quinta-feira, 19 de agosto de 2021

A exigência lusitana


"José Augusto foi dos primeiros jogadores a ser alvo dos assobios das bancadas

Diz-se que o público é a alma do futebol, pois, muitas vezes, é no apoio das bancadas que os jogadores vão buscar forças para superar as adversidades. No entanto, os adeptos também são conhecidos por serem juízes pouco brandos e com uma memória com a duração de um fósforo. Se num momento um futebolista é aplaudido e elogiado por ter feito uma boa jogada, pode no momento seguinte, ser criticado e considerado um dos atletas com menos qualidade na equipa, apenas por ter falhado um passe ou um golo. No adepto, a emoção deixa pouco espaço para a razão.
Na segunda época de José Augusto de águia ao peito, o extremo viveu uma situação ambivalente. Após ter sido o melhor marcador da equipa e uma das peças-chave para a conquista do Campeonato Nacional, o jogador deslumbrava a Europa com a sua velocidade, técnica e imprevisibilidade, ao ponto de a imprensa estrangeira o ter apelidado de Garrincha português. As suas exibições não deixavam os adversários indiferentes, como na Dinamarca, em que os adeptos não resistiram e o carregaram em ombros no final da partida.
Contudo, em Portugal acontecia algo pouco visto até então: 'torna-se hábito o concerto de assobios nas partidas de futebol'. E um dos principais visados era o extremo benfiquista, 'resolveram escolher José Augusto para dar largas a essa falta de civismo'. A situação agudizou-se de tal forma, que o jornal O Benfica teve de intervir, questionando os adeptos: 'Não será mais fácil incitar à melhoria em vez de lançar o pânico?'
O apelo pareceu surtir efeito. No dia em que saiu essa edição do periódico, o Benfica defrontou o Belenenses, na última jornada do Campeonato Nacional José Augusto foi bastante aplaudido e agradeceu com uma excelente exibição, fez um golo e uma assistência na vitória por 4-0. A imprensa fez questão de o realçar: 'O popular e valoroso extremo do Benfica pareceu-nos bem mais confiante e mais alegre. As coisas tornaram a sair-lhe bem'.
José Augusto terminou a época como campeão nacional, sendo o segundo melhor marcador da equipa, com 24 golos, e campeão europeu, em que contribui com 7 golos.
Saiba mais sobre a carreira deste fenomenal jogador na área 23 - Inesquecíveis, do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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