quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Andam nervosos


"Cheguei ao aeroporto de Heathrow, Londres, mesmo em cima da hora para apanhar o voo de regresso a Portugal. Olhei para o quadro das partidas e chegadas e não encontrei a referência ao meu voo para Lisboa. Percorri com os olhos, várias vezes, a lista de destinos, confirmei a hora na minha reserva em papel e no telemóvel, e nada. Não havia voo para Lisboa às 10 horas da manhã, e eu tinha mesmo de estar em casa para um aniversário. Em bom português, 'passei-me'.
Fui direitinho ao balcão de informações e despejei toda a minha raiva na funcionária. Comecei por lhe perguntar o que se tinha passado com o voo das 10, e ela respondeu com lacónico: 'Não me lembro de que esse voo da manhã exista'. As minhas emoções estavam ao rubro. Mas como é isso possível, se eu tenho lugar marcado e check in feito para essa hora? Pedi para falar com a superiora da senhora, exigi que me metessem em contacto com alguém da companhia aérea, perdi as estribeiras e ameacei-os com um processo, com um pedido de indemnização e tudo o mais que me passou pela cabeça. Tinha a certeza de que a verdade estava do meio lado. Até que... Até que a zelosa funcionária do aeroporto de Heathrow me tirou o tapete: 'Tem a certeza de que o seu voo parte deste aeroporto?' A área metropolitana de Londres é servida por seis aeroportos internacionais Heathrow e Gatwick são os mais conhecidos, e, sempre que se marca uma viagem para a capital inglesa, há que levar em conta esse 'pormaior'. Eu não levei. Marquei a ida por Heathrow e o regresso através de Gatwick, e estava agora a fazer uma das miores figuras de urso da minha vida. Perdi a razão, a cabeça e o voo.
Deve ter sido assim que se sentiram os arautos da diferença e da verdade no desporto quando, no fim de semana passado, mostraram a sua indignação a quente contra um possível erro de arbitragem no futebol, disparando para todos os lados tentando salvar a sua honra. Sim, os erros existem, nós bem sabemos, como aquele que permitiu validar o golo do Paços de Ferriera no Estádio da Luz, mas temos sempre de ter a certeza do que dizemos e não nos amarmos em meninos mimados com a mania de que o mundo nos deve tudo e mais alguma coisa.
Eu meti a viola no saco quando percebi que tinha feito asneira, pedi desculpa e paguei mais quase 200 euros para marcar novo voo."

Ricardo Santos, in O Benfica

Último segundo inspirado no básquete


"Hoje, finalmente, sinto já ter recuperado totalmente a voz depois do menu bidiário de água fervida com mel e limão antes de dormir e ao acordar desde domingo à noite. Já não me lembrava de explodir em euforia daquela maneira. O Benfica colocou o meu coração à prova, e o Waldschimidt permitiu que ele continuasse a bater com entusiasmo. Dizem que os alemães são um povo frio e bem estruturado. O Waldschmidt tem esse mesmo ADN germânico. Demonstrou uma frieza sublime e confirmou também que é um jovem com a cabeça no lugar.
Sofri como já não me lembrava de sofrer, mas depois de a adrenalina do golo no último suspiro passar - desapareceu há coisa de 10 minutos - consegui reflectir de forma serena. Não havia necessidade de entrar em estado de desespero. O jogo esteve sempre controlado. Jorge Jesus já afirmou variadas vezes que utiliza técnicas e estratégias de outros desportos para aplicar no seu estilo de jogo. Tal como os bloqueios nas bolas paradas, inspirados nos bloqueios do basquetebol, desta vez JJ inspirou-se mais uma vez no desporto de Michael Jordan. No básquete existe uma regra que determina que nenhuma equipa pode ter a bola em sua posse durante mais de 24 segundos sem a lançar ao cesto. Esta norma é particularmente interessante na etapa final de um jogo equilibrado, quando a última posse de bola permite que uma equipa faça o último lançamento em cima do soar da buzina. Foi isso mesmo que JJ transmitiu à equipa. Naqueles últimos dois minutos, a bola circulou por toda a gente, da direita à esquerda, e ninguém cruzava porque estavam à espera do derradeiro momento. Foi brilhante, mas por favor não se atrevam a repetir."

Pedro Soares, in O Benfica

Os nossos!


"A única virtude que encontro nos jogos à porta fechada é a impossibilidade de alguns espectadores poderem associar, e perturbar, alguns dos nossos jogadores nos seus momentos menos felizes.
É um triste hábito, que presumo ser extensível a outros estádios e a outros clubes. Mas com o mal dos outros podemos nós bem.
Na Luz, lembro-me de serem apupados, por exemplo, Nené, Paneira, Nuno Gomes, Luisão e Cardozo, para não falar na verdadeira perseguição a Betos ou Filipes Augustos (profissionais igualmente respeitáveis, mas sem sucesso no Benfica).
A questão que se coloca não é a do direito, ou não, de qualquer espectador pagante poder exprimir desagrado com jogadores ou técnicos. Esse direito é inalienável, e não me passaria pela cabeça questioná-lo. A pergunta que o adepto deve pôr a si próprio é se pretende, ou não, apoiar a sua equipa. E caso pretenda, então deverá eximir-se de atitudes que contribuam para a desestabilização dos seus atletas - sobretudo durante os jogos.
Não é ao adepto que cabe cobrar este ou aquele desempenho do jogador X ou Y. Está lá o treinador para o fazer. Treinador esse que será avaliado pela direcção no final de cada temporada. Direcção essa que será julgada pelos sócios no fim de cada mandato.
Contribuirmos para a fogueira de qualquer um dos nossos será facilitar a tarefa de todos aqueles que, por outras vias, já o tentam fazer com intuitos mal disfarçados.
Apoiemos incondicionalmente os nossos jogadores, venham eles de onde vierem, sejam eles de onde forem. De águia ao peito são nossos, estão a correr por nós, e o sucesso deles será a nossa felicidade."

Luís Fialho, in O Benfica

Reforços de peso


"Gabriel e Luca Waldschimdt protagonizaram o grande momento do Benfica - Paços de Ferreira. No último lance, o valoroso médio brasileiro assistiu com um passe teleguiado o eficaz internacional alemão, que de cabeça sentenciou um eletrizante jogo de futebol. As nove oportunidades de golo criadas pelo Benfica, com apenas duas delas a serem coradas do êxito, merecem uma profunda reflexão e uma certeza. A reflexão é clara - só com muita persistência e determinação conseguiremos atingir o nosso principal objectivo, ou seja, a conquista do 38.ª campeonato nacional. A certeza é óbvia - as contratações foram cirúrgicas e certeiras, Darwin Núñez, Luca Waldschimidt, Everton, Jan Vertonghen, Nicolás Otamendi, Gilberto, Pedrinho e Helton Leite já deram provas de que são verdadeiros reforços. Tal como o regresso de Diogo Gonçalves foi uma decisão na 'mouche'. Só falta entrar em acção Todibo. Para já, o balanço é bastante postivo. O 'grupo dos nove' que a prospeção do SL Benfica é não só a mais competente, como a mais ousada. Refiro-me à aposta no trio atacante. Todos internacionais pelos respectivos países, Everton, Luca e Darwin constituíram investimentos avultados, mas sustentados. A nossa dupla de defesa-centrais prima pela experiência. Vertonghen e Otamendi são titulares da Bélgica (1.ª do ranking da FIFA) e da Argentina (7.ª do ranking) e ambos evoluíram, nas últimas temporadas, em poderosas equipas da liga mais competitiva do mundo - a Premier League. Tottenham e Manchester City são sempre candidatas à conquista da Liga dos Campeões. Vertonghen sagrou-se, há duas épocas, vice-campeão europeu, derrotado apenas pelo Liverpool. Por tudo isto, as críticas de que têm sido alvo só podem ter uma justificação - inveja. Antes da abertura do mercado de janeiro, segue-se um ciclo de jogos muito difícil. A única certeza que tenho é que o grande reforço para 2021 seria o regresso dos nosso adeptos aos estádios. Com o 12.º jogador seremos bem mais fortes."

Pedro Guerra, in O Benfica

Um ano de Benfica solidário


"Perto dos dias em que se finda o ano, todos pensamos que 2020 foi tudo menos um ano bom. E é verdade! Mas não é menos verdade que por se revelar difícil trouxe ao cimo o melhor de nós, convocou e uniu os esforços de todos de forma a que, por entre os dias tristes e sombrios da tragédia brilhou sempre uma esperança indómita, multiplicada em milhões de Arco-Íris que nos foram dizendo, antes como hoje ainda, que vai ficar tudo bem!
Quando olhamos para trás e revisitamos o trabalho social do Benfica nesta página que o jornal do clube carinhosamente lhe dedica, ilumina-se bem rubra essa centelha, que a todos envaidece e eleva. É chama viva esta Alma Benfiquista que nos une a fazer tanto pelo bem comum. Tanto como os títulos, abaixo relembrados, desta rúbrica semanal de um ano difícil que caminha para o fim.
Obrigado Benfiquistas!
- Vitória da vida
- Jovens em acção
- Racismo e sangue
- Ética
- Coração vermelho
- Igualdade de género até 2030
- Um por todos, todos por um
- Consignação fiscal: o músculo que nos ergue
- Vai ficar tudo bem
- Quanto vale um par de luvas
- Normalidade possível
- Vou sair daqui a pé
- Juntos cuidamos de si
- Sejam bem-vindos
- Ninguém nos para
- Direito a brincar
- Mundo redondo
- Somos os nossos valores
- Cada vez melhores
- A janela
- Futuro
- Seniores ON
- Queremos ser melhores
- Sementes
- Campeões comunitários
- Prémios em família
- Mais que futebol
- O peixe ou a pesca
- More than football
- A esperança no lugar do desespero
- All livres matter
- Diversidade é riqueza
- Jovens que pensam
- Liberdades, Resultado e Responsabilidade
- Usem máscara
- 2+2=5
- Agir sempre
- Dia de dar"

Jorge Miranda, in O Benfica

Mais um objectivo


"Hoje é dia de mais um jogo, desta feita a contar para os quartos de final da Taça da Liga, ante o Vitória de Guimarães. O palco será o melhor possível, o Estádio da Luz, e o início está agendado para as 21 horas. 
Devido à necessidade de reformulação do calendário competitivo derivada do encurtamento forçado da temporada, a Taça da Liga disputa-se, na presente época, em moldes diferentes dos anteriores.
A prova, na sua 14.ª edição, foi reduzida a oito clubes (os seis primeiros classificados da Liga NOS à oitava jornada e os dois primeiros classificados da Liga Portugal SABSEG à 10.ª jornada). O emparelhamento dos clubes nos quartos de final respeitou a classificação de cada participante, sendo que o Benfica, então no terceiro lugar, disputará a passagem às meias-finais com o sexto classificado nessa jornada.
Não sendo o principal objetivo da temporada, é com a mesma ambição de conquista que a nossa equipa abordará a partida, conforme vincado por Jorge Jesus, ontem, em declarações exclusivas à BTV: "Entramos para ganhar em todas as competições."
Benfica e Vitória de Guimarães, atuais segundo e quinto classificados da Liga NOS, já se encontraram em seis ocasiões na Taça da Liga, com quatro vitórias para as nossas cores e dois empates. Apenas dois desses encontros foram realizados no Estádio da Luz, com uma vitória benfiquista e um empate.
Que hoje a nossa equipa some mais um triunfo, é o que desejamos.
De Todos Um, o Benfica!"

Vertonghen admite ter jogado nove meses com tonturas e dores depois de sofrer pancada na cabeça


"O defesa central belga, hoje no Benfica, confessou que a época passada foi muito afetada por uma pancada que sofreu na cabeça - o que pode revelar sintomas de concussão - e que continuou a jogar por ser o último ano de contrato com o Tottenham. Em outubro, Vertonghen fraturou um osso facial devido a um choque com um adversário no encontro contra o Moreirense

"É a primeira vez que falo sobre isto."
Esta vez é sobre aquela vez de há ano e meio, o Tottenham e o Ajax estão em Londres, no estádio está um maralhal de gente a vê-los, quem é visto são os jogadores e às tantas vê-se uma bola a voar para uma das áreas e três corpos projetarem-se para a encontrar no ar. Era uma calamidade iminente a gravitar, lá foram as mãos do guarda-redes André Onana à bola, lá se tentou elevar o cocuruto de Toby Alderweirald e lá estava a testa de Jan Vertonghen.
E lá se deu a colisão das três forças para o grande mal de uma delas, foi a cara deste último defesa belga a embater na cabeça do conterrâneo com quem se emparelhava na defensiva do Tottenham e nessa vez Vertonghen tombou, ficou caído no relvado, sangue a escorrer-lhe face abaixo e todo ele a cambalear quando o levantaram. Precisou de ser sustido em ombros para se encaminhar em direção ao banco de suplentes e lá foi limpo, tratado e em teoria avaliado para, pouco depois, regressar ao campo.
Essa vez levou Jan Vertonghen a esta primeira vez, porque ele ainda jogou uns minutos até ser substituído e na semana seguinte estava a jogar em Amesterdão, com uma proteção na cara, muitas mais vezes se contaram de o belga a jogar e a ir jogando e diz ele que foram nove meses a sentir coisas, que são mais sinais, de que deveria ter estado quieto: "sofri muitas tonturas e dores de cabeça por causa desse choque, por isso é que não consegui render o que queria em campo".
O belga confessou-o na terça-feira, à "Sporza TV" do seu país, admitiu que "não sabia o que fazer" pois acontecia "jogo após jogo, treino atrás de treino, havia sempre um novo impacto" e isto que contou não é algo distante, sucedeu durante a época passada. "Só tinha mais um ano de contrato, por isso tinha de jogar. Mas quando joguei, joguei mal. Poucas pessoas o sabiam, mas foi uma decisão minha", explicou nesta vez em que quis argumentar sobre algo aparentemente inexplicável por no cerne ter a sua saúde. Depois seria a vez da pandemia, o futebol nunca estaria imune e "chegou o confinamento" que possibilitou a Vertonghen "descansar durante dois meses".
Depois disso, "sentiu-se muito melhor", a vida continuou no Tottenham até aquela vez em que o telemóvel tocou, era o nome do empresário no ecrã e a sua voz lhe trouxe a novidade de o Benfica lhe oferecer um contrato de três anos para jogar em Lisboa. Cá está o belga agora.
E quantas mais vezes serão necessárias até que o futebol, no seu abstrato, e quem manda no futebol, no particular da FIFA e do IFAB (quem discute e decide sobre as regras), por fim haja em relação a choques e pancadas na cabeça e o real risco de concussão cerebral, um tipo de trauma crânio-encefálico que tem tonturas e dores de cabeça como alguns dos sintomas.
Porque já vai tarde para adotar o que outras modalidades há muito se dignaram a ter, como obrigar qualquer jogador a ficar 10 minutos fora de campo a ser avaliado por médicos, permitir substituições temporárias ou autorizar as equipas a ter uma substituição definitiva caso seja necessário retirar o atleta do jogo.
Não basta ter protocolos publicados nos sites da UEFA e da FIFA com o lema "in doubt, sit them out". Não chegar retira um jogador na dúvida de ter ou não sintomas. Já deveria existir a certeza de medidas que protegem a saúde de quem está lá dentro enquanto adeptos, televisões, audiências, marcas e marketing giram em torno do futebol que também só existem se houver quem o jogue. Porque, infelizmente, casos como o de Jan Vertonghen continuarão a repetir-se.
Ainda em outubro, já instalado no Benfica e sem as tonturas, o central belga chocou com a cabeça num adversário do Moreirense. Dessa vez continuou em campo, mesmo com a fratura facial no malar direito que sofreu, a mesma a que foi reavaliado nos dias seguintes, já na seleção da Bélgica, onde se optou por não o deixar jogar no par de encontros da Liga das Nações que se seguiriam."

As regras e as excepções


"As 5 substituições apareceram como uma excepção: em tempo de pandemia, com calendários acelerados, era preciso proteger a integridade dos atletas. Foi a hipótese alternativa à de eliminar ou suprimir por um ano ou dois algumas competições menores. Como tantas vezes acontece no futebol, e no afã com que se procuram alterações - ao jogo com mais sucesso na história, vale a pena lembrar -, a excepção fez-se regra, muito na linha do pensamento destes tempos em que a dimensão física do jogo é sobrevalorizada, reforçada por fotos de músculos em redes sociais, dados GPS discutíveis e mapas de temperatura quase sempre inúteis. Se o que conta – e se contabiliza mais facilmente - é quanto se corre, pois que se acrescente mais gente pronta para correr.
O problema são os efeitos no jogo, que, como a sua qualidade propriamente dita, nunca serão facilmente mensuráveis. Os treinadores sentem hoje a pressão para usarem todos os recursos disponíveis, porque os dirigentes querem ver utilizados, leia-se rentabilizados, mais “activos” sob contrato. Porque os adeptos também não se conformam com a ausência de alterações, sobretudo se o jogo está a correr menos bem (mesmo se as trocas são tantas vezes para pior) mas também para queimar tempo quando a coisa corre de feição. E os próprios atletas aumentam naturalmente a expectativa de utilização, e inversamente a de frustração por não saírem do banco, agora que dá para mudar quase meia equipa. Já nem falo de agentes ou representantes, os de menor tolerância a representados com permanência prolongada entre os suplentes, com desvalorização de mercado associada. Consequência: há substituições realizadas mesmo quando nada no jogo as recomenda. A melhor prova será esta: quantas vezes um treinador tem deixado de fazer todas as trocas possíveis? Tentem lembrar-se, porque são mesmo poucos casos. E foi porque taticamente a equipa necessitava de todas essas mudanças? Não, apenas para não serem acusados de não ter esgotado os recursos todos.
As minhas reservas quanto a esta mudança, de ganho apenas aparente, são, no entanto, mais profundas, porque ou se acredita num modelo de jogo e, sobre essa ideia maior, na preparação semanal de um plano para cada partida ou se faz fé nas vantagens de revolucionar todas as partidas em curso. Mudar 5 jogadores é mudar meia equipa e é quase impossível não alterar a dinâmica dos setores todos. Se há um modelo convictamente treinado e rotinado, como é que se mantém a ordem tática com tanta mudança sucessiva? Tantas vezes se vê um novo desenho durante uns dez minutos e logo após uma nova alteração de estrutura para os dez seguintes. O que resta da ideia inicial ou do plano de jogo treinado? Muito pouco. Acresce que a multiplicação das trocas, mesmo com limite dos momentos em que podem ocorrer, aumenta o número de pausas no jogo, com quebras de ritmo sucessivas, mais graves num futebol como o português em que a percentagem de tempo útil chega a ser ridícula, tantas vezes. Trata-se de jogar com as novas regras, mas não deviam ter deixado de ser excepção.

PS 1: Também o VAR surgiu para atuar como excepção, corrigindo ou situações de ilegalidade contrastada (exemplo dos foras de jogo) ou erros efetivamente grosseiros. Cada vez mais convencidos de que o jogo é tanto deles como de jogadores ou treinadores, os árbitros não resistem a meter-se em tudo o que é lance, sobretudo quando sentados em frente a monitores. O problema do lance (discutível, sob qualquer prisma) de Coates em Famalicão foi o VAR ter-se metido. Sem isso, seria bem menor a controvérsia, até porque Luís Godinho validou o golo.

PS 2: Que me perdoem as divindades dos últimos 15 anos que se reencontraram esta semana em Camp Nou, mas o melhor jogador do mundo, o mais encantador e decisivo, chama-se hoje Neymar. Se fosse eu a decidir, a Bola de Ouro era dele."

A pandemia que deixa o desporto de formação ligado às maquinas


"A pandemia que assola o mundo neste momento trouxe consequências que podem ser irreparáveis em vários setores da sociedade. As medidas impostas para travar o agravamento do número de infetados e para se evitar o colapso do Serviço Nacional de Saúde – ainda que com resultados positivos para o seu propósito – serão, certamente, nefastas a curto, médio e longo prazo para o desporto de formação. 
Desde março deste ano que milhares de crianças e jovens portugueses estão privados de competir no desporto que praticam e, aqueles que têm treinado, fazem-no com muitas limitações para evitar o contacto entre pessoas, no cumprimento das normas da Direção-Geral de Saúde (DGS). Esta paragem forçada está a ser duramente criticada por vários dirigentes de clubes, uma vez que representam uma interrupção no desenvolvimento enquanto atletas que pode ser irrecuperável, além dos enormes prejuízos financeiros.
No caso dos jovens futebolistas que são juniores, por exemplo, um ano sem competir pode implicar o fim do sonho de progredir para as equipas seniores do seu clube. Como não jogam e sem possibilidade de manterem o ritmo competitivo, não terão a possibilidade de demonstrar o “seu futebol” e de evoluir enquanto jogadores, o que poderá fazer com que percam a oportunidade de serem escolhidos para subir de escalão. O presidente da Confederação do Desporto de Portugal, Carlos Paulo Cardoso, deu conta destas consequências em declarações à Agência Lusa: “Do ponto de vista desportivo, estamos a perder uma geração porque, nestas idades jovens, de 14, 15 ou 16 anos, há um momento em que não fazendo aquilo naquela altura perde-se o desenvolvimento físico das pessoas.” Acrescentou ainda que “há um hiato, uma etapa de desenvolvimento que não se verifica naquele momento e que, não se verificando, não é recuperável mais tarde”.
A ansiedade que toda esta mudança gera na vida dos atletas de formação é outro dos grandes efeitos negativos do panorama atual. Muitos sentem-se desolados por não conseguirem competir no desporto em que tanto investiram fisicamente, psicologicamente e, claro, financeiramente, uma situação agravada por não terem uma data para que tudo regresse ao normal. “Isto tem sido uma ‘montanha russa’ em termos emocionais. Há uma grande situação de incerteza desde o início da pandemia. Esta incerteza leva à ansiedade, a alguma confusão, a algum desapontamento, à exaustão e, nalguns atletas, até à frustração e à revolta, por não poderem fazer aquilo de que gostam “, afirmou à Agência Lusa o psicólogo, Jorge Silvério.
Tudo isto deverá levar a um grande número de desistências no desporto de formação, com danos irreparáveis tanto no desenvolvimento destas crianças e jovens, como na sustentabilidade dos clubes. Muitas instituições sobrevivem com o dinheiro das mensalidades pago pelos atletas dos escalões de formação, pelo que, uma diminuição significativa do número de inscrições poderá colocar em causa a continuidade destes emblemas e assim, empurrar para o desemprego treinadores, dirigentes e demais funcionários.
Com esta paragem na competição dos escalões de formação apenas estamos a contribuir para o aumento de jovens sedentários e, provavelmente, para um crescimento ainda mais acentuado dos números de obesidade infantil no país, uma vez que está mais que provada a importância do desporto para contrariar estas tendências. É urgente uma reavaliação da situação por parte da DGS e de todos os agentes envolvidos para que possamos continuar a lutar para travar esta pandemia… sem matar o desporto de formação."