sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O Benfica, os abutres e a mística


"Após uma noite para esquecer (ou talvez não) no estádio do dragão, eis que não tardaram os abutres a rondar e atacar o Benfica.
É ouvir, logo após o apito final, em vários canais, conversas ou debates, que o JJ "não está cá", que "a equipa não tem atitude" ou que o Rui Costa afinal "se esconde e não manda".
É espantoso como minutos após uma derrota difícil de processar, já grande parte dos opinadores sabem o que está errado no Benfica e a fórmula mágica para resolver tudo que, segundo dizem, passará (agora) por mudar de forma urgente o treinador.
Se há algo que aprendi nesta caminhada benfiquista, mas sobretudo na vida, é que é fácil enfrentar quem está fraco e "na mó de baixo". Mas já dizia o meu sábio avô, que "a vida não são facilidades" e as decisões importantes não devem ser tomadas de "cabeça quente".
Este ataque predatório que vários iluminados não hesitam em fazer, quais arautos da desgraça, sempre convenientemente após momentos desportivos difíceis, são tão ou mais confrangedores que a exibição da equipa do Benfica no dragão.
Os problemas do Benfica não começaram ontem, nem ficam resolvidos se Jorge Jesus for embora hoje. E quem pensar assim embarca numa falácia mental naturalmente afetada por uma exibição muito pobre da equipa a todos os níveis.
O Benfica precisa de estabilidade e planeamento. Isso implica naturalmente tomar decisões, mas decisões ponderadas. O que se viu/ouviu ontem é uma busca apressada de soluções milagrosas e uma gestão de "navegar á vista" que, em meu entender, não serve o Benfica.
Já aqui escrevi de forma cristalina o que penso acerca de JJ e o facto de o mesmo não representar o que entendo ser o Benfica, com as consequências naturais que daí se retiram. Por mim, não teria sequer regressado, para que dúvidas não subsistam.
No entanto, Jorge Jesus é treinador do Benfica e, nesse sentido, deve ser respeitado e apoiado pela direção de forma clara e inequívoca.
Se a direção liderada por Rui Costa entendeu (e entende) que JJ deve seguir até ao final do contrato (e não concebo que possa passar daí), então hoje é o dia de segurar o balneário e mostrar aos abutres do que o Benfica é feito.
O Benfica não deixa cair os seus, o Benfica é digno na derrota e não procura soluções apenas porque são as mais fáceis ou populares.
Há dias tive o privilégio de almoçar com uma antiga glória que envergou o manto sagrado e falávamos acerca da questão da "mística". A determinada altura, disse-me apenas "atitude coletiva afetivamente assente". É a "devoção ao Clube" e a definição vem no dicionário, disse-me com uma simplicidade contundente.
O que retiro é que, afinal, a mística define-se, mas não se explica. É irracional, sente-se e baseia-se numa união colectiva perante um ideal.
Esse ideal de Benfica não deve aceitar ataques aos seus. Não deixa ninguém para trás, independentemente da sua conduta e prestação.
E isso passa, a meu ver, por unir o Benfica, Com Rui Costa a dar a cara mantendo e apoiando publicamente o "moribundo" JJ.
Porque a dignidade do Clube está acima de resultados e de popularismos. E, assim, enxotar os abutres que se procuram alimentar da desgraça alheia."

2 comentários:

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
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