"1. Enquanto, esta semana, 'à máquina' la afinando os métodos, os modelos e as peças no Seixal, na miserabilista paisagem audiovisual das televisões e no chavascal das primeiras páginas, continuava imparável à rédea larga e à solta, o 'regabofe dos 90%'.
2. Por cada 100 minutos de conversa fiada nos écrans, ou por cada espaço de 10 páginas de inacreditáveis 'achismos' nas gazetas e pasquins, o Benfica voltava a manter-se olimpicamente como o indispensável saco de pancada que ainda lhe vai servindo a todos para esticarem os pescoços, antes de inapelavelmente acabarem por se afundar, na implacável lama os há de submergir, à falta de espectadores e de leitores.
3. Em cada 100 minutos, 90 são furiosamente desperdiçados com balelas e novelas acerca do Benfica. E em cada 10 páginas trafulhadas nos computadores do jornalismo 'desportivo' dos dias do presente, não mais do que uma é, aí então, piamente votada às místicas temáticas regionalísticas da associação do 'Calor da Noite'...
4. Já se sabe: ou os temas em torno do Benfica os vão sustentando, ainda que cada vez mais precariamente, como tema universal das delirantes elucubrações e derrames de disparates a que se dedicam em 90% (ou mais) dos tempos e dos espaços consagrados ao avacalhado asneirame sobre a chamada matéria 'desportiva', ou... mais cedo do que tarde, ainda vai tudo pelo cano - audimetrias, patrocínios e publicidade rasa; critérios editoriais para a chafurdice ou para os bombásticos rodapés e primeiras mãos; e, por extensão, empregos dos chefes e dos desgraçados índios' - sejam eles meninas de decotes fundos, ou cangalheiros mais ou menos cuspidores...
5. A esta furiosa agiotagem opinativa e pseudoinformativa que domina estúdios e redacções, também não se eximem alguns Benfiquistas.
6. E, quanto a eles, que me desculpem os que, porventura, dependam mesmo de tais varandas de exposição (ou seja lá do que for...), mas sou radical: nada! Não estão lá a fazer nada. A não ser que se disponham a continuar a jogar indefinidamente jogos sem regra, nem árbitro. E a encher os chouriços que os restantes precisam de vender.
7. Em todo o caso, que não me considerem completamente intolerante: ou bem sei que os (poucos) nossos que, naquelas palhaçadas, mesmo perante as maiores mentiras e infâmias, ainda conseguem resistir ao irreprimível impulso de deixar as cadeiras vazias, só ali se mantêm, certamente, por estrita boa fé, ingenuidade e Benfiquismo.
8. Só lamento que, provavelmente, nunca nenhum destes nossos resistentes alguma vez se tenha deparado com o sábio provérbio árabe: 'Se o que tens a dizer não for melhor ou mais belo do que o silêncio, mais vale que te cales...'"
José Nuno Martins, in O Benfica
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