benfica.
- Conseguiram travar a circulação do Benfica na sua primeira fase, com um dos interiores a ajudar Rochez a sair aos centrais.
- Chegaram ao golo num lance de bola parada, criando o perigo que praticamente nunca conseguiram em lance corrido.

Destaques individuais
Cervi – personificou tudo o que o Benfica não tem: jogo exterior, velocidade, agressividade e energia! Excelente primeira parte; caiu na segunda, com alguns passes errados, mas que nunca deram perigo, sendo que alguns deles ainda resultaram em lançamentos (ou seja, nem a posse perdeu). Pode não ser tão criativo com bola, mas tem condições técnicas e mentais para se tornar um bom lateral esquerdo no nosso campeonato. Para seu mal, Grimaldo acabará por ganhar o lugar, mais tarde ou mais cedo. 
Chiquinho – deliciosa aquela receção orientada no primeiro lance de perigo do Benfica. Combinou muito bem com Cervi enquanto esteve do lado esquerdo, apagando-se quando trocou de lado com Rafa. Caiu como o resto da equipa no segundo tempo."

Assalto à mão armada na Luz


"Algum benfiquista ouve alguma coisa? Algum protesto? Já saiu algum comunicado oficial sobre o que se tem passado sistematicamente? Os jogadores do SL Benfica entraram em campo, sequer?
Dirigentes?
Técnicos?
Jogadores?
Alguém se preocupa?
Exato. Todos conhecemos a resposta.
Temos o que merecemos."

Anos 90 em pleno século XXI


"Pior que isto só o silêncio conivente do Sport Lisboa e Benfica."