segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O eclipse de Pizzi | SL Benfica


"A que se deve este eclipse de Pizzi?

O eclipse de Pizzi é uma realidade. Terá este o talento dos grandes craques da bola e a destreza dos imortais do desporto rei, conjugando génio com o porte atlético ideal? Nem por isso, e parece até descabido ter a coragem de o supor.
Mas apesar de invariavelmente encarado como dispensável no recente panorama encarnado, Pizzi insiste em regressar à ribalta com estatística de ponta para manter o SL Benfica à tona – as três assistências e um golo nos últimos cinco jogos tornam precipitadas as análises mais exigentes e as previsões de ocaso da sua carreira.
Com 345 jogos de vermelho – 18º no ranking da História das águias, à frente do bicampeão europeu Cruz e a 14 de… Costa Pereira! – e 93 golos – que o colocam imediatamente antes do top 20, estando a quatro de Rogério de Sousa, goleador da década de 30, e a seis de Cávem – , é na fruição de sociedades criativas do último terço que se continua a destacar, sendo as assistências o feliz culminar do seu futebol rendilhado e nunca inconsequente, sempre objetivo e letal na zona de definição.
Claro que tanta importância no ataque à baliza adversária teria os seus contras. Sobredotado na compreensão do jogo e na descoberta de espaços, é na componente defensiva que Pizzi encontra maiores dificuldades.
Não que seja um problema de agora – é preciso lembrarmo-nos da Liga dos Campeões 2016-17, a única ocasião onde cumpriu meio-campo a dois em contexto de elite? Sarri e Tuchel agradeceram – mas o peso dos 30 etários exponenciaram todas as deficiências físicas do seu jogo, impossibilitando-o de ocupar largas zonas de terreno ou garantir os mínimos de estabilidade tática.
A decadência começou-se a assistir principalmente na época transata, a partir do momento em que Jesus começou a contar mais com o bragantino para a posição de apoio ao ponta-de-lança: cumpriu aí 20 dos 49 jogos em que foi utilizado, além de extremo-direito/esquerdo e médio-centro.
A preferência de Jesus pela determinação e explosão de Darwin Núñez e a verticalidade de Rafa submeteram Luís Miguel a papel alternativo que decerto já lhe custava lembrar na entrada para esta temporada, tendo o técnico português perfeita noção das limitações do jogador e das toneladas de intensidade que a Europa dos campeões obriga.
É agora visto como opção de banco (na Primeira Liga, por exemplo, tem duas titularidades em sete participações) – a última ocasião que tal lhe acontecera na carreira foi em 2014-15, precisamente na última época da primeira passagem de Jorge Jesus, na qual Pizzi acabaria por ganhar a titularidade em Janeiro como consequência da venda de Enzo Pérez.
E, a partir daí, seria vital enquanto “Ás” do baralho encarnado. Se quisermos discernir a última época onde a condição de suplente foi permanente durante toda a época desportiva teremos de recuar a 2011-12, no Atlético de Madrid.
Nessa temporada, já depois dos dois jogos como titular ao serviço do SC Braga antes da transferência se consumar, cumpriria até 28 de outubro (data em que este texto é escrito) dois jogos na Liga Europa (92’) e quatro jogos na La Liga (distribuídos por 55’).
Precisamente dez anos separam as duas datas e expõem um histograma simétrico em relação ao tempo de utilização, agora com a curva descendente que se seguiu ao pico de forma e à curva ascendente que o precedeu, construída desde 2012. Mas, novamente, não pode existir lugar a precipitações.
Com o calendário complicadíssimo que o SL Benfica enfrenta, onde a recuperação substitui de forma quase total a preparação específica, Pizzi volta a ganhar preponderância no conjunto e surge como importante adição às opções de Jorge Jesus pelo seu entendimento do jogo.
Se não garante uma forte reação à perda, o índice acima da média de responsabilidade na criação de grandes oportunidades de golo acrescenta (e muito) à já habitual disponibilidade física dos ‘cavalos de corrida’ da frente de ataque.
Essa transformação estética do estilo de jogo do SL Benfica, tradicionalmente mais tecnicista, permitiu uma vitória tão mediática como o 3-0 ao FC Barcelona, mas peca por escasso contra blocos baixos, onde o espaço é nulo e urge mais cérebro – é nesse momento que continua a ter palavra Pizzi, o melhor definidor do plantel."

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