terça-feira, 4 de maio de 2021

Quais os pilares que sustentam o desempenho internacional do desporto Português?


"O sucesso desportivo dos países tem sido um tema muito estudado por bastantes investigadores (De Knop; Dufy; Gibbons; Green, entre outros). Porém, a visão mais esclarecida para procurar explicar porque é que algumas nações têm desempenhos desportivos de sucesso de uma forma duradoura (e não apenas picos de resultados pontuais circunstanciais) tem sido fornecida por Veerle De Bosscher, professora da Universidade Livre de Bruxelas. Da Bélgica não se conhecem elevados desempenhos desportivos internacionais. Por exemplo, o número de medalhas em Jogos Olímpicos mais recentes: Atenas 2004 – 3 medalhas; Pequim 2008 – 2; Londres 2012 – 3; Rio de Janeiro 2016 – 6; Bélgica: total = 14; Portugal: total = 7 medalhas.
O modelo proposto por De Bosscher é o designado S.P.L.I.S.S. (Sports Policy Factors Leading to International Sporting Success). Em traços gerais defende que o sucesso internacional de uma nação depende de um conjunto de fatores. Ou seja, depende fortemente das políticas desportivas desenvolvidas em nove pilares. Uns pilares são de base: 1) Financiamento; 2) Organização, departamentos e estrutura integrada das políticas desportivas; 3) Iniciação desportiva e participação desportiva da população; Outros pilares são intermédios: 4) Sistema de identificação e desenvolvimento de talentos; 5) Apoios aos atletas e ao pós-carreira desportiva; 6) Instalações desportivas para treino; 7) Sistema de formação e desenvolvimento de treinadores; 8) Competições inter(nacionais), e por último, o pilar 9) Investigação cientifica aplicada ao desporto.
Para realizar uma análise ao sistema desportivo de uma dada nação é medido quão cada pilar está desenvolvido, quais são as políticas, quais são os programas, projetos e medidas em execução para conduzir aos objetivos do sucesso desportivo internacional.
Poucos saberão que o sistema desportivo de Portugal, em 2015, foi objeto de uma investigação internacional para avaliar o seu nível e compará-lo nos nove pilares do modelo SPLISS com outros países de quatro continentes. Uns países eram da Europa, p. ex: Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Espanha; outros da América: Brasil e Canadá; outros da Ásia: Coreia do Sul, Japão e da Oceânia: Austrália.
Em nenhum dos nobe pilares do modelo SPLISS Portugal obteve uma cotação acima da média dos outros 14 países. Os quatro maiores problemas do sistema Português, evidenciado pelo afastamento face à média dos outros países, foram os seguintes: 1) Pilar – Financiamento; 2) Pilar – Organização, departamentos e estrutura integrada das políticas desportivas, e; 3) Pilar – Iniciação desportiva e participação desportiva da população. Todos pilares da base: 1, 2 e 3.
A natureza deste espaço não permite uma análise com detalhe. Destacamos os três pilares mais relevantes do estudo realizado em 2015, nos quais no nosso entendimento é necessário apostar sério: 1) Aumentar o suporte financeiro (em 2015 Portugal investiu cerca de metade da média dos outros países); 2) Melhorar a organização e o alinhamento estratégico entre os departamentos do nível central e o nível das autarquias locais, no que concerne à execução integrada das políticas desportivas, e; 3) Melhorar as oportunidades, a qualidade e os níveis da iniciação desportiva das crianças e jovens e da participação desportiva da população adulta. Precisamos de ouvir a ciência. Para um futuro melhor do desporto nacional que nos poderá conduzir a melhores desempenhos é necessário escutar a ciência. Precisamos de políticas duradouras que preencham os nove pilares do modelo SPLISS."

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