sábado, 7 de novembro de 2020

O exemplo de Mário


"1. Às últimas horas de domingo passado, Mário Dias teve de nos deixar. Os Benfiquistas ficaram tristes porque, mesmo que nem todos tivessem tido o privilégio de alguma vez o terem contactado pessoalmente e podido beneficiar da magia do seu convívio, todos, por certo, reconheciam nele o homem simples e determinado que tudo fez, mais do que ninguém, para que o novo Estádio da Luz pudesse ser erguido.
2. Antes de todos os verdadeiros, heróis reunidos nessa gesta, foi ele quem primeiro acreditou que seria possível cumprir essa missão. E também foi ele quem soube persistir, nesse primordial esforço de motivação junto dos restantes que selecionara cuidadosamente, conforme os diferentes apports de cada um, que ele achava indispensáveis ou mais necessários para o cumprimento da 'missão impossível', em circunstâncias ainda tão fortemente constrangedoras da vida do Sport Lisboa e Benfica.
3. A sua persistência, baseada na vasta experiência profissional que na altura fazia dele um dos mais conceituados especialistas na direcção de grandes construções, caldeada num intenso Benfiquismo de eleição, deu resultado: no 'dia seguinte' à magna Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica de 28 de Setembro de 2001 em que a edificação do novo Estádio foi decidida, o processo passaria à prática.
4. Escassos vinte e cinco meses depois - em 25 de Outubro de 2003, eu sei que Mário Dias terá vivido um dos dias mais importantes da sua vida, ao ver erguido, pronto e lindo, magnífico e finalmente vivido pelos Benfiquistas, o nosso novo templo.
5. Os Benfiquistas passaram então, e apenas então, a poder conhecer um pouco melhor a modéstia e a reservada simplicidade do nobre carácter desse homem notável que, tendo acabado de cumprir o maior desafio construtivo da sua vida, só nessa altura tinha disponibilidade para partilhar com as televisões e jornalistas as pequenas e as grandes histórias desses vinte e cinco meses alucinantes.
6. Sempre considerei o nosso Mário Dias como um homem invulgar. Em todo o caso, a sua competência, a sua extraordinária capacidade de planear e resolver perante os imprevistos, a energia com que mobilizava e sabia dirigir as equipas de operários, técnicos e engenheiros ou arquitetos, não eram tudo...
7. O que o distinguia e me impressionava eram também, a resistência física e intelectual, assim como o sentido positivo que sabia manter nos momentos mais difíceis, afabilidade e à genuína humildade do seu temperamento diferenciado e singular.
8. E no triste momento do seu afastamento de nós, não deixo de assinalar que, para mim, no dedicadíssimo e exemplaríssimo cumprimento do seu desígnio Benfiquista, Mário Dias terá sido a mais autêntica representação viva que eu pude reconhecer daquele mesmo espírito e dos princípios que há mais de um século reuniram e terão caracterizado nos primórdios do Benfica, os nossos 25 'pais fundadores'."
9. Mas, por causa de si próprio, julgo que, ao perdermos Mário Dias, não ficaremos mais pobres. Acho que essa responsabilidade está em cada um de nós... E bastará que a cada momento da nossa relação com o Benfica, como, mesmo na vida de cada um de nós em sociedade, saibamos lembrar o modelo de vida e o exemplo de Benfiquismo do nosso querido Mário..."

José Nuno Martins, in O Benfica

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