sábado, 21 de agosto de 2021

Futebol português



"O futebol português tem idiossincrasias que o tornam peculiar, tornando-o incompreensível e observadores menos atentos. Ora, vejamos as mais recentes:
- Um guarda-redes distraído não prestou atenção à sinalética de um árbitro que, muito bem a seguir as recomendações em prol da maximização do tempo útil de jogo, assim como da rapidez e fluidez do mesmo, em suma, em defesa do espectáculo de acordo com as regras, não interrompeu a partida para a marcação de um fora-de-jogo. O guarda-redes soltou a bola como se o jogo tivesse interrompido, um avançado apercebeu-se e reagiu, e o guarda-redes acabou por jogar a bola com a mão fora da área e foi bem expulso. No dia seguinte, uma panóplia de ex-árbitros, agora analistas, ao invés de se limitarem a assinalar o mérito da decisão, enveredaram por críticas ao árbitro invocando o espírito do jogo e reclamaram por bom senso. Leia-se, segundo estas cabeças pensantes, o árbitro deveria ter decidido contra as regras em nome de supostos espírito do jogo e bom senso. Todos fizeram longa carreira na arbitragem, o que explica muita coisa;
- E temos mais uns candidatos a analistas de arbitragem num qualquer jornal daqui a uns 20 anos. Estes assumiram a sua candidatura no Famalicão-FC Porto. Com 'bom senso' e respeito pelo 'espírito do jogo', o FC Porto não perdeu pontos;
- O cartão do adepto, além de ser uma panaceia, viola direitos consagrados na Constituição. E é preconceituoso em relação aos adeptos... Talvez o secretário de Estado do Desporto perceba melhor assim a gravidade do que promoveu: como já houve políticos condenados por crimes, a partir de agora deveria exigir-se aos cidadãos na política um cartão de político, pois são potenciais criminosos. É absurdo, não é?"

João Tomaz, in O Benfica

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