terça-feira, 9 de junho de 2020

Águias e leões na terra dos arcebispos

"Benfica 3 - 2 Sporting: fez há pouco 70 anos que o dérbi se jogou no recém-inaugurado Estádio 28 de Maio que viria a transformar-se em 1.ª de Maio. Vitória justa e rija por entre os festejos que se prolongaram pela madrugada


Para mim, é um dia manhoso. O 28 de Maio, quero dizer. Questão de gostos, claro. E eu gosto de viver e de caminhar pelo lado esquerdo da vida. Eu gosto da liberdade, da minha e da dos outros, e não aceito a prepotência e a tirania. Ou seja, estou no meu posto!
No dia 28 de Maio de 1950, Braga viu o seu estádio inaugurado. O Estádio 28 de Maio, que depois passou a chamar-se 1.º de Maio. Depois do advento da liberdade, como está bem de ver.

O regime de António Salazar promoveu uma festa de arromba. Salazar não gostava de futebol, mas sempre se aproveitou dele para manter o povo calado, acarneirado. Houve o habitual desfile da Mocidade Portuguesa: 800 membros. Houve parada oficial dos representantes dos clubes, apresentando respeitosos cumprimentos ao presidente do Conselho e ao presidente da República.
Salazar discursou longamente. Muito longamente. Disse do comunismo o que Mafoma não diria do toicinho, e foi, a pouco e pouco, provocando sonolência naqueles que queriam actos, e não palavras.
D. António Martins Júnior, que tinha sido anfitrião de um belíssimo repasto na Sé, cabeceava a torto e a direito, fazendo um esforço para erguer as pálpebras pesadas. António Santos da Cunha, presidente da Câmara Municipal de Braga, já tinha tomado a palavra para balbuciar, nitidamente comovido: 'É de gratidão a palavra que me ocorre. Gratidão pela paz interna que nos destes e assegura a continuidade e eficiência do nosso labutar diário; gratidão pela tranquilidade de espírito que nos vem da confiança na vossa direcção segura e firme; gratidão pela liberdade, sim, pela liberdade, que enfim viemos a desfrutar após 16 anos de tirania dos partidos, a que hoje vemos negada aos malfeitores e aos traidores conscientes e inconscientes'.
Agradecer liberdade a Salazar tem que se diga, homessa! Só por isso valeu o panegírico do chefe do município que se engalanara como jamais até aí.

A bola rolou...
Houve dois jogos de futebol, consecutivos, duas refregas de enorme entusiasmo. Primeiro um SC Braga - FC Porto. Depois o dérbi dos dérbis: Benfica - Sporting.
O Benfica venceu bem.
Dizia uma crónica da época, do magnífico Tavares da Silva. 'É possível que os leões, na primeira parte, tivessem desfrutado de maior domínio territorial do que os encarnados. Mas o Benfica realizou brilhante exibição - das melhores com que nos tem brindado'.
O Sporting estreava um jogador vindo de Macau: coisa rara - Joaquim Pacheco. Não tardaria a chegar também o enorme Rocha, figura basilar de uma Académica única.
A cada três golpes, o Benfica ficava, subitamente, à beira do golo.
A cada três golpes, a defesa leonina tremia como varas verdes.
Toda a filosofia dos encarnados se baseava num princípio fundamental: objectividade. A baliza estava ali, a chamá-los, era esse o caminho a seguir. 'Se é certo que os campeões nacionais estiveram bem na defesa cerrando fileiras, impedindo as progressões de Travassos e Albano pela esquerda, a grande organização do ataque é que foi particularmente brilhante', prosseguia o plumitivo.
Rogério era o motor dessa organização. Foi graças a movimentações suas que o Benfica chegou ao 2-0. 'Rogério pode sem favor, considerar-se o melhor elemento da equipa encarnada. Talvez a sua melhor exibição da época. Mas, inegavelmente, a linha avançada esteve toda muito bem. José da Costa razoável ao lado de Moreira. Félix bastante bem. Jacinto e Fernandes regulares'.
O Benfica venceu por 3-2 e levou para casa um magnífico troféu.
A equipa parecia pronta para atacar a Taça Latina, que iria começar pouco tempo depois, com uma vitória dos encarnados que entrou no espírito das lendas.
Pelas ruas de Braga, festejou-se todo o dia e pela noite dentro. Um estádio arejado, aberto, moderno, prometia grandes espectáculos. Como aquele só havia outro em Portugal, o Estádio Nacional, feito ao mesmo estilo germanizado do arquitecto Albert Speer. E 40 mil pessoas arrostaram o sol da tarde desse 28 de Maio. Era tempo de regressarem a casa e irem encontrando, pelo caminho, o chão juncado dos restos das paradas. Sobra sempre uma espécie de vazio dentro de nós no momento em que acabam as festas..."

Afonso de Melo, in O Benfica

O futebol como esperança no recobro da normalidade

"O ano em que o desporto funcionou como lembrete para uma sociedade debilitada pela guerra, pela fome e pela doença

Por três vezes num ano, entre 1918 e 1919, a gripe pneumónica, cuja origem não se sabe se francesa, americana ou chinesa, matou milhares de classes, em Portugal.
O país vivia num caos politico. Na I Guerra Mundial combatiam soldados portugueses. Escasseavam bens essenciais como o pão e o preço do leite era incomportável para muitos. Enquanto no verão não se sabia se se chegaria ao inverno, pela incerteza do fim da guerra e por haver gente que caía 'na rua com doença e fome', o futebol continuava.
Asílos, oficinas, fábricas e teatros foram os mais atingidos pela doença. O Teatro da Trindade foi um dos primeiros focos em Lisboa, surgindo um ditado que dizia que 'quando um artista se levanta da cama, cai outro ou para lá se encaminha'. Encerraram-se os teatros, escolas, universidades, o parlamento, proibiram-se feitas e peregrinações, cafés, cinemas, igrejas, transportes e serviços públicos, fábricas, armazéns e mercados.
Ricardo Jorge sugeria que se devia evitar 'a permanência em lugares fechados onde haja aglomerações'. Por isto, não admira que o futebol, praticado e assistido ao ar livre, se tenha mantido com público durante o surto mais mortífero, no outono de 1918.
No Brasil, adiou-se a 3.ª edição da Copa América para o ano seguinte, pelo avultado número de mortos. Em Portugal, foi adiado para data indeterminada o Concurso Nacional de Tiro, e a realização de um torneio de esgrima esteve em dúvida. Ao mesmo tempo, o Benfica recebia o Sevilha FC, em jogos de futebol assistidos por 'uma multidão numerosa e assaz distinta'.
A imprensa sensibilizada, com o apoio do Benfica, organizou provas cujo resultado revertia para os soldados portugueses. O Clube também promoveu competições de homenagem aos combatentes.
Enquanto se faziam peditórios em benefício dos pobres afectados por todo o país, em Lisboa, ainda no pico da pandemia, falava-se 'com insistência na realização de várias festas de sport, cujo produto será destinado às vítimas da actual pandemia'. À época, a Associação de Futebol de Lisboa atravessava uma crise interna, mas isso não demoveu os clubes de jogar futebol e foram eles os responsáveis pela organização de diversas competições amigáveis.
A doença não pareceu ter particular incidência sobre o desporto. Pelo contrário, este reagiu contra o inimigo, dando a oportunidade à população de recordar que perder, ganhar e recuperar fazem parte do percurso do ser humano, o que os períodos negros não duram para sempre.
Pode descobrir e orgulhar-se de outras acções exemplares protagonizadas pelo Clube, ontem como hoje, na área 9 - Honrar a Cidade do Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

Factos que falam por si

"O Presidente do Sport Lisboa e Benfica, ontem, em conferência de Imprensa após reunião da Liga, abordou diversos temas que marcam a actualidade, manifestando a posição da direcção do Benfica em relação a diversos assuntos.
No que respeita à Liga, e mais concretamente sobre o presidente, Luís Filipe Vieira reiterou o desagrado pelo envio de uma carta ao Presidente da República, apelando à sua intervenção no sentido de possibilitar a transmissão televisiva em sinal aberto dos jogos. Tratou-se de uma ideia com a qual o Benfica discorda, pois poderia prejudicar significativamente um dos seus parceiros de negócio mais relevantes, agravada pelo facto de esta proposta ter sido feita em nome do Benfica e de outros clubes sem o conhecimento destes.
Acrescem ainda as questões da liderança da Liga, do seu modelo de governação e da localização da sede.
Sem se avaliar, por agora, aspectos da gestão corrente da Liga, que não estão em causa, fica claro que há um problema de liderança. Um líder impõe-se naturalmente, aceite, sem reservas, por quem é liderado. Esta é uma característica basilar de qualquer líder, constante em qualquer manual que verse sobre este tema.
Também o modelo de governação foi abordado, havendo uma proposta em análise, feita por vários clubes. Esta necessidade advém de o actual modelo de governação, pensado nos primórdios da Liga, se ter tornado obsoleto. Luís Filipe Vieira realçou o profissionalismo da gestão do Benfica, assim como a visão empresarial para o Clube e SAD, como exemplo da importância que a evolução nestes domínios pode ter na obtenção de melhores resultados desportivos e financeiros, sendo que na Liga é a vertente financeira que está em causa.
E quanto à localização da sede da Liga, o Benfica não coloca qualquer obstáculo a que esta continue situada na cidade do Porto e no edifício em que se encontra hoje. Além de que entende não haver qualquer utilidade para a existência de uma sucursal em Lisboa, pois só acarreta custos dispensáveis por não gerar benefícios consideráveis.
O Presidente Luís Filipe Vieira abordou ainda outros temas, com destaque para o grave acontecimento do apedrejamento do autocarro da equipa após o jogo frente ao Tondela.
Sobre o ato em si, cujas consequências poderiam ter sido gravíssimas (imagine-se que uma das pedras tivesse atingido o motorista), não haverá quem não o considere ignóbil, sabendo-se que se equipara a outros episódios lamentáveis passados no futebol português. É absolutamente necessário que este tipo de situações seja definitivamente erradicado do quotidiano do futebol português. Luís Filipe Vieira, mais uma vez, apelou às autoridades que investiguem a fundo o crime perpetrado e que encontre os autores do mesmo, deixando uma certeza: caso se trate de sócios do Benfica, serão banidos do Clube imediata e inapelavelmente.
Houve ainda tempo para reiterar a integral legalidade dos contratos que estipulam a relação comercial entre Benfica e Aves, sabendo-se que remetem para práticas comuns no mundo do futebol, seja em Portugal ou noutro país qualquer.
E também para salientar a necessidade geral, entre os clubes, da retoma das competições, procurando-se a sua estabilidade e potencial de crescimento. Mesmo o Benfica, cuja boa situação económica e financeira é sobejamente conhecida e permitiu lidar com a interrupção das competições sem sobressaltos, não conseguirá evitar ser afectado pela crise global se esta se prolongar indefinidamente.
No Benfica não houve cortes de salários, não houve atrasos nos pagamentos, nem houve o recurso ao lay-off como noutros clubes. E seria impensável o pagamento de prémios chorudos a elementos da administração enquanto se apresentam prejuízos históricos e uma gestão desastrada que levou a que esse clube esteja sobre intervenção da UEFA. Mas Luís Filipe Vieira deixou bem claro que se houver um retrocesso ao nível da realização das competições e se, porventura, também o Benfica se vir na contingência de ter de aplicar alguma das medidas descritas acima, assumi-lo-á pronta e abertamente. Vivemos tempos muito difíceis e só com enorme perseverança, competência e transparência poderemos, todos juntos, ultrapassar as dificuldades."

Tratado de promiscuidade...!!!

"A promiscuidade política e desportiva do FC Porto, e os seus tentáculos.
Pinto da Costa foi este fim de semana eleito para o 15º mandato como Presidente do FC Porto, numas eleições que, como esperado, foram uma mera formalidade. Para este mandato Pinto da Costa fez algumas alterações à sua equipa, nomeadamente o regresso de Fernando Gomes e Vitor Baía ao papel ativo no clube. No entanto, importa olhar com atenção a outros nomes, nomeadamente ao Conselho Superior. Eis a sua constituição: Rui Moreira, Felisberto Querido, Eduardo Vítor Rodrigues, Luís Montenegro, Pedro Marques Lopes, Jorge Filipe Correia, Manuel Macedo, Manuel Pizarro, António Bragança Fernandes, Fernando Cerqueira, Deocleciano Carvalho, Tiago Barbosa Ribeiro, Raúl Peixoto, Luís Artur Ribeiro Pereira, António José Sousa Magalhães, Jorge Cernadas, Matilde Passos Ribeiro, Nuno Cardoso, Manuel Ferreira da Silva e José Barbosa Moto.
Se alguns nomes são perfeitos desconhecidos e anónimos, outros há que estão, estiveram, ou podem vir a ter papel de relevo, em diversos quadrantes.
É o caso de Nuno Cardoso, Presidente da CM do Porto pelo PS, entre 1999 e 2002, sucedendo na altura a Fernando Gomes, que é actualmente Vice-presidente do FC Porto para a área financeira. Este foi o responsável pela dimensão assumida pelo Plano de Pormenor das Antas, o qual levava a cabo uma intervenção urbana que o próprio considera «só ter paralelo com o que aconteceu nos anos 50, quando foi desenhada a Avenida dos Aliados». Ora, na sequência deste processo, Nuno Cardoso terá lesado deliberadamente a autarquia em favorecimento do FC Porto, tendo o Ministério Público concluído que os cofres municipais foram prejudicados em 2,5 milhões de euros. Mais, na altura, ao mesmo tempo que exercia funções autárquicas, Nuno Cardoso detinha um cargo no Conselho Consultivo da SAD portista. Em 2000 havia sido distinguido como sócio do ano, nos Dragões de Ouro.
Obviamente que é má fé acusar Nuno Cardoso de conflito de interesses.
Rui Moreira (ou “Fui” Moreira). Para muitos o sucessor de Pinto da Costa, que desde há muito o suporta no panorama político e desportivo. «Rui Moreira seria um fantástico presidente da Câmara do Porto», em 2010; «Se Rui Moreira fosse candidato, eu não avançava», em 2020. Ficou conhecido como comentador desportivo, e protagonizou uma saída abrupta de um programa do Trio de Ataque, quando acareado com o Apito Dourado e suas escutas. Naturalmente, não conseguiu lidar com a realidade. Fugiu como um rato, à margem do que é característico do clube com que simpatiza. Já o seu dirigente máximo havia fugido para Vigo, quando confrontado com as buscas no Apito Dourado. É atualmente presidente da CM do Porto. Não obstante ainda não ser presidente do FC Porto, Rui Moreira já trabalha oficiosamente como tal em certas matérias. Está encarregue da concretização da Academia do FC Porto, um sonho do seu presidente. É de conhecimento público (o que torna tudo ainda mais vergonhoso) que já reuniu com colegas autarcas para discutir assuntos relacionados com a construção da academia. Certamente que será mais um projecto “à FC Porto”, como foi o Centro de Estágios do Olival.
Que achará o Boavista, o Salgueiros, e outros históricos clubes do Porto desta intromissão do presidente da CM do Porto no FC Porto? Foram ouvidos? Foram considerados? Foram respeitados? Que se diria se esta promiscuidade acontecesse em Lisboa? E não deixa de ser curioso, no mínimo, vir à tona um fantasioso convite de Luís Filipe Vieira a Fernando Medina para a sua lista. Pois bem, é óbvio que Medina jamais aceitaria um eventual convite do Benfica. Presidindo à CM de Lisboa, o passo seguinte será a candidatura a Primeiro Ministro. Já Rui Moreira entrou na Câmara do Porto com o foco no seu clube. É diferente. Muito diferente. Não nos tomem por parvos.
Portanto, de 1990 até agora, a CM do Porto foi sempre presidida por alguém intimamente ligado ao FC Porto, directa ou indirectamente. Rui Rio foi a excepção, entre 2002 e 2013. E porquê? Porque alegadamente não punha o Desporto como prioridade máxima, algo que Pinto da Costa não aceitava, tendo-o inclusive considerado persona non grata, e impedindo-o mesmo de entrar nas instalações do clube em vários ocasiões. Além do mais Rui Rio reconhecia na altura do Plano de Pormenor das Antas que a CM Porto não tinha os meios necessários para comparticipar no projecto, algo que constituiria mais uma afronta para Pinto da Costa, tendo a sem vergonha de dizer que «Rui Rio não tinha capacidade para gerir um quiosque».
Analisando o concelho vizinho, Vila Nova de Gaia, constatamos mais curiosidades. Eduardo Vítor Rodrigues foi eleito em 2013 como Presidente da Câmara, e foi inclusive convidado a integrar a SAD portista, algo que não se concretizaria. Eduardo Vítor Rodrigues sucedeu a Luís Filipe Menezes, que estava no cargo há 16 anos. Neste período, ofereceu o Centro de Estágios do Olival ao FC Porto, num dos negócios mais escabrosos e que mais lesaram o erário público. No período mais atribulado em torno do Plano de Pormenor das Antas, Luís Filipe Menezes ofereceu-se a recebeu o projecto em Gaia. Grande amigo!
Bragança Fernandes passou de vice para Presidente da CM da Maia em 2002, tendo lá ficado até 2017. Desempenhou vários cargos no FC Porto.
Luís Montenegro. Mais um político. Destacar que perdeu as eleições do PSD para Rui Rio, sendo este último um dos “ódios” de estimação de Pinto da Costa, visto não ter alinhado nos seus egos, como por exemplo Nuno Cardoso. Na sua actividade política, Luís Montenegro é suspeito de ter falsificado documentos que serviam de prova à forma de como e de quanto pagou no que concerne às viagens que fez a França para assistir a jogos do Euro 2016.
Tiago Barbosa Ribeiro. Desde Fevereiro deste ano é Presidente do PS Porto. Desde cedo tem um registo sujo, destacando-se a suspeita do crimes de falsificação de documentos, no preenchimento de fichas de filiação no partido na concelhia de Coimbra. Fez um acordo para que o caso não prosseguisse para julgamento. Assunção de culpa. Mas Tiago Barbosa Ribeiro ganhou mediatismo após se ter descoberto que fazia parte de uma rede montada pelo FC Porto para atacar o SL Benfica, no famigerado e vazio de conteúdo caso dos emails. Personagem ligada a, por exemplo, Pedro Bragança. Tiago Barbosa Ribeiro tem aqui um prémio de carreira (ainda curta) e certamente pode aspirar a voos mais altos.
Pedro Marques Lopes. O melhor especialista de tudo e de nada, do futebol à política, do cinema à música. Já distinguido como Sócio do Ano, tem como modo de vida além de comentar tudo e nada, atacar o SL Benfica. Foi e é também um peão do FC Porto na sua estratégia de comunicação. Um caso de “gratidão, admiração e amizade eternas”.
É caso para perguntar para onde o famoso centralismo de deslocou. O FC Porto controla politicamente e a seu belo prazer os municípios do Porto, Gaia, Maia e Gondomar, e joga os nomes em ambos os tabuleiros, politico e desportivo, como se pode constatar na influência desportiva da AF Porto e do seu presidente, J. Lourenço Pinto. O modus operandi habitual é começar num dos tabuleiros e passar mais tarde para o outro, chegando ao desplante de haver gente sem qualquer noção a acumular funções, apenas pela promiscuidade política e desportiva. O propósito é unicamente beneficiar o Futebol Clube do Porto. Apenas e só.
Agora que as eleições já aconteceram, é também tempo da SAD do FC Porto começar a arrumar a casa, e o Polvo das Antas sugere algumas perguntas que a comunicação social atenta pode questionar: 
1) Que se passa com Nakajima?
2) Já há dinheiro para o pagamento de salários e prémios em atraso?
3) Será respeitado o próximo pagamento do Empréstimo Obrigacionista?
O campeonato nacional continua em disputa, faltam 9 jornadas. Não é por haver problemas (inegáveis) internos que deixaremos de estar atentos a ameaças externas e movimentações obscuras. E do FC Porto, claro está, não se podia esperar outra coisa."

​Curioso recomeço da liga

"Face aos resultados verificados pouco ou nada mudou, restando no entanto uma grande curiosidade que tem a ver com o facto de nenhuma das seis equipas primeiras classificadas ter conseguido vencer nesta ronda de apresentação.

Num fim-de-semana sem futebol das primeiras linhas, muitas atenções convergiam para o Dragão onde, em dois dias, tiveram lugar as eleições para os órgãos sociais do Futebol Clube do Porto. 
Expectativas diferentes das habituais pelo facto de se apresentarem a sufrágio três listas, contrariando assim hábitos que se haviam instalado e permanecido durante largos anos, durante os quais o Presidente Pinto da Costa não teve concorrência.
Desta vez não foi assim, e o laureado líder portista contou mesmo com oposição cerrada, tantos nos actos como nas palavras. Claro que, cumprindo a previsão, Pinto da Costa ganhou de forma clara, se bem que o candidato Rio, com 26% dos votos, lhe tenha deixado sinais de que pode contar com a sua permanente oposição.
Quanto à Liga, terminou finalmente a jornada do reatamento, realizada ao longo de cinco dias.
Face aos resultados verificados pouco ou nada mudou, restando no entanto uma grande curiosidade que tem a ver com o facto de nenhuma das seis equipas primeiras classificadas ter conseguido vencer nesta ronda de apresentação.
E isto, mais do que uma curiosidade, não deixa de ser também um aviso importante para todos. Ou seja, as equipas de menor dimensão, algumas das quais lutam pela sobrevivência, mostraram-se dispostas a lutar com tanto ou mais empenho do que aquele que haviam manifestado até ao dia 8 de Março passado.
E da jornada, embora não vencendo, saiu mais beneficiado o Sporting, que reduziu para três pontos a diferença para o Sporting de Braga e, ainda melhor, aumentou a diferença sobre aqueles sobre outros possíveis candidatos à Europa.
Relativamente ao futebol jogado, as primeiras impressões após o recomeço, não são muito animadoras. A qualidade não abundou e, dos três/quatro grandes, só os leões deixaram razoável impressão.
Veremos se é para continuar."

Extinguir as claques: ponto final

"Para aquilatar se uma associação ou grupo de pessoas, promove ou não a violência, o factor de avaliação tem de ser a sua prática. E a prática das claques é sem dúvida o culto e a promoção da violência

Dispõe a Constituição da República Portuguesa, que “os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização, constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrárias à lei penal. (artigo 46º da CRP, sublinhado nosso)
As claques, são associações um tanto ou quanto atípicas, mas tratando-se de grupos de pessoas que se juntam com o objectivo de uma mesma finalidade, estamos no mínimo perante uma associação de facto. No que respeita aos fins, o apoio a um clube de futebol – é de claques de futebol que estamos a falar, não de outras – é óbvio que esse desiderato, não é contrário à lei penal.
Já quanto a outro requisito da Constituição, não se dedicar à “promoção da violência”, é evidente que essa “finalidade” não é possível encontrar nos estatutos de qualquer grupo. O Ku Klux Klan não tem escrito nos seus princípios que se destina a bater em negros ou as SS não tinham como finalidade escrita, exterminar os judeus. Isso seria de uma ingenuidade inconcebível.
Por essa razão, nomeadamente, para aquilatar se uma associação ou grupo de pessoas, promove ou não a violência, o factor de avaliação tem de ser a sua prática. É esta que revela a sua real finalidade, independentemente dos princípios escritos, que muitos apaniguados, nem sequer alguma vez leram. 
Se o objecto da Confraria do Vinho da Bairrada, é a promoção desse vinho, mas a pratica regular e reiterada dos seus confrades, fosse a de agredir os membros da Confraria do Vinho do Dão, ou os apreciadores deste vinho, certamente não haveria dúvida legal alguma, que o destino de tal Confraria do Vinho da Bairrada, seria a sua extinção administrativa, por via das respectivas finalidades reais, serem contrárias à lei penal.
Ora, a prática da generalidade das claques do futebol, especialmente dos chamados clubes grandes – nas suas práticas são indistinguíveis umas das outras — é sem dúvida o culto e a promoção da violência. Provas? Bom, consta do Código Civil, que os factos notórios não carecem de prova. Necessitar de provar, que as claques do futebol promovem a violência, é como pedir que se prove, que à uma da tarde em Portugal é de dia e à uma da madrugada é de noite.
As provas são públicas e cristalinas, os actos ilícitos são tantos e tão conhecidos, que se torna quase enfadonho recordá-los: apedrejamento de viaturas de equipes; invasão de instalações desportivas; agressões a atletas e árbitros; agressões a jornalistas e dirigentes dos clubes; vandalização de viaturas e casas de jogadores; agendamento de sessões de pancadaria à moda dos duelos do Séc. XIX, lançamento de engenhos pirotécnicos sobre o público e jogadores, etc. etc. Este rol de crimes é tão reiterado e tão extenso, que a pura punição casuística de cada infractor individualmente – como tem de ser nos termos da lei – não eliminará, como já se viu, o culto de violência, que é o verdadeiro factor agregador e motivador destas claques. Também não se pode culpabilizá-los e acusá-los indiscriminadamente a todos, porque a lei, e bem, não permite julgamentos por atacado.
Igualmente não será através da culpabilização dos comentadores do futebol falado na televisão, com os seus excessos de linguagem, nem com a responsabilização dos dirigentes dos clubes, pois apesar da sua culpa moral ser muita, de facto, não é determinante. Importante apenas o seria, se as claques, como se dizia no português antigo, passassem cartão, a dirigentes e comentadores, o que não é o caso.
As claques, hoje, já correm por conta própria. Só estão “socialmente enquadradas”, no sentido literal do termo, quando caminham para os estádios de futebol, dentro da chamada caixa de segurança, rodeados de policias, cães pastores e carros de água, permanecendo dentro do estádio numa gaiola e abandonando o estádio (muitas vezes depois de o vandalizarem) de novo na caixa de segurança. Fora disso, andam por aí em roda livre.
Digam-me lá, quem mais é que na nossa sociedade, goza deste estatuto de impunidade? Não conheço, mas perante a passividade do Governo e do Ministério Público, só pode ser distracção minha."