"O leitor conhece aqueles jogos de corridas de carros que permitem activar um efeito chamado Nitro, disparando a viatura para uma velocidade supersónica? Estou desconfiado de que alguém no Seixal encomendou umas valentes doses de óxido nitroso. Alguém cujo nome começa em Diogo acaba em Gonçalves. O rapaz tem percorrido a ala direita como se a namorada lhe tivesse ligado a avisar de que os pais acabaram de sair e ficou sozinha em casa. O que não é muito correcto da parte dos senhores, afinal ainda estamos em confinamento, mas não é esse o tema central da crónica. A progressão do Diogo Gonçalves é uma agradável surpresa que vem confirmar o potencial há muito evidenciado. Está perfeitamente a tempo de explodir e ser uma mais-valia na equipa do Benfica. Apesar de jogar do outro lado do campo, tem algumas características que me fazem lembrar o Fábio Coentrão. Embala à velocidade do vento, desenha um par de olhos na bola antes de fazer um cruzamento e foi recuado de extremo para lateral pelo Jorge Jesus. Se não trocar as embalagens de Nitro por embalagens de Marlboro, é capaz de ter pela frente uns valentes anos de sucesso. A jogar com esta qualidade, claro que ninguém espera ver o Diogo chegar aos 30 com a mesma pujança pulmonar de um reformado de 95 anos e a fazer juras de amor a clubes de cores deselegantes. Não. O Diogo nem sequer precisa de se declarar ao Benfica, basta ver o álbum de fotografias de quando tinha 10 anos para ver que já se veste muito bem desde pequenino. Agora, tem levado para dentro do relvado a dinâmica que tanta falta fazia a esta equipa. É doloroso não estar na bancada, mas, ao ver o Diogo com esta alma, consigo estar um bocadinho mais sossegado."
Pedro Soares, in O Benfica
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