sexta-feira, 4 de junho de 2021

Os Jogos da paciência


"A contagem decrescente para os Jogos Olímpicos Tóquio 2020 continua - ao meio-dia desta sexta-feira faltarão 49 dias para o início da Cerimónia de Abertura, agendada para as 20 horas do dia 23 de julho segundo o “Japan Standard Time”. Tem muito que se lhe diga, este JST. Não propriamente o “Time”, mas o “Standard”…
Apesar das questões que se multiplicam e das respostas que chegam, lentas e difusas, todos se preparam para uns Jogos Olímpicos únicos, também na receção que os autóctones farão aos forasteiros e na ausência de liberdade que estes terão.
A caminho de Tóquio vão a esta hora muitos contentores preparados meticulosamente por cada Comité Olímpico Nacional, carregados de muito material, desportivo, médico, logístico. Outros já chegaram. Vão de todas as partes do Mundo. Nada deve faltar para que tudo corra bem e responda às necessidades dos participantes. Mas dentro desses caixotes metálicos gigantes que atravessam oceanos vai também um ponto de interrogação enorme: como será? Nunca é demais lembrar que os Jogos Olímpicos são grandiosos, únicos, apetecíveis, gloriosos, mas estes serão muito diferentes. Quanto?
Não haverá quarentena, mas nos primeiros 14 dias o “standard” obriga a rotinas muito especiais para as quais é necessária paciência, tolerância, saber estar; haverá muitos testes, todos os dias; janelas abertas a cada 30 minutos; refeições que só podem ser tomadas no sítio Y, nunca no X; viagens assim e assado; sem devaneios libertinários acelerados pela curiosidade de quem vai ao Oriente, mas o Oriente ficará a (des)conhecer à medida das regras impostas por ela, a Covid… ou o Covid, tanto faz.
Abrigada neste ponto de interrogação, uma classe especial já é vencedora neste “time”, segundo este “standard”: os atletas. São tantas horas de trabalho, de esforço, de dificuldades, que lhes saiu ao caminho uma variável com que não contavam para tornar o desafio ainda mais exigente. Muitas vezes até parece impossível como são capazes. Mas eles são-no. Sempre e à medida de cada um.
Há umas semanas, a Joana foi à Sibéria e arrancou a qualificação na Canoagem. Como ela ficou feliz! O José Paulo nadou tanto e com tanto afinco, em Budapeste, que tirou mais de dez segundos ao recorde nacional dos 800m livres e qualificou-se para Tóquio. Foi bonita, a festa. Antes deles tinham sido o Jorge, o José, o Marco, o Tiago, o João, a Fu, a Maria, o Frederico, a Patrícia, a Evelise, o Pedro, a Ana, o João, tantos. Eles já são muitos e serão ainda mais, e estarão prontos para uma competição dura, limpa, frente ao William, à Tamara, ao Shawn, à Mary, Lucy… e muitos outros, de todo o Mundo, que se prepararam em condições tão únicas, tão difíceis.
Os relatos que chegam de Tóquio são valiosíssimos e devem fazer parte do treino de cada um: as esperas de muitas horas nos aeroportos, para controlos, testes; as deslocações para treinos controlados, vigiados; a permanência nos hotéis, mais uma vez controlada e outra vez vigiada.
É, estes serão uns Jogos Olímpicos únicos, especiais. Diria que vão ser os Jogos da Paciência, e quem melhor estiver treinado, desta vez para competir segundo um novo “Standard”, mais uma vez ganhará vantagem. Faltam 49 dias. Há tempo."

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