"Um escusava-se a assistir, o outro fazia de tudo pelo melhor lugar
Em 1960, o Benfica era, indiscutivelmente, uma das equipas que melhor futebol praticava na Europa, o que suscita o interesse dos amantes do desporto-rei e, principalmente, dos benfiquistas. O Clube contava com uma legião de adeptos, e as assimetrias entre si faziam com que alguns se destacassem: pela maneira como se vestiam, como viviam excessivamente as partidas ou pelos rituais que repetiam nos jogos.
Em 10 de Abril, antes de um escaldante Benfica - Sporting, me que as equipas se encontravam separadas por apenas 1 ponto, nos terrenos circundantes do Estádio da Luz, Guilhermino Pires Geraldes distinguia-se dos restantes adeptos. Com cerca de 50 anos, vestia uma 'camisola à Benfica, de cujo peito pendia um emblema do clube, onde estava suspenso, ainda, um pequeno galhardete, com outro emblema do Benfica, de um lado, e o escudo nacional, do outro; a tiracolo, um saco encarnado, com vários emblemas, mas todos da popular colectividade; ao ombro, uma enorme bandeira... do Benfica' oferecida pelo presidente dos encarnados, Maurício Vieira de Brito. Para além da vestimenta, havia um pormenor de maior realce: tinha chegado sete horas antes do início da partida, tudo porque queria 'apanhar um bom lugar'. A ansiedade de assistir ao encontro fez com que não pregasse olho.
O esforço seria compensado com a vitória dos encarnados por 4-3, aumentando a vantagem sobre o conjunto leonino para 3 pontos. O Benfica manteve a distância pontual até ao final da competição e sagrou-se campeão nacional, conseguindo o apuramento para a Taça dos Clubes Campeões Europeus 1960/61.
Com a participação na competição europeia, as distâncias aumentaram, porém não constituiu um problema para Agostinho Paula. Habituado a seguir os 'encarnados' tanto no país como no estrangeiro, já tinha estado em 'Madrid, em Milão, no Rio de Janeiro, em S. Paulo, em Nova Iorque'. Contudo, era conhecido pelos outros sócios por um aspeto inusitado: apesar de viajar com a equipa e de ver os jogadores entrarem em campo, não assistia às partidas, 'ficava na cabina, solitário e a sofrer, acompanhando desenrolar do prélio pelos ruídos que lhe chegavam das manifestações da multidão'. Foi assim que, resguardado na cabina do Estádio Tynecastle, tomou conhecimento da primeira vitória do Benfica na Taça dos Clubes Campeões Europeus, frente ao Hearts.
Mesmo com formas antagónicas, no final dessa época, Guilhermino e Agostinho viriam a viver uma conquista inédita na história do Clube. Saiba mais sobre este percurso, quando se assinalam 60 anos da vitória na Taça dos Clubes Campeões Europeus, na área 12 - Honrar o País no Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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