sábado, 27 de junho de 2020

Semanada...

"1. Votação do Orçamento. O Benfica tem hoje uma “Assembleia Geral” que não fosse a situação do covid-19 seria um momento certamente muito quente. No entanto, não quer dizer que não seja um momento de interesse. Há algumas coisas a dizer sobre esta “Assembleia Geral”: (1) foi estranho todas as voltas que se deu. Primeiro Luís Nazaré queria uma AG toda online e a Direcção queria uma AG presencial. Luís Nazaré acabou por se demitir, mas a AG acaba por ser um híbrido. Parece mais que os maus resultados fizeram com que o Benfica quisesse ter uma AG assim; (2) O resultado não serve para nada. Ontem li os Estatutos e tentei-me informar sobre o assunto. Aparentemente, caso os sócios chumbem o Orçamento, este Orçamento é posto em prática na mesma. O que é só mais um exemplo do quão anti-democrático é o Benfica de Luís Filipe Vieira; (3) A votação electrónica permite muitas coisas. É compreensível que exista votação electrónica, mas deveria haver um sistema mecânico que assegurasse o resultado. A solução ideal é uma máquina electrónica que cuspa um papel com os votos do sócio que acabou de votar e esse sócio depois coloca o papel num caixa de voto normal. Votos contam-se electronicamente e caso seja necessário há recontagem com os votos das caixas de voto; (4) É muito importante ir votar hoje na mesma. O voto na verdade não vale para nada. Visto que nada acontece se o Orçamento for chumbado. Mas todos os votos têm um significado. É muito provável que o orçamento chumbe hoje. E caso isso aconteça, é um sinal importante dado à Direcção que os sócios estão fartos desta política desportiva.
2. A situação do Futebol. Na minha opinião não se despede um treinador de projecto. Se um treinador provou no passado que se encaixa naquilo que o clube pretende, esse treinador deve ficar independentemente dos resultados. Para além disto, com que lata é que o LFV, Rui Costa e Tiago Pinto se vão virar para o Bruno Lage a dizer:"Tás a ver aquele segundo avançado que pedias e nós demos-te um PL? E o Bruno Guimarães? E a confusão que fizemos com o lateral direito? E o Plantel curto? Pá, tinhas razão... Já agora, estás despedido". Posto isto, a maneira como a imprensa sabe de tudo o que passa na cabeça da “estrutura” do Benfica e publica coisas antes de estar tudo definido impressiona-me. Aparentemente Bruno Lage ia mesmo sair ontem. Mas ninguém quis o lugar já, nem sequer Renato Paiva, como tal, Bruno Lage afinal fica. Já não é a primeira vez que o Benfica quer muito algo e depois quando não consegue afinal já não era preciso. Foi assim com o guarda-redes, queríamos muitos, tentámos 3-4 diferentes. Mas depois já não era preciso. Foi assim com Bruno Guimarães, que era muito preciso (e era mesmo) mas depois foi para o Lyon e afinal já está tudo bem. 3. Jardel recuperou a titularidade. Entretanto já a perdeu, mas Jardel foi titular nos primeiros dois jogos na retoma e neste jogo contra o Portimonense deu para perceber porquê. Já antes da retoma estávamos a sofrer mais golos pelo lado esquerdo do que pelo lado direito. Isso acontece, não é necessariamente culpa do Ferro. Mas nas bolas paradas tem sido consistentemente culpa do Ferro e também de uma organização defensiva estranha - tem sido costume termos 4 ou 5 jogadores na zona do primeiro poste e só 2 na zona do segundo poste. O Benfica tem uma estatura média relativamente baixa no seu onze inicial. Metade do onze inicial está abaixo do 1.80m (Grimaldo, Rafa, Pizzi, Cervi e Taarabt). Ferro até dos mais altos, mas tem perdido duelos aéreos que é uma coisa assustadora e isso valeu ao Portimonense o primeiro golo há umas semanas. Jardel neste aspecto dá outro tipo de segurança. Esta titularidade também lança algumas questões sobre o plantel da próxima época. Se Jardel for de facto titular daqui para a frente, Ferro continua a ter qualidade para ser um central do Benfica - provou-o no ano passado apesar desta segunda metade menos boa. Luís Filipe Vieira já elogiou Cristian Lema e disse que poderia regressar. Há também Morato, que ainda assim, deve fazer mais uma temporada na equipa B. No entanto, não parece haver muito espaço para mais um central. A menos que alguém esteja de saída...
4. Ricardo Martins Pereira candidata-se a Presidente. É um antigo jornalista, que fundou a NiT e que trabalha agora na MAGG. Acho que a profissão de alguém acaba sempre por criar uma percepção a todos de forma errada. Luís Filipe Vieira há uns 40 anos era vendedor de pneus. É assim tão relevante Ricardo Martins Pereira ter um blog? O que importa para mim são as ideias. RMP para já diz que ainda não é garantido que se vá candidatar já em 2020 ou se vai só nas eleições a seguir, mas que quer criar já a sua plataforma para debater assuntos que, no seu entender (e no meu, já agora), têm que ser falados. Esses assuntos são a credibilização do futebol e da instituição Benfica (nomeadamente o facto do clube estar semanalmente nas capas dos jornais envolvido em mais um caso) e, a violência e o clima de ódio no Desporto (onde na sua opinião o Benfica não fez o suficiente para evitar esta escalada). O discurso é dos melhores que tenho visto no passado. Vamos ver quais serão as ideias.
5. Scottie Lindsey e o Basquetebol. Anthony Ireland e Anthony Hilliard estão de saída da equipa de Basquetebol. Depois de Gary McGhee, são as primeiras duas confirmações. Mais deverão seguir-se. Estas três saídas abrem no imediato espaço para pelo menos dois reforços no Basquetebol - nós tínhamos um americano a mais no último ano. O primeiro já é conhecido. Chama-se Scottie Lindsey. É um extremo americano de 24 anos. Fez quatro anos de College na Northwestern, uma escola da Big Ten Conference. Os últimos dois como titular. Com médias de 15 e 14 pontos, percentagens de lançamento de 3pts nos 32-36%, alguns ressaltos, assistências, roubos de bola e desarmes de lançamento. Depois esteve dois anos na G-League, primeiro com a equipa de Detroit, depois com a equipa de New Orleans. A sua média na G-League foi de: 45 GP 16 GS; 34.5% de 3P%; 3.58 TRB; 1.40 AST; 0.91 STL; 0.24 BLK. 10.42 PTS. Parece ser um shooter puro mas com algumas ball-skills. Este tipo de aposta é sempre arriscado. Já tivemos o Quentin Snider que não deu em grande coisa. Este tem um pouco mais de experiência. Se vier motivado pode ser uma aposta interessante.
6. Sergey Hernandez e o Andebol. A equipa de Andebol anunciou o seu primeiro reforço. É um dos guarda-redes da Selecção Espanhola. Tem 25 anos e chega do Ciudad Logroño, que na última época ia em 3º lugar na Liga ASOBAL. É grande, muito flexível e inteligente. À partida será um excelente reforço para a nossa equipa. Vai ser uma parelha interessante com Gustavo Capdeville.
7. Novidades no Desporto Feminino. No Futsal Feminino e no Hóquei Feminino também se confirmaram os primeiros reforços. No Futsal contratámos a Leninha que estava na Nun'Alvares/IESFafe. É uma ala de 18 anos que tem sido apontada como uma da grandes promessas no Futsal Feminino português. No Hóquei contratámos a Flor Felamini, uma argentina de 22 anos, apontada por muitos como uma das melhores jogadoras do mundo."

O martelo de Nietzsche VIII

"1- Neste tempo em que os dirigentes das diversas instituições políticas e desportivas, tudo indica, já não acreditam nos princípios e valores do desporto servindo-se dele como qualquer ditador da américa latina, recomendo a leitura do livro de Bernard Yanez intitulado “Deux visages du fascisme: Coubertin et Hitler”. E porquê? Porque a emoção da estética dos grandes eventos desportivos, desde o seu anúncio até à condenação dos heróis vencidos, embebeda os políticos populistas e ilude os cidadãos incautos. Até Pierre de Coubertin, já no final da sua vida, falido, doente e desconsiderado pelos franceses, deixou-se ir na cantilena da neutralidade política do desporto e acabou por fazer um frete aos nazis. E logo ele que, muito para além da pedagogia, foi o primeiro homem a ter uma visão política do desporto. Ele foi o primeiro político do mundo moderno a descobrir e a utilizar o poder do “soft power”. A sua posição relativamente aos Jogos Olímpicos de 1936 custou-lhe o Nobel da Paz. Coubertin viria a falecer no ano seguinte sem assistir ao desencadear da guerra pela besta Nazi que viria a acontecer em 1939.
2- Grande entrevista a de Manuel Brito o presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP). Duas páginas do desportivo A Bola (2020-06-16) com cinco extraordinárias fotografias uma delas 20x21 cm o que em quaisquer circunstâncias impõe respeito. Eu que por interesse profissional comecei a organizar um dossier sobre doping precisamente em 1969 ano em que Joaquim Agostinho foi desclassificado da volta a Portugal (ainda hoje não compreendo como é que os marretas do apoio médico não foram responsabilizados) ao ler a vasta entrevista acabei por ficar a perceber ainda menos porque é que o Governo trocou Rogério Jóia que vinha a fazer um trabalho excelente por Manuel Brito.
3- Da entrevista do presidente da ADoP ficou-me o sentimento da sua mais completa inutilidade na medida em que se umas das medidas pomposamente anunciadas por Manuel Brito já vinham do tempo de Rogério Jóia as outras, não tinham qualquer interesse. E, por isso, a dita entrevista, para além da excelente estética das fotografias com expressões faciais de grande autoridade, fez-me recordar o ensaio intitulado “Shooting an Elephant” de George Orwell.
4- Relativamente ao ensaio “Shooting an Elephant”, George Orweell, enquanto funcionário administrativo na Índia colonial britânica, foi colocado perante a situação de ter de abater um elefante sem nenhuma necessidade de o fazer. O problema, explicava ele, era que toda a gente estava à espera que ele abatesse o elefante. E concluiu o relato do acontecimento confessando que só matara o elefante para não fazer figura de tolo.
5- A metáfora do “Shooting an Elephant” de George Orwell levanta uma das questões mais interessantes para a teoria da gestão na era da comunicação de massas em que vivemos. Um burocrata administrativo sente-se na obrigatoriedade de mostrar serviço só porque toda a gente espera que ele o faça mesmo que não tenha nenhum serviço especial a mostrar. Manuel Brito não matou um elefante, mas matou uma entrevista. Porque, ninguém percebe minimamente qual foi o objectivo da mesma. O que se esperava era um esclarecimento cabal acerca da ADoP, quer dizer, o que é que anda a fazer, com que resultados e a que relação custo / benefício. Pelo contrário, a entrevista circunscreveu-se ao ciclismo (com uma breve passagem pelo futebol) e, bem vistas as coisas, não serve para nada a não ser para, em grande medida, relatar aquilo que já vinha do tempo de Rogério Jóia e isso já nós sabíamos: (1º) Os processos dos ciclistas já vinham do tempo de Rogério Jóia; (2º) Os contactos internacionais relativos ao passaporte biológico já vinham do tempo de Rogério Jóia; (3º) A lei nº111/119 que regulamenta a acção da ADoP já vinha do tempo de Rogério Jóia; (4º) Os casos do futebol também já vinham do tempo de Rogério Jóia; (5ª) A intervenção da ADoP na Volta a Portugal já vinha do tempo de Rogério Jóia; (6º) Os controlos fora das competições já vinham do tempo de Rogério Jóia, só que, agora, e esta é a única novidade, em tempo de Covid-19, estão suspensos. Por mim, concluo que tal como George Orwell foi obrigado a matar o elefante porque toda a gente estava à espera que ele o fizesse, assim também Manuel Brito foi obrigado a “matar a entrevista” porque toda a entourage política estava à espera daquela morte anunciada. Entretanto: (1º) Perdeu a oportunidade de demonstrar a bondade da decisão política do Governo de o nomear em substituição de Rogério Jóia; (2º) Não foi capaz de provar a sua superior competência relativamente à de Rogério Jóia, antes pelo contrário e; (3º) Não vale a pena tentar uma segunda oportunidade a fim de criar uma primeira boa impressão até porque ela não existe.
6- O Regime Jurídico das Federações Desportivas (Decreto-Lei n.º 248-B/2008 de 31 de Dezembro), a fim de acabar com os abusos dos excelentíssimas líderes dinossaúricos que se apropriaram do desporto nacional, determinou a limitação de mandatos num mesmo órgão de uma federação desportiva. O problema é que em Portugal existe a “figura jurídica do esquema” que pode ser definida como o processo expedito para, de uma forma perfeitamente legal, ultrapassar os constrangimentos da lei fazendo com que, em termos práticos, ela deixe de existir. Em conformidade, no mundo do desporto, para além de qualquer réstia de vergonha, está instituída a figura do Testa de Ferro que, do ponto de vista formal, dá a cara para que alguém, mais ou menos na sombra, exerça realmente o poder. Mas o que mais entristece em tudo isto é haver uma sociedade que, do ponto de vista ético-moral, aceita viver com tal estado de coisas sabendo que tudo isto acontece à custa do dinheiro dos contribuintes.
7- Da educação física aos jornais ninguém pode agora vir armar-se numa donzela virgem liberta de quaisquer responsabilidades pelo estado caótico em que o desporto nacional se encontra. A educação física, desde princípio dos anos noventa, funciona de acordo com uns programas escolares que, na concepção da sua superestrutura, são completamente anacrónicos. Os resultados estão à vista: os cidadãos, do ponto de vista desportivo, de uma maneira geral, são incultos quando não incultos e boçais. Pelo seu lado, a jusante, os jornais, porque perderam a paixão e o encanto do passado, procuram satisfazer mais os instintos primários do que a inteligência emocional dos seus leitores. Ora, se o que se passa na educação física e nos jornais, a curto prazo, pode garantir alguma sobrevivência, a médio e longo prazos só pode garantir o colapso. Vive-se num círculo vicioso: Os jornais não alimentam a educação e a cultura desportivas dos leitores porque os programas de educação física não proporcionam nenhuma educação e cultura desportiva aos jovens portugueses e como os programas de educação física não incutem uma cultura desportiva aos jovens portugueses estes também não compram jornais.
8- Há muito que tenho para mim, praticamente há quase trinta anos, desde que trabalhei com Eduardo Miragaia e Octávio Ribeiro no então Gabinete do Desporto Escolar ao tempo de Roberto Carneiro que existe uma possibilidade de conjugação de interesses estratégicos entre a educação física e o jornalismo. O problema é que estamos perante duas classes profissionais excessivamente corporativas que se julgam detentoras da verdade que elas próprias constroem pelo que recusam qualquer opinião de ordem externa. Todavia, os jornais não se leem sem leitores e o desporto não se desenvolve sem jornais. Ora, é a juventude que estabelece a ponte entre estas duas realidades. O problema é que os programas de educação física do ponto de vista da sua superestrutura são um desastre social e os jornais do ponto de vista da sua afirmação entre a juventude são outro.
9- Nos momentos de crise é de fundamental importância voltar às origens, aos valores seminais, aos projectos que estiveram na origem de tudo o que viria a acontecer. O momento do arranque da educação física na era moderna foi, certamente, o ano de 1762. O protagonista o médico naturista de nacionalidade suíça, de seu nome Jacques Ballexserd (1726-1774) e o meio o livro publicado naquele ano intitulado “Dissertation sur l'Éducation Physique des Enfans, Depuis Leur Naissance Jusqu'à l'Âge de Puberté” onde, numa perspectiva eminentemente cartesiana e higienista, Ballexserd, utilizando pela primeira vez o termo educação física, estabeleceu um conjunto de recomendações higiénicas para o desenvolvimento das crianças e dos jovens até à puberdade. Nas suas recomendações incluiu os “exercícios dos jogos” que deviam fazer parte do processo educativo. A fim de se estruturar uma ideia devidamente fundamentada sobre aquilo que se deseja para o futuro, talvez não fosse mal pensado regressar-se às origens, a Ballexserd e aos gimnasiarcas do século XIX até chegarmos a Pierre de Coubertin já em finais do século e ao grande projecto desportivo à escala do Planeta que se viria a desenvolver durante todo o século XX. Quanto aos jornais, para além do Gymnasta cuja primeira edição surgiu em 1878, os desportivos, tais como O Sport, O Sport Velo e, entre outros, o Tiro e Sport começaram a surgir a partir dos anos noventa do século XIX. Eles foram os principais promotores do espírito desportivo na passagem do século XIX para o século XX. Hoje, são representados pel’ A Bola, o Record e O Jogo mas já sem o esplendor do passado ao tempo em que os jornais sentiam responsabilidade pelo desenvolvimento do desporto e, por isso, tinham um negócio. Quer-me parecer que agora funcionam mais com um negócio que pouca ou nenhuma capacidade têm de influir no desenvolvimento. Em consequência, estão perante a contingência de ficarem sem um negócio porque ele não é alimentado a montante.
10- Não existem soluções simples, rápidas e eficazes. Vivemos tempos de: (1º) Volatilidade em que tudo muda frequentemente de forma; (2º) Incerteza em que o estado de dúvida é permanente; (3º) Ambiguidade em que os problemas sugerem diferentes caminhos para a sua solução; (4º) Complexidade que exigem líderes capazes coordenarem e integrarem equipas constituídas por especialistas de diferentes saberes. O problema é que os líderes já não são o que outrora costumavam ser."

Humilhante

"Não podemos esconder a realidade. As decisões têm de ter em conta o futuro. Este presente não tem futuro.

O Benfica perdeu em casa com o Santa Clara, o que por si só já seria uma má notícia para os adeptos. Mas este é apenas um de uma série de resultados que não podem ser aceites nem por adeptos, nem por atletas, nem por dirigentes do Benfica. A pior série de resultados em casa desde 1937. Já nem posso perguntar ao meu pai como foi da última vez, porque não era nascido. Só o meu querido e falecido avô, que me fez benfiquista, me poderia dizer o que é viver algo assim.
Este Benfica pós-Covid-10 foi a pior pandemia que o universo benfiquista poderia receber. Isto não tem explicação, não é aceitável e exige uma resposta.
Fulanizar em Bruno Lage pode ser simplista e injusto. No fundo, é o mesmo treinador que nos deu o improvável campeonato da última época, a Supertaça por 5-0 na pré-época e uma primeira volta quase imaculada neste campeonato. No futebol, é o treinador o primeiro responsável pelos resultados, e estes são desastrosos, muito para lá do que a dor benfiquista consegue suportar.
Os 3-4 contra o Santa Clara são um episódio de um deplorável caminho. Não podemos esconder a realidade. Quando pensamos que vimos o pior, o jogo que se segue mostra um cenário mais escuro. Sem meias palavras, este campanha é humilhante. O plantel tem qualidade, há bons jogadores, mas o azar não explica metade do que tem acontecido. Faltam seis jogos e sobretudo uma final da Taça de que não podemos abdicar.
As decisões têm de ter em conta o futuro do Benfica. Muito mais do que fazer caça às bruxas ou procurar justificações pouco lisonjeiras para quem serve o Benfica, há que cuidar já do futuro. Mas com a mesma clareza digo que este presente não tem futuro. Cada jogo que se aproxima é mais um penoso desafio se não se inverter o caminho. Quando vemos o rival a jogar tão mal ainda sublinhamos mais a nossa incapacidade de fazer diferente. Só o futuro interessa, só as vitórias e a forma de as conseguir são agenda. Neste momento desvalorizamos bons jogadores, pomos em causa trabalho positivo de muitos e metemos uma massa adepta em depressão sem necessidade nem justiça.
Nesta altura, termino como Régio nos Poemas de Deus e do Diabo:
Não sei por onde vou.
Não sei para onde vou.
Só sei que não vou por aí!
Viva o Benfica."

Sílvio Cervan, in A Bola

É o que temos

"Proponho um desafio: será incompetência, amnésia selectiva, critério editorial, falta de assunto, ou caça ao clique? Leia e decida (as hipóteses não são mutuamente exclusivas).
Vários órgãos de comunicação social, na sequência da publicação do prospecto de lançamento do Empréstimo Obrigacionista 2020-23, apressaram-se a 'revelar' que a Benfica, SAD já tinha adiantado metade das receitas de direitos televisivos. Propositadamente ou não, e aproveitando a emissão do empréstimo obrigacionista, tentaram passar a ideia de que a Benfica, SAD estará a atravessar supostas dificuldades financeiras, o que contrastaria com a realidade apresentada nos últimos anos. A alguns, tal o afã e entusiasmo notório, só lhes faltou escarrapacharem no título 'Afinal não é só o FC Porto e o Sporting'.
É verdade que a Benfica, SAD já adiantara metade dessa receita. Fê-lo em Fevereiro de 2018 e em Abril de 2019. Ambas as operações foram objecto de comunicados à CMVM e amplamente noticiadas, além de, obviamente, constarem em todos os relatórios e contas, anuais e semestrais, publicados pela Benfica, SAD desde então. As contas são públicas e auditadas, nada disto é novidade, já nem sequer é requentado.
E o novo empréstimo obrigacionista? Folgo, antes de mais, que notícias de empréstimos obrigacionistas envolvendo a Benfica, SAD versem unicamente emissões e reembolsos, há quem, pelo contrário, tenha de adiar pagamentos ou veja a emissão recusada. E a necessidade parece-me evidente: gestão de tesouraria cautelosa. Além da perda significativa de receitas devido à pandemia, alguém poderá garantir que, na próxima temporada, haja público nos estádios ou que as competições europeias sejam realizadas normalmente?"

João Tomaz, in O Benfica

Somos todos mulheres

"Nesta semana vamos imaginar. Vamos imaginar que somos profissionais de uma determinada área e temos de discutir o valor do nosso salário. Mecânico, médico, empresário, trabalhador por conta de outrem, não importa. Vamos imaginar que alguém acima da nossa entidade patronal decide que eu, você ou nós não podemos ganhar mais do que 550 mil euros por ano, cerca de 40 mil euros/mês se incluirmos subsídios de férias e de Natal. É um belíssimo ordenado, atenção. E quem dera à imensa maioria da população poder ter esse dinheiro a entrar na conta todos os meses, mas imaginemos que valemos ainda mais, que outra empresa nos quer contratar e subir a parada. E que isso não é possível porque alguém decidiu que, por uma questão de igualdade entre empresas, tem de ser criado um tecto salarial. E que esse limite de pagamento é aplicado só aos funcionários do género masculino.
É isto que se está a passar no futebol feminino em Portugal, podem para de imaginar. Esta é a realidade. A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) determinou um tecto nos salários das jogadoras, e estas já admitem avançar para tribunal, criando também o manifesto Futebol sem Género, assinado por quase 150 atletas, a exigir igualdade de género em Portugal, e só cerca de 5% delas recebem mais de 1000 euros por mês.
A FPF defende-se com a necessidade de equilibrar o futebol português, mas será esta a melhor forma? Um primeiro passo poderia ser a garanta de um salário digno para as praticantes, uma base mínima, em vez de um tecto. Tendo em conta que cerca de um terço das praticantes profissionais da divisão principal em Portugal não recebe para jogar à bola, que tal combater essa injustiça? Ma seu compreendo... não é fácil ver um projecto como o do SL Benfica triunfar, dar cartas e servir de exemplo. Mais vale tentar já cortar a possibilidade de outras estrelas internacionais vestirem a camisola do Glorioso."

Ricardo Santos, in O Benfica

Menor rendimento: a explicação

"Não percebo o espanto que tem percorrido as redes sociais, jornais, rádios e televisivos com a quebra de rendimento dos candidatos ao título. Esta perda de força era uma consequência expectável tendo em conta as condicionantes impostas para que o campeonato pudesse ser retomado. Sem adeptos e com eventuais intervenientes infectados de fora, tanto o Benfica como o FCP ficaram privados de elementos preponderantes na luta pelo título. A ausência de benfiquistas nas bancadas tem afectado imenso o Benfica; os constantes testes positivos de Fábio Veríssimo ao coronavírus têm abalado o FCP.
Nenhum destes afastamentos pode ser colocado em causa, a saúde é o bem mais precioso das nossas vidas e tem de estar salvaguardada. Temos de compreender. Ainda assim, é doloroso ficar longe quando fazemos tanta falta - a mim, custa-me só poder gritar com a malta para cruzar a bola para a área desde o sofá porque desconfio de que eles não me conseguem ouvir. Não tenho a mínima dúvida de que os benfiquistas estão cheios de vontade de encher os estádios para apoiar o Glorioso,  e imagino que a Fábio Veríssimo também lhe custe estar ausente, não vá o FC Porto sofrer um golo idêntico ao que o Pizzi marcou na Taça da Liga no ano passado e não haver ninguém para o invalidar. Um sentimento de impotência que toma de nós, reforçado por uma inveja que se transforma em revolta, causada por quem a possibilidade de ajudar o seu clube mas menospreza essa oportunidade. Os benfiquistas e o Fábio Veríssimo querem, mas não podem. O Nakajima pode, mas não quer. Já dizia o velho ditado: Taarabt dá nozes a quem não te dentes."

Pedro Soares, in O Benfica

Diferenças

"Não deixa de ser paradoxal que, no momento em que Portugal é escolhido como palco da realização da fase final da Champions League, estejamos a assistir a um dos piores campeonatos nacionais de que há memória. Dos jogos à porta fechada ninguém tem culpa. Mas infelizmente são um facto, que retira cor e som aos espectáculos.
Além da falta de ambiente nos estádios, temos um desfile interminável de clubes-fantasma (sem adeptos, sem dinheiro, sem alma, e naturalmente mais enquadráveis nas divisões secundárias), orientados por treinadores agarrados e tácticas ultradefensivas em busca do 'pontinho', e deparamo-nos com arbitragens dignas da banda desenhada - como a que assinalou uma das grandes penalidades mais grotescas de que me recordo, precisamente no último Desp. Aves - FC Porto.
Quanto aos candidatos ao título, nem o Benfica nem o FC Porto têm sido brilhantes. Muito longe disso. Creio mesmo que este FC Porto é um dos mais fracos das últimas décadas, enquanto o Benfica também anda bastante longe do fulgor evidenciado, por exemplo, na ponta final da temporada passada. Há, porém, uma enorme diferenças entre ambos: enquanto o Benfica atravessa apenas uma crise exibicional e resultados que se limita ao que se passa dentro do relvado, os nossos rivais nortenhos têm em mãos problemas bem mais profundos, que tocam em aspectos estruturais do clube, onde não falta intervenção da UEFA, cortes salariais e tudo o mais que o tempo nos dirá. Veremos quem ganha este campeonato. Mas o que para nós é um desafio fundamentalmente desportivo, para eles trata-se de vida ou de morte. Estejamos atentos."

Luís Fialho, in O Benfica

'Especialistas' e 'entendidos'...

"Ao longo dos últimos anos, assistimos a uma multiplicação de programas de debate e opinião sobre o futebol jogado dentro das quatro linhas e, em especial, sobre o que o rodeia. E não é fácil escapar-lhes, basta ligar a televisão, et voilà. Em consequência, multiplicam-se igualmente os 'especialistas' e 'entendidos' na matéria.
Podemos argumentar que é um exagero; mas, se é verdade que ocupam horas e horas nas nossas televisões, também é certo que há um público sedento de os consumir. E nunca a questão será um tema, porque existem alternativas para todos os gostos. A questão, bem mais grave, é de outra ordem.
Muito do que ali se diz e afirma é feito sem qualquer escrutínio, sem qualquer contraditório. Vale quase tudo. A coberto da liberdade de expressão (e de imprensa) - que, naturalmente, compreendo, respeito e defendo -, para alguns é simples, banal mesmo promover a incoerência, adulterar factos, deturpar informações e sonegar a verdade.
Num patamar seguinte, estão aqueles que, cada vez que dizem algo, o fazem pela negativa. Tudo é mau. Sempre. Nunca têm a hombridade nem a seriedade de falar das boas decisões, dos resultados positivos, dos sucessos obtidos ou dos títulos alcançados.
Diz a sabedoria popular que só não se sente quem não é filho de boa gente. Ser-se criticado, de forma construtiva, é uma coisa: a crítica bem-intencionada, que nada tem de odiosa, deve ser bem-vinda, e é útil lidar com ela. Todavia, ser-se criticado sem fundamento, injuriado ou caluniado, com recurso sistemático e habilidoso à mentira, é outra coisa bem diferente.
E este não é um problema exclusivo das televisões. Diariamente, assistimos a comportamentos similares nas colunas dos jornais e no universo digital.
Vem tudo isto a propósito das 'opiniões' e contradições de alguns desses comentadores - nomeadamente de um conhecido velhaco, a quem não se conhecem dotes de bailarino...
Dizer-se hoje que o plantel do Benfica é fraco, desequilibrado e mal planeado quando, há uns meses, tendo como referência o mesmo plantel, se dizia que em Portugal havia o Benfica e depois havia os outros tal era o fosso qualitativo entre plantéis, revela o quê? Falar de transferências de jogadores, de uma forma extremamente grave, sem o cuidado de procurar, previamente, junto de quem saiba, o contraditório, que deitaria por terra qualquer especulação, é o quê?
Outros dizem que, depois de superar com distinção o teste do sucesso financeiro e das infraestruturas, o Benfica chumbou na cadeira do sucesso desportivo. Mas ganhar cinco dos últimos seis campeonatos não é sucesso desportivo? Conquistar o primeiro tetra da história do Benfica, o primeiro bicampeonato em 31 anos e o primeiro tricampeonato em 39 anos não será sucesso desportivo? Tomar o lugar de outro clube no trono da hegemonia do futebol nacional, ou conquistar todos os títulos que o nosso clube conquistou na última década, facto superado apenas pela dourada década de 60, não é sucesso desportivo? Se não é, o que será então? Uma década com duas finais europeias e o 11.ª lugar no coeficiente de clubes da UEFA, pesando embora as enormes diferenças entre ligas, bem como entre os orçamentos dos clubes europeus, será o quê? Uma década em que apenas quatro clubes marcaram sempre presença na Liga dos Campeões: Barça, Real, Bayern e ... Benfica.
Basta puxar um pouco pela memória e procurar perceber as reais motivações de quem critica. No caso de muitos dos tais 'especialistas' e 'entendidos', não seria difícil darmos com as agendas pessoais de cada um - eles próprios são quase sempre os primeiros a contradizer-se e a deixar soltas as pontas do rasto de invejas e ódios, de histórias passadas, de raciocínios toldados pela síndrome de clubite aguda ou, até mesmo, bem explícitas as verdadeiras razões que hoje lhes ditam determinados comentários.
Resta-nos avaliar factos e, sobretudo, recusarmos alinhar no 'ouvi dizer que'. Mas, no limite, talvez na valha a pena lembrar Churchill, que dizia que era bom ter inimigos - era um sinal de que, em determinado momento da nossa vida, lutámos por qualquer coisa de muito significativo."

Nuno Costa, in O Benfica

A Champions

"A realização da final 8 da Liga dos Campeões em Lisboa é uma grande vitória para Portugal. A mais prestigiada competição europeia de clubes vai resolver-se no Estádio da Luz, e isso deve orgulhar-nos a todos. Depois das finais do Campeonato da Europa, em 2004, e da final da Liga dos Campeões, em 2015, o nosso estádio volta ser o palco de um grande acontecimento desportivo. Um evento que vai pôr Lisboa e Portugal no mapa. Trata-se, sobretudo, de uma grande oportunidade para a divulgação do nosso país numa altura de crise profunda, com graves danos para vários sectores de actividade, sobretudo o turismo. Aqueles que tanto têm criticado esta escolha da UEFA não têm noção da relevância desta competição. Vão estar em Lisboa as melhores equipas europeias e os melhores jogadores do mundo. Entre as equipas que disputaram os oitavos de final, as apuradas para os quartos de final e aquelas que estão na luta por atingir esta fase, existem vários jogadores que jogaram no Sport Lisboa e Benfica. Na baliza, Oblak (At. Madrid) e Ederson (M. City). Para a defesa, seria possível forma um quarteto com Nélson Semedo (Barcelona), Wutsel (B. Dortmund), Garay (Valência) e João Cancelo (M. City). No meio-campo, um trio de excelência: Gonçalo Guedes (Valência), Bernardo Silva (M. City) e Ángel Di Maria (PSG). Na frente de ataque, outro trio fantástico: Rodrigo (Valência), Jovic (R. Madrid) e João Félix (At. Madrid). Seria um 4x3x3 de luxo. O que só prova a qualidade dos jogadores que representaram o SL Benfica nesta década e que nos permitiram conquistar a hegemonia do futebol português. Os 19 títulos conquistados, desde 2009, provam a excelência do trabalho feito quer na prospecção, quer na formação."

Pedro Guerra, in O Benfica

Cada vez melhores!

"Vivemos, como nos habituámos a ouvir dizer, uma normalidade possível. Esta normalidade possível há de um dia ser uma recordação, e a bola rolará livremente dos relvados das multidões aos recreios das escolas, e daí às esquinas das ruas das cidades como às praças das aldeias, a todos envolvendo na sua magia agregadora. Mas, para já, temos ainda de actuar com inteligência e responsabilidade, não deitando a perder o que tão arduamente conquistámos enquanto nação. Por isso, recorremos à imaginação e levamos ao limite o uso as novas tecnologias, redobramo-nos em contactos individuais e acompanhamos os nosso jovens caso a caso, casa a casa, família a família. E eles dizem pronto! Reconhecem a importância que lhes damos e agradecem o carinho que lhes demonstramos, tentando fazê-lo com acções e resultados, não com palavras fáceis. Como nós, sentem que há que vencer, que passar por cima deste inimigo invisível e cruel, que demonstrar a nós próprios e aos outros que não baixamos os braços perante a adversidade, e que temos fibra para encontrar nela força e estímulo para seguir em frente, no caminho da superação e do sucesso.
É bem essa a atitude que encontramos nos jovens dos nossos projectos e, muito concretamente, do projecto 'Para ti Se não faltares!', desde a primeira hora. Por isso os indicadores de frequência, comportamento e sucesso não só não baixam como melhoram globalmente a cada trimestre escolar, consolidando os resultados porque este projecto de combate ao absentismo e abandono escolar é reconhecido dentro e fora de portas.
Os nosso jovens são o nosso orgulho porque cada vez estão melhores, e o Benfica, pela acção privilegiada da sua Fundação, tem que ver com isso!"

Jorge Miranda, in O Benfica