sábado, 7 de novembro de 2020

O povo e os nobres


"Durante muitos séculos, na História de Portugal e da Europa, a sociedade esteve dividida em três classes sociais: clero, nobreza e povo. As duas primeiras governavam, e a terceira sobrevivia. De uma forma muito lenta e quase invisível, os elementos da classe mais desfavorecida lá foram organizando, amealhando riqueza e conquistando algum destaque, mas eram os nobres e o clero quem continuava a mandar no país, nos impostos e nas mentes. Hoje, a realidade é bem diferente. O clero mantém um papel de destaque, mas sem o poder de outrora, felizmente. A nobreza faliu e foi afastada em quase todos os territórios. O povo continua a sobreviver, mas já não é quase escravo (sim é discutível).
Vem isto a propósito das mais recentes eleições no Sport Lisboa e Benfica e dos dois modelos em confronto: um de continuidade, outro de renovação. Não foram apenas os nomes ou os projectos que estiveram em duelo, fomos nós enquanto sociedade. E aqui não estou a fazer juízos de valor sobre qualquer uma das candidaturas.
Enquanto Luís Filipe Vieira parece ter reunido o apoio das Casas dos sócios mais antigos e manteve maior influência fora e dentro dos grandes centros, Noronha Lopes concentrou um maior número de seguidores entre os mais novos, os urbanos e as figuras públicas, com todo o seu poderio nas redes sociais, tantas vezes enganadoras quanto à sua dimensão.
O resultado foi esclarecedor. Há um terço dos sócios benfiquistas que tomaria outro caminho, e isso merece ser respeitado. Há dois terços que querem continuar neste rumo, e também são merecedores de respeito. É tempo de enterrar machados, mas não esquecer a História. Dizer que o Sport Lisboa e Benfica é um clube popular não é um chavão, é uma realidade social. E os nobres têm de respeitar, ao contrário do que foi feito noutros tempos, a palavra do povo."

Ricardo Santos, in O Benfica

Enviei um corta-unhas para o Darwin


"O ano de 2020 tem sido fértil em acontecimentos anormais. Primeiro, uma pandemia à escala mundial. Depois, o Cristiano Ronaldo com o cabelo rapado a pente zero e, agora, o Sporting isolado na liderança à 6.ª jornada. Que raio se estará a passar com o planeta? Estamos todos a adaptar-nos a esta nova forma de viver, e ainda não percebi se me custa mais usar máscara a tempo inteiro ou ter de erguer o olhar para poder mirar o Sporting. A máscara até beneficia algumas pessoas - quer da perspectiva de quem usa, quer da perspectiva de quem vê -, pelo que os leões no comando da Liga talvez me aflijam um pouco mais. Sobretudo porque acredito no potencial do Rúben Amorim. Devemos dar o mérito a quem o tem, e é justo reconhecer o fantástico trabalho que o treinador do Sporting tem desenvolvido. Está totalmente focado nesta nova etapa e não se deixa distrair com nada daquilo que se passa à sua volta. Não tem sequer tempo para sair de Alcochete: o Benfica teve as eleições mais concorridas da história do clube, e o Rúben Amorim dez parte da abstenção.
No domingo temos pela frente um desafio difícil. O SC Braga tem um plantel forte e vai seguramente obrigar o Benfica a correr muito para conseguir vencer. Penso que poderá haver alguma vantagem para o nosso lado neste aspecto. Enquanto o SC Braga tem jogado de três em três dias há várias semanas, o Benfica teve uma pausa no fim de semana passado que permitiu aos jogadores poderem descansar. 
Confio nas escolhas do mster JJ para que consigamos amealhar os três pontos, e espero que lhe entreguem a encomenda que enviei para o Seixal: um corta-unhas para ver o Darwin deixa de marcar golos em posição irregular."

Pedro Soares, in O Benfica

Maturidade


"As eleições terminaram no dia em que os sócios exerceram o seu direito de voto, os resultados foram apurados e os novos órgãos sociais tomaram posse. E só deverão voltar a ser tema daqui a quatro anos, quando for altura de avaliar o mandato que agora se inicia.
Não posso, porém, deixar de salientar a enorme manifestação de democracia benfiquista que constituiu o acto da semana passada. Quer pelos números de participação inéditos no futebol português, quer sobretudo pela forma ordeira como decorreu todo o processo (mais a mais, num período muito difícil para o país e para o mundo). A campanha foi viva e, descontando uma ou outra declaração própria de movimentos eleitorais, foi conduzida com elevação por todos os candidatos. Por fi, o resultado foi esclarecedor, não deixando dúvidas quanto àquilo que a maioria dos benfiquistas pretendia para o seu clube. Resulta daqui um Benfica mais forte, mais unido e mais preparado para enfrentar os desafios do futuro próximo.
Agora é altura de lançar mãos à obra, e prosseguir com um projecto que não pode parar. Como foi sendo repetido pelo presidente reeleito, a prioridade neste mandato será a vertente desportiva. É essa que os sócios esperam ver fortalecida, e será esse o barómetro de avaliação dos próximos anos. No plano estrutural e financeiro, o Benfica está vários patamares acima dos rivais. É preciso fazer reflectir essa vantagem dentro do campo. E há também que a transportar além-fronteiras, traduzindo-a em prestações internacionais de acordo com as exigências da nossa história. 
Juntos, somos mais fortes, e este é um momento de união."

Luís Fialho, in O Benfica

Carta a Mário Dias


"Caro Mário Dias, muito obrigado pela concepção e construção do novo Estádio da Luz! Muito obrigado por ter acreditado sempre que a obra por muitos considerada impossível concretizou-se em tempo recorde! Muito obrigado pelo conforto e segurança que nos deu com a Nova Catedral! Muito obrigado por no ter recordado, várias vezes, a máxima que Roma e Pavia não se fizeram num dia! Muito obrigado por nos ter devolvido a autoestima até então perdida! Muito obrigado pela lição de vida que foram aqueles dois anos alucinantes! Muito obrigado por nos ter feito crescer enquanto clube! Muito obrigado por ter ajudado a conceder às Casas do Benfica o estatuto que hoje têm na vida do Glorioso, sobretudo do ponto de vista da venda de bilhetes para os jogos! Muito obrigado pela sua bonomia instintiva! Muito obrigado pela sua forte determinação! Muito obrigado pela sua vontade de ferro! Muito obrigado pela sua grandeza enquanto homem! Muito obrigado pela sua coragem! Muito obrigado pelo seu martírio! Muito obrigado pela sua permanente e incansável vigília! Muito obrigado por ter ajudado sempre o presidente Luís Filipe Vieira, sobretudo nas horas mais difíceis! Muito obrigado pelo seu benfiquismo! Muito obrigado pelo seu amor ao Clube! Muito obrigado por ter estado sempre à disposição do clube do seu coração! Muito obrigado pelos anos a fio que deu ao nosso Sport Lisboa e Benfica! Muito obrigado pela sua experiência e conhecimento que deu à Benfica Estádio! Muito obrigado por ter transformado o SL Benfica num clube mais moderno! E, finalmente, muito obrigado pelos seus conselhos sempre sábios e sensatos!"

Pedro Guerra, in O Benfica

Liberdade, resultado e responsabilidade


"Mais um ano lectivo. É um ano lectivo diferente, um ano lectivo em que voltámos a respirar a escola e, muito apreciadamente, voltámos a jogar à bola.
Por isso, em relação ao anterior, este será um ano lectivo de liberdade, mas como todos sabemos (ou devemos relembrar...), com a liberdade vem sempre a responsabilidade.
Continuaremos a monitorizar e premiar os resultados, porque esses têm sempre de aparecer. Continuaremos a avaliar a assiduidade e o comportamento enquanto produtor de um ambiente construtivo na sala de aula, que se estende bem para lá das suas paredes, fomentando o respeito mútuo e cimentando amizades. Criando, enfim, um ambiente saudável, de harmonia, tolerância e sã convivência em toda a comunidade escolar e para além dela.
Tudo isto é importante, mas é sobretudo importante a atitude individual, porque vai ser o comportamento de cada um que nos vai permitir, a todos, continuar em liberdade. Por isso, resultado, liberdade e responsabilidade serão os drivers neste ano desafiante. E serão avaliados por isso!
Foi mais ou menos assim que me dirigi, num pequeno vídeo, aos jovens do projecto Para ti Se não faltares!, que agora reiniciam entusiasticamente as actividades desportivas por que tanto ansiavam.
E a resposta a este apelo começou a chegar, de Marvila, de Paranhos, da Boavista, de São Domingos de Benfica, de Ponte de Sor, da Penha de França. Dez escolas com centenas de jovens alinhados no projecto e determinados a conquistar os seus objectivos e levar por diante o vírus ou o que mais se lhes atravessar ao caminho. Todos os dias me chegam reportes de um cumprimento, quase religioso, com alegria, sem enfado, de todas as regras, desinfecções, afastamentos, máscaras, alterações ao treino e tudo o mais. Os nossos jovens levam a peito a mensagem e sabem que vão ser avaliados, também, pela sua atitude responsável. Por isso, como sempre, são o máximo num comportamento exemplar que nos enche de orgulho e que dá o melhor exemplo dos colegas e famílias. Não esperávamos menos. Sabemos bem de que massa são feitos estes jovens e os valores que ganham com a Fundação Benfica.
Parabéns e obrigado a todos. E já sabem, como sempre, não baixar a guarda nunca, manter a pressão, dominar as circunstâncias.
Bom ano, em liberdade!"

Jorge Miranda, in O Benfica

O exemplo de Mário


"1. Às últimas horas de domingo passado, Mário Dias teve de nos deixar. Os Benfiquistas ficaram tristes porque, mesmo que nem todos tivessem tido o privilégio de alguma vez o terem contactado pessoalmente e podido beneficiar da magia do seu convívio, todos, por certo, reconheciam nele o homem simples e determinado que tudo fez, mais do que ninguém, para que o novo Estádio da Luz pudesse ser erguido.
2. Antes de todos os verdadeiros, heróis reunidos nessa gesta, foi ele quem primeiro acreditou que seria possível cumprir essa missão. E também foi ele quem soube persistir, nesse primordial esforço de motivação junto dos restantes que selecionara cuidadosamente, conforme os diferentes apports de cada um, que ele achava indispensáveis ou mais necessários para o cumprimento da 'missão impossível', em circunstâncias ainda tão fortemente constrangedoras da vida do Sport Lisboa e Benfica.
3. A sua persistência, baseada na vasta experiência profissional que na altura fazia dele um dos mais conceituados especialistas na direcção de grandes construções, caldeada num intenso Benfiquismo de eleição, deu resultado: no 'dia seguinte' à magna Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica de 28 de Setembro de 2001 em que a edificação do novo Estádio foi decidida, o processo passaria à prática.
4. Escassos vinte e cinco meses depois - em 25 de Outubro de 2003, eu sei que Mário Dias terá vivido um dos dias mais importantes da sua vida, ao ver erguido, pronto e lindo, magnífico e finalmente vivido pelos Benfiquistas, o nosso novo templo.
5. Os Benfiquistas passaram então, e apenas então, a poder conhecer um pouco melhor a modéstia e a reservada simplicidade do nobre carácter desse homem notável que, tendo acabado de cumprir o maior desafio construtivo da sua vida, só nessa altura tinha disponibilidade para partilhar com as televisões e jornalistas as pequenas e as grandes histórias desses vinte e cinco meses alucinantes.
6. Sempre considerei o nosso Mário Dias como um homem invulgar. Em todo o caso, a sua competência, a sua extraordinária capacidade de planear e resolver perante os imprevistos, a energia com que mobilizava e sabia dirigir as equipas de operários, técnicos e engenheiros ou arquitetos, não eram tudo...
7. O que o distinguia e me impressionava eram também, a resistência física e intelectual, assim como o sentido positivo que sabia manter nos momentos mais difíceis, afabilidade e à genuína humildade do seu temperamento diferenciado e singular.
8. E no triste momento do seu afastamento de nós, não deixo de assinalar que, para mim, no dedicadíssimo e exemplaríssimo cumprimento do seu desígnio Benfiquista, Mário Dias terá sido a mais autêntica representação viva que eu pude reconhecer daquele mesmo espírito e dos princípios que há mais de um século reuniram e terão caracterizado nos primórdios do Benfica, os nossos 25 'pais fundadores'."
9. Mas, por causa de si próprio, julgo que, ao perdermos Mário Dias, não ficaremos mais pobres. Acho que essa responsabilidade está em cada um de nós... E bastará que a cada momento da nossa relação com o Benfica, como, mesmo na vida de cada um de nós em sociedade, saibamos lembrar o modelo de vida e o exemplo de Benfiquismo do nosso querido Mário..."

José Nuno Martins, in O Benfica