"A não participação do Sport Lisboa e Benfica no Campeonato Nacional de atletismo em pista coberta tratou-se de uma decisão difícil, pelo historial do Clube e pelo elevado investimento feito na modalidade, porém a única passível de ser tomada face às circunstâncias.
O Sport Lisboa e Benfica é um dos principais promotores da modalidade no país, com atividade desportiva que remonta aos primórdios do Clube. Na última década assistimos a uma forte revitalização da competitividade das nossas equipas, assente na formação e com reflexo nos excelentes resultados desportivos obtidos (em média tivemos 328 atletas por época). Somos decacampeões nacionais de pista ao ar livre e tricampeões em pista coberta, além de termos conquistado inúmeros títulos nos vários escalões (desde 2004, 165 títulos nacionais coletivos). Fomos três vezes campeões europeus nos juniores (2 corta-mato e 1 pista) e vice-campeões europeus absolutos na pista.
Acresce a responsabilidade assumida pelo Clube, através do Benfica Olímpico, e refira-se com inegável sucesso, de ter criado e desenvolvido condições de excelência para a evolução dos atletas com vista à obtenção de resultados relevantes no panorama competitivo nacional e internacional.
Não foi, portanto, de ânimo leve que a decisão foi tomada. Pelo contrário, há razões a contribuírem para esta, que não da responsabilidade do Benfica, que a tornaram inevitável.
Ao longo do último ano, o mundo tem-se debatido com uma pandemia, a qual, apesar dos avanços recentes, nomeadamente com a disponibilização de vacinas, está longe de ser debelada. O Sport Lisboa e Benfica, assim que a pandemia foi decretada pela Organização Mundial de Saúde, tomou a iniciativa de proteger todos os seus funcionários, incluindo atletas e treinadores de todas as modalidades e escalões, antecipando-se, inclusivamente, ao anúncio de medidas por parte do governo.
Face à situação em que vivemos, é incompreensível que a Federação Portuguesa de Atletismo persista na realização do Campeonato Nacional em pista coberta sem assegurar as condições mínimas de segurança, nomeadamente a da testagem anterior à realização das provas.
Sabemos que o atletismo é considerado uma modalidade de risco baixo, no entanto, no caso particular das provas em pista coberta, o risco de contágio aumenta significativamente. Aliás, não por acaso, os participantes no recém-realizado Campeonato da Europa, em que Portugal conquistou três medalhas de ouro, foram testados quatro vezes nos cinco dias de competição.
Acresce ainda o facto inusitado, tendo em conta o contexto, da duplicação do número de clubes participantes no Campeonato. Dos habituais oito passou-se para 16 em cada vertente (masculina e feminina). Considerando uma média de 25 atletas por equipa, serão cerca de 800 atletas, além de todos os elementos de apoio, juntos nos pavilhões sem que haja obrigatoriedade de testagem (com aquecimento nos parques de estacionamento...).
A solução encontrada – por imposição da autarquia de Pombal – de distribuir as provas por dois locais é demonstrativa da legitimidade da preocupação do nosso Clube. Mas essa solução não resolve o problema de base, além de criar outro eventualmente, pois há atletas que poderiam participar em provas que, agora, serão realizadas em Pombal e próximo de Lisboa.
O Sport Lisboa e Benfica manifestou à Federação de atletismo, em tempo útil, todas as suas preocupações, utilizando canais formais e informais, sem que tenha recebido qualquer resposta satisfatória. Por via informal soube-se que a testagem seria "muito cara", pelo que não se poderia optar por ela (nota: os custos de deslocação das equipas do Benfica seriam cerca do dobro do custo de testar os participantes de todos os clubes...).
São incompreensíveis a incoerência e a falta de profissionalismo e competência na tomada de decisão da realização da competição por parte da Federação. A falta de comunicação com os clubes, que são os agentes que diariamente trabalham com os atletas e os apoiam, é inaceitável. Tem de haver respeito pelos clubes e pelos atletas, além do rigor, do planeamento e da segurança exigíveis ao organizador de uma das mais importantes competições nacionais de atletismo. A comunicação entre as partes tem de existir e deveria, de uma vez por todas, haver a capacidade, na Federação, para se aprender com o que de melhor é feito por clubes, associações e outras federações. A própria reação da Federação ao comunicado do Sport Lisboa e Benfica só nos dá mais razão. Não é a poucos dias da prova que se altera o modelo competitivo e hoje, a 72 horas do início da competição, voltou a haver alterações.
Não se infira do acima exposto que se pretende uma guerra com a Federação. O Benfica quer ser parceiro da Federação e de todos os clubes na promoção do atletismo. A nossa guerra, a de todos nós, é com a pandemia. É contra a pandemia que todos devemos estar unidos.
Neste momento, a palavra de ordem no mundo é a testagem. Temos a obrigação de salvaguardar, na medida do possível, a saúde dos atletas e das suas famílias e a de todos os que trabalham diariamente em prol do desporto.
Perante tudo isto, e também do parecer do painel de especialistas clínicos do Clube, não poderia ser outra a decisão da Direção do Sport Lisboa e Benfica."
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