sábado, 27 de novembro de 2021

“Cartão Azul” – Episódio 2


"Hoje o Polvo das Antas aborda as ligações entre o FC Porto e o Brasil através do Banco BMG.
Comecemos, então, pelo início. O Banco BMG chegou a patrocinar 40 clubes no futebol brasileiro e esteve envolvido no escândalo Mensalão em 2005. Este foi um escândalo de compra de votos que ameaçou derrubar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Só na principal divisão brasileira, este banco chegou a patrocinar, ou teve participação, em jogadores de 12 clubes diferentes.
Tal influência permitiu que o Banco BMG participasse diretamente em diversas negociações de jogadores com os clubes parceiros. Ricardo Guimarães, ex-presidente do Atlético-MG, vice-presidente do banco desde 1996, CEO entre 2004 e 2013 e atual membro do Conselho de Administração, criou o fundo BR Soccer em 2009, com registo na Comissão de Valores Mobiliários. Indiretamente passou a ter o controlo sobre o Coimbra Esporte Clube da terceira divisão de Minas Gerais. O clube é propriedade da empresa Vevent Empreendimentos e Participações, que por sua vez é detida em 99.95% pelo fundo BR Soccer.
O que é interessante constatar e começa a revelar a cortina da lavandaria, é o facto do fundo BR Soccer ter chegado a ter uma carteira com mais de uma centena de jogadores em 2013. Quanto ao Coimbra Esporte Clube, chegou ao cúmulo de, em 2014, ter um valor de mercado em atletas superior a clubes como Flamengo e Palmeiras. Nem sequer imaginamos a dor e sofrimento dos adeptos do Coimbra Esporte Clube ao constatarem que nenhum desses jogadores jogava, na realidade, no seu clube.
Isto significa que um clube que apenas disputava o Campeonato Mineiro e a Taça Belo Horizonte conseguiu, em tempo recorde, a proeza de ter um ativo superior a clubes que disputavam o Brasileirão e competições internacionais.
No ano seguinte, em 2015, a FIFA vetou a participação de terceiros em direitos de jogadores e deixou de se poder adquirir e vender direitos de atletas. De modo a contornar a proibição de partilha de passes de jogadores por terceiros, o FC Porto e o Banco BMG, através do Coimbra Esporte Clube, começaram a fazer negociatas de jogadores de futebol.
E quem é o Presidente do Coimbra Esporte Clube?
Marcus Vinícius Fernandes Vieira, que é - por coincidência - sócio da Vevent, e foi - também por coincidência - diretor jurídico do Banco BMG. Como se isso não bastasse, este chegou a defender o Banco BMG como advogado em diversas ocasiões.
Como entra o FC Porto no universo BMG?
O ponto de partida foi o museu do clube, onde acabou por encaixar 8 milhões de euros através de um contrato de publicidade e naming, o que levaria Ricardo Guimarães a receber um valioso Dragão de Ouro em 2013, na categoria de Parceiro do Ano. Recordamos que Pinto da Costa e Ricardo Guimarães chegaram a inaugurar o museu com pompa e circunstância. Contudo ficou uma questão no ar: qual a razão pela qual o Banco BMG decidiu investir tanto dinheiro no FC Porto, se não tem qualquer atividade comercial em Portugal?
Vejamos o caso do jogador Otávio.
Sabemos que o Banco BMG adquiriu 50% do seu passe por cerca de 1.35 milhões de euros, além de 15% a um fundo japonês, perfazendo os 65% que o Coimbra Esporte Clube detinha do jogador. Em 2014 o FC Porto comprou 33% do seu passe por 2.5 milhões de euros. Mais tarde, e sem explicação a ninguém, a SAD do FC Porto cedeu 0.5% do seu passe. Não sabemos é a quem, nem por quanto.
O que sabemos é que a transferência de Otávio teve o cunho de Adelino Caldeira e Reinaldo Teles, como comprova o seu contrato. Importa ainda dizer que um dos representantes do Banco BMG é o empresário Giuliano Bertolucci, que colocou no FC Porto jogadores como Éder Militão, Alex Telles, Felipe, Otávio, entre outros.
Isto tudo leva a concluir que a prospecção do FC Porto no mercado brasileiro é feita em conluio com o Banco BMG/Giuliano Bertolucci.
Segue-se um raciocínio de fácil compreensão:
Desde que existe o FC Porto B e até ao final de 2018, foram contratados pelo menos 23 jogadores a clubes brasileiros. E desses 23 jogadores, quantos chegaram à equipa principal até esse ano?
Um, tão e somente um. E qual jogador? O nosso caro e prezado Otávio, que acabou por custar €7.5 milhões de euros por 68% do passe, praticamente o mesmo que o patrocínio do Banco BMG no FC Porto. Curioso, não? O Banco BMG paga um patrocínio ao FC Porto e este compra jogadores do catálogo do Banco BMG pelo mesmo valor.
Façamos um exercício muito simples. Quantos desses jogadores chegaram à equipa principal? A resposta é desoladora, pois a percentagem de sucesso do Porto B em brasileiros foi de 4,34%.
Para que não restem dúvidas:
• 2012-13: Diogo Mateus, Víctor Luís, Anderson Santos, Guilherme Lopes, Sebá (via Cruzeiro), Dellatorre (via Desportivo Brasil/Traffic).
• 2014-15: Diego Carlos (via Desportivo Brasil fundado pela Traffic), Otávio, Roniel (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport), Anderson Dim.
• 2015-16: Rodrigo Soares (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport), Maurício (via Portimonense/Teodoro), Wellington Nascimento (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport), Ronan, Enrick Santos, Gleison (via Portimonense/Teodoro).
• 2016-17: Inácio (via Portimonense/Teodoro), Galeno (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport).
• 2017-18: Luizão, Danúbio (via Grêmio Anápolis controlado pela Promosport), Anderson Canhoto.
• 2018-19: Diego Landis (via Desportivo Brasil fundado pela Traffic), Emerson Souza e Ewerton Pereira (via Portimonense/Teodoro).
O que é feito destes jogadores?
- Guilherme Lopes, a título de exemplo, jogou um minuto na Segunda Liga e acabou a carreira aos 24 anos.
- Enrick Santos, infelizmente, ainda teve menos sucesso terminando a carreira prematuramente aos 20 anos de idade.
- Anderson Canhoto teve mais sorte e quando voltou ao Brasil foi jogar na quarta divisão. - Anderson Dim seguiu viagem para Freamunde e depois para o Coimbra MG. Entretanto mudou de profissão.
- Ronan, depois de 2 grandes jogos pelo Porto B, passou pelo Tombense, Nova Iguaçu, Santa Cruz e Natal e Cabrofiense. Não participou sequer em 10 jogos nestes "grandes" clubes.
- Danúbio pertence atualmente ao Moto Club MA, tendo estado emprestado ao Estoril pelo Grémio Anápolis.
- Ewerton Pereira, que chegou ao FC Porto em 1 de julho de 2018, voltou para o Portimonense em 24 de julho do mesmo mês, por empréstimo. Em janeiro de 2019 terminou o empréstimo, tendo ido posteriormente para o Japão. Entretanto andou a passear-se entre o FC Porto e o Portimonense em empréstimos e transferências que estão em investigação criminal.
Conclusão: existem jogadores que vêm passar férias a Portugal com tudo pago, numa autêntica lavandaria, e depois voltam para o Brasil para se dedicarem à pesca.
O Polvo das Antas pergunta:
- Haverá algum banco no mundo que patrocine clubes de futebol em países onde não exerça atividade e negoceie passes de jogadores em grande número, à exceção do Banco BMG? Quais as contrapartidas, sabendo que não há almoços grátis?
- É normal um banco ter um acordo com um clube onde diz, e citamos, «toda e qualquer negociação envolvendo possíveis reforços para os portugueses no Brasil tem de passar pelo BMG»?
- Podemos colocar o Banco BMG ao lado da Gestifute e Doyen, por exemplo?
Estas são perguntas às quais gostaríamos de ter respostas, e, para quem tanto pugna pela verdade desportiva, certamente que não haverá problema em esclarecer estas situações. Não é necessário responder já, nós continuaremos aqui e não temos pressa.
Como não podia deixar de ser, continuaremos a levantar a ponta do véu e a expor os intervenientes da operação “Cartão Azul”."

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