segunda-feira, 11 de maio de 2020
Sentido de responsabilidade
"Neste momento que requer máxima responsabilidade, todos os clubes se comprometeram a seguir escrupulosamente o plano de regresso aos treinos com vista à retoma das competições, plano esse que, por sua vez, sob a coordenação da Liga e Federação Portuguesa de Futebol, respeita as recomendações da Direcção-Geral da Saúde e beneficia da observação das medidas tomadas por outros países que avançaram mais cedo neste domínio.
Este plano inclui medidas muito rigorosas de prevenção e limita o contacto, entre elementos do plantel, de forma acentuada nesta fase inicial. Paralelamente, estão previstos testes regulares a jogadores, treinadores e restantes elementos do staff, além de prestadores de serviços que têm contacto com estes.
Face ao elevado número de testes efectuados e conhecendo-se as características deste vírus, nomeadamente no que diz respeito à sua propagação, bem como a dimensão da pandemia, já se esperava que pudessem ser detectados casos positivos. Esta tem sido uma constante desde o início da pandemia: quanto mais se testa, mais casos se encontram.
Em relação ao nosso atleta David Tavares, queremos antes de mais desejar-lhe uma rápida recuperação. O atleta encontra-se bem, assintomático, e a cumprir isolamento nas condições contempladas no plano de contingência predefinido, seguindo as normas da DGS e contando com o total apoio do Clube. David Tavares, não fosse jogador profissional de futebol, e dada a ausência de quaisquer sintomas, seria, muito provavelmente, mais um dos muitos casos que se julgam existir e por detectar.
Conforme informação prestada pelo SL Benfica, SAD, em comunicado oficial, o Departamento Médico do Sport Lisboa e Benfica manterá o rigoroso plano de contingência que está a ser seguido desde o dia em que os seus profissionais voltaram à actividade no Benfica Campus, estando previstos novos testes já nos próximos dias. Refira-se que se tratará do quarto momento de testagem desde o regresso à actividade.
O Benfica tomou, em nome da transparência, a decisão de divulgar o nome do jogador, que, obviamente, deu o seu imediato consentimento para que assim se procedesse.
O Benfica tornou pública a situação no mesmo dia em que teve conhecimento do caso, fazendo-o poucos minutos após ter ficado a conhecer o resultado da contra-análise.
Este sinal de transparência vai ao encontro daquilo que o Benfica pediu desde a primeira hora: centralização dos testes e a necessidade de uma periodicidade apertada.
Assim, todos os clubes têm continuado o seu trabalho no sentido de, conforme o planeado, possibilitar o regresso das competições com as condições de segurança determinadas pelas autoridades de saúde. É por esse desígnio que, neste período inusitado que vivemos, trabalhamos diariamente."
Título e qualificação direta para a Liga dos Campeões: desejo ou necessidade?
"No final de maio estará de volta a Primeira Liga, sabe-se lá porquê. Por algum estranho motivo, as entidades ditas competentes que regem o futebol português decidiram que não valia a pena retomar as restantes competições do desporto-rei em terras lusitanas. Contudo, consideraram de sobeja importância dar aos adeptos de futebol (entenda-se adeptos de clubes de futebol) as desconsoladoras imagens de 90(!) jogos à porta fechada.
Apesar de estar contra essa decisão (não sei se notaram), nada posso fazer. O campeonato vai ser retomado e, se tudo correr bem (?), vai ser disputado até ao fim e teremos descidas, manutenções e um campeão que será certamente contestado meses a fio pelo adversário directo que terminar com o “título” todo pomposo de vice-campeão.
Na luta pelo título (o que conta), estão SL Benfica e FC Porto. No corrente artigo, é abordada a perspectiva dos encarnados, partindo da pergunta que o titula: terminar em primeiro lugar é apenas um desejo ou será uma necessidade das águias, face ao cenário actual (que pelos vistos não é assim tão mau, até dá para haver bola)? R.: Ehhh…
De certa forma, a conquista do campeonato nacional (ou a, preparem-se, “Reconquista”) é sempre uma necessidade, em particular quando apenas o campeão português tem acesso directo à Liga dos Campeões (porque é que será?…). Em jogo estão, logo à cabeça, 40 milhões de euros. Mesmo para quem respira saúde financeira, é muito dinheiro (além de que agora é complicado respirar).
Perante a pandemia em curso e as suas certamente devastadoras consequências (que pelos vistos não são assim tão devastadoras, até dá para haver bola), essa necessidade acentua-se, podendo até tornar-se premente. No entanto, a imagem transparecida pela direcção do SL Benfica (se é que há transparência numa direcção de um clube de futebol português), é a de que o clube pode superar com alguma tranquilidade a negra fase que vivemos (que pelos vistos… vocês já sabem o resto).
O investimento não será reduzido de sobremaneira e os salários não serão cortados, ao que tudo indica. Assim, o clube da Luz poderá abordar a recta final do campeonato (isto vai mesmo acontecer? Uau…) com a tranquilidade de quem almeja o título sem carregar a pressão adicional de ter, forçosamente, que o conquistar. Nesse sentido, os encarnados podem até partir em vantagem em relação aos dragões, que me parecem mais necessitados do título e da garantia da presença na liga milionária."
Dúvidas crescentes à volta da retoma
"Federação Portuguesa de Futebol divulgou o parecer técnico da Direcção-Geral da Saúde, que estabelece todas regras que devem ser cumpridas enquanto durar a competição.
A Covid-19 continua a fazer o seu percurso causando muitos estragos por esse mundo fora, sem que seja possível prever para quando o abrandamento de uma actividade que originou centenas de milhares de mortos.
No caso português, os números não se apresentam tão perturbadores quanto acontece nos países geograficamente mais próximos de nós, mas nem isso é motivo de consolação. Há infectados e mortos a uma escala que assusta e, dizem alguns peritos, o pior pode ainda nem ter acontecido.
O desporto tem sido também atingido por esta desgraça cujos efeitos já há algum tempo se fazem sentir. No que respeita às modalidades consideradas não profissionais a situação é arrasadora porque, simplesmente, foram todas banidas dos calendários, sem que se saiba quando vai ser possível a retoma.
Já no futebol nem tudo funciona do mesmo modo: há suspensão da actividade a todos os níveis, excepto no escalão máximo, ou seja, na primeira Liga profissional. E por isso foi decidido, política e desportivamente, que o campeonato seja reatado no último fim-de-semana deste mês de Maio, para que assim possam cumprir-se as dez jornadas que restam para cumprir a totalidade do calendário.
A Federação Portuguesa de Futebol divulgou ontem o parecer técnico da Direcção-Geral da Saúde, que estabelece todas regras que devem ser cumpridas enquanto durar a competição.
Trata-se de um documento contendo algumas novidades a que nos iremos referir noutra altura, sendo no entanto de realçar o facto curioso de apenas dez adeptos poderem permanecer nas áreas circundantes dos estádios onde se disputam os jogos.
Há no igualmente notícias recentes que dão crédito a preocupações quanto à possibilidade de poder haver de novo futebol. Jogadores e staff infectados foram já referidos no Belenenses, Vitória de Guimarães, Famalicão, Moreirense e Benfica, sendo de admitir que o número conhecido, treze ao todo, possa vir a aumentar nas próximas horas à medida a que os resultados dos testes realizados venham a chegar ao nosso conhecimento.
Trata-se de sinal de alerta que, a ampliar-se, pode atirar por terra a intenção e o campeonato português chegar ao fim. Aliás, o mesmo acontece na Espanha, na Itália, na Inglaterra, onde a pandemia também tem causado estragos em clubes de futebol.
Só a Alemanha, com mais casos positivos do que todos os outros, mantém a decisão de seguir em frente.
Veremos se ali vai ser possível cumprir todo o percurso."
Taarabt - O rebelde bom
"Adel Taarabt é talento, é criação, é risco, é... entusiasmo. É vertigem no jogo. Com todos os defeitos e virtudes que isso transporta para dentro de um campo relvado.
"Will é um rapaz brilhante e tem um grande talento para a matemática. O psicólogo Sean Maguire ajuda-o a formar a sua identidade e a lidar com as emoções, direccionando-o na vida". Taarabt é Will; Bruno Lage podia muito bem ser o psicólogo. O excerto é retirado da apresentação do filme "O bom rebelde", que valeu a nomeação para um Oscar de Melhor Actor a Matt Damon. Na vida real, este bem pode ser o retrato da carreira de Taarabt no Benfica. Não digo que o marroquino que já merecia o Oscar que Matt Damon falhou, mas Adel Taarabt tem sido (finalmente!) um bom actor.
Longe de ser, ainda hoje, um jogador consensual, é inegável que temos visto, sobretudo esta época, o melhor que Taarabt tem para nos oferecer em campo. Fora dele, se bem se recordam, deixou exemplos que um profissional não pode nem deve dar. Taarabt perdeu muito tempo. Recuperou o orgulho e a forma, mesmo depois de Luís Filipe Vieira ter prometido que não voltaria a vestir a camisola do Benfica. Pela mão de Bruno Lage, o sonho e a aposta de Rui Costa acabaram, no entanto, por tornar-se realidade. Taarabt mudou. E Bruno Lage mudou o "jogo" do marroquino. Ele próprio admitiu isso recentemente.
Adel Taarabt é talento, é criação, é risco, é... entusiasmo. É vertigem no jogo. Com todos os defeitos e virtudes que isso transporta para dentro de um campo relvado. A rigidez dos sistemas retira, muitas vezes, liberdade aos jogadores. O marroquino encontrou algum equilíbrio nas acções, é certo, mas isso nem sempre dá segurança ao jogo colectivo. Acrescenta-lhe, no entanto, mais magia e improviso, mais soluções e melhores decisões. Mas também desequilibra, sobretudo, quando Taarabt abusa da confiança e assume sozinho o destino do jogo. Mania dos predestinados, está bom de ver.
Inegável é que Bruno Lage tinha motivos para acreditar na esperança que Taarabt lhe criou nos treinos. A perspicácia, a ousadia, a teimosia do treinador - a teimosia dos treinadores que é criticada tantas e tantas vezes! - permitiu ao Benfica encontrar no balneário uma solução que, no mercado, custaria alguns milhões de euros. O internacional marroquino, desta vez, não defraudou e continua a merecer figurar entre os jogadores com melhor rendimento no Benfica. Goste-se ou não (e há muitos que não gostam...), a verdade é que Taarabt apresenta credenciais que justificam a aposta de Lage. Falta-lhe, talvez, chegar à área com mais instinto de... golo. Mas não se pode ter tudo, certo? Apenas uma observação final: com mais cabeça e menos uns aninhos, imaginem só o "caso sério" que seria...
B. I.
Adel Taarabt
Idade: 30 anos
*Valor de Mercado: 4 M€
Jogos: 33
Minutos: 2382
Golos: 1
Assistências: 3
*Fonte: Transfermarkt"
Não é glorioso quem diz que é glorioso
""Sou do Glorioso". É assim que eu e tantos benfiquistas gostamos de responder a todos os que nos perguntam qual é o nosso clube. Dizer que somos do Glorioso é uma declaração de amor, muito mais do que a constatação de um facto, tal como um pai se orgulha dos feitos de um filho, ainda que esses mesmos feitos, quando comparados com os de milhares de outras crianças, sejam simplesmente banais. Tem tão só a ver com os olhos de quem vê e o coração de quem sente. O nosso Benfica é o Glorioso, gostamos de dizer, assim mesmo, à boca cheia.
Só que não é. Friamente, não é. Devia ser, pode vir a ser, tem o que é preciso para o ser, mas não o é, por muito que gostemos de achar que sim, e que encontremos justificações para o provar aos que nos contrariam. Ser glorioso não é ganhar um campeonato português meia-dúzia de vezes, não é ir a duas finais da Liga Europa e perder. Não é andar na luta, muitas vezes sem êxito, para ser campeão de futsal, basquetebol, andebol ou voleibol. Ser glorioso não é nada disso. E quando me perguntam o que é que eu gostava que o meu Benfica fosse depois desta pandemia, depois deste tempo que nos obrigou a todos a parar, e em que o próprio modelo do futebol poderá mudar para sempre, é que o Benfica retome o caminho para que se torne, de facto, no Glorioso SLB.
É inegável o trabalho de recuperação da instituição Benfica que a actual direcção tem feito ao longo dos últimos 15 anos. Não há como contrariar isso, e nenhum benfiquista de bem quer contrariar isso, porque nenhum benfiquista de bem deve desejar o insucesso ao seu clube só porque não gosta de um presidente ou de um treinador. Eu já fui à Luz puxar pelo Benfica quando tinha o Vale e Azevedo na tribuna ou o Quique Flores no banco, e nunca, por uma só vez, desejei a derrota ao meu clube só porque entendia que estava tudo mal.
Da mesma forma que não acho que os novos caminhos se tracem apenas quando está tudo mal, quando batemos no fundo. Pelo contrário. É quando se está por cima, com fulgor financeiro, com a rede de segurança de alguns sucessos desportivos recentes, que devemos começar a mudança. As organizações mais fortes são aquelas que mais vezes mudam, arriscam, testam, que nunca se conformam com pequenas conquistas do presente, e que vivem o presente a trabalhar o futuro.
Poderá dizer-se que o Seixal é um pouco isso, uma máquina de preparação do futuro. E é, também é. Mas preparar o futuro não é só isso, não é apostar as fichas todas numa só área, que por muito que demonstre ser uma máquina oleada está sempre dependente de conjunturas, e que não produz resultados certos todos os anos. Olhe-se para o Sporting. Durante décadas, a Academia de Alvalade foi uma das melhores escolas de formação do Mundo, mas isso não garantiu ao clube sucessos financeiros nem desportivos, mesmo que tenha dado a Portugal e ao Mundo jogadores como Paulo Futre, Luís Figo, Simão Sabrosa, Cristiano Ronaldo ou Ricardo Quaresma.
A explicação não se pode resumir à ineficiência das direcções que têm passado pelo Sporting, nem aos treinadores, porque mesmo que o Sporting tivesse vendido cada um destes jogadores por 100 milhões de euros isso não significaria necessariamente que o clube teria, hoje, uma dimensão nacional e internacional muito maior.
O caminho para a glória não é de uma estrada só, não tem um segredo, uma fórmula, é uma revolução global, transversal a muitas áreas, que terá sempre de passar por uma formação forte, mas precisa de muito, muito mais do que isso.
É essa rede de estradas que o Benfica tem de criar (algumas) e consolidar (outras) para ser Glorioso. A primeira de todas tem a ver com a percepção, actual, e transversal à nossa sociedade, de que o Benfica não é um clube sério. Como benfiquista, nada me dói mais do que isso. Ver, semana após semana, o nome do Benfica metido em embrulhadas jurídicas, em acusações atrás de acusações, buscas judiciárias, processos nos tribunais é algo que mancha o prestígio nacional e internacional, já que estes casos têm muitas vezes repercussões no estrangeiro.
Não acredito na ideia de que só se consegue ganhar se se fizer "o que todos fazem". Temos de ser muito maiores do que isso, muito menos mesquinhos e mais honestos do que isso. O Benfica tem de marcar o passo, dar o exemplo, demonstrar sempre que é diferente e que quer liderar essa revolução pela verdade e pela justiça no desporto. A palavra ‘desportivismo’ é hoje usada em várias áreas da sociedade e no ADN de cada letra está o espírito de quem faz desporto, ser justo, ter honra e classe a ganhar e a perder. E, uma vez mais, não é porque os outros não são assim que o Benfica tem de o ser. Ser Glorioso é estar, também no aspecto moral, cívico e judicial acima de todos, acima de qualquer suspeita.
Nenhum pai gosta de ver um filho metido em processos judiciais, uns atrás dos outros, mesmo que acredite que ele é inocente. Nenhum homem consegue gerar a percepção nos outros de que é honrado se recorrentemente estiver a ser acusado de ser desonesto. Nunca se atingirá um patamar de glória se, para os outros, essa glória for fajuta ou conquistada nos bastidores ou com jogo sujo. O argumento de que não interessa o que os outros dizem ou o que os outros pensam também é absurdo. Claro que interessa. Tem muito menos credibilidade aquilo que eu digo que sou do que aquilo que os outros dizem que eu sou. E essa credibilidade constrói-se, da mesma forma que se construiu um Seixal ou plantéis com Aimar, Saviola, David Luiz, Matic e Ramires.
É dessa base sólida e credível que o novo Benfica precisa. É aí que mais tem de trabalhar. Se juntar a isso tudo o que de bom tem sido feito não tenho qualquer dúvida de que o clube estará muito mais perto de ser o Glorioso, de aumentar ainda mais o número de adeptos, mas também de simpatizantes, porque toda a gente gosta de quem é honesto e quase ninguém gosta de quem aparenta ser trafulha.
Como é que isso se consegue? Mantendo o foco naquilo que é importante, o desporto dentro do estádio, do pavilhão ou da pista de atletismo. Mas também investindo na contratação e na formação de atletas e não recrutando dirigentes especialistas em jogos de bastidores. Libertando-se do poder de empresários que, quais sanguessugas, usam os clubes para encher os bolsos, e que os mantêm reféns sob ameaça de mudarem o seu poder para os rivais (e que o fazem sem quaisquer pudores depois de se terem usado desses clubes). Mantendo uma comunicação positiva e não de guerrilha, que promova o desportivismo, a responsabilização interna e a exigência máxima, sem procurar bodes expiatórios nos momentos de insucesso. Abrindo o clube ao debate democrático, sem ver nos críticos moinhos de vento, porque é da discussão das ideias de todos que se conseguem encontrar os caminhos mais eficazes.
É este o caminho para a glória. Glorioso não é aquele que ganha sempre. É aquele que luta de forma honesta para ganhar sempre. Às vezes perde, e quando é de facto Glorioso sai do estádio aplaudido de pé. Por todos. Glória é isto."
Talles Magno, o diamante do Rio
"Perna comprida, coordenação motora extraordinária, a arte do engano própria dos meninos do rio. Do alto do seu quase 190, Talles Magno encanta o mundo do futebol, que o imagina cumprir o seu potencial.
Tecnicamente, nas capacidades condicionais e até na própria morfologia, Talles apresenta traços únicos para marcar uma era no futebol, assim combine com perseverança e vontade de chegar mais além.
Destro, tem jogador maioritariamente como extremo esquerdo, mas treinado e trabalhado para melhorar a eficiência do seu gesto – Recepção, sobretudo, mas também capacidade finalizadora, tem um potencial incrível para também jogar por dentro em zonas de criação aparecendo para finalizar.
Já hoje é um jogador capaz de trazer impacto ao jogo nos momentos de Transição, quando o espaço abre, pela forma elegante e veloz com que progride com bola no pé.
Um pouco de Talles Magno, o menino de 17 anos que… tem lá tudo!"
Criatividade e Intuição, Música Pablito
"«Embora o atleta possa planear antecipadamente, a resolução das situações competitivas é sempre única, significa então que os desportistas previsíveis não são os que constituem mais perigo, sendo os desportistas mais criativos aqueles que mais problemas causam aos adversários» – Araújo (2005).
Muitas pessoas se movem pela intuição ao desenvolverem boas ideias. A intuição corresponde ao pressentimento, palpite e impressões. Alguns estudiosos também a chamam de feeling (sensação, em inglês) ou sexto sentido.
A intuição assim como o processo criativo exigem das pessoas uma flexibilidade cognitiva. Todos têm condições para de tal tirar proveito, mas é necessário deixar cair a decisão estritamente racional. É possível permitir que o cérebro faça novas conexões, conhecendo novas possibilidades e experimentações.
Dentro de campo é fundamental que o jogador sinta a liberdade para seguir a intuição e promover sua criatividade, e que naturalmente sinta as necessidades de cada jogada e tome a sua melhor decisão.
Durante a partida não há tempo para pensar em cada consequência que cada movimento ou decisão pode trazer. E então o instinto faz com que sua mente seja mais rápida que o pensamento e faz com que o corpo efectue movimentos para aquele lance específico."
O Mundial de 90 foi outra coisa - e provavelmente foi a melhor coisa de sempre
"Até agora, que eu tenha dado conta, nenhum canal desportivo aproveitou a pandemia para transmitir os jogos do Mundial de Itália de 1990. Quero, por isso, agradecer-lhes. Já li comentários, já vi documentários, de vez em quando cedo à nostalgia e revejo no Youtube certos momentos desse Mundial que foi o meu Mundial
Até agora, que eu tenha dado conta, nenhum canal desportivo aproveitou a pandemia para transmitir os jogos do Mundial de Itália de 1990. Quero, por isso, agradecer-lhes. Já li comentários, já vi documentários, de vez em quando cedo à nostalgia e revejo no Youtube certos momentos desse Mundial que foi o meu Mundial.
O primeiro Mundial de que tenho sólidas recordações é o de 86. Aos oito anos o futebol é coisa séria e um Alemanha-México, um Espanha-Argélia, um França-Canadá são experiências futebolísticas e geográficas inesquecíveis. Além disso, estavam lá os nossos, os patrícios ou lá como é que lhes chamavam, e cada jogo da selecção era um acontecimento tremendo. A derrota com Marrocos, a primeira vez que uma selecção africana derrotou uma selecção europeia num Mundial, doeu, mas foi grandiosa. Tudo foi grandioso. Com oito anos somos vítimas do gigantismo das nossas emoções. O mundo é grande e nós somos pequenos.
O Mundial de 90 foi outra coisa. Eu tinha crescido, já sabia mais sobre futebol – é aos doze anos que se sabe tudo sobre futebol, a partir daí só conta o que não se esquece – e a névoa mitológica da aventura mexicana de quatro anos antes desaparecera e com ela a selecção portuguesa. A partir daí, o habitual era não termos lá magriços, infantes ou patrícios a atrapalhar a nossa concentração absoluta ao sagrado do futebol. Era como se a ausência de Portugal, limpando do nosso espírito os desvios patrióticos, tornasse mais pura a competição e mais familiares os nomes estranhos que a preenchiam: Caniggia, Goycochea, Kana-Byik, Makanaky, René Higuita, Salvatore Schillaci, Conejo, Meola, Ramos e Balboa.
O vírus do patriotismo sobrevivia: lembro-me de torcer pela vitória de Carlos Valente num Itália-Irlanda. Não me interessava que fosse o árbitro. Era português e isso bastava. Nos outros jogos, a minha lealdade evoluía ao sabor do resultado. Começava o jogo a puxar pela Inglaterra, depois já estava do lado dos Camarões, depois por Inglaterra outra vez e novamente pelos Camarões até ao apito final que encerrava o jogo, mas não a minha vontade de que o jogo prosseguisse, se prolongasse pela noite fora, que Roger Milla, o Matusalém dos relvados, continuasse a correr e a marcar golos até ao fim da vida. Aos doze anos, entre o fim das aulas e as férias grandes, tempo era coisa que não nos faltava.
E se hoje não quero rever os jogos desse interminável verão italiano é porque as memórias que guardo dizem-me que foi o melhor Mundial de sempre e a opinião dos especialistas é a de que foi um dos mais chatos de sempre. Mas o que é que sabem os especialistas? Como dizia Millôr Fernandes, um especialista é alguém que só não desconhece uma coisa. Do Itália 90 podem saber muito, mas não sabem o essencial e o essencial é ter doze anos.
Uma dúzia de anos e a voz de Gianna Nannini a cantar Un’Estate Italiana (canção da autoria do mítico Giorgio Moroder, que também havia composto o hino dos Jogos Olímpicos de Seul), Pavarotti a arrepiar-nos com o Nessun Dorma, os Camarões a chocarem o mundo no primeiro dia, Higuita em modo Beckenbauer a sair da área, a perder a bola e a enterrar a sua equipa, os exóticos norte-americanos com os seus nomes de imigrantes latinos; os falhanços de Müller – que de alemão só tinha o nome e nenhuma da eficácia germânica –, Maradona a abrir uma avenida para a corrida de galgo de Caniggia na direcção da baliza de Taffarel, um hat-trick de Skuhravy aos amados costa-riquenhos, o grupo dos empates e um golo impossível de David Platt, a guerra entre holandeses e alemães, uma bomba de Matthäus contra a Jugoslávia enquanto eu reproduzia o confronto com caricas cuidadosamente pintadas com as cores daquelas selecções, caixas de sapatos cortadas ao meio a fazer de baliza e latas de atum vazias como guarda-redes, um Brasil-Suécia cheio de nomes aprendidos nos jogos do Benfica disputado num domingo à noite enquanto a minha mãe engomava a roupa; a meia-final da tristeza italiana em Nápoles na mesma tarde em que eu regressava de uma consulta num dentista que tinha mais de carniceiro do que de médico, um livre de Stojkovic contra a Espanha numa terça feira à tarde, Goycochea com o destino da Argentina nas mãos num sábado florentino e a final das lágrimas de Maradona e das minhas lágrimas, eu a chorar por ti, Argentina, por nós, como se os alemães – isto agora vai de cabeça, Illgner, Berthold, Augenthaler, Buchwald, Brehme, Matthäus, Littbarski, Völler, Klinsmann (fui confirmar, só faltavam Jürgen Kohler, que eu odiava, e Thomas Hässler, o mais amado e amável dos alemães) – nos tivessem roubado o que era nosso por direito.
Tudo isto eu revivo na memória. Dispenso os auxiliares e a boa vontade dos canais desportivos sem jogos fresquinhos para transmitir. Agradeço que recuperem a caminhada triunfal da selecção no Euro 2016, a magia do Euro 2000 ou que ofereçam às novas gerações o conhecimento de Chalana, mas peço que deixem intactas as minhas recordações de um Mundial em que, sem Portugal, era só eu, os meus doze anos, uma caderneta de cromos e futebol em estado puro."
O outro vírus
"'Mais do que união, sobrevivência'. Na entrevista dada à SIC esta semana, Frederico Varandas resumiu na perfeição a presença dos presidentes dos três grandes com o Governo. Para o futebol português aquele que era o momento do agora ou nunca. Do tudo ou nada. Era 'só' isso. Alguns, talvez por ingenuidade, quiseram ver naquela imagem um sinal de um novo tempo onde irá reinar uma rivalidade saudável entre águias, dragões e leões. Desenganem-se.
Os machados de guerra não foram enterrados. Ficaram apenas à porta de São Bento durante o decisivo encontro. Mas com a tão desejada normalização, também virá o mau ambiente normal. Tudo o que esteja abaixo da pandemia, e do perigo de pôr fim ao negócio, dificilmente merecerá nova postura alinhada dos três maiores clubes do País. E é aí que está a pior doença.
Esperar-se que a bola possa começar a rolar em breve. Mas com ela também virá toda a incontinência verbal que caracteriza muitas das trocas de galhardetes entre pessoas directa ou indirectamente ligadas a estes três clubes. Com as insinuações do costume. Com o tal espírito incendiário que se tornou banal. E isso pode não falir o futebol português tão rápido como uma pandemia, mas é um vírus que lhe tem provocado uma morte lenta e que faz com que este produto, apesar de apaixonar tanta gente, valha cada vez menos.
Pode ser que o milagreiro Fernando Gomes consiga aproveitar o momento para apaziguar os ânimos e 'educar' os exércitos daqui para a frente. Pode ser, sim. E difícil de acreditar, mas era bom que assim fosse."
Oportunidade de inovar
"Nunca os Jogos Paralímpicos tinham sido adiados. Vivemos um momento que marcará a história do movimento paralímpico.
A decisão deve ser elogiada, por reconhecer a necessidade de priorizar a saúde. É sinónimo de tremenda liderança. Pode ter causado reacções diversas, mas permitiu conferir clareza e tranquilidade.
Ambicionávamos alcançar já este ano resultados desportivos que emocionassem a nossa nação. Embora o adiamento cause preocupações sérias do ponto de vista financeiro e uma gama diversificada de desafios, enquanto Chefe de Missão asseguro que o nosso esforço será depositado em criar as condições para que os atletas encontrem o ambiente ideal em Tóquio. Vejo uma oportunidade de sermos inovadores.
A revisão dos critérios de qualificação nas diversas modalidades, bem como o anúncio do novo calendário, são fundamentais para se aprimorar o plano estratégico de actuação. Trabalharemos com todos os nossos parceiros, visando uma comunicação aberta e de apoio mútuo.
É um momento de transição, onde de forma faseada é possível aos nossos atletas retomarem os treinos, adoptando para isso as medidas necessárias de protecção.
A morte recente de Nuno Alpiarça relembrou-nos o quão frágil é a vida humana. A resiliência e capacidade de adaptação está no ADN dos nossos atletas. Os Jogos Paralímpicos foram adiados, mas o objectivo não mudou. Alterou-se apenas o momento em o que o atingiremos."
Comunicado
"O Sport Lisboa e Benfica informa que foi detectado um caso positivo nos testes de diagnóstico Covid-19 realizados no Benfica Campus na passada sexta-feira, dia 8 de maio, a todo o Plantel, Equipa Técnica e Staff do Futebol Profissional, bem como a prestadores de serviço que têm contacto directo com os mesmos.
Trata-se do jogador David Tavares, que foi de imediato sujeito a uma contra-análise, efectuada na manhã de hoje, domingo, que confirmou o resultado inicial. O atleta encontra-se bem, assintomático, e a cumprir isolamento nas condições contempladas no plano de contingência predefinido, seguindo as normas da DGS e contando com o total apoio do Clube.
O Departamento Médico do Sport Lisboa e Benfica vai manter o rigoroso plano de contingência que está a ser seguido desde o dia em que os seus profissionais voltaram à actividade no Benfica Campus.
A equipa de Futebol irá igualmente manter o plano de retoma que estava desenhado, com sessões de treino realizadas por grupos reduzidos e com trabalho individualizado.
Informa-se ainda que, de acordo com indicações do Departamento Médico, em estreita colaboração com a Direcção Médica da Unilabs Portugal, todos os Jogadores, Equipa Técnica, Staff e prestadores de serviços que tenham contacto directo com o Futebol Profissional serão sujeitos a novos testes já nos próximos dias."