terça-feira, 3 de novembro de 2020

Quando Pelé trovejou na Luz!


"Na recente dia 23 de Outubro, Pelé cumpriu 80 anos. Jogador dos momentos impossíveis, realizou no Estádio da Luz, em 11 de Outubro de 1962, uma das mais brilhantes exibições da sua vida. Segunda mão da Taça Intercontinental: o Benfica trouxe um bom resultado do Maracanã (3-2), mas não resistiu ao vendaval de Edson Arantes do Nascimento (2-5).

Pelé fez anos. Oitenta. Aquele que foi para muitos o melhor jogador de todos os tempos (entre os quais se inclui o jornalista que assina estas linhas) assinou no Estádio da Luz uma das mais extraordinárias exibições da sua extraordinária carreira. Azar do Benfica, campeão europeu, que sofreu um vendaval impressionante por parte da linha avançada do Santos. E os encarnados até tinham obtido um resultado bom na primeira mão, no Maracanã (3-2), deixando tudo em aberto para essa noite de 11 de Outubro.
Contra o Benfica não era uma guerra: era um jogo de irmãos. Ganharia quem jogasse melhor. Ganhou o Santos. No Rio de Janeiro, de aflitos, com mais de 170 mil pessoas nas bancadas: ao golo de Pelé, aos 31', respondeu Santana, aos 58'; aos golos de Coutinho (64') e Pelé (86'), voltou a responder Santana (87').
A corda esticara-se ao ponto de rebentar: em Lisboa se decidiria para que lado...
Nelson Rodrigues, o grande cronista brasileiro: 'Não sei se vocês se lembram de um Benfica - Santos, disputado em Lisboa, há anos. Seria uma partida como outra qualquer, se a presença de Pelé não a transfigurasse, dando-lhe uma dimensão gigantesca. O que o crioulo fez, não há Homero que o descreva. Ele atravessava aos adversários assim como um fantasma atravessa as paredes. Lembro-me de um gol, em que ele, numa penetração fulminante, driblou cinco adversários e entrou com bola e tudo. Dizer que foi bom, foi grande, foi sensacional é pouco. Foi muito além de todos os adjectivos. Sua coxa aparecia forte, crispada, vital como a anca de um cavalo negro. A defesa do Benfica não sabia o que fazer, nem havia o que fazer. Pelé era uma força da natureza. Ele chovia, ventava, trovejava, relampejava. Seus passos era límpidos, exactos, macios. Ou fazia ou dava gols. A multidão já nem respirava, sentido que estava vivendo momentos de eternidade'.

É preciso espaço!
Confesso: o que se passou na Luz merece espaço alargado. Vou pedir-vos paciência. Se não se importam, a crónica de hoje vai prosseguir na próxima edição deste nosso jornal.
Não foi à toa que baptizaram esse Benfica - Santos como 'O Maior Desafio de Sempre em Portugal'!
Por outro lado, há quem diga que Fernando Riera encarou este segundo jogo de uma forma leviana: porque terá deixado que o optimismo tomasse conta da equipa; porque terá considerado que fazer uma marcação dura a Pelé seria um crime lesa-futebol, preferindo deixar o brasileiro mais à solta, mesmo, sabendo dos riscos que corria com essa atitude.
Foi fatal! Absolutamente!
0-1, aos 17 minutos: contra-ataque dos brasileiros, passe em diagonal de Coutinho para Pepe; Jacinto está adiantado, e o extremo-esquerdo do Santos aproveita o espaço nas suas costas; Raul persegue-o, mas debalde; Pepe centra rasteiro para a entrada da grande área, Pelé surge fulgurante, em corrida, e remata de primeira. Soberbo!
0-2, aos 27 minutos: Pelé faz tudo sozinho (leram o Nelson Rodrigues há quatro parágrafos?); finta um, dois, três adversários; à saída de Costa Pereira, coloca-lhe a bola fora do alcance.
0-3, aos 49 minutos: Pelé outra vez; primeiro hipnotiza Cruz com uma simulação mágica, depois é a vez de Raul; sem seguida corre pela direita como se fosse perseguido por um bando de assaltantes de estrada; chegado à linha de fundo, centra rasteiro para a frente da baliza, onde Coutinho faz o golo fácil.
0-4, aos 64 minutos: Pelé, ele e só ele, dono da Luz, dono do Mundo; um, dois, três adversários/uma, duas, três fintas como meneios de toureiro; sempre a caminho da baliza, sempre em progressão; ângulo apertado, remate preciso, Costa Pereira impotente. Maravilhoso!
0-5, aos 77 minutos: passe de Pelé para Coutinho, rasgado, largo; Coutinho vai sozinho para a baliza, Costa Pereira sai, vai tomar conta da bola, mas escorrega, larga-a, deixa-a fugir para a frente de Pepe; Pepe faz um golo facílimo.
1-5, aos 86 minutos: de longe, de muito longe, Eusébio volta a rematar à baliza de Gilmar, já o tinha feito por meia dúzia de vezes, já acertara num dos postes; desta feita o remate é impressionante de força e colocação. Grande!
2-5, aos 89 minutos: rápido movimento do ataque do Benfica; Eusébio solta-se e faz um passe suave para a frente de Santana; em corrida, de primeira, Santana remata, em arco e com precisão.
Que jogo! Que jogo!
Felizes os que tiveram a oportunidade de assistir a tudo o que se passou nessa noite lisboeta. A história dos grandes clubes, como o Benfica, como o Santos, é feita de vitórias maravilhosas e de derrotas estrondosas. Ninguém pode fugir ao destino que é marcado pela bola, a mágica senhora das paixões. Eusébio abraçou Pelé, seu amigo, seu irmão. O povo, nas bancadas, aplaudiu com o respeito que se deve aos que conseguem ser enormes. A melhor equipa da Europa fora batida, mas nessa noite ninguém seria capaz de aguentar o monstruoso Pelé.
Aceitar essa realidade demonstrava dignidade e nobreza.
O Benfica perdeu. Mas com um cavalheirismo notável.

(continua na próxima semana)"

Afonso de Melo, in O Benfica

Cosme Damião: fundador, jogador, treinador e... escritor!


"Em mais de cem páginas, dedicadas aos sócios do Clube, Cosme Damião explica o que é preciso para jogar bom futebol

Em Abril de 1925, foi editado o livro Apontamentos e Recortes Sobre Football Association, o primeiro e único livro de Cosme Damião. Uma obra extremamente completa que descreve, ao longo de 131 páginas, os requisitos necessários para se desempenhar bem as várias funções de um praticamente de futebol, algo inédito em Portugal. Este livro revelou, também, um Cosme diferente. Um Cosme que vai para além do jogador e do capitão-geral, função que desempenhava quando o escreveu. Estes Apontamentos deixam antever um homem culto e inteligente. Um pensador, com vontade de fazer mais e melhor.
O livro, que tem na capa Álvaro Gaspar, jogador do início do século e grande amigo de Cosme Damião, que o descrevia como 'o melhor entre os nossos melhores jogadores no seu logar', foi dedicado aos sócios do Benfica. O seu objectivo era claro: 'conseguir, que se corrijam, ainda que só em parte, defeitos com que a quasi totalidade dos nossos jogadores e praticam e para que ele seja jogado com a arte e sciencia a que tem direito'.
Os capítulos iniciais são dedicados a uma reflexão acerca do estado do futebol naquela altura, que não era brilhante, e sobre as origens deste desporto. Porém, a temática do jogador é a mais abordada e começa logo com a idade ideal para se iniciar a modalidade: 'Não poderá ser um futebolista completo, aquele que se inicia no jogo depois dos desoito anos'. Já dizia o ditado: 'É de pequenino que ... se começa a dar pontapés certeiros na bola'! Já no que toca à idade limite para se praticar futebol, Cosme revela-se mais flexível, afirmando que os jogadores que o fazem há mais tempo não devem ser descartados apenas por serem mais velhos. Antes pelo contrário a sua sabedoria deve ser usada em prol do jogo! O mister defende, também, que um bom jogador tem de ser inteligente. 'Não poderá ser um elemento bom, o jogador, que (...) careça, por desgraça, de espírito entusiasta, ou seja tacanho de cérebro'. A técnica de jogo ocupa mais de metade do livro. Está lá tudo. Como parar uma bola? Como passar o esférico aos colegas de equipa? Como jogar de cabeça? Qualquer dúvida que houvesse, Cosme respondia!
Com este preciso manual de como jogar bom futebol, Cosme não tinha a ambição de ser um best-seller. O seu desejo era, apenas, que fosse 'útil aos rapazes do meu Sport Lisboa e Benfica, que carecem colher dele alguns ensinamentos'. Estaria longe de imaginar que, décadas mais tarde, esse mesmo livro iria a estar em exposição no museu do seu Benfica, baptizado com o seu nome, na área 18 - 'E Pluribus Unum'."

Marisa Furtado, in O Benfica

Derrota inesperada


"Não era de todo esperado o desaire, ontem, no Bessa. O percurso incólume da nossa equipa desde que se iniciara a Liga NOS, com sete triunfos consecutivos (cinco no Campeonato e dois na Liga Europa), acrescido do bom nível exibicional apresentado ao longo deste período, justificava o nosso otimismo para a deslocação ao reduto do Boavista, mesmo cientes dos problemas que o nosso adversário poderia criar e da calendarização muito apertada.
Jorge Jesus apontou a desorganização defensiva, nomeadamente na reação à perda da bola, e a complacência do árbitro relativamente às muitas faltas cometidas por jogadores do Boavista como fatores que afetaram o rendimento da equipa e influenciaram o resultado. Assim como reconheceu que se sentiu "a carga de todos os desafios que temos vindo a disputar", acrescentando que "isso faz parte de uma equipa que quer estar em todas as frentes".
Acerca da condescendência da equipa de arbitragem, ao não admoestar os jogadores axadrezados por faltas sucessivas, chega a ser caricato que o primeiro cartão amarelo mostrado na partida tenha sido a Vertonghen e o primeiro boavisteiro admoestado o tenha sido só aos 59 minutos.
Importa agora reagir à derrota, tirar ilações sobre o que se poderá melhorar, recuperar a condição física dos jogadores e direcionar o foco para o jogo seguinte.
O próximo adversário será o Rangers (quinta-feira, dia 5, às 17h55), na Luz, numa partida a contar para a Liga Europa. O objetivo passa por vencer e somar mais três pontos, alcançando, nesse caso, a liderança isolada do grupo à terceira jornada. Só depois se pensará no Braga, próximo adversário na Liga NOS (domingo, dia 8, na Luz, às 20 horas).
De todos, um!"

Mata, mata, mata...


"Nós avisámos. Um festival de porrada patrocinado pelo Hugo Macron. Aos 28 minutos avisa o Mangas. Do outro lado, ao Vertonghen foi à primeira, num lance em que corta a bola, por acaso. Só por acaso. 3 amarelos (sendo 1 por perda de tempo) no total para a equipa do Boavista, contra 4 ao Benfica. A piada está feita!
São mais de 30 faltas de uma equipa que não parou de correr do 1º ao último minuto (Que pilhas são aquelas? Também queremos!). A equipa que tem a maior média de faltas do campeonato até ao momento, hoje dobrou praticamente essa média. Sem qualquer tipo de consequência da parte da arbitragem. O Vasco Seabra aplicou a velha táctica do "passa a bola, não passa o jogador". Em pleno Século XXI. Ou chegavam primeiro, ou faziam falta. Foi este o jogo do Boavista. Os constantes "mata, mata, mata" que se ouviram durante todo jogo foram completamente permitidos pelo representante da marca que veste o actual 1ºclassificado da Liga.
(...)"

Cadomblé do Vata (azia!)


"“Algarve, Europe’s most famous secret” é uma das frases publicitárias mais bem conseguidas da região que habito e pode-se aplicar aqui também. Penso que, por já ter falado nisto tantas vezes, a minha inabilidade para a prática do futebol já é um segredo bem famoso entre quem me lê. Juntando a essa falta de talento, um físico atarracado e a posição que ocupava em campo, é possível que eu não só tenha sido o guarda redes mais pequeno dos campeonatos distritais no escalão de juvenil a nível nacional, como também o pior dos guarda redes baixinhos. E isto não é um acto de auto comiseração para fins humorísticos. Quem viu sabe que é verdade. Tinha aliás um colega de turma e de equipa que várias vezes me dizia “a minha mãe queixa-se que lá de fora, não te consegue ver na baliza”, que tanto podia querer dizer “és muito pequeno e ao longe és imperceptível”, como podia significar “tudo o que vai à baliza é golo, parece que não está lá ninguém”.
Apesar dos defeitos evidentes, por falta de alternativas, no primeiro ano de juvenil ainda fiz muitos jogos e claro, sofri muitos golos, ressalvando aqui que fui suplente num fabuloso empate 6-6 em Monchique, em que o nosso treinador adjunto foi fiscal de linha ou bandeirinha (atenção ao PS1 no fundo do texto), porque os árbitros assistentes ainda não tinham sido inventados. Das peladinhas que joguei, a que melhor recordo foi uma derrota em casa por 0-4 contra o Alvor e ficou-me na memória pelas piores razões: foi um poker de frangalhadas, incluindo um canto directo ao primeiro poste. Lembro-me bem, também porque no final do jogo chorei no balneário e enquanto os colegas me olhavam com cara complacente de “chora aí palhaço, perdemos por tua causa”, o treinador disse algo que não mais esqueci “é bom sinal estar a chorar. Quer dizer que se preocupa com isto”.
A azia incontrolável é o choro do adepto adulto. É aquele sinal de que preocupa com o Clube. Tem a vantagem em relação à lágrima, de ser mais expansiva e libertadora. Enquanto barafustamos com presidente, treinador e jogadores soltamos a tempestade da frustração que temos cá dentro. A azia é bem melhor do que o choro. Sei disto porque já chorei 1,5 vezes pelo SLBenfica. Na primeira vez ainda era miúdo e foi nos penaltis de Estugarda. Na meia vez foi no golo do Kelvin. Na primeira vez ninguém me segurou. Na meia vez pude contar com o “então pah, estás parvo” da minha esposa para me poupar à humilhação. É que uma coisa é abrir as comportas por um Van Breukelen (atenção ao PS2 no fundo do texto), outra é não aguentar a corrente por um Kelvin.
Para que conste definitivamente: a derrota de ontem doeu muito (venham de lá essas piadas com o "doeu" porque o sentimento é mesmo esse). Como já não doía há uns bons meses deste ano atípico. Confesso que a azia que sinto desde ontem é reconfortante. Assim sei que ainda me preocupo com o SL Benfica como um Benfiquista se deve preocupar. Isto também acontece porque o grau de exigência este ano aumentou bastante. Entenda-se que uma coisa é levar 3 no Bessa com Miguelitos e Manús no 11 titular e o Fernando Santos no banco. Outra bem diferente é enfardar 3 secos com 100 milhões a saírem da conta em campo e 6 milhões a voarem todos os anos no banco. A conversa do “são 11 contra 11” não funciona este ano, porque nunca funciona quando levamos 4 e 5 batatas nas competições europeias de equipas que gastam mais 80 ou 90 milhões do que nós em reforços. Convenhamos, que não me recordo de enfaixarmos 3 bolachas numa dessas equipas, com a limpeza que levamos ontem. Aziar, barafustar e ficar fodido com o resultado de ontem, não é ser “dragarto”, “noronhista” ou “desunir a Nação”. Quem está como eu estou desde o segundo golo boavisteiro, é Benfiquista. Agravada por 3ª e 4ª feira serem dias de Liga dos Campeões e nós só jogarmos 5ª feira.

PS1 - a frase que se dizia nos anos 80/90 “o Bandeirinha é do FC Porto”, só raramente se referia ao jogador homónimo que fazia parte do plantel deles.

PS2 - num Natal ou aniversário, os meus pais ofereceram-me umas luvas “de marca” (talvez Uhlsport, talvez Reusch, por aí). A parte de trás da embalagem era um cartão com fotos “tipo Panini” de guarda redes que usavam essa marca de luvas. Entre os míticos Preud’homme (à Bélgica), Bento, Shilton, Dassaev ou Zoff, estava Van Breukelen. Guardei religiosamente essa folha de cartão, mas antes recortei a figura do holandês e deitei-a fora. Devia-a ter dado a uma feiticeira haitiana."

Vermelhão: Alerta...


Boavista 3 - 0 Benfica


Primeira perda de pontos da época, com exibição desastrosa. Não fiquei surpreendido, tenho destacado o calendário super-apertado, e hoje sofremos a primeira consequência visível... Em condições 'normais', este tipo de jogos, onde jogamos mal, onde aquilo que pode correr bem, corre mal e o adversário 'acerta' em tudo, normalmente, com um bocadinho de esforço (ou estrelinha de 'campeão'!!!), até nos safamos com os 3 pontos, mas com a equipa 'cansada' e provavelmente a pensar (treinador incluído...) nos próximos dois jogos que vamos fazer até domingo, a derrota é quase inevitável... As outras variáveis: porrada constante, com o primeiro amarelo para o adversário a 'sair' quando já tinham feito praticamente 20 faltas; super-motivação... etc... etc... Essas outras variáveis, já não são variáveis, são constantes em todos os nossos jogos, portanto, hoje nem dá para justificar por aí...!!!

A rotação tem sido 'curta', se calhar não temos plantel para rodar em todas as posições, mas o Everton devia ter sido poupado com o Liège, por exemplo...
Se por acaso, o Gabriel ficou 'amuado' com o que se terá passado no jogo com o Standart, então o melhor será ficar em casa...
A insistência do Pizzi na direita, em detrimento por exemplo do Rafa é difícil de compreender: o Rafa até pode ser inconsequente no ataque, mas este ano, nos jogos que foi titular, na transição defensiva foi dos jogadores mais importantes... e hoje, a transição defensiva praticamente não existiu!

Rangers e Braga vão ser jogos ainda mais importantes, após esta derrota. Ambas as equipas, estão com calendários iguais ao nosso, mas o Braga tem rodado mais de metade do 11 titular... Não são jogos decisivos matematicamente, para qualquer uma das competições, mas serão testes importantes, para perceber onde está a 'cabeça' dos jogadores!!!

Espero que este resultado sirva de alerta para jogadores, treinadores e directores, mas também para os adeptos, principalmente aqueles adeptos, que com o investimento que foi feito, com o regresso do treinador, com a fraca qualidade dos principais adversários, julga que o Benfica vai ser Campeão 'fácil'!! Pois, o Benfica nunca terá um campeonato 'fácil', nunca... nem com os melhores do mundo no plantel...