segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Objectivo cumprido


"Pedia-se o apuramento para a ronda seguinte da Taça de Portugal e o objetivo foi concretizado, numa partida em que a nossa equipa defrontou um adversário, o Paredes, muito organizado defensivamente. Apesar da margem mínima obtida (0-1), o triunfo benfiquista não sofreu qualquer contestação, dado o sentido único do jogo e a exclusividade das oportunidades de golo criadas a pertencerem aos comandados de Jorge Jesus.
O nosso treinador destacou a "equipa completamente diferente" lançada para o jogo, realçando que se tratou de uma boa oportunidade para testar jogadores menos utilizados em contexto competitivo.
De facto, houve três estreias absolutas pela equipa A (Daniel dos Anjos, Helton Leite e Tiago Araújo), além do lateral João Ferreira, que alinhou pela primeira vez em competições oficiais. Gonçalo Ramos fez o seu terceiro jogo oficial pela equipa A na sua ainda curta carreira como sénior, enquanto Ferreyra e Morato tiveram a sua primeira oportunidade na presente temporada, Cervi e Chiquinho a segunda e Samaris a terceira.
No polo oposto está Pizzi, um dos mais experientes no onze inicial frente ao Paredes e agora o único utilizado por Jorge Jesus em todas as partidas nesta temporada, que completou 293 jogos pelo Benfica em competições oficiais, o que o coloca na 30.ª posição, a par de Cardozo, no ranking de jogadores com mais "jogos oficiais" de águia ao peito.
Chamamos ainda a atenção para a entrevista concedida por Taarabt ao jornal "Record", em que o nosso jogador confessa que, a determinada altura da sua carreira, quase perdeu a paixão por jogar futebol, o que o fez perceber que teria de mudar a mentalidade com que encarava a profissão de jogador de futebol. Hoje, o marroquino é um exemplo de redenção, um atleta que coloca os interesses do coletivo acima dos individuais e que se empenha diariamente na perseguição dos objetivos do Clube, reconhecendo, retrospetivamente, que a vinda para o Benfica foi o melhor que lhe aconteceu.

P.S.: Depois de Telma Monteiro, foi a vez de Rochele Nunes subir ao pódio no Campeonato da Europa Seniores de judo. A atleta do Benfica conquistou a medalha de bronze, a primeira da sua carreira a nível individual num Europeu, na categoria +78 kg. Parabéns!"

Criatividade Bola Parada


"Numa era em que as Organizações Defensivas conseguem colocar dificuldades tremendas à criação, por maior que seja o desnível entre oponentes, a criatividade nas bolas paradas é tantas vezes o que desbloqueia as partidas. O Benfica marcou num lance muito bem pensado e trabalhado, mas trouxe bastante mais trabalho de casa.
E o golo:


"

O 11 ideal do SL Benfica com uma defesa a três


"A atravessar um momento conturbado em termos exibicionais, o SL Benfica conta já com nove golos sofridos em sete jornadas da Primeira Liga, sendo que perdeu as duas últimas partidas.
A fragilidade defensiva dos encarnados, já visível na época passada, agravou-se com a “troca” de Rúben Dias por Otamendi. Perdeu-se um dos melhores centrais jovens a atuar na Europa, tendo vindo para o seu lugar um jogador – perdoem-me a expressão – acabado, sem condições para ser titular numa equipa com a dimensão do Benfica.
Portanto, esta semana decidimos fazer um 11 inicial do Benfica com três defesas centrais, de modo a melhorar, hipoteticamente, a estabilidade defensiva das “águias”.
O sistema escolhido é um 3-1-4-2, com um número seis mais fixo à frente da defesa e com dois médios centro – mais de ligação – à sua frente, formando um triângulo invertido no meio campo. 

Guarda redes
Odysseas Vlachodimos O grego tem sido dos menos culpados pelos golos sofridos – com exceção do terceiro golo do SC Braga -, pelo que continuará a ser a aposta na baliza encarnada.
Vlachodimos tem melhorado o seu jogo fora dos postes, quer em saídas a cruzamentos, como a controlar a profundidade nas costas dos defesas. Contudo, se quiser aumentar o seu nível de jogo, terá de melhorar rapidamente o seu jogo de pés, pois continua a falhar muitos passes.

Central direito
Ferro Um central que prometeu muito – e que muito desiludiu -, mas que acredito que ainda nos voltará a dar muitas alegrias. Na minha opinião, Ferro encaixaria bem neste sistema pelo facto de ser rápido, de ter uma boa leitura de jogo e, acima de tudo, de ter uma excelente capacidade para sair a jogar na primeira fase de construção.
Num sistema com três defesas, as suas fragilidades no 1v1 defensivo também seriam camufladas pelo facto de estar salvaguardado pelo central do meio.

Líbero 
Jan VertonghenUm senhor central. A tranquilidade que passa aos colegas e aos adeptos quando está dentro de campo são notáveis. Vertonghen, apesar de já não ter a velocidade de outros tempos, continua a ser um defesa de top mundial. Mantém sempre a compostura, tem um excelente timing na abordagem aos adversários e, também, um jogo aéreo fortíssimo.
A juntar a tudo isso, tem também uma leitura de jogo e uma capacidade de antecipação acima da média, pelo que daria um excelente líbero.

Central esquerdo
Morato Morato também encaixaria neste sistema devido à sua frieza e à sua capacidade atlética e técnico-tática. O jovem brasileiro tem vindo a notabilizar-se pela sua amplitude de recursos no que ao passe diz respeito, pois tanto tem capacidade em jogar curto como em alongar com critério e qualidade, tornando-se numa incógnita para os adversários.
Com 1,90 metros, ágil, rápido, agressivo e com uma leitura de jogo acima da média, que lhe permite antecipar-se aos adversários na disputa pela bola, Morato seria uma excelente adição ao trio defensivo das “águias”.

Médio defensivo
Gabriel Com o camisola 8, defensivamente, o Benfica tem uma capacidade de recuperação de bola mais eficaz, consistente, aliada a uma intensidade de pressão inigualável no plantel. Ofensivamente, consegue com facilidade ser uma solução de passe na frente dos centrais, onde as suas rotações de costas para o adversário são capazes de eliminar linhas de bloqueio adversárias.
Gabriel permite também um maior envolvimento coletivo em fase atacante, quer através de repentinas mudanças de flanco, capazes de desbloquear qualquer organização defensiva, quer pela procura dos laterais em fase mais avançada do terreno, potenciando toda uma dinâmica que, sem Gabriel, poucas vezes se evidencia.

Médio Ala Direito
Diogo Gonçalves Um jogador veloz e vertiginoso no momento ofensivo – capaz de fazer combinações curtas com os colegas, assim como ir à linha e cruzar -, mas que também apresenta um grande compromisso no momento defensivo, Diogo Gonçalves é o jogador ideal para fazer todo o corredor direito da equipa encarnada.

Médio ala esquerdo
Grimaldo Com um bom envolvimento no momento ofensivo, Grimaldo é, muitas das vezes, mais ala do que lateral, pelo que a posição não lhe é, de todo, estranha. Além disso, o facto de ter um grande nível de resistência permite-lhe dar, ao longo dos 90 minutos, a profundidade que a equipa precisa. 

Médio centro direito
Pizzi Com uma boa perceção de ocupação de espaços com e sem bola, assim como uma boa chegada a zonas de finalização, Pizzi tem sido um dos jogadores mais influentes do Benfica nos últimos anos, somando dezenas de golos e assistências por época. A sua incorporação num meio campo a três beneficiaria o seu jogo, visto que as suas debilidades defensivas estariam mais resguardadas.

Médio centro esquerdo
Taarabt Um jogador muito vertical, com uma capacidade de pressão incrível, tecnicamente muito acima da média e com uma visão de jogo excecional, Taarabt, à falta de um número oito puro, é a melhor opção para desempenhar essas funções. O que escrevi sobre Pizzi também se aplica ao marroquino: incorporado num meio campo a três, onde as suas debilidades defensivas estão mais escondidas, o médio poderá libertar-se (ainda) mais.

Segundo avançado
Waldschmidt Com uma capacidade de jogar entre linhas acima da média, o alemão é um dos jogadores indispensáveis de Jorge Jesus. Além disso, Waldschmidt acrescenta à sua grande capacidade de finalização uma qualidade de passe de top, tal como já demonstrou quer frente ao Belenenses, como frente ao Rangers, ao isolar, em ambos os encontros, Darwin.

Ponta de lança
Darwin Um ponta de lança completo. Rápido, ágil, boa capacidade de segurar jogo e tabelar com colegas, assim como apresenta um bom ataque à profundidade, o uruguaio foi uma grande contratação por parte das “águias”. Apesar de vir com um preço inflacionado, penso que o retorno quer desportivo, como financeiro, irá valer o investimento feito."

Miguel Oliveira e as fontes de contágio das vitórias


"Contrariamente a Miguel Oliveira, que até em pé se aguenta em cima de uma moto com mais de 150 kg, esta vossa desengonçada nem a sentar-se sorrateiramente, para se fingir rebelde, conseguiu evitar o tombo. Não tendo a memória mais precisa do mundo, já não sei apontar a idade que tinha, mas lembro-me que ainda mal chegava à altura do Evereste que a moto do meu pai me pareceu naquele dia. Na verdade, também não sei que moto era aquela, apesar de a recordar como grandalhona, preta e metálica, o que na minha cabeça era apenas sinónimo de Harley, mesmo que o veículo pudesse ser de uma marca branca de motorizadas.
Ora, inspirada não se sabe muito bem pelo quê, apanhei-me sozinha na garagem e decidi iniciar então a pesada escalada até ao Evereste do assento. À chegada ao cume, deu-se o infortúnio: tombei, eu e a amostra de Harley, com ela lamentavelmente a sair em melhor estado do que eu, já que foi o meu pé a ficar entre o esmagado e o preso debaixo do peso do metal.
Depois de muita choradeira, lá se fez o diagnóstico: um pé torcido, muitas dores e uma lição para uma criança.
Desde então, nunca mais quis saber de motos e, perdoem-me os fãs e o próprio Miguel Oliveira, não tenho nenhum apreço especial por ver MotoGP, apesar de saber, evidentemente, que a vitória deste domingo foi um feito digno dos maiores encómios para um piloto português - e foi por isso que logo se apressaram, claro está, o presidente da República, o primeiro-ministro, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, o líder do PSD, etc e tal, a juntar-se à festa.
Serve este longo introito sobre a minha infelicidade juvenil com uma mota e respetivas consequências - enquanto Miguel Oliveira, pelo contrário, crescia feliz entre triciclos elétricos e moto 4 - para chegar a esta meta: se não permitimos às crianças de hoje que retomem a atividade desportiva, como é que vamos ter mais exemplos como o de Miguel Oliveira no futuro?
E quem diz Miguel Oliveira diz também Telma Monteiro, Jorge Fonseca, Cristiano Ronaldo, Diogo Jota, Bruno Fernandes, João Félix e José Mourinho, só para citar alguns dos portugueses que se destacaram no desporto mundial este fim de semana.
É na juventude que estes exemplos crescem, através da prática desportiva diária, para chegar ao nível mais alto das respetivas modalidades. Mas, atualmente, as restrições impostas à atividade desportiva de formação não permitem qualquer crescimento e prejudicam gravemente uma geração de jovens portugueses, até em termos de saúde mental. E isto tudo já se sabendo entretanto que a prática desportiva, por exemplo, no futebol, não é "uma atividade de alto risco", ao contrário dos convívios familiares, apontados pelas autoridades como responsáveis por 68% dos contágios.
E das vitórias - neste caso, de Miguel Oliveira - também já há fontes de contágio identificadas: os políticos portugueses, sempre os primeiros a congratularem-se com orgulho pelas conquistas dos desportistas portugueses, com a mesma hipocrisia com que ignoram a importância da prática desportiva no crescimento dos jovens."

Educar pelo desporto


"A educação legitima-se pela transmissão de saberes e funda-se em valores. Pela sua diversidade, fazer um inventário parece-nos muito difícil. Tomando como referência a classificação do filósofo francês Oliver Reboul (Les valeurs de l’éducation, Paris, 1992), três categorias de valores emergem:
1) aqueles que se consideram como sendo os objetivos da educação, designadamente os valores para os quais ela prepara e que variam segundo as sociedades e as culturas. Neste sentido, uns privilegiam a integração no meio social, outros a autonomia individual, o espírito crítico e o sentido de responsabilidade;
2) os valores indispensáveis na organização de uma educação. Se a obediência, o respeito pelos mais velhos ou o espírito de disciplina foram durante muito tempo privilegiados, atualmente a atenção vai para a iniciativa, a criatividade ou a livre cooperação;
3) privilegia-se nesta terceira categoria os valores que servem de critério de julgamento. Para uns, é preciso privilegiar ainda mais a capacidade de iniciativa, o desenrascanço ou o espírito de equipa, enquanto que para outros é preciso aumentar a capacidade de reprodução de conhecimentos, o respeito pela troca de informações ou atingir um determinado nível de performance.
Os valores associados ao desporto, quando ele é organizado num quadro educativo, são diversos. Eles promovem um sentido, definindo as condições de exercício e de reconhecimento social. O fato de se educar não implica naturalmente valorizar certos valores, mas releva de uma escolha em função das missões atribuídas pela educação desportiva. Se é certo que o desporto se inscreve numa perspetiva educativa, as diferenças, ou as fortes divergências, podem caraterizar os fins da prática desportiva, em função dos estatutos dos intervenientes, dos modos de prática (profissional/amador, associativo/livre, etc.). Mas o “efeito camaleão” não está muito longe e não ajuda a promover a clareza. Todas as tendências podem se reagrupar em torno do campo desportivo sem que se partilhem os mesmos valores. De qualquer forma, ele é considerado como uma atividade benéfica, é utilizado para lutar contra as indelicadezas, participa na formação para a cidadania ou serve para integrar os jovens com maiores dificuldades, que são, em geral, os mais interessados por uma prática desportiva ou pelos seus espetáculos.
Os projetos de educação pelo desporto apresentam uma grande diversidade de formatos de ação, dependem das finalidades procuradas e dos constrangimentos sociais e organizacionais."