sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Cá vamos

"Tem sido divertido o folhetim Cavani. Se calhar, quando o caro leitor ler esta crónica (note que os colunistas enviam os textos para a redacção até terça-feira), o uruguaio já é nosso jogador ou optou por outro clube. Ou talvez nada tenha acontecido, sabendo-se de antemão, neste último caso, que várias coisas, os seus contrários e inúmeras variantes destes terão sido avançadas pelo comunicação social.
Eu, como qualquer benfiquista, adoraria contar com o contributo de um jogador da craveira de Cavani no nosso plantel, mas analisemos, por agora, a existência da possibilidade.
O mais relevante, nesse domínio apenas, é, porventura, ninguém considerar interdita a contratação, pelo Benfica, de um jogador situado num nível, futebolístico, económico e mediático, inusitado face ao que estamos habituados. O investimento seria elevadíssimo e sem grande potencial de retorno financeiro para além do que, embora não seja despiciendo, deriva do contributo desportivo que o jogador possa dar. Não deixa de ser sintomático que haja um consenso generalizado do sobre a seriedade da tentativa de uma contratação destas, tratando-se, na prática, do reconhecimento generalizado da capacidade de investimento que o Benfica soube criar na última década.
Entretanto chegaram Waldschimidt, Everton 'Cebolinha' e Vertonghen. Também estas contratações, às quais se poderão acrescentar as de Raul de Tomás, Vinícius, Weigl e Pedrinho ao longo da temporada passada, pelos montantes envolvidos, são muito reveladoras. Voltámos a ter, finalmente, capacidade de investimento claramente superior à dos nossos adversários internos e creio que nos fixámos, a nível europeu, no patamar abaixo daquele reservado aos chamados tubarões."

João Tomaz, in O Benfica

Falta de coerência

"Com o terminar da época passada, aumentaram as vozes críticas em relação à principal equipa de futebol masculino do SL Benfica. Foi questionada a qualidade dos jogadores da equipa técnica e dos dirigentes. Foi, de facto, uma má temporada do Glorioso. Durante as últimas semanas, no entanto, a mudança de treinador e a chegada de novos jogadores deu novo ânimo aos adeptos. E nem outra coisa seria de esperar, com a contratação de internacionais de renome da Alemanha, do Brasil, da Bélgica e, assim o espero, do Uruguai. Juntando a estes o regresso de outros jogadores de alto nível, portugueses e não só, que estavam emprestados, é claro que todos temos razões para estarmos empolgados. Todos? Não, nem todos.
O reforço do plantel para cimentar a hegemonia nacional e sonhar, tendo bases sustentadas, com o sucesso internacional já era uma bandeira dos críticos. E seria de esperar que, pelo menos agora, fosse dado algum descanso aos profissionais do SLB. Nem por isso. Dos críticos externos vem a estupefacção pelos nomes contratados, a desconfiança em relação aos negócios e o rótulo de alguns dos jogadores como velhos. Dos críticos internos chega o argumentos do populismo e da proximidade das eleições. Decidam-se.
Se todos queremos um clube dominador, hegemónico em Portugal e a dar cartas na Europa, temos que estar optimistas em relação ao futuro, apoiar os novos elementos e, mais do que tudo, respeitar quem já cá estava. Todos os jogadores deste plantel são titulares. Todos têm qualidade para isso. Tenham 18 ou 33 anos, sejam portugueses ou não. De todos eles, e de nós, apenas um: o Sport Lisboa e Benfica."

Ricardo Santos, in O Benfica

Procura-se: Cavani

"Afinal, onde raio anda o Cavani? Ibiza? Paris? Cantanhede? Ninguém sabe. Neste momento, o paradeiro do avançado uruguaio é quase tanto incerto como o de Madeleine McCann. A TVI actualiza a informação diariamente através de Rui Pedro Braz, no entanto é uma questão de tempo até trocarem o comentador desportivo pelo Gonçalo Amaral. Não conseguiu desvendar o mistério da menina inglesa, mas de se descobrir a localização do Cavani talvez consiga reintegrar a equipa da Polícia Judiciária.
Este tema já se arrasta desde 18 de Julho, dia em que foi noticiada pela primeira vez a possibilidade de Cavani assinar pelo Benfica. Desde então, ora vem para o Benfica, ora vai para a Roma que foi comprada por um investidor milionário. Ora, vem novamente para o Benfica, ora vai para o Real Madrid caso o Jovic seja transferido. Já foi dado como garantido que chegava em todos os dias da semana. Perdi a conta à quantidade de 'dias D' apontados. Meia cidade de Lisboa já tive hotéis com um quarto reservado à espera do Cavani. Já asseguraram que ia fazer o percurso Montevideu, Madrid, Paris, Lisboa. Já foi garantido que seria Luís Filipe Vieira a deslocar-se ao estrangeiro para resgatar o jogador. Desesperado por informações, comecei a seguir o Instagram da namorada, do melhor amigo, de um vizinho, de um primo em 4.º grau e de um picheleiro que uma vez foi a casa do avançado resolver um problema debaixo da banca da cozinha. Enfim, este enredo tem sido tão intenso que o meu desgaste emocional já me leva a ponderar se o Cavani será uma espécie de Pai Natal e nem sequer existe. Só acredito quando o vir com o manto sagrado vestido."

Pedro Soares, in O Benfica

O decacampeonato

"O sonho concretizou-se e o Sport Lisboa e Benfica sagrou-se decampeão nacional de Atletismo. A nossa magnífica equipa masculina realizou o maior feito da modalidade. Pela primeira vez na história, um clube soma 10 títulos consecutivos. Esta saga iniciou-se em 26 de Junho de 2011. Quer ao ar livre, quer na pista coberta, as nossas equipas masculinas revelaram uma supremacia e ambição dignas de registo. Foi uma obra de muitos com destaque para a dupla Luís Filipe Vieira / Ana Oliveira. Várias vezes, durante os anos desta década, ouvi palavras ambiciosas e muito determinadas da professora Ana Oliveira. A verdade é que a sua fórmula resultou em pleno e confesso que vibrei muito com o que assisti ao vivo. Quais os ingredientes? Trabalho, organização, método, persistência, dedicação, prospecção e formação e formação. Ana Oliveira, com a luz verde do presidente, montou várias equipas que lavaram o nome do clube bem alto. Claro que o sonho e ambição dos obreiros deste projecto não terminou no passado sábado. O grande objectivo é o título europeu. Impossível? O deca prova que não há impossíveis. Apesar de desfalcados de Paulo Conceição, Francisco Belo, Diogo Antunes, Ricardo dos Santos, Edward Zakayo, Rui Pinto, Raidel Acea, Mikael Jesus e Miguel Carvalho, a verdade é que Ana Oliveira escolhei o lote certo de atletas: António Vital e Silva, Diogo Ferreira, Sanuel Barata, Tsanko Arnaudov, João Vítor Oliveira, Frederico Curvelo, José Carlos Pinto, João Coelho, Lucínio F. Garrido, Emanuel de Sousa, Gerson Baldé, Delvis Santos, Marcos Chuva, Isaac Nader, Leandro Ramos, André Pereira, Pedro Isidro e a estrela mundial, Pedro Paulo Pichardo. Os 18 magníficos escreveram uma das páginas mais brilhantes do Atletismo. Com uma equipa técnica de excelência, composta por 13 treinadores dedicados, na qual se destaca o competentíssimo Pedro Rocha, e uma equipa de apoio de dez incansáveis membros, o SL Benfica quer manter a hegemonia interna e ambiciona grandes resultados internacionais."

Pedro Guerra, in O Benfica

Campeões comunitários

"Difíceis vão os dias em que se não pode jogar à bola. Os jovens dos bairros da cidade de Lisboa que o digam, com uma Champions interrompida a meio e uma vontade enorme de continuar, à mistura com uma pontinha de vaidade pelo reconhecimento alcançado junto da vizinhança. Não é para menos, porque estes mesmos jovens que hoje marcam pontos individuais e em equipa na Community Champions, eram muitas vezes olhados de lado, apontados e acusados de tudo, mesmo que, em tantos casos, injustamente. A verdade é que a sua imagem perante a comunidade não era, muitas vezes, a melhor e isso impedia que quisessem dar a essa mesma comunidade o melhor de si. Agora... Jogar à bola, isso, venha quem vier... Jogarem sempre, bem e muito. Algumas janelas até lhes conhecem repetidamente o remate, mas a pessoa por trás do estoiro foi sempre uma desconhecida de todos, ciosa de si e cultivadora da distância. O projecto Community Champions veio mudar muitas destas ideias feitas e afastamentos, na verdade é um projecto de aproximação e interacção social. É que os jovens não valem sem o reconhecimento da comunidade. Não basta jogar, marcar e vencer, pois isso pontua apenas uma parte do necessário para garantir o apuramento na fase final do Community Champions, a disputar na Holanda com outras tantas equipas de projectos semelhantes, enquadradas pelas fundações dos grandes clubes europeus. É muita ambição e, por isso, muita pressão. Embora informal, como em qualquer competição europeia, não há lugar a falhas, por isso é obrigatório pontuar o máximo. Não se pode deitar a perder a qualidade do futebol e as vitorias por mera negligência do trabalho comunitário. É que, na verdade, o trabalho de proximidade feito em prol da comunidade vale tantos pontos como a competição desportiva. E eles fazem-no, mudando os bairros da cidade de Lisboa, identificando problemas, implementando soluções, limpando zonas degradadas, ajardinando, animando espaços, dinamizando acções com crianças, visitando idosos, festejando culturas e diversidades. Tudo isto pensado e executado por jovens que antes se miravam de soslaio e hoje se gabam pelo trabalho que fazem no bairro. É o poder do Futebol social e mostrar para que pode servir uma simples bola, mesmo que por agora não possa rolar no campo, pelas razões que se sabem."

Jorge Miranda, in O Benfica

Cadeiras vazias

"1. Enquanto, esta semana, 'à máquina' la afinando os métodos, os modelos e as peças no Seixal, na miserabilista paisagem audiovisual das televisões e no chavascal das primeiras páginas, continuava imparável à rédea larga e à solta, o 'regabofe dos 90%'.
2. Por cada 100 minutos de conversa fiada nos écrans, ou por cada espaço de 10 páginas de inacreditáveis 'achismos' nas gazetas e pasquins, o Benfica voltava a manter-se olimpicamente como o indispensável saco de pancada que ainda lhe vai servindo a todos para esticarem os pescoços, antes de inapelavelmente acabarem por se afundar, na implacável lama os há de submergir, à falta de espectadores e de leitores.
3. Em cada 100 minutos, 90 são furiosamente desperdiçados com balelas e novelas acerca do Benfica. E em cada 10 páginas trafulhadas nos computadores do jornalismo 'desportivo' dos dias do presente, não mais do que uma é, aí então, piamente votada às místicas temáticas regionalísticas da associação do 'Calor da Noite'...
4. Já se sabe: ou os temas em torno do Benfica os vão sustentando, ainda que cada vez mais precariamente, como tema universal das delirantes elucubrações e derrames de disparates a que se dedicam em 90% (ou mais) dos tempos e dos espaços consagrados ao avacalhado asneirame sobre a chamada matéria 'desportiva', ou... mais cedo do que tarde, ainda vai tudo pelo cano - audimetrias, patrocínios e publicidade rasa; critérios editoriais para a chafurdice ou para os bombásticos rodapés e primeiras mãos; e, por extensão, empregos dos chefes e dos desgraçados índios' - sejam eles meninas de decotes fundos, ou cangalheiros mais ou menos cuspidores...
5. A esta furiosa agiotagem opinativa e pseudoinformativa que domina estúdios e redacções, também não se eximem alguns Benfiquistas.
6. E, quanto a eles, que me desculpem os que, porventura, dependam mesmo de tais varandas de exposição (ou seja lá do que for...), mas sou radical: nada! Não estão lá a fazer nada. A não ser que se disponham a continuar a jogar indefinidamente jogos sem regra, nem árbitro. E a encher os chouriços que os restantes precisam de vender.
7. Em todo o caso, que não me considerem completamente intolerante: ou bem sei que os (poucos) nossos que, naquelas palhaçadas, mesmo perante as maiores mentiras e infâmias, ainda conseguem resistir ao irreprimível impulso de deixar as cadeiras vazias, só ali se mantêm, certamente, por estrita boa fé, ingenuidade e Benfiquismo.
8. Só lamento que, provavelmente, nunca nenhum destes nossos resistentes alguma vez se tenha deparado com o sábio provérbio árabe: 'Se o que tens a dizer não for melhor ou mais belo do que o silêncio, mais vale que te cales...'"

José Nuno Martins, in O Benfica

Semanada...

"1. Anos de má gestão desportiva complicam contratações. Até agora a situação financeira estará dentro de controlo caso o clube não falhe o acesso à Champions League. Mas a partir do momento que Cavani assinar (e se assinar), os números começam a fazer mossa na saúde financeira do clube. E começam a fazer mossa porque é o resultado do acumular de anos de má gestão desportiva. Anos em que se renovaram contratos a jogadores duas vezes num espaço de 12 meses ou que se renovaram contratos a jogadores que ainda estavam no primeiro/segundo ano de contrato só porque foram Campeões. Agora, esses jogadores estão a receber salários de titular mas se calhar vão passar a maior parte do tempo na bancada ou no banco. E isso complica contratações porque não há espaço na folha salarial do Benfica para se contratar titulares, pagar-lhes como titulares, sem entrar numa situação financeiramente arriscada.
2. Como é que se paga a um Cavani. Se olharem para o plantel do Bayern Munique, reparam que a partir do 17º-18º jogador, eles só têm miúdos. E só têm miúdos porque na generalidade das equipas, a partir do 17º-18º jogador, os minutos não abundam. Assim, poupam nos salários dos jogadores que dão profundidade ao plantel e adquirem jogadores com grande margem de progessão e altamente motivados para treinar com os craques da equipa principal. Desta maneira, o Bayern é capaz de segurar as suas maiores pérolas, pagando-lhes salários avultados e evitando que um outro Gigante com maiores posses que o Bayern vá lá pescar os principais jogadores. Ao mesmo tempo, arrisca-se sempre a ter um reforço surpresa, como é o caso de Alphonso Davies que assumiu o lugar de lateral esquerdo na equipa. O Benfica tem uma grande formação. Melhor até que a do Bayern e por larga distância. Mas de alguma maneira, parece que prefere pagar a jogadores como Samaris, André Almeida, Gabriel, Chiquinho, Cervi, Zivkovic, etc, em vez de poupar nesses contratos e apostar em jogadores mais jovens, mais baratos e que para dar profundidade chegam e sobram. Depois, claro, é mais difícil pagar a um Cavani. 
3. Saídas Precisam-se. Os primeiros rumores de saídas começam a sair. Fala-se de Zlobin e Nuno Tavares para o Famalicão. A saída de Nuno Tavares implicaria mais investimento na posição de lateral esquerdo. Fala-se também que Samaris, Cervi e Dyego Sousa vão sair. Cervi para já é apontado a Espanha. E ainda se fala num possível empréstimo de Jota e David Tavares a uma equipa do Championship e de Tomás Tavares para Itália. Vão também aparecendo rumores de que Carlos Vinicius poderá ser vendido se o Benfica contratar um ponta de lança. Amanhã (Sábado) teremos o primeiro jogo de pré-época com o Estoril e será possível perceber melhor como está a situação de cada jogador. 
4. Youth League. A nossa equipa S19 está na Suíça a disputar a Final Eight da Youth League e para já as indicações são muito boas. Contra o Dinamo Zagreb - que ficou à frente do ManCity e Shakthar no seu grupo e eliminou Bayern e Dinamo Kiev até aqui - não entrámos muito bem, começámos por estar a perder 0-1, mas rapidamente a situação se enverteu. Acabámos por dominar o encontro. Seguem-se as meias-finais contra o Ajax e, se ganharmos, a final contra o vencedor do jogo Real Madrid - RedBull Salzburg. O Ajax aparece nesta prova com algumas baixas, visto que os melhores jogadores estão na pré-época com a equipa principal. Até chegar aqui, o Ajax ganhou um grupo com Lille, Chelsea e Valencia, e eliminou Atlético e Midtjylland. À primeira vista, com base nos jogos dos quartos-de-final, diria que Benfica e Salzburg têm as melhores equipas. Agora é comprová-lo em campo. Mas uma coisa é certa, este rapazes vão fazer uma desfeita a quem no Benfica achar que não se deve apostar na formação.
5. Relvado da Luz. O Relvado da Luz já aparenta ter alguns sinais de desgaste dos jogos da Champions League. Sou sempre a favor que o Benfica rentabilize as suas infraestruturas durante o período em que não há jogos, mas espero que desta vez se prepare melhor uma eventual substituição do relvado.
6. Sevilla. Caso o Benfica se qualifique para a Fase de Grupos da Champions League 20-21, vamos terminar no Pote 2 ou no Pote 3. Tudo depende de quem ganha a Liga Europa. O Sevilla tem melhor ranking UEFA do que nós. O Inter tem pior. Quem ganhar a Liga Europa entre eles salta de imediato para o Pote 1. Se o Sevilla perder, fica com a última vaga do Pote 2 e nós cairíamos para o Pote 3. Se o Inter perder fica com uma vaga do Pote 3, o Sevilla com a vaga do Pote 1 e nós ficaríamos com a última vaga do Pote 2 (caso nos apurarmos para a Fase de Grupos). Como tal, é do interesse do Benfica que o Sevilla ganhe a Liga Europa. Eu sei. Também não gosto.
7. Jordi Adroher. O fim da novela foi finalmente anunciado. Jordi Adroher saiu do Benfica e vai jogar para o Liceo Coruña. A novela, se não se recordam, foi a sucessão de avanços e recuos na vontade do Benfica continuar com o Jordi. O Jordi anda há dois anos a perder rendimento. A saída deveria ter sido natural. O Benfica demorou imenso tempo a avisar Jordi que não contava com ele, o que não lhe deu muito tempo para arranjar um clube que lhe pagasse o que ele recebia no Benfica. Vai para um clube com um projecto de Hóquei muito interessante. Desejo-lhe as maiores felicidades. Estou muito curioso para ver a nossa equipa de Hóquei deste ano. É das melhores equipas que tivemos nos últimos anos."

As notícias exageradas da morte do tiki-taka

"O criador foi o primeiro a tentar fugir da criatura de tentáculos amplos. Pep Guardiola, ele mesmo, disse um dia que não gostava do tiki-taka. Não era difícil perceber. Pep recusava a ideia de um jogar sonolento, feito de passes sem progressão, com que tantos quiseram encher o rótulo onomatopaico. O tiki-taka do Barcelona, que uma década atrás se tornou lendário, foi essencialmente o expoente vertiginoso do jogo de posição que os espanhóis difundiram mais que quaisquer outros, agarrado a uma nova metodologia de treino que ocupou todos os escalões do maior clube da Catalunha, graças sobretudo a Paco Seiru-lo, o homem mais importante na filosofia do Barça e que favoreceu a ligação directa entre Cruyff a Guardiola. Seiru-lo foi o guardião da filosofia inspirada no holandês e que fez valorizar a fabulosa geração de minions azuis-grenã, com Messi, Xavi e Iniesta a comandar. A ideia matriz colocou a bola como elemento principal do jogo e a inteligência (com consequente autonomia) como característica fundamental do jogador. Nasceu sobre isso não apenas essa geração de sonho como uma influência sobre o jogo como não se anota outra neste século.
Olhar para o que resta do Barcelona, parar a sombra triste que pairou diante do Bayern na Luz, e querer ver ali qualquer tiki-taka, só por muito boa ou muito má vontade, o que neste caso vai dar ao mesmo. O que se viu foi um meio campo trémulo com bola, dois homens de talento banal - Sergi Roberto e Vidal (mais este que o outro, é um facto) - colocados como pesudo-alas apenas para travar os rivais e um ataque obcecado com lançamentos que aproveitassem Suarez (ou Jordi Alba!!!) na profundidade. Sim, tentou construir curto, com risco, e falhou. Mas falhou sobretudo por falta de soluções para ligar jogo até zonas de criação. E construir curto está longe de ser sinónimo de jogo posicional de qualidade. É quando muito um tititi, não chega a tiki-taka.
Recuemos: o que definiu historicamente o melhor jogar catalão foi que os jogadores conseguissem ter a bola e ser protagonistas em qualquer jogo, e conseguissem igualmente pressionar alto e recuperar rápido após a perda. E que tivessem a paciência com bola de aguardar o momento certo para accionar a aceleração dos seus jogadores mais explosivos (de Henry e Eto´o a Pedro Rodriguez, Suarez e ao próprio Messi). E mais o que essas equipas do Barça faziam antes de todas e hoje tantas pretendem fazer: construir com risco, envolver nisso os guarda-redes, procurar centrais capazes de se assumir com bola, laterais que seja mais que corredores de fundo e não joguem apenas ao longo da linha, médios defensivos que também são ofensivos, alas que também sabem jogar por dentro e em espaços mais curtos, pontas de lança que se relacionem com o jogo e não só com o golo. Sugiro ao meu estimado leitor que releia este parágrafo que agora termina pensando na actual equipa do Bayern de Munique. Está lá tanta coisa, não está?
Não, não é só a influência que Guardiola deixou na Alemanha, é muito mais que isso naturalmente, que o jogo muda e o que Hansi Flick acrescentou ao jogar deste Bayern, para sermos justos, não tem comparação com o que se viu nos anos anteriores. Claro que o Bayern tem jogadores admiráveis do ponto de vista atlético, que garantem arrancadas arrebatadoras, mas a marca de água da equipa, e que a transforma mesmo em rolo compressor, está bem mais no cérebro que no músculo. Até nos incríveis aceleradores que são Gnabry ou Davies há uma qualidade de decisão que os distingue dos puros velocistas. E ao comando da orquestra, mesmo no coração do jogo, até está um minorca, minorca fabuloso, seguramente hoje um dos melhores médios do mundo. Thiago Alcântara é a prova nominal, e táctica, de como é possível encontrar em Munique verdadeiras heranças de Barcelona. E depois é a audácia de juntar Muller a Thiago quando se tem apenas três unidades no eixo central ofensivo, e mais a opção por Alaba a central. E ainda há Kimmich, que é o melhor lateral mas também um médio fantástico e com liberdade e intuição raras para surgir a finalizar. É de talento que se fala, de gente que pensa bem antes de executar de igual modo. Uma sugestão de exercício final: pegar no onze do Bayern e perceber, homem por homem, que há talento criativo em todos, talvez descontando Boateng mas incluindo Neuer. E ainda há Coutinho e Coman de fora, entre outros. E ver como a bola sai fácil, tantas vezes ao primeiro toque, de uns para outros. Se apurarem o ouvido talvez dê para ouvir o barulho desses toques. Será parecido com tiki-taka."

BOMBA: Quaresma no Benfica por dois anos mais um de opção

"Ricardo Quaresma assina pelo Benfica. Ou talvez não, não sei bem, mas acho que faz sentido noticiar na mesma porque pode até ser verdade que na verdade isto do futebol nunca se sabe. BOMBA: Quaresma no Benfica por dois anos mais um de opção

O reforço bomba deste mercado! Ricardo Quaresma no Benfica por dois anos, mais um de opção. Isto seria o que escreveria se eu fosse o editor de um jornal desportivo que já perdeu a dignidade. Quaresma foi dado como certo no Boavista em vários órgãos de comunicação. O próprio desmentiu no Instagram, dizendo “Escreveram que eu estou a caminho do Boavista mas eu estou é a caminho do Algarve para uns dias de férias com a família. Para a próxima não se esqueçam de me perguntar se é verdade antes de publicarem. Não têm necessidade é de andar a enganar os adeptos.” Se eu fosse o Quaresma, teria ainda acrescentado “E depois os ciganos é que têm fama de enganar as pessoas (emoji de navalha)”. 
Comentadores em vários programas de televisão “estão em condições de anunciar” vários reforços antes do tempo, fazendo usos das suas fontes anónimas, próximas e exclusivas. Fontes essas que acertam 1% das vezes. Os mesmos que dão uma importância desmedida ao futebol são os que desvalorizam este tipo de especulação, sem perceberem que isso acaba por dar um pouco o mote para a sociedade. Se o futebol é assim tão importante e os jornais desportivos mentem e ninguém se importa nem regula, porque haveríamos de agir de forma diferente quando o tema é menos importante do que o futebol como por exemplo a política? O futebol goza de uma impunidade que até o Ricardo Salgado inveja. A corrupção é um pouco a céu aberto e só nos preocupamos com a que é feita em nome dos adversários. Os nossos clubes são sempre puros e castos e tudo é normal porque o futebol é um mundo à parte onde as regras do bom senso não se aplicam. No jornalismo é isso que se verifica. Não há qualquer pudor em inventar notícias para vender jornais, especialmente em época de transferências já que não há resultados de jogos para estampar na capa. Não há qualquer pudor em plantar notícias para especular o mercado e fazer subir o valor deste ou daquele jogador. O mundo do futebol é mais promíscuo do que a parte de trás da cantina de uma escola secundária, com a diferença de que aqui ninguém bate o pé.
Se calhar estou a exigir demasiado do jornalismo desportivo, não sei. Um jornalismo que tem o Nuno Luz como uma das principais figuras se calhar merece que se baixe um pouco as expectativas, mas imaginem que o resto da sociedade se regia assim:
- Casal assassinado por Cavani! Ahhhh, afinal é outro, esqueçam.
- Cristina Ferreira vai assinar pelo Sexy Hot! Ahhh, afinal parece que não, esqueçam.
- Maddie apareceu e já está a realizar os testes médicos! Ahhh, afinal não era ela, esqueçam.
Anda a ERC a perder tempo a avaliar se o João Manzarra dizer sémen no telejornal, a desafio do Bruno Nogueira, é mau gosto ou não, mas punir e multar notícias deliberadamente falsas para o click bait e vender jornais, não há tempo."

Medalheiros: a falácia dos números...

"Realizar-se-ão os Jogos Olímpicos de 2020 em 2021? Ainda não o sabemos. Sabemos no entanto que Portugal terá uma comitiva de cerca de 70 a 80 atletas. Previsões de há um ano estimavam duas medalhas e doze diplomas (lugares entre o quarto e oitavo lugar).
No Rio de Janeiro, em 2016, tivemos 92 atletas (18 eram de futebol). O “projecto” incluía 12 “atletas com potencial de medalha” (aos quais se juntava a selecção de futebol)… Portugal regressou apenas com uma medalha de bronze!
Embora não servindo o medalheiro de uns Jogos Olímpicos como medida da cultura desportiva de um país – já que o COI não reconhece a existência de um quadro de medalhas porque isso criaria uma competição entre países, alegando que não é esse o objectivo dos J. O. – certo é que a comunicação social, nessas alturas, apresenta sempre esses quadros e induz-nos a essa leitura quando nos deveria conduzir para uma análise que se centrasse na razão entre o nosso número de participantes e número de lugares no pódio... correlacionando esta razão com as verbas despendidas para formar os presentes! E talvez fazê-lo também em relação ao número de habitantes do país. Só colocando todas estas variáveis a interagirem entre si poderemos ter uma noção fiável da nossa cultura desportiva. Não sendo assim, o medalheiro só nos mostra a falácia dos números…
Mas o medalheiro é importante – principalmente quando há muitos e bons resultados – para vender a ideia de que o país está bem e de saúde a nível desportivo… quando esses resultados não acontecem o medalheiro cai no esquecimento ou até é escondido. Por vezes até há quem meça com ele o índice da cultura desportiva do país quando o deveria medir por valores mas também por contra-valores, por normas e pelo seu cumprimento mas também pela sua violação, por símbolos e pelo seu enaltecimento (ou não!) e, por fim, por crenças, quer sejam elas positivas ou negativas.
Vejamos um exemplo concreto: no Campeonato da Europa de Atletismo de 2018, em Berlim, Portugal participou com 37 atletas tendo conseguido duas medalhas de ouro (Inês Henriques e Nelson Évora). Um 11º lugar no medalheiro... (28 países medalhados, 50 participantes, ou seja, na metade superior da tabela). No entanto, daremos conta que a Grécia, com o mesmo número de participantes, obteve um 6º lugar no medalheiro graças a 3 medalhas de ouro, 2 de prata e 1 de bronze. Dos países com um número de atletas mais próximo daquele da comitiva portuguesa, 35, só a Hungria ficou depois de Portugal (26º lugar apenas com 1 medalha de bronze), dado que a Bélgica com 3 medalhas de ouro, 2 de prata e 1 de bronze alcançou um 5º lugar. Até a Noruega, com 33 atletas (menos atletas que Portugal), ficou à frente do nosso país: 8º lugar com 3 medalhas de ouro, 1 de prata e 1 de bronze (mais pódios que Portugal).
É este o exercício que faz prova de uma literacia desportiva: a razão entre o número de participantes e o número medalhas obtidos.
É necessário um medalheiro? Vai sendo preciso na sociedade actual… dado o sistema económico vigente e a mercantilização do desporto. Jean-Marie Brohm, já em 1993, nos mostrava que “o desporto actual é um subsistema do sistema capitalista do qual ele refracta todos os princípios de funcionamento, todas as tendências, todas as contradições”. É necessário um medalheiro para se manter a reprodução! 
Por que motivos? Porque é necessário para os dominantes continuarem a dominar que se forjem os juízos de valor mais sobre os resultados que sobre os processos… Brohm mostra-nos exactamente isso na sua última obra, “Le Sport-Spectacle de Compétiton”.
Um país em que os seus habitantes são dos que menos exercício físico fazem a nível europeu não pode ter um elevado índice de cultura desportiva. Quando o desporto revela o que de pior possui o ser humano, em vez de mostrar o seu melhor ou de contribuir para a sua formação, essa montra serve uma certa reprodução e em nada melhora o índice de cultura desportiva do país. Não é só o público que deveria saber ler e interpretar as classificações. Dirigentes e responsáveis, quer sejam de clubes, de federações ou até mesmo do Governo, também o deveriam saber.
Tal como naquele conto oriental em que certo Mestre varria o chão quando um monge lhe perguntou: “Sendo vós o sábio e santo Mestre, dizei-me como se acumula tanto lixo em seu quintal?” Respondeu-lhe o Mestre, apontando para o quintal: “O lixo vem lá de fora.”"