sábado, 23 de outubro de 2021

A vitória que ninguém acreditava


"O Benfica passou da desconfiança aos festejos, com a conquista do primeiro troféu nacional

Na época 1929/30, a Direcção, devido ao facto de se ter visto na 'impossibilidade de pedir a um dos nossos antigos jogadores que se encarregasse dos treinos', avançou a contratação de Arthur John.
O treinador checo tinha chegado a Portugal em 1925, para orientar o Vitória de Setúbal, pelo qual conquistou o Campeonato de Lisboa e foi finalista do Campeonato de Portugal, na temporada 1926/27.
Nos encarnados, a tarefa não se perspectivava fácil, por não conquistarem qualquer titulo desde 1921/22 e terem o rótulo de equipa que se eclipsava nos momentos decisivos.
Porém, o início foi prometedor, com a vitória na 1.ª jornada da Taça Preparação, frente ao União Lisboa, em que os benfiquistas evidenciaram novas dinâmicas, com o meio-campo a 'empurrar para a frente os avançados no caminho aberto para as redes, tornando neutral a acção dos médios do União, o que descompôs o conjunto normal da equipa e o levou à derrota', por 6-1.
Na 11.ª jornada do Campeonato de Lisboa após terem vencido o Belenenses, os benfiquistas alcançaram os azuis no topo da classificação, reforçando a ideia de que o técnico tinha transfigurado a equipa. No entanto, nas três jornadas seguintes, os benfiquistas registaram um empate e uma derrota, vencendo apenas um dos jogos, e o Belenenses sagrou-se campeão. A imprensa não perdoou: 'O Benfica vai a Roma e não vê o Papa. Quando está próximo do fim, quando todas as probabilidades menos uma, são a seu favor, é exactamente essa uma que corresponde à realidade, e o sonho de ser campeão desfez-se'.
Perdida a oportunidade de vencer esse título, restava o Campeonato de Portugal. Na deslocação a Santarém, para a 1.ª eliminatória, frente à União Operária, parecia que o mau momento iria prolongar-se, 'o Operário marcou na sua única bola, no primeiro minuto de jogo'. Mas os encarnados deram uma boa resposta, começaram a impor o seu jogo, a dominar técnica e territorialmente, transformando esse domínio em oito bolas.
O Benfica chegaria à final, frente ao Barreirense. Após um empate a uma bola no tempo regulamentar, os benfiquistas surgiram revitalizados no prolongamento. 'O Benfica foi o Benfica das grandes tardes, o Benfica que empolga, que faz entusiasmar a multidão. Sentiu-se vencedor, meteu uma bola e não desamimou, queria mais, queria vencer por mais score o seu adversário'. Os encarnados ganharam por 3-1, passando das críticas aos elogios: 'Tanto mal que se disse desde clube! E vá lá, quem é que há dois meses julgaria que fosse capaz da proeza que ontem realizou? O Benfica tomou alma, aí é que os seus partidários viram crescer o n´mero das probabilidades da vitória'.
Desta forma, sob orientação de Arthur John, o Benfica assegurou a sua primeira conquista nacional. Saiba mais sobre este treinador na área 25 - Mestres da Bola, no Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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