terça-feira, 3 de novembro de 2020

Cosme Damião: fundador, jogador, treinador e... escritor!


"Em mais de cem páginas, dedicadas aos sócios do Clube, Cosme Damião explica o que é preciso para jogar bom futebol

Em Abril de 1925, foi editado o livro Apontamentos e Recortes Sobre Football Association, o primeiro e único livro de Cosme Damião. Uma obra extremamente completa que descreve, ao longo de 131 páginas, os requisitos necessários para se desempenhar bem as várias funções de um praticamente de futebol, algo inédito em Portugal. Este livro revelou, também, um Cosme diferente. Um Cosme que vai para além do jogador e do capitão-geral, função que desempenhava quando o escreveu. Estes Apontamentos deixam antever um homem culto e inteligente. Um pensador, com vontade de fazer mais e melhor.
O livro, que tem na capa Álvaro Gaspar, jogador do início do século e grande amigo de Cosme Damião, que o descrevia como 'o melhor entre os nossos melhores jogadores no seu logar', foi dedicado aos sócios do Benfica. O seu objectivo era claro: 'conseguir, que se corrijam, ainda que só em parte, defeitos com que a quasi totalidade dos nossos jogadores e praticam e para que ele seja jogado com a arte e sciencia a que tem direito'.
Os capítulos iniciais são dedicados a uma reflexão acerca do estado do futebol naquela altura, que não era brilhante, e sobre as origens deste desporto. Porém, a temática do jogador é a mais abordada e começa logo com a idade ideal para se iniciar a modalidade: 'Não poderá ser um futebolista completo, aquele que se inicia no jogo depois dos desoito anos'. Já dizia o ditado: 'É de pequenino que ... se começa a dar pontapés certeiros na bola'! Já no que toca à idade limite para se praticar futebol, Cosme revela-se mais flexível, afirmando que os jogadores que o fazem há mais tempo não devem ser descartados apenas por serem mais velhos. Antes pelo contrário a sua sabedoria deve ser usada em prol do jogo! O mister defende, também, que um bom jogador tem de ser inteligente. 'Não poderá ser um elemento bom, o jogador, que (...) careça, por desgraça, de espírito entusiasta, ou seja tacanho de cérebro'. A técnica de jogo ocupa mais de metade do livro. Está lá tudo. Como parar uma bola? Como passar o esférico aos colegas de equipa? Como jogar de cabeça? Qualquer dúvida que houvesse, Cosme respondia!
Com este preciso manual de como jogar bom futebol, Cosme não tinha a ambição de ser um best-seller. O seu desejo era, apenas, que fosse 'útil aos rapazes do meu Sport Lisboa e Benfica, que carecem colher dele alguns ensinamentos'. Estaria longe de imaginar que, décadas mais tarde, esse mesmo livro iria a estar em exposição no museu do seu Benfica, baptizado com o seu nome, na área 18 - 'E Pluribus Unum'."

Marisa Furtado, in O Benfica

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