sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Desculpa, Michael Thomas


"Tenho, entre os meus amigos e conhecidos, muitos benfiquistas, cada um e cada uma com a sua forma de viver e sentir o clube. Há os que acompanham cada jogo ou prova disputada nas mais diversas modalidades, há os que só se interessam pelo futebol masculino, e tenho até quem só se lembre do Sport Lisboa e Benfica quando o tempo é de festa. Nesta amálgama de gente, portuguesa e estrangeira, há muitos apoiantes do caminho que está a ser traçado, e outros mais críticos da realidade do clube, o que invariavelmente tem levado a discussões acaloradas - mas sempre civilizadas - sobre o Glorioso. Vem isto a propósito da incapacidade que tenho de atacar quem veste a camisola ou representa o Benfica. Não consigo fazê-lo, e aprendi-o da pior forma.
Entre 1998 e 1999, o futebolista inglês Michael Thomas foi contratado para a equipa principal do SLB. O médio tinha feito uma bela carreira no Arsenal e no Liverpool, mas por cá rendeu muito pouco. A (pouca) velocidade e o (fraco) empenho que colocava em cada lance fizeram que se tornasse um alvo fácil do exigente Terceiro Anel da Catedral. Não poucas vezes, lá vinha o coro de assobios sempre que a bola lhe chegava aos pés e deles saía sem a direcção ou o efeito pretendido. Tenho de confessar que fui um dos que o assobiaram desde a bancada. Aconteceu num dos 25 jogos em que vestiu o manto sagrado. Não resisti. Eu tinha 23 ou 24 anos e deveria ter sido mais civilizado, mas não o fui. Nessa noite, quando cheguei a casa, caí na real.
O meu benfiquismo não poderia passar por ali. Do alto da minha estupidez, tinha acabado de vaiar um jogador que vestia a nossa camisola, acabando por insultar o próprio clube. Nunca mais o fiz. A vergonha desse momento perdura até hoje. Posso acabar devastado por uma derrota ou por uma má exibição individual ou colectiva, posso ficar com mau feitio (ainda mais...) ou perder o apetite, mas não voltei -nem voltarei - a descer tão baixo. De todos, um."

Ricardo Santos, in O Benfica

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