sexta-feira, 31 de julho de 2020

Uma luta de 22 anos

"Uma das maiores alegrias dos últimos tempos foi-me proporcionada pela Casa do Benfica em Faro. A sua equipa de atletismo subiu à  dos s Divisão. Ao fim de 22 anos de trabalho intenso e abnegado, os seus dirigentes, técnicos e atletas atingiram o grande sonho. É um justo prémio para 100 atletas e 10 treinadores. Só um espírito colectivo forte, uma união ímpar e uma dedicação exemplar permitiram este resultado. Claro que há responsáveis por este feito que merecem uma referência. Desde logo, António Fernandes, presidente da Casa durante 16 anos e 23 anos de direcção. O Toy disse-me sempre que um dia atingiriam o seu sonho. Acompanho há anos a forma apaixonada e o entusiasmo com que ele sempre falou dos seus atletas e dos seus treinadores. Quando recebi a notícia, confesso que rejubilei. A primeira reacção foi felicitá-lo. E como é se timbre, alcançado que foi o objectivo, outro surgiu - uma grande classificação. São homens como o Toy que nos fazem acreditar que, se lutarmos até à última gota de suor, o êxito acontece. Para quem não sabe, fora já 12 os atletas que a Casa forneceu ao Benfica. Nada disto seria possível sem o apoio da Câmara Municipal de Faro, sobretudo dos seus presidentes o vice-presidentes, Rogério Bacalhau e Paulo Santos. Destaco ainda o papel da União das Freguesias de Faro (Sé e São Pedro), e do seu presidente, Bruno Lage. Tal como enalteço o patrocínio de três empresas de Castro Verde: Idelberto & Filhos, José Dias Faustino e Transportes de Carga Alfandanga. Finalmente, Nuno Gomes, o incansável presidente da Casa, que com uma equipa directiva forte atingiu este feito."

Pedro Guerra, in O Benfica

Queremos ser melhores!

"Quando há dez anos começamos o projecto Para ti Se não faltares!, no dia zero, o sonho dos alunos era jogar à bola à mistura com uma miragem de resultados que pareciam inalcançáveis a quem sistematicamente faltava no dia a dia e enfrentava, de tempos a tempos, um nó apertado na garganta e um rubor na face que preanunciava, em cada teste, o descalabro. As famílias tantas vezes desapontadas com as negativas e os problemas disciplinares almejavam uma passagem de ano, à 'rasca que fosse', ou então que, pelo menos, começassem a atinar na escola sem os problemas de sempre. Os professores sonhavam com paz na sala de aula e no recreio e que chegasse o dia em que alguns alunos trocassem o telemóvel e o despeito por uma oportunidade de comunicarem consigo, e assim conseguirem ensinar-lhes algo para satisfação de ambos.
Poucos anos volvidos, todos perceberam que a bola e os prémios, não eram mais que um incentivo constante aos jovens e às famílias para que se focassem e acreditassem em si próprios, trabalhando o potencial que neles víamos e treinando a cada passo a sua capacidade de ser e de estar convertida nas aulas em oportunidades de aprendizagem e fortalecimento individual. Depois de as faltas baixarem, seguiu-se a atenção e o ambiente construtivo nas aulas, a comunicação com colegas e professores, e a cooperação em equipa, em suma, um ambiente verdadeiramente educativo, sem desvios nem reprimendas, capaz de transformar a aprendizagem em prazer e reconhecimento dos jovens pelos seus pares e de converter tudo isso em sucesso. Foi chegando, então, o tempo da superação e logo a seguir o da resiliência, da manutenção da performance e da consolidação dos resultados. Por esta altura, jovens, famílias, e professores estavam certos de que a receita havia funcionando e de que eles eram capazes. Disto e de muito mais. Por esta altura também, os jovens começaram a correr pelos resultados e não pelos prémios, pelos golos em cima da vitória e não atrás do prejuízo. Houve um tempo, há três ou quatro anos, em que comecei a perguntar nas reuniões de avaliação colectiva e premiação:
Agora, que conseguimos igualar a média dos resultados da vossa escola, o que é que queremos? Que objectivos nos propomos para o próximo ano? A resposta, já a adivinhou quem lê, foi a seguinte: 'Queremos ser melhores'.
Resposta extraordinária, cheia de ambição e segura de si, mas não surpreendente. Os jovens do Para ti Se não faltares! são, em cada ano, seleccionados pelo seu talento. Uma minoria, cerca de 10% são já os melhores da escola porque converteram o seu talento em sucesso. A maioria, cerca de 90%, são jovens a abarrotar de talento desperdiçado que querem acreditar em si mesmos e estão dispostos a trabalhar para isso. Fazem um contrato de desenvolvimento com a Fundação Benfica e comem a relva, depois o resultado vem, sempre e aos magotes! Tem sido assim aos milhares nestes onze anos, mais de quatro mil jovens para ser exacto, e este ano foi uma vez mais assim. Que orgulho!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Cadomblé do Vata (Taça)

"Um SL Benfica - FC Porto disputado em Agosto no Estádio Municipal de Coimbra tem o cheiro fétido das finais de Supertaça de má memória Gloriosa, da mesma forma que um Clássico em fins de Maio no Jamor recorda um papiro apinhado de derrotas em decisões da Taça de Portugal para os lados azuis e brancos. Podia-se até atribuir já a Taça de Portugal ao SLB e a Supertaça ao FCP, deixando 9 milhões de adeptos disponíveis para um apetitoso jantar familiar em vez de terem encontro marcado com os últimos 90 minutos de agonia desta longa temporada.
A final de amanhã não é a mais tardia da história. Penso que esse titulo ainda pertence ao ensaio para Estugarda de Carlos Manuel, quando uma birra de Pinto da Costa atirou a decisão da Prova Rainha para dia 21/08/1983 no Estádio das Antas. Então como agora, o futebol português ficou refém de um vírus, para o qual também ainda não há vacina. Não tendo nos primórdios da década de 80 idade para jogatanas, o mais tarde que vi o Benfica subir as escadas do Vale do Jamor, se a memória não me atraiçoa, foi no dia 10/06/1993 e por razões do acaso, foi a minha "final das finais".
Vi o decisivo SL Benfica - Boavista FC da temporada 92/93 num café da Rua Jornal do Fundão, onde me havia deslocado para o aniversário de uma tia, sem saber que eu é que receberia a prenda, com goleada a preceito e uma lista de grandes golos digna do Guiness, iniciada com uma brilhante jogada repartida entre Paneira, Águas e Paneira e culminada com a única exibição digna do seu talento de Paulo Futre pelo Glorioso. Para a historia ficaram 5 batatas na baliza de Lemajic, que não precisou esperar um ano para ser o espectador mais bem colocado nos 3-6 de Alvalade Às duas equipas que vão subir ao pelado de Coimbra amanhã não posso exigir o brilho deste. Se me derem 10% daquilo,já fico "sastfêto"."

Vergonha...

"Artur Super Dragão (ASD) é o árbitro da Final da Taça. No fundo, já toda a gente sabia. O controlo da arbitragem pelo Calor da Noite é total e avassalador!
Na sua carreira, Artur Super Dragão apitou 41 jogos do Calor da Noite, com apenas 3 derrotas dos mesmos. A última delas foi há mais de 4 anos num jogo com o Cashball, que por acaso já nada interessava ao Calor da Noite porque a classificação já estava decidida.
Nos últimos 5 clássicos apitados pelo pasteleiro Artur Super Dragão aconteceram 4 vitórias e 1 empate para o Calor da Noite.
O Conselho de Arbitragem liderado por Fontelas Gomes e comandado por Pinto da Costa tem passado um verdadeiro atestado de incompetência a todas as associações de futebol deste país, ao nomear invariavelmente árbitros da AF Porto, para apitar os jogos Calor da Noite-Benfica ou Benfica-Calor da Noite. Parece até que os árbitros da AF Porto possuem um qualquer dom que os torna singulares para apitar estes jogos. 14 dos últimos 16 clássicos foram apitados por árbitros da AF Porto. Isto É Uma Verdadeira Vergonha! Como é possível Luis Filipe Vieira nunca se ter pronunciado publicamente contra este atentado à verdade desportiva? Como é possível nunca ninguém do Benfica ter referido estes factos? Contado, ninguém acredita!
Poupem na gasolina e nem se desloquem a Coimbra. A nomeação de Artur Super Dragão mais uma vez deveria ter esta reacção da nossa parte. É altura de dizer basta! É altura de tomar uma atitude! Chega! Tudo tem limites."

A Mão de Vata (emblema)

"O meu pai, com o seu ensino primário mal amanhado sempre foi e é um apaixonado por história. Na mesa de jantar incutiu-me o bichinho do passado enquanto herança que devemos estudar, transportar e entregar com carinho aos nossos filhos. Mesmo não sendo ele aficcionado por futebol, foi o primeiro a falar-me das epopeias europeias do Benfica e claro, de Sua Alteza Real Eusébio da Silva Ferreira, que com o exagero próprio da emoção, colocava a atirar guarda redes para dentro da baliza, quando não as mandava abaixo com os seus potentes remates. Não me fiz Benfiquista por influência do meu pai, (apesar de, para um filho de Francisco com 5 ou 6 aos, ser importante apoiar um clube onde jogava um Chiquinho), mas cimentei esta Gloriosa Paixão betonado pelas estórias por ele contadas.
A questão do emblema monocromático nos novos equipamentos cola-se aos insultos às Lendas do Benfica que por aqui li. Se hoje a minha geração é Benfiquista, deve-o aos que no passado trabalharam arduamente para nos entregarem Isto nas mãos. Aceitar um emblema monocromático não tem a ver com estética ou estatutos. É dizer sim a tudo o que nos metem na frente. É pedir um bife à portuguesa e não reclamar quando o empregado nos entrega um bife de perú.
Perdoem-me os rivais, mas o emblema do Sport Lisboa e Benfica é dos mais lindos do Mundo. Tem lá a águia que nos guia a altos vôos, pousada nas cores da bandeira do mais antigo país da Europa. Tem o escudo com as nossas cores: vermelho e branco (permitam-me que sublinhe o branco), enfaixado pelas inicias do magnânimo Sport Lisboa e Benfica. A bola da modalidade que conduziu a fundação d'O Clube e a eterna e sempre presente roda de bicicleta, testemunha do meio usado para, em tempos sem televisão, levar o Manto Sagrado a calcorrear o país, transformando uma associação lisboeta numa instituição portuguesa.
Há 10 anos o SL Benfica apresentou-se durante uma temporada com um rectângulo azul de patrocínio na frente da camisola. À data, os protestos foram muitos e na temporada seguinte, LFV negociou com o mecenas de então e a aberração desapareceu. Protestar não é estar contra a direcção. É ajudá-la a melhorar. Os sócios e adeptos têm que pedir a alteração do emblema no novo equipamento. Porque um verdadeiro adepto de futebol chinês, não vai ser Benfiquista porque o emblema tem poucas cores. Vai ser porque o que nós lhe vamos entregar é um legado histórico de fazer tremelgar os olhos."

Vencer a Taça

"Todo o foco e atenção estão direccionados para a final da Taça de Portugal, a ser disputada amanhã, entre Benfica e FC Porto, às 20h45, em Coimbra. Conforme afirmou, ontem, o máximo goleador da temporada, Pizzi, "estamos focados apenas numa coisa, que é a vitória e levantar a Taça de Portugal".
A nossa equipa tem trabalhado arduamente para cumprir um dos objectivos desta época, aproveitando da melhor forma o miniestágio realizado em Óbidos nos últimos dias. Todos temos consciência de que não foi conseguido o título mais desejado, mas a disputa de uma final de uma competição é sempre independente do percurso nas restantes.
Veríssimo salientou isso mesmo: "Vamos entrar com o espírito de tentar ganhar esse troféu." E confessou que encara a final com "espírito de missão", afinal o que se deseja de qualquer profissional que tenha a honra e a responsabilidade de servir o Benfica.
Um triunfo na final significará a 27.ª conquista na prova desde que, em 1938/39, foi denominada "Taça de Portugal". Ser o clube com melhor palmarés na competição (mais conquistas, mais finais, mais vitórias) representa uma responsabilidade acrescida, com a qual o nosso plantel está bem familiarizado, trabalhando sempre com o objectivo de vencer, independentemente das circunstâncias, em cada partida.
E as circunstâncias em que esta final será disputada são inéditas: sem público e noutro local que não o Jamor (só aconteceu cinco vezes desde a longínqua temporada 1945/46).
O Presidente Luís Filipe Vieira, acerca da final de amanhã, afirmou na revista da FPF de promoção deste evento que "quase tudo é diferente na Taça deste ano", referindo-se à ausência da "envolvente popular, das deslocações de adeptos de todo o país, dos convívios e tradições antes, durante e depois do jogo" e salientando que "deixamos o palco de eleição no Jamor, que tradicionalmente acolhe uma festa popular e desportiva com um espírito único".
Não obstante esta envolvente inusitada, porém inevitável na mesma medida, o Presidente reafirmou ainda "a ambição de proporcionar um bom espectáculo desportivo, de entrar para ganhar e ganhar". 
Mesmo à distância, estamos sempre com a nossa equipa, nos últimos tempos obrigados a apoiá-la de longe, mas sempre juntos na perseguição dos nossos objectivos!
#PeloBenfica"

8 a 1: Superioridade encarnada nos clássicos SL Benfica x FC Porto na Taça

"A rivalidade azul e vermelha, antípoda relacionada com vários confrontos titânicos da cultura ocidental, representa em Portugal muito mais que a oposição de duas instituições futebolísticas. Das disparidades entre o norte industrial e o sul centro de decisões, FC Porto e SL Benfica tornaram-se símbolos dessa dicotomia da geopolítica portuguesa.
Este Sábado defrontam-se mais uma vez em decisão pela prova rainha, naquela que será a 10ª vez que disputam o troféu no jogo final e o balanço favorece largamente as águias, com oito vitórias. Registo fulminante e que traduz o domínio arrasador visível na Taça de Portugal, onde a superioridade dos encarnados é acentuado: no total de 35 jogos, o SL Benfica venceu 21 e empatou 5, relegando os portistas para papel secundário na contagem de conquistas, 26 contra 16.
O histórico começa no final da época 1952-53, estávamos no 28º dia do mês de Junho, e o calor abrasador não impedia a enchente no Jamor para assistir a um dos jogos mais aguardados do ano.
Em campo mediam forças o FC Porto de Cândido de Oliveira, que ali procurava a glória perdida num quarto posto final no campeonato; no outro banco sentava-se o seu grande amigo e companheiro na fundação de A Bola, António Ribeiro dos Reis, que o SL Benfica tinha procurado a meio da época em missão de salvamento, dada a fraca produção ante um Sporting dos Violinos.
Um jogo onde havia muito a ganhar e onde até se oferecia relógio de ouro a quem inaugurasse o placard – Rogério Pipi não se viu por meias medidas, fez o que gostava de fazer na sua prova preferida e meteu o primeiro aos 35 minutos, abrindo caminho a uns estonteantes 5-0 com a assinatura especial de Arsénio, com hattrick.
Quanto ao acessório valiosíssimo, Rogério ofereceu-o à direcção do clube para financiar as obras do futuro Estádio da Luz – e foi neste clima de entre-ajuda e companheirismo que o plantel jantou alegremente perto de Alvalade e festejou noite dentro na Feira Popular, onde estava montado pavilhão benfiquista.
Cinco anos volvidos, primeira e única vitória portista no Jamor frente aos lisboetas. O 1-0 construído por Hernâni – que Pedroto considerava o «melhor avançado de sempre do futebol português» – foi o culminar de uma época conturbada para a barricada azul, em polvorosa estava com a guerra interna entre o craque e Dorival Yustrich, o histórico técnico brasileiro que comandou o Porto à primeira dobradinha, em 1955-56.
No Verão de 1956, armou barraca numa digressão à Venezuela, ameaçou funcionários e presidente, foi despedido e recuperado poucos meses depois com a vitória de outro candidato nas eleições do clube. As feridas, no entanto, nunca sararam e o choque entre a personalidade implacável e controversa do técnico e do herói dessa partida ditou fim precoce do segundo compromisso, em Março de 1958.
Nessa final do Jamor já era confronto de Ottos, já que foi Otto Bumbel o sucessor e levou a melhor sobre o benfiquista Glória. Acerca do jogo fica o frango de Bastos, apesar de defendido pelo autor do golo – «Bastos não foi culpado, a bola partiu com efeito, aquele efeito a que os brasileiros chamam folha seca» – e as queixas do timoneiro do Benfica em relação á arbitragem, no seu estilo inconfundível de palavra desmedida: «Arbitragem? Não houve… Um moço apitando, um moço que se vestiu de árbitro e mais nada…»
Vingança houve no ano seguinte. 1958-59 marca a chegada de Bélla Gutmann a Portugal, com estadia inicial no Norte. Seria vencido pelo comandante derrotado do ano anterior, com golo único de Cavém a dar o recíproco 1-0. Quites ficaram.
Próximo encontro: 1963-64. O SL Benfica, já bicampeão europeu e com ressaca do inglório 1-2 frente ao Milan na terceira final consecutiva, viria a tirar a barriga de misérias com um 6-2 ao FC Porto comandado por… Otto Glória. Que mais uma vez foi figura por declarações que deixaram legado no futebol português, após derrocada disciplinar nas quatro-linhas.
Jaime, jogador azul, comete entrada ríspida à volta da meia-hora, falta para penalty e para expulsão, mas a decisão do juiz foi polémica e motivou comportamento impróprio da trupe nortenha. Com a avalanche emocional do lado azul-e-branco, a goleada consumou-se naturalmente com a presença do quarteto fantástico composto por José Augusto, Eusébio, Torres e Simões, todos autores de golos. Seu Otto, sem maneira de mudar o rumo da partida, perdido em mil fúrias, deixou sair frase que patrocinou todo um paradigma duas décadas depois: «O árbitro anulou o esforço de toda uma região…»
E aí chegamos. Benfica e Porto só se voltam a encontrar em 1979-80, exactamente no auge do Verão Quente portista e da inultrapassável postura da dupla Pinto da Costa-Pedroto na luta contra a centralização do nosso futebol.
No Jamor houve Santa Aliança, com os adeptos sportinguistas a reunirem com os benfiquistas no apoio à equipa. Tornou-se famoso o slogan «Campeonato p’o Sporting, Taça p’o Benfica», consumado com vitória magra encarnada, 1-0, com o brasileiro César a marcar o primeiro golo estrangeiro de sempre do clube em finais.
Mário Wilson era um treinador feliz e pouca atenção deve ter dado ao facto de Pedroto, que o tinha como ódio de estimação, ter decidido descarregar nele a frustração da derrota ao afirmar, sem filtros, que «Mário Wilson, como de costume, utilizou a velha rábula do palhaço. Com o ar esfíngico que lhe é característico, lançou a pedra e escondeu a mão, suplicando controlo anti-doping», contextualizando as insinuações da seguinte forma: «Gostaria, contudo, que me explicassem o comportamento do jovem e talentoso Carlos Manuel, que me pareceu, estranhamente, de cabeça perdida».
No ano seguinte, reencontro com mais golos. Desta vez quatro tentos benfiquistas, um deles na própria baliza, traduzindo em 3-1 final marcado pelo hattrick de Néné. Mas não foi jogo de fácil resolução, nem tampouco de fácil concretização: o FC Porto ameaçou a não comparência no jogo e só alterou ideias quando a Federação lhes garantiu todas as condições de segurança, num processo conduzido por Teles Roxo, director do departamento de futebol profissional dos portistas.
E, não conseguida a falta de comparência, conseguiu-se o deslocamento da entrega do troféu para as Antas. Em 1982-83 houve desassombro do Conselho de Disciplina da Federação no súbito abandono do Jamor. O Benfica recorreu da decisão, mandou os jogadores de férias, mas preparados foram para regresso a qualquer instante, que só aconteceu no início da temporada seguinte, com o jogo a realizar-se em Agosto. Eriksson não estava preocupado e muito menos ficou quando Carlos Manuel descobriu o caminho das redes adversárias a 30 metros, num remate ao seu estilo.
O técnico sueco saiu em 1984. Sentiu que a equipa não lhe possibilitava o assalto à Taça dos Campeões Europeus, depois da capotagem frente ao Liverpool de Dalglish e Ian Rush. A equipa tinha sido espremida na totalidade, não havia volta a dar e o interesse da Roma – sua vítima na caminhada rumo à final da UEFA, em 83 – lançava-lhe cantigas de amor, que não demoraram a seduzi-lo. Era o Calcio, centro futebolístico da Europa.
Sai e deixa o lugar para Pal Csernai, técnico reputado que tinha levado o Bayern a duas Bundesligas. Cá chegou arrogante na abordagem e intransigente nos métodos, cavando fosso profundo entre si e o plantel. A final da Taça foi vista como bóia de salvação de uma época penosa e, chegados à final, foram os jogadores que fizeram o onze. Explicou Bento, no momento da celebração: «Nao foi Csernai quem fez a linha para a final, por isso ganhámos, Carlos Manuel e Pietra é que lhe abriram os olhos», declarações que justificam a forma comprometida com que os jogadores encararam e despacharam o rival por claros 3-1.
O nono e último encontro dos dois gigantes em matéria de decisões de Taça ocorreu já no século XXI, estava quase completa a temporada 2003-04. Vivia-se intensamente em Portugal o fenómeno Mourinho. Uma semana antes de Gelsenkirchen e da vitória frente ao Mónaco, o FC Porto foi incapaz de se superiorizar a um SL Benfica inspirado pelas ganas de José António Camacho e pela responsabilidade em honrar a memória de Miklos Féher, falecido meses antes. Foi jogo rasgadinho, duro – dez amarelos e um vermelho – onde a chapelada de aba larga de Simão, já no prolongamento, marcou o renascimento do Benfica competitivo, com uma equipa que constituiria a base da campeã do ano a seguir."

Mehdi Taremi – O (Pouco) Conhecido


"Os milhões de seguidores na rede social Instagram podiam ser a razão mais provável para que o Rio Ave Futebol Clube avançasse para a contratação do Iraniano de, 28 anos, no entanto, finalizado o campeonato podemos perceber que foi claramente um grande trabalho realizado pela estrutura do clube.

“Não é surpresa, esperávamos mais ou menos isto desde o início”
Carlos Carvalhal (Conferência de Imprensa, 30/06/2020)

Pois é, segundo Carlos Carvalhal não é surpresa nenhuma desde o início… Isso só prova de que ninguém, melhor do que o Treinador, que trabalha diariamente com os seus jogadores para perceber de forma clara aquilo que eles podem fazer para trazer valor à sua ideia, de forma a criar condições aos seus jogadores para que os mesmos se possam expressar dentro de uma ideia coletiva. É neste sentido que acredito que se é verdade que o valor de Taremi é inequívoco, também para mim é verdade que o valor de Taremi foi realçado graças ao contexto promovido pelo Carlos Carvalhal (subentenda-se sempre “e respectiva Equipa Técnica”) para que ele se evidenciasse dentro daquela que foi a ideia de jogo mais positiva e regular do campeonato (esta é a minha opinião, como é evidente).
Posto isto, falar de Mehdi Taremi (2019/2020) é falar da sua presença em 37 jogos (88% dos jogos da Equipa), cerca de 2870 minutos, 21 golos e uma assistência, fazendo com que tivesse uma influência de 40% nos golos do Rio Ave F.C. no que à Primeira Liga diz respeito. Dos seus 21 golos, 7 foram através do pontapé de grande penalidade, não falhando em nenhuma ocasião, o que demonstra que também é um jogador capaz de ter a confiança do seu Treinador pelos seus elevados índices de concentração e qualidade na decisão. Foi um dos jogadores (faltam-me dados que comprovem se foi o jogador) que conquistou mais faltas que originaram lances de perigo ou de clara oportunidade de golo, inclusive ganhou 8 grandes penalidades. Ficou no pódio dos melhores marcadores da Primeira Liga, não sendo o melhor porque Carlos Vinicius fez o mesmo número de golos com menos minutos jogados.
Mas é claro, que eu defendo que um jogador será tão bom quanto melhor for o contexto em que se insere e para além de um grande e digno trabalho realizado pelo Carlos Carvalhal e sua Equipa Técnica, urge salientar toda a qualidade individual que rodeou Mehdi Taremi, sobretudo, dentro de campo.
Ao longo do vídeo vão conseguir visualizar algumas particularidades do Avançado Rioavista, tais como: orientação dos apoios para a profundidade, constantes movimentos pelo lado “cego” dos Defesas adversários, agressividade ofensiva tal como defensiva, qualidade na decisão, capacidade de manter intensidade no seu jogo (e com intensidade quero dizer que se trata de um jogador que é capaz de manter a sua postura inicial em todos os comportamentos durante praticamente todo o jogo, por isso, subentenda-se que para mim, é um jogador bem preparado em todas as dimensões do jogo: Física, Técnica, Tática e Mental), rápida chegada à área e ocupação eficaz dos espaços livres na mesma, mobilidade, qualidade técnica, inteligência tática, entre outras que não são tão evidentes neste curto vídeo… No entanto, fica claro para mim, que quem adquirir Mehdi Taremi adquire um Pack Completo naquilo que diz respeito ao bem saber executar a posição de Ponta de Lança.
Hoje não coloquei áudio porque penso que escrevi tudo o que pensava acerca de Taremi, por isso, vejam com olhos de quem analisa um jogador por toda a sua compleição e deliciem-se se for o caso. Para mim foi, no entanto, estou aberto às vossas opiniões como sempre."

Falar a várias vozes

"O espaço mediático é, nos tempos que correm, mais do que um lugar onde se comunica. É lugar de encontro de vários poderes. Pelo que o modo como ele é ocupado ajuda ou prejudica as dinâmicas de trabalho das organizações, os seus propósitos e o sucesso na prossecução dos intentos que as mobilizam a intervir nesse espaço.
No desporto, o espaço mediático é ocupado por vários protagonistas com origem no movimento desportivo: atletas, treinadores, árbitros e juízes, empresários e dirigentes, individualmente ou através das respectivas organizações. Pode dizer-se que o desporto “fala” a várias vozes. É um dado objectivo, incontornável e sem retorno. Entendemos isso como positivo.
O acesso ao espaço mediático para a generalidade das modalidades desportivas é sempre um caminho difícil e estreito, dependente de muitas variáveis, a começar no calibre da mensagem e na notoriedade dos protagonistas, pelo que aproveitar as oportunidades que existem é um princípio do mais elementar bom senso. Nesse sentido, é perfeitamente natural, e desejável, que os vários actores desportivos, com acesso ao espaço mediático, se pronunciem sobre os diferentes aspectos da vida desportiva nacional.
O mesmo princípio é válido para as organizações desportivas de topo. As que têm representação orgânica e aquelas que o não tendo se juntam para, por força das circunstâncias, defenderem problemas comuns. Se existem é porque representam interesses distintos. Que naturalmente carecem de ter voz própria e autónoma.
Comité Olímpico de Portugal, Comité Paralímpico de Portugal e Confederação do Desporto de Portugal têm um histórico com missões e atribuições distintas. Circunstâncias próprias fizeram emergir a Plataforma do Desporto Federado e o Movimento das Federações Desportivas com modalidades colectivas de pavilhão que enriqueceram o espectro associativo nacional e sobretudo a reflexão sobre os problemas do desporto.
Estas dinâmicas são positivas e revelam um tecido associativo em movimento e em mutação. Mais do que tentar travar esta pluralidade orgânica devemos adaptar-nos a essa nova realidade no sentido destas dinâmicas acrescentarem valor à representação desportiva nacional, complementando-a e reforçando-a. A vida democrática é, ela própria, a abertura ao pluralismo de opiniões. Fomentar e estimular esse pluralismo é reforçar a vida democrática. O princípio é válido para todos, incluindo para as organizações representativas.
Questão distinta, e que carece de um outro tipo de abordagem, é o da representação institucional. Cabe ao movimento desportivo, designadamente às federações desportivas, definir os termos da sua representação institucional e respectivos territórios de intervenção: quem representa quem, mas sobretudo em que domínios e para que políticas. São conhecidas as dificuldades que, neste domínio, pontualmente se levantam, em boa parte suscitadas pela indefinição de competências ou pela sua duplicação.
Neste domínio a “fala” a várias vozes dos mesmos representados - as federações desportivas - comporta um risco: o do desporto não “falar” numa mesma direcção, fragilizando um sentido de “corpo” e de “pertença”, vital para consolidar a mensagem a difundir, esclarecer as suas posições e alcançar aquilo que pretende para todos.
O evitar desta situação só é possível através de um reforço das relações de cooperação bilateral, aumentando a troca de informações e pareceres para que se possam construir consensos em torno dos aspectos que são comuns.
A Cimeira das Federações Desportivas recentemente realizada demonstra que a construção de um caminho comum é possível, se cada uma das organizações de topo estiver animada de um propósito de convergência e se esforçar para que isso ocorra.
O primeiro passo desse caminho, com um apoio unânime do movimento federado, está dado e é inequívoca a mensagem transmitida ao país na moção estratégica aprovada."

Velhos hábitos do nosso futebol

"Em Portugal há uma garantia absoluta: um Benfica - FC Porto, seja em que prova for, terá sempre um árbitro do Porto a dirigir a partida.

Acabou o campeonato nacional? Nada disso. Em Portugal há sempre mais futebol fora que dentro das quatro linhas. Nem com o País infectado se desinfectam os nossos hábitos.
Na luta pelo terceiro lugar a derrota do FC Porto em SC Braga e a vitória do Benfica sobre o Sporting deram aos arsenalistas um lugar de destaque. Diria em defesa de Rùben Amorim, que conseguiu o terceiro lugar para o SC Braga e evitou que o Sporting fosse pior que quarto.
Não sabemos quem desceu porque será decidido fora do relvado. Mesmo o Aves, que sabemos que foi despromovido, não sabemos para onde desce e até onde vai.
Em Inglaterra sabemos que a final da Taça é em Wembley; em Portugal temos que saber quem joga a final para saber onde é a final. Vamos para Coimbra com a ilusão de a poder disputar de forma leal e séria.
A única garantia é que um Benfica - FC Porto, seja onde for, para que competição for, terá um árbitro do Porto a dirigir a partida. Essa é uma verdade que o International Board por lapso não passou a escrito.
Outra realidade patusca do nosso futebol é a de terminarem campeonatos e minutos depois se saber que os treinadores que eram, já não eram. Daniel Ramos, afinal, já não era do Boavista; João Henriques já não era do Santa Clara; Carlos Carvalhal já não era do Rio Ave; Ivo Vieira já não era do V. Guimarães; José Gomes já não era do Marítimo; Artur Jorge já não era do SC Braga; Vítor Oliveira já não era do Gil Vicente, etc, etc... No final da Taça de Portugal vamos continuar a ver quem era ou se já não era ninguém.
Em Portugal tanto faz correr bem, como correr mal, que, como para Tomaso di Lampedusa, é preciso que alguma coisa mude para que tudo continue igual. O Benfica somou a Bola de Prata, o melhor marcador da Liga foi Vinícius mesmo sem ser o escolhido para marcar os penáltis pelo Benfica.
Muito bem o Benfica em focar a semana na competição que falta. Interessa pouco o folclore noticiosos porque os verdadeiros objectivos são apenas os desportivos. Para a semana começa o mais pequeno defeso da história do nosso futebol, que por isso mesmo promete ser intenso e animado. Por agora apenas a disputa da Taça de Portugal nos interessa, tudo o resto é ruído."

Sílvio Cervan, in A Bola