sábado, 9 de maio de 2020
O novo normal é igualzinho ao antigo
"O distanciamento social de antigamente era aquele espaço profilático de metro e meio, quando muito de dois metros, deixado criteriosamente vago entre José Pratas e a comandita de jogadores do FC Porto que o perseguiu no relvado em mais uma noite de glória
No futebol português o distanciamento social de antigamente era aquele espaço profilático de metro e meio, quando muito de dois metros, deixado criteriosamente vago José Pratas e a comandita de jogadores do FC Porto que o perseguiu no relvado em mais uma noite de glória depois de o árbitro ter tomado uma decisão de que, na verdade, já ninguém se lembra mas que terá desagradado aos profetas da causa em tempos conhecida como 'a saga contra o marcrocefalismo da Capital'. Se o 'macrocefalismo' não era da Capital mas do país para o caso, hoje, tanto faz. O distanciamento social dos dias correntes, e sempre no que toca ao nosso futebol, não encontrará melhor exemplo do que o da visita da claque dos Super Dragões ao treino que marcou o regresso da equipa do FC porto ao trabalho no pós-confinamento. E lá pintaram numa parede 'agora o vírus é outro'. Não é nada outro, é sempre o mesmo.
Numa rotunda, precisamente na Capital, também uma outra comandita celebrou o fim do confinamento pintando a verde sobre uma série de imagens de glórias do rival. Como se depreende, o novo normal é igualzinho ao antigo normal. A única verdadeira anormalidade destes dias chegou pela voz de uma antigo dirigentes do Sporting que reclamou a urgência de inserir a figura de Eusébio da Silva Ferreira no Museu do clube tendo em conta que a mítica figura jogou no Sporting de Lourenço Marques antes de se meter num avião e aterrar no Estádio da Luz no início da década de 60 do século passado. A ideia de Carlos Vieira é original, muito boa e contagiosa. Houve logo quem se lembrasse de inserir a figura mítica da mãe de Cristiano Ronaldo no Museu do Benfica porque há provas de que a Dona Dolores foi um dia à Cova da Piedade ver o Glorioso jogar para a Taça de Portugal.
O actual presidente do Sporting regressou da vida militar à nova normalidade do seu mandato civil em Alvalade depois de prestar os serviços clínicos para os quais está licenciado no aquartelamento de um hospital. Como bom militar não desdenhou a importância do seu contributo na actual guerra e só lamentou, no fim da campanha, ter-se deparado com 'um quadro com o emblema do Benfica na sala dos médicos' o que, francamente, é inqualificável. A boa notícia é que, entretanto, o quadro com o emblema do Benfica desapareceu da sala dos médicos, a esta hora, já estará pendurado num cantinho do Museu do Sporting à espera da chegada do acervo Eusebiano que irá ilustrar aquela faceta perdida da Historia no dito recinto museológico.
O Benfica não se demarcou pela via oficial das declarações do deputado Ventura sobre a necessidade de concentrar os ciganos portugueses num campo vedado. Já o primeiro-ministro demarcou-se num estantinho prestando esse favor oratório ao maior clubes português. Não foi pela via oficial, paciência, foi pela via oficiosa."
Cadomblé do Vata (São Luís...)
"Com grande tristeza minha, estou longe de ser o protótipo de adepto assíduo na bancada. Neste parâmetro sou até o resultado do acasalamento entre o Hany Muhktar e um General soviético: o reflexo do sol nas medalhas que trago ao peito cega com estrilho quem me olha de frente, mas pouco ou nada fiz para ter direito às condecorações.
Não sendo totalmente desprovido de sentimentos, é óbvio que a culpa me atravessa a garganta muitas vezes, mas a cada achaque respondo que a minha ausência dos estádios se deve a trauma de infância, derivado das minhas duas primeiras experiências de "Glorioso ao Vivo e a Cores". Por mero acaso de residência, ambas tiveram lugar no Reino dos Algarves.
A estreia em estádios com Glorioso Dentro foi em Setembro de 1988, quando um tio albicastrense de férias cá em casa, pegou em mim e no filho e nos levou a um Municipal de Portimão cheio que nem um ovo com gema encarnada, para observarmos de perto a estreia de Vítor Paneira a titular. Vencemos por 1-0, mas não vi o golo decisivo de D. Vata I. De nariz esmagado contra a rede por trás da baliza de Silvino, fiquei sem "sinal" quando um GNR parou na minha frente para ver o remate fatal. Já tentei ver no Youtube, mas no resumo da RTP o tento é relatado com as palavras "do golo de Vata não há imagens", sendo no entanto possível vislumbrar momentos antes, o criminoso guarda ao lado dos postes de Silvino. Atrás estou eu.
Por muito traumático que este jogo possa parecer, nada contudo me preparou para a segunda experiência: Abril de 1995, culminar da primeira temporada do nosso Vietname. A convite do Cravo, acabado de retornar da África do Sul com material escolar forrado a craques do Benfica, Ronny Rozenthal e Doctor Khumalo, fui ao São Luis farense ver o antepenúltimo jogo de Vítor Paneira de águia ao peito.
Na altura não o sabia, mas a forma como Artur Jorge mandou o SLB defrontar os comandados de Paco Fortes, já indiciava que o Benfiquinha tinha nascido: 1 guarda redes (Preud'homme); 2 defesas direitos (Xavier e Veloso); 2 defesas esquerdos (Dimas e Nelo); 3 centrais (William, Mozer e Paulo Pereira); 1 trinco (Paulo Bento); e vá, 2 avançados (Edilson e Caniggia). Após 90 minutos agarrado à rede que dividia a todo o comprimento a central oposta à tribuna, para poder colocar os olhos sobre a tarja dos NN, a desilusão foi arrebatadora... 4-1 para o único Farense europeu da história.
Esta foi a ultima vez que entrei na caixa de fósforos da rua de São Luís para ver o Benfica. Entretanto só voltei a sentir o cheiro daquela relva, para ver a primeira subida dos da casa à II Liga do pós renascimento. Devido a Covid-19, no final da próxima temporada, talvez ainda não tenha lá regressado. Mas havendo contas minhas a ajustar em jogos SC Farense - SL Benfica, resta-me ser mais um a torcer pela manutenção dos Leões de Faro, para nos encontramos novamente no coçado betão do mais mítico recinto desportivo do sul... isto claro, partindo do princípio que não fazem como os vizinhos de Portimão e Olhão, que logo que metem os pés em campeonato cimeiro, vendem a alma ao diabo azul e branco que trata por mouros todos os que habitam abaixo da Serra do Caldeirão. Se for o caso, sinceros desejos rápido regresso à II Distrital."
Um clube "encostado à parede": franceses analisam impacto da Covid-19 nas contas do FC Porto
"«Eurosport faz retrospectiva financeira do clube que, escrevem, tem entrado num "ciclo vicioso" negativo
O impacto financeiro que o novo surto de coronavírus fez chegar aos clubes europeus de futebol é preocupante e os principais emblemas portugueses não escapam à problemática. A imprensa francesa deu, esta quinta-feira, conta do caso do FC Porto, um clube que, de acordo com a Eurosport, tem sido "um dos mais economicamente frágeis da Europa".
"Durante décadas, ainda para mais além da crise financeira de 2008, o FC Porto tem sido um dos clubes mais economicamente frágeis da Europa. Antes da pandemia de Covid-19 colocar um fim a grande parte dos campeonatos do Velho Continente, a dívida do FC Porto chegava aos 250 milhões de euros. Isto porque os dragões vivem muito graças a fundos, empréstimos bancários enormes e outras receitas sobre as quais não têm qualquer controlo, como os direitos televisivos", avança o artigo da Eurosport.
O "domínio perdido para o Benfica no campeonato português" terá sido um dos motivos que levou o FC Porto a entrar num "ciclo vicioso" financeiro negativo, colocando uma pressão acrescida no que toca à participação do clube nas competições europeias.
"A queda de Portugal no ranking da UEFA complicou o percurso que leva as equipas portuguesas à Liga dos Campeões e, consequentemente, o acesso ao bónus de qualificação para os oitavos-de-final tem sido muito importante para as contas portistas", apontou a 'Eurosport', rematando que o facto do clube portista não ter conseguido alcançar a fase de grupos da Liga dos Campeões "afectou significativamente as contas do clube".
A mira do fair-play financeiro da UEFA no clube presidido por Jorge Nuno Pinto da Costa é um dos fatores que leva o clube a ter de encaixar "cerca de 100 milhões de euros" para encontrar "alguma serenidade" financeira, recorda o portal.
'Millennials' podem salvar o futuro do clube
Além das possíveis saídas de Diogo Leite e Alex Telles, dois dos jogadores portistas com maior mercado na equipa, surgem ainda outros nomes apontados pelo Eurosport, como Fábio Silva, Tomás Esteves, Romário Baró ou até Vítor Ferreira.
Entre estes jogadores formados no Olival, destaque para o nome de Fábio Silva, avançado prodígio português que é detentor da maior cláusula de rescisão de sempre do futebol português - 125 milhões de euros.»
Link Original: https://www.eurosport.fr/football/liga-portugaise/2019-2020/le-fc-porto-monument-en-peril_sto7743685/story.shtml
«Porto, monumento em perigo
Portugal - Juggernaut português, gigante do futebol europeu, o FC Porto é duramente atingido pela crise ligada à pandemia de Covid-19. Enquanto seu modelo já mantinha uma saúde económica frágil, o clube agora é encontrado aos pés do muro. E condenado a escurecer seu futuro esportivo.
Você sem dúvida sabe disso, e os vários discursos que ouviu aqui e ali, desde o início da crise da saúde, nos lembraram de qualquer maneira: na política, cada palavra deve ser pesada, testada, reflectida. José Fernando Rio conhece essa regra perfeitamente. Portanto, antes de ser contratado por O Jogo , um diário de reputação próxima ao FC Porto, o candidato à presidência dos Dragões escolheu bem sua fórmula: " Se não houver mudança, o clube pode não ter do futuro ".
Assim, o advogado não precisou nomear Pinto Da Costa, favorito por sua própria sucessão, mesmo que sua imunidade adquirida com títulos nacionais e continentais - ele é o homem das 4 Copas da Europa - tenha desmoronado . Acima de tudo, o Rio deu a entender que a situação do clube portista não era totalmente desesperadora. É mais conveniente ser eleito.
Mas, se a afirmação não é enganosa, não reflecte suficientemente a urgência em que a crise da saúde e suas consequências económicas mergulharam o juggernaut português. Nas margens do Douro, a preocupação não afecta mais apenas as perspectivas. Ela ataca o presente.
Durante décadas, e mais ainda desde a crise financeira de 2008, o FC Porto tem sido um dos clubes mais insalubres da Europa, economicamente falando. Antes da pandemia de Covid-19 pôr fim a todos os campeonatos do Velho Continente, a dívida do FCP chegava a 250 milhões de euros. Porque Porque os dragões vivem muito além de seus meios, graças a fundos de hedge, empréstimos bancários enormes e outras receitas sobre as quais eles não têm controle, como direitos de televisão.
Círculo vicioso
Por muito tempo, o Porto aproveitou sua superioridade nacional, sua regularidade europeia e seus gigantescos ganhos de capital no mercado de transferências para concluir cada um de seus exercícios em um equilíbrio frágil. Aqui está ele, agora, enredado em um círculo vicioso.
Na Liga, os ciclos mudaram e o Benfica assumiu. A queda de Portugal no índice da UEFA complicou o percurso que levou à Liga dos Campeões e, consequentemente, o acesso ao suculento bônus de qualificação para a rodada dos 16, tão importante para as contas da portista. Desde o título adquirido pela equipe Villas-Boas na Liga Europa em 2011, o Porto sempre se classificou para a fase de grupos do C1, alcançando oitavos cinco vezes e zagueiros duas vezes. Nesta temporada, os Dragões não provaram a mais prestigiada das competições europeias.
Essa falha afectou significativamente as contas. Listado na bolsa de valores, o clube "azul e branco" completou o primeiro semestre de 2019/2020 com uma perda estimada em quase 52 milhões de euros. Um ano antes, ele obteve um lucro um pouco acima de 7 milhões de euros. Esse buraco no corpo já representava um perigo para o futuro económico e esportivo do FCP. Mas a pandemia levou a liderança dos Dragões a encarar uma realidade que sempre tentou esconder: o modelo não é viável. Pelo contrário.
Para o Porto, a retomada do campeonato é uma necessidade absoluta
Apressadamente, ela teve que negociar uma queda temporária no salário dos jogadores, estimada em 40% pela imprensa portuguesa. Mas comprometeu-se a compensá-lo em até 20% após o reinício das competições, enquanto os 20% restantes serão pagos quando a câmara puder ser fechada. A empresa também está tentando adiar por um ano um empréstimo de 35 milhões de euros contratados em 2017, que deve ser pago em Junho próximo. Problema, o Porto terá que liquidar outro empréstimo da mesma quantia em ... 2021.
Em uma tentativa de afrouxar o abraço, o clube tentou pressionar para obter o pagamento inicial dos direitos de televisão no final da temporada, quando as emissoras já haviam pago todos os valores devidos para o mês de Março , mesmo para reuniões que não puderam ser contestadas. Ainda mais louco, os Dragões incentivaram amplamente a retomada do campeonato, preocupando-se muito mais com questões económicas do que com a saúde.
Depois de Alex Telles, a geração jovem se sacrificou?
Para encontrar um pingo de serenidade, o FCP deve milagrosamente encontrar cem milhões de euros antes de 31 de Junho. O clube já está na mira do UEFA Financial Fair Play e, para ele, uma exclusão das competições europeias pode ser insuperável. Como todos os anos, ele é condenado a se separar do seu melhor pessoal, mesmo que as negociações pareçam muito mais delicadas, dado o estado do mercado.
Nesse contexto, a directoria convocou Jorge Mendes, superagente do futebol mundial, com o qual nem sempre manteve excelentes relações. O representante de Cristiano Ronaldo tenta, assim, concluir a transferência de Diogo Leite. Nas últimas semanas, o promissor zagueiro, que nem sequer jogou quinze jogos nesta temporada, foi mencionado em ... Valencia, um dos clientes favoritos de Mendes. Estimado em menos de 6 milhões de euros por sites especializados, o jogador de 21 anos pode ser alvo de uma transferência estimada em cerca de quinze milhões de euros.
Além de Alex Telles, um elemento de alto valor de mercado, o Porto poderia colocar no mercado grande parte de sua talentosa geração resultante de seus treinamentos: Fábio Silva, Tomas Esteves, Romario Baro ou Vitor Ferreira, todos os "millennials" não serão retidos. caso de oferta adequada. Prova de que nada prevalece sobre a emergência económica. Certamente não questões esportivas. Isso deve afectar a atractividade do clube aos olhos de um homem cujo retorno é fortemente desejado por muitas figuras influentes no Porto, especialmente em vista da próxima eleição presidencial, em 2024: André Villas-Boas.»
Nota: Tradução automática do Google.
É por causa disto que eles estão agarrados aos hackers, aos "jornalistas", à "Aliança do Altis", às Young Networks e Tariqs dos NYT, aos Mario Figueiredos desta vida, aos José Leirós... é por tudo isto! Nem a simples tradução o Record teve a honestidade de fazer e por isso decidimos colocar a versão original.
A tentativa desesperada de esconder as dificuldades financeiras e desvalorizar a "marca" Benfica, é este o único objectivo político daquela canalha toda.
Um Nojo Sem Fim!"
Época do Andebol 2019/20
"A época de Andebol terminou e é altura de fazer uma introspecção à temporada que passou.
Esta era a temporada do tudo ou nada para Carlos Resende, que entrou no último ano de contrato e que ainda só tinha conquistado uma Supertaça e uma Taça de Portugal. Houve várias mudanças no plantel com as saídas de Hugo Figueira (GR), João da Silva (Ce), Ales Silva (P), Stefan Terzic (LE), Arthur Patrianova (LE) e Alexandre Cavalcanti (LE). E as entradas de Gustavo Capdeville (GR), Romé Hebo (Ce), René Toft Hansen (P), Carlos Molina (LE/Defesa) e Petar Djordjic (LE).
A época internamente foi uma desilusão. Para o Campeonato, em 26 jornadas o Benfica acumulou 20 vitórias, 1 empate e 5 derrotas. Vencemos o Sporting apenas uma vez na pré-época e perdemos duas vezes para o Campeonato. Perdemos também duas vezes contra o Porto. Perdemos uma vez contra o ABC (6º) em Braga e ainda empatámos contra o FC Gaia (7º) uma vez na Luz. Ou seja, nunca ganhámos aos nossos adversários e ainda perdemos três pontos contra equipas mais pequenas - a derrota no Andebol vale um ponto e o empate dois. Na Taça de Portugal só jogámos contra o ABC nos 16-avos de final e vencemos. Quando a Federação terminou a temporada estávamos a entrar para a Fase Final com 5 pontos de atraso (eram 10 na Fase Regular) em relação ao primeiro, o FC Porto, e estávamos nos Oitavos-de-final da Taça.
Mas na Europa, foi das nossas melhores temporadas. Passámos as fases de qualificação da EHF Cup com boas vitórias sobre duas equipas croatas. Primeiro o RK Dubrava (63-44, a diferença pontual veio sobretudo da 2º mão) e depois o RK Nexe (54-54, valeram-nos os golos fora). Na Fase de Grupos em quatro jogos tínhamos quatro vitórias. Duas contra o 5º classificado da Liga Polaca, uma contra o 4º classificado da Liga Dinamarquesa na Dinamarca e outra contra o 7º classificado da Liga Alemã na Luz. E nem sequer se pode dizer que tivemos um sorteio favorável, visto que havia equipas mais fáceis noutros grupos. Estávamos a um jogo de um apuramento histórico (para o Benfica) para os quartos-de-final da EHF Cup.
A saída do Alexandre Cavalcanti, o nosso melhor jogador em 2018-19, foi bem tapada pelo Peter Djodjic que foi o nosso melhor marcador na EHF Cup (44 golos, 2º melhor da prova) e no Campeonato (174 golos, 3º melhor do Campeonato). Pedro Seabra e Belone Moreira voltaram a ter boas épocas. Paulo Moreno evoluiu bastante e tornou-se num pivot sólido. René Toft Hansen ajudou mais na defesa do que no ataque (o que é bastante importante também) e se não fossem as lesões teria sido um grande reforço. Gustavo Capdeville evoluiu bastante também.
Um dos problemas do Benfica voltou a ser o jogo pelos pontas. Nenhum ponta conseguiu distinguir-se e tornou o jogo do Benfica limitado e previsível. Borko Ristovski desmotivou-se a meio e acabou por sair do clube. Kevynn Nyokas teve uma época apagada e muito inconsistente. Carlos Molina teve pouco impacto..
O Benfica voltou a ser uma equipa muito dependente da primeira linha e com um plantel com pouca profundidade. Bastava entrar a rotação para descansar os titulares e a equipa ressentia-se imediatamente.
Ao final de três épocas onde apenas podemos contar uma Supertaça e uma Taça de Portugal podemos dizer que o projecto de Carlos Resende falhou redondamente. O projecto acabou por não ser mais do que uma importação do ABC para os Pavilhões da Luz. Só que quando o ABC, com Carlos Resende, foi Campeão em 2015-16, o Campeonato teminava em Playoff. Nessa Fase Regular, o ABC terminou a 12 pontos do FC Porto. Desde então, não há Playoff. Dificilmente o ABC teria sido Campeão em 2015-16 sem o Playoff. Nós na altura eliminámos o Porto porque o Alfredo Quintava estava com problema físicos. Sem o Playoff, as lesões do Porto teriam tido pouco impacto. Logo, uma mera importação do ABC dificilmente teria resultado anos e muito menos agora. Desde desse ano, o Sporting melhorou muito com contratações como o Carlos Ruesga, Matevz Skok, Valentin Ghionea, Luís Frade ou Tiago Rocha. Enquanto o Porto manteve a mesma base, ainda acrescentou outros atletas muito fortes como o André Gomes ou o Diogo Branquinho e a estocada final foi o novo treinador Magnus Andersson.
O grande erro para mim de Carlos Resende foi limitar-se a importar o ABC para o Benfica. Se o objectivo era apostar em atletas portugueses, é inaceitável que o Benfica em três anos de Carlos Resende não tenha conseguido atrair um dos jovens com tremendo potencial de Portugal. André Gomes e Diogo Branquinho foram para o FC Porto. O Sporting ficou com o Luís Frade e com Gonçalo Vieira. Enquanto o Benfica é verdade que lançou o Francisco Pereira e o Alexandre Cavalcanti mas ambos já estavam no clube.
Para o ano, muita coisa vai mudar na equipa. Carlos Resende está de saída. Borko Ristovski já saiu. Do plantel deverá sair também o Carlos Molina, Davide Carvalho, Fábio Vidrago, Nuno Grilo, Romé Hebo e Ricardo Pesqueira. Sendo que podem (e quase de certeza que vão) haver mais saídas. Há rumores de jogadores como Miguel Espinha, Pedro Seabra (com grande pena minha) e Kevynn Nyokas também puderem sair. Os únicos que para já parecem ter um lugar garantido são Gustavo Capdeville, Carlos Martins, João Pais, Francisco Pereira, René Toft Hansen, Belone Moreira e Petar Djordjic. A nível de entradas: (1) Chema Rodriguez, Campeão do Mundo 2005 com Espanha (como jogador) e treinador adjunto da Hungria, deverá ser o próximo treinador; (2) o ponta esquerda francês de 24 anos Mahamadou Keita, o central sérvio de 24 anos Lazar Kukic e o pivot esloveno de 25 anos Matic Suholeznik deverão ser reforços do Benfica. Keita inclusive já confirmou nas redes sociais e o antigo clube de Matic anunciou a saída dele para o Benfica; (3) fala-se ainda da contratação do ponta direito alemão de 30 anos Ole Rahmel e do central/lateral esquerdo croata de 25 anos Lovro Jotic. Se estes cinco nomes se confirmarem ficamos com um plantel muito próximo de estar fechado.
As dúvidas no plantel da próxima época, assumindo que estes cinco nomes se confirmam, são:
1. Guarda-redes. Além de Gustavo Capdeville quem será o outro ou os outros? Há a hipótese de chamar Diogo Valério que esteve esta época emprestado ao Belenenses, manter o Miguel Espinha ou contratar um estrangeiro.
2. Lateral Direito. Quem vai competir com Belone Moreira nesta posição? Será que Kevynn Nyokas continua ou estará de saída? Se Nyokas sair, é certo que teremos que ir buscar alguém.
3. Central. Lazar Kukic é central de raíz. Francisco Pereira também é central, apesar de poder jogar a lateral esquerdo. Bem como o Lovro Jotic, que também é central e pode jogar a lateral esquerdo. Havendo ainda Pedro Seabra, esta posição parece sobrelotada. Ou alguém não vem, ou alguém vai estar a jogar noutra posição ou o Pedro Seabra parece-me de saída.
A estratégia do Benfica parece-me ser a de quem quer ganhar já. Não há nada de errado com isso. Já são 10 anos sem ser Campeão no Andebol. Vamos ter mais estrangeiros do que portugueses, o que vem na sequência de termos estado muitos anos sem uma prospeção no Andebol Nacional. Creio que com todos estes estrangeiros vamos deixar escapar mais um jovem português de grande potencial para um clube rival, o André José do ABC. Esta estratégia de ganhar já só faz sentido se a médio/longo prazo conseguirmos quebrar este problema da contratação de jovens portugueses. Outro caminho que eu gostava de ver o Benfica a seguir era o de ser a porta de entrada na Europa de jovens do Egipto, Irão, Tunísia, Argentina ou Chile, que têm tido grandes performances nos Mundiais de Formação. Particularmente o Egipto."
As 5 melhores contratações do SL Benfica que nunca calçaram
"A pré-época é um período especial. Espaço temporal de esperanças múltiplas e viveiro de sonhos de criança (todos se lembram de onde estavam quando Pablo Aimar aterrou em Tires para assinar pelo SL Benfica), as contratações de cada Verão dão azo ao esmiuçar obsessivo das bancadas: desenham-se onzes inovadores, pergunta-se como irá a nova peça encaixar no sistema e espera-se ansiosamente pelo rendimento merecedor de Bola de Ouro.
Algumas chegadas confirmam-se como reforços de peso, enquanto outras, pouco expectáveis ou não, ficam-se pela mediania. Outras existem que, de tão grande o engano na avaliação das suas qualidades ou tão más são as circunstâncias à chegada, não chegam sequer a envergar camisola em jogos oficiais – estes são os fantasmas dos corredores, os quais toda a gente sabe o nome, mas nunca os viu sem ser em amigáveis jogados num estádio periférico no meio dos Alpes. Cinco desses casos no Benfica vêm adiante, com o contexto mediático de cada contratação explicado de forma perceptível e que nos ajude a perceber quais as razões para tanto… desperdício.
1.
Jacinto João – Uma das figuras de culto da história do Vitória setubalense (com direito a estátua à porta do Bonfim), Jota Jota foi um prodigioso tecnicista a quem Bella Gutmann fechou os olhos: o Feiticeiro não podia ser perfeito. Estávamos em 1962 e o Benfica ia a caminho da segunda final europeia consecutiva, onde iria trucidar o Real Madrid CF de Di Stéfano.
Das colónias chegavam incessantemente notícias de um talento raro a despontar, primeiro no Sport Congo e Benfica e depois no Benfica de Luanda. Mauricio Vieira de Brito, então presidente e já farto de tanto ouvir falar do craque, ordena a viagem do miúdo para a metrópole: era o concretizar de um sonho de menino. Porém, as coisas não correm bem e volta passado cinco meses, farto de actuar pelas reservas e de ver o treinador húngaro a ignorar as suas qualidades.
Aliás, a mágoa foi tanta que ingressa logo no FC Luanda, filial do rival FC Porto. O Vitória, atento desde sempre, convence-o a tentar de novo a glória europeia em 1965 e o resto é História: 14 épocas de Sado aos pés com uma Taça de Portugal, um vice-campeonato e quatro presenças nos quartos da Taça UEFA.
2.
Sigurd Rushfeldt – O senhor que Vale e Azevedo acusou de ter feito «chichi nas calças» ao deparar-se com os adeptos no campo de treino e ter «chorado que nem uma madalena» antes da conferência de imprensa de apresentação, o que levou o clube a alegar falta de condições psicológicas do jogador.
Sigurd era um prolífico avançado escandinavo, que ainda hoje é o máximo marcador da Eliteserien, figura de um Rosenborg assíduo na Liga dos Campeões. As gerações mais antigas certamente recordarão o terror que era jogar em Trondheim, onde tanques como Rushfeldt deslizavam sobre o gelo no cerco à baliza adversária e encurralavam as equipas pouco habituadas às adversas condições climatéricas.
É maioritariamente neste contexto que faz 116 golos divididos por 164 encontros, estatísticas que motivaram a aproximação do Benfica. Chega a Lisboa, embrulha-se num dos esquemas do então presidente encarnado, ainda tira fotografias de águia ao peito, mas é despachado uns dias depois para Espanha, onde o esperavam em Santander os representantes do Racing. Veio-se a descobrir, anos mais tarde, que a história rocambalesca não passava de uma… «mise-en-scène» para recuperar o dinheiro à FIFA.
3.
Zack Thornton – Fora indicado pelo luso-americano treinador de guarda-redes Daniel Gaspar, que tinha trabalhado com ele na Selecção Olímpica dos States. Ao figurão impressionante (191 centímetros e 100kg) juntava-lhe a fama acumulada na MLS, ao serviço dos Chicago Fire FC, e as oito internacionalizações pela selecção principal. Aspectos que aguçavam a curiosidade do Terceiro Anel e que o tornaram num alvo mediático pouco comum à época.
Chega, em Janeiro de 2004, e esbarra de frente com as condições de treino precárias e a concorrência de Moreira pré-lesões: certamente habituado ao glamour da MLS, os ares da Superliga Portuguesa não o permitiram evidenciar-se e, assim, fez do banco de suplentes ou da bancada o seu lar. Não registou qualquer minuto nos seis meses que cumpriu na Luz e, com a mesma facilidade com a qual foi contratado, volta aos Fire no final da época, rejuvenescido pelo clima solarengo da Costa Azul portuguesa.
4.
Diego Sousa – Desponta ao serviço do Fluminense FC no Brasileirão de 2005, mostrando qualidades invulgares no controlo da bola e dos ritmos de jogo, o que motivou previsões de uma grande carreira na Europa.
Chega definitivamente ao Benfica em 2006: faz a pré-época mas não convence Fernando Santos a dar-lhe oportunidades. Ao mesmo tempo, a sua contratação é relacionada com o inesperado afastamento de José Veiga dos cargos directivos, episódio que nada ajudou à sua adaptação.
Mas, a verdade é que Diego nunca conseguiu estabilizar o seu futebol e foi acumulando clubes no currículo, alternando épocas de sonho com fases menos positivas e casos de indisciplina. É ao serviço do Verdão Palmeiras que mais explana todo o seu talento, integrando os Onze do Ano nos Brasileirões de 2008 e 2009, ano onde foi também considerado o craque da competição.
Porém, essa fase não iria durar muito, já que não conseguiu manter o nível e a sua carreira pode ser definida como a busca por alguém que acalentasse o seu feitio especial e polémico: percorre todo o Brasil, alternando constantemente entre Recife, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro ou Porto Alegre. Pelo caminho, ainda tentou a Arábia Saudita e voltou à Europa para cumprir 23 joguitos no FC Metalist Kharkiv, continuando o périplo pela terra natal no final dessa época. Tornou-se um avançado de área com o tempo, conseguindo ser o melhor marcador do campeonato em 2016 (a par com Fred) e exibindo boas fases de jogos consecutivos a marcar, como aconteceu em 2018 no São Paulo. Contudo, a cabeça nunca chegou para tanto talento…
5.
Daniel Wass – Com um historial imenso nas camadas jovens do seu país, com internacionalizações em todos os escalões e uma afirmação consistente na equipa sénior do Brondby, divergiu do esteorótipo tradicional do defesa norueguês, tradicionalmente com maior apetência física e mais preocupado com os aspectos defensivos.
A sua versatilidade em termos técnicos permitia-lhe ter preponderância no último terço, características que motivaram desconfiança dos treinadores mais conservadores no início da carreira. Foi Henrik Jensen quem reconheceu o seu talento da melhor forma, puxando Wass para posições mais avançadas e criando o jogador polivalente que se afirmou na Ligue 1 e na La Liga: percorrendo toda a ala direita ou ditando regras no centro, a ‘8’ ou a ‘10’, o dinamarquês é um jogador de primeira linha, presença regular nas convocatórias da sua selecção. Chegou ao Benfica no Verão de 2011, mas foi prontamente emprestado ao Evian, sem nunca merecer grande atenção por parte de Jorge Jesus, treinador que preferiu iniciar a adaptação de André Almeida à lateral."
“O Rúben Amorim não tinha corpo de jogador. Era um tipo simpático, engraçado e não levava a vida demasiado a sério”
"A ideia era falar com um jogador sueco, conhecedor de Portugal, sobre o exemplo da Suécia em lidar com a covid-19, mas a conversa com Anders Andersson, que jogou no Benfica e depois no Belenenses, entre 2001 e 2005, rapidamente chegou a como o típico sueco "é o oposto do Zlatan", às aulas de português com Miguel no quarto, ao contacto que ainda mantém com Tiago e Fernando Aguiar, o "grande e bruto luso-canadiano" e ao carinho que nutre pelos portugueses: "Adoramos a mentalidade dos portugueses de não encararem tudo sempre de forma tão séria - se não podes mudar uma coisa, para quê estares a preocupar-te?"
Como estão as coisas na Suécia, em relação ao coronavírus?
Claro que é uma situação muito difícil, especialmente em Estocolmo, onde houve problemas graves. Eu estou em Malmö, no sul, onde também há cuidados, claro. Como todos sabem, a Suécia não fechou o país e muitos países criticaram a decisão. Mas é normal, porque cada um acredita que o que está certo é o que se está fazer. Acho que... ah, vou mudar para inglês!
Claro, força.
É um caso delicado, tenho de encontrar as palavras certas. A Suécia é bastante diferente de outros países, porque não fechámos as escolas, nem todas as lojas. O nosso governo clarificou, logo ao início, numa conferência de imprensa em conjunto com a Agência de Saúde Pública, que não tínhamos de fazer isto ou que estávamos proibidos de fazer aquilo. Disseram: por favor, façam isto para ajudar o país. Não nos disseram o que tínhamos que fazer, disseram o que queriam que fizéssemos. E acho que crescemos com a confiança dos nossos líderes e também acho que acreditamos neles, portanto, nesse sentido, foi bom, porque cada um assumiu a sua responsabilidade. Eu fiquei com os meus filhos em casa, mas as escolas para os miúdos mais velhos fecharam. Os meus ficaram em casa durante 10 dias.
Porquê?
O meu filho de 8 anos estava com o nariz entupido, nada de especial, normalmente iria à escola na mesma, mas ficou em casa, juntamente com a minha filha, que tinha tosse. Também acabou por não ser nada, mas disseram-nos que, ao mínimo sintoma de qualquer coisa, para ficarmos em casa. Acho que toda a gente assumiu esta responsabilidade e por isso é que as coisas estão ok. Mas claro que tivemos muito mais mortes do que os outros países do norte da Europa.
Portugal e Suécia têm uma população semelhante, à volta dos 10 milhões. Mas vocês já registaram mais do dobro das mortes (1.074 - 2.854, na quarta-feira) causadas por covid-19.
Sim, mas, como dizemos aqui, se vamos comparar, contamos as mortes agora ou daqui a dois anos, quando isto acabar? Porque fechar o país também é um risco, pois, quando se volta a abrir, o que acontece? O vírus ainda vai lá estar? Provavelmente sim, portanto é sempre uma questão de equilíbrio. Vamos ver o que acontece, mas espero que as coisas não venham a ser tão más quanto algumas pessoas pensam. O problema aqui na Suécia é que mais de metade das mortes aconteceram em lares de idosos. Em Estocolmo, acho que à volta de 30% das enfermeiras que trabalham em lares não dormem apenas num sítio, vão de um sítio para o outro, portanto isso foi um problema e contribuiu para piorar a situação. Compreendo que as pessoas digam que isto é de loucos e que a Suécia está a arriscar vidas, mas estou muito orgulhoso do nosso país. Acho que também tem a ver com o bom-senso. Temos as lojas abertas, mas está indicado em todo o lado, no chão, onde podemos ou não estar e a maioria das pessoas estão a respeitar-se. Tem de haver um equilíbrio: tens de lutar contra o vírus, mas não te podes esquecer de viver e do futuro. O que aconteceria se fechássemos tudo? O país acabaria por entrar em bancarrota e todas as empresas ficariam com graves problemas.
Também é uma questão cultural e social. Do que conheces de Portugal, achas que essa estratégia resultaria por cá?
[Ri-se] Entendo o que dizes. Primeiro que tudo, eu e a minha família adoramos Portugal, adoramos a mentalidade e tudo o que vem com o país. Mas, neste caso, talvez a nossa estratégia resulte aqui porque as pessoas confiam no governo. O primeiro-ministro sueco não disse "acho que é isto que devemos fazer". Disse: "Eu, tal como vocês, estou a ouvir os especialistas". Neste momento, a pessoa mais famosa na Suécia é um tipo de quem ninguém tinha ouvido falar há cinco meses. E as pessoas confiam nele. Em Portugal, e é por isso que gostamos tanto do país, as coisas não são tão rígidas. Os suecos também são relaxados, mas, de certa forma, são rigorosos. Adoramos a mentalidade dos portugueses de não encararem tudo sempre de forma tão séria - se não podes mudar uma coisa, para quê estares a preocupar-te? Percebo que em Portugal pudesse ser um pouco diferente, é o que dizem também os italianos e os espanhóis. Bom, mas a mentalidade deles é mais "fazemos o que nos apetece, vamos ouvi-los porquê?".
Também é habitual dizer-se por cá que somos muito mais abertos no contacto social, tocamos e abraçamos mais as pessoas e isso não ajuda no combate ao coronavírus.
Bom, somos um país que vem do inverno, mesmo que, em Malmö, que fica no sul da Suécia, não tenhamos tido neve este inverno, acredites ou não. Nos últimos cinco anos, acho que nunca tivemos dois meses de neve. Mesmo que tenhamos a mesma população, a Suécia é cinco vezes maior do que Portugal em tamanho e acho que 70% das pessoas vivem num terço do país. Como vimos de um país frio, quando o sol aparece, estamos na rua a toda a hora, o que tem sido um problema para nós. As pessoas vão aos bares e, ao fim de algumas cervejas, talvez não seja assim tão fácil manter a distância social, já não pensam tanto nisso. É por isso que têm sido um pouco mais firmes e, passadas algumas semanas, as autoridades disseram que isto não ia resultar se as pessoas não ajudassem. Eles abriram os restaurantes e, se for uma família, todos se podem sentar na mesma mesa, mas as mesas têm de estar separadas por uns dois metros.
Em Portugal, quando os dias ficarem mais quentes, há o receio de as pessoas começarem a ir para a praia em massa.
É o que acontece aqui, porque as pessoas foram para a rua, para restaurantes com esplanada. Aqui também está quente se estivermos ao sol. A minha mãe tem 71 anos, está em forma e até a vimos na semana passada no jardim, a alguns metros de distância, mas ela vai jogar golfe com amigos que estejam saudáveis, porque é permitido. E ela diz: "Se vou com a minha melhor amiga e estamos saudáveis, é como sairmos em família". Depois, quando jogas golfe, podes estar sempre a dois metros da outra pessoa e ter cautela, além de que é ao ar livre. E os nossos especialistas têm sido claros desde o início e dizem que não nos querem forçar a estar em casa, porque é muito melhor estarmos cá fora, a apanhar ar fresco, porque o vírus não é tão perigoso ao ar livre, não nos apanha com tanto facilidade como no escritório, em espaços fechados. Mesmo que estejam num grupo de risco, as pessoas estão na rua, mas, por exemplo, passam para o outro lado do passeio caso se cruzem com alguém.
No fundo, confiam que toda a gente respeite as distâncias sociais de segurança a qualquer momento?
É isso que tentamos fazer, mas claro que é difícil. Em 10 anos, o meu melhor amigo criou uma consultora, estava a correr muito bem, mas os seus dois maiores clientes, que eram a Volvo e o Ikea, não quiseram mais trabalhos de consultoria. E, de repente, ele tem 50 pessoas a quem tem de pagar salários e não há dinheiro a entrar na empresa. É terrível e se fechas um país é este o risco que estás a correr. É isso que a Suécia quer evitar, tentando chegar a um meio termo.
E tu, trabalhas em quê hoje em dia?
Agora sou comentador de futebol na televisão.
Ou seja, não tens nada para fazer.
Exactamente, estou numa paragem longa. Tento ir fazendo coisas, vou treinando e há sempre coisas para fazer em casa, agora que os miúdos já voltaram à escola. Sou uma pessoa que sempre fez parte de uma equipa, adoro ter pessoas à minha volta, por isso é bastante aborrecido não ter alguém com quem falar. Mesmo que sejamos um país que se mantém mais aberto do que a maior parte dos países na Europa, também estamos fechados - a maioria das pessoas trabalha a partir de casa e não sai para comer fora. Mesmo que não pareça, estamos a levar isto muito a sério. Não te encontras com muitas pessoas, especialmente na minha profissão.
Não é suposto que o campeonato sueco arranque a meio de Junho?
Sim, mas o problema são as viagens. É permitido que nos desloquemos, mas somos aconselhados a não o fazer. O mais longe que já fui desde Março foi, provavelmente, até casa da minha mãe, que vive a uma hora daqui. Como a Suécia é um país muito comprido, não querem que as equipas voem um dia antes para o local do jogo e durmam num hotel, porque isso seria um mau exemplo. A Alemanha vai começar agora, o que será interessante para o resto da Europa ver como corre. A primeira coisa que era suposto jogar-se é a Taça da Suécia, no início de Junho, e talvez queiram jogar os quartos-de-final, as 'meias' e a final em 10 dias. Mas isso é um problema, porque terá equipas de todo o país a defrontarem-se. Se começarem o campeonato, uma possibilidade é que clubes da mesma região se defrontem primeiro, como teres o Benfica a jogar com o Belenenses e o Sporting, e o FC Porto a defrontar o Braga e o Boavista, por exemplo, porque as viagens são um grande problema aqui, além da questão de teres muita gente junta no mesmo sítio. Na Suécia não é permitido haver mais do que 50 pessoas reunidas e se tiveres duas equipas, mais o staff, no estádio, é muita gente. Na Alemanha, acho que vão separar as pessoas por zonas e talvez aí seja possível fazê-lo. Na minha profissão, estamos quase sempre nos estádios a comentar, mas agora dizem-nos que talvez o façamos sentados numa cave em Estocolmo. As pessoas com quem falei nos últimos dias estão bastante cépticas de que poderemos começar em Junho.
Em Portugal, o plano é retomar o campeonato a 30 de Maio.
A grande, grande diferença entre a Suécia e os outros países (excepto a Noruega, acho eu) é que a nossa liga ainda não começou. Costumamos jogar da primavera até Novembro. Para vocês, o Benfica quer bater o FC Porto, não querem que o campeonato termine assim. E como foi possível terem perdido a vantagem que tinham? Incrível [ri-se]. Consigo entender que a Alemanha e Portugal queiram retomar as ligas agora, mas, para nós, é óbvio que queiramos começar também, porque quando o inverno chegar é muito difícil de jogar. Não estamos em pânico porque o nosso campeonato ainda nem começou esta época.
Agora, com tanto tempo livre, aproveitaste para ver jogos antigos?
Sim, e por acaso até vi um jogo que ficou bastante famoso aqui na Suécia, o 2-2 do Europeu de 2004, em Portugal, quando jogámos num grupo com a Itália, a Bulgária e a Dinamarca. No último encontro jogámos com a Dinamarca e a Itália ficou furiosa depois, porque empatámos 2-2 e esse resultado fez com que ambas as seleções se qualificassem. Joguei nesse jogo e os meus amigos italianos dizem que estava tudo combinado. Claro que não fizemos nada. Quando o voltei a ver, perguntei a esses amigos se já tinham voltado a ver o jogo, porque era impossível que tivesse sido combinado! Mas foi divertido, devo dizer que joguei bastante bem até [ri-se].
Ainda jogavas em Portugal nesse altura, no Belenenses.
É verdade. Não estava a jogar muito no Benfica, porque havia o Tiago e o Petit, era um bom meio-campo, com jogadores da selecção portuguesa, e queria jogar no Euro. Tinha medo de perder o meu lugar, portanto perguntei ao [José Antonio] Camacho e ao presidente se podia ser emprestado. Foi perfeito para mim, joguei todos os jogos e fui convocado. Foi um Europeu fantástico para nós e só perdemos nos penáltis com a Holanda.
Para ti foi como jogar numa segunda casa?
Yeah, lembras-te da quantidade de suecos que viajaram?
Foi uma grande festa. Anos e anos depois, alguns portugueses diziam-me: "Os suecos são tão simpáticos, vieram e festejaram sem brigar ou causar problemas". Portugal é um país tão agradável para os suecos visitarem, foi tudo bom, a não ser o facto de termos perdido nos quartos-de-final. Tínhamos uma equipa fantástica, com o Henrik Larsson, o Ljungberg, o Zlatan Ibrahimovic...
Que ainda era bem novo.
Sim, na altura acho que ainda jogava na Juventus. Também havia o Mellberg, era era um grande jogador.
Continuas a falar com alguém dos tempos de Benfica?
Encontrei-me com o Simão e o Nuno Gomes algumas vezes no ano passado. Tento manter contacto, uma vez por ano, tento escrever-lhes quando posso. Estive em Portugal em agosto, para a primeira jornada do campeonato, quando o Benfica ganhou por 5-0 [ao Paços de Ferreira]. Vi alguns dos jogadores antigos, foi bom. Tentamos ir a Portugal todos os anos. Não tenho muitas fotos do meu tempo no Benfica, adoro o clube, adoro as pessoas e adorei essa época. No outro dia, perguntei ao Tiago se conseguia arranjar algumas, mas ele já saiu do Benfica há muito tempo também. Também falei com o Fernando Aguiar, o grande bruto luso-canadiano, que tem boas fotos.
Tens casa em Lisboa?
Não, vendemos a casa há uns anos, era difícil mantê-la à distância. Temos muitos amigos em Portugal, também fora do futebol, mas há pessoas que ainda estão no clube com quem mantenho o contacto. É um clube fantástico.
Foste contratado em 2001, quando o Benfica ainda não estava no ciclo em que está hoje.
Há pouco tempo, um jornal sueco fez uma história sobre jogadores que jogaram em clubes onde, neste momento, a vida não é normal e perguntaram-me se podia contar como foi a minha ida para o Benfica. Na altura tudo era novo, era o primeiro ano do Luís Filipe Vieira e, para mim, foi uma grande transferência. O clube estava a fazer esforços para se estabilizar e, de certa forma, nós fomos o começo de uma nova era. O Benfica não era campeão há muito tempo e começaram a criar algo novo. Estive lá três anos, fiz parte de uma coisa que estava a ser construída e foi muito agradável de assistir a tudo. Na pré-época, tivemos o estádio cheio para um jogo com a Fiorentina, era de loucos.
Como foi para ti mudares de país?
Já tinha 27 anos e já tinha estado na Premier League, com o Blackburn Rovers, durante quase um ano e meio, apesar de não ter jogado muito. Depois, joguei na Dinamarca durante dois anos e estava numa boa fase da carreira. Estava mais bem preparado e, talvez, um pouco mais resistente. A nossa mentalidade, enquanto suecos, é um pouco achar que não somos nada. É o oposto ao Zlatan [ri-se]. Mas isso não é bom quando és futebolista, tens de acreditar em ti próprio e as gerações mais novas já são melhoraram muito nesse aspeto. Mas eu nasci nos anos 70, crescemos com essa influência dos nossos pais, é cultural, não penses que és melhor do que os outros só porque sabes chutar numa bola e esse tipo de coisas. Foi bom porque aprendi a ser um bocado mais duro. Quando fui pela primeira vez a Portugal, disseram-me que me ia encontrar com pessoas do Benfica para tentarmos assinar o contrato, que ninguém sabia de nada e para não contar a ninguém. Quando cheguei ao aeroporto, havia cinco microfones na minha cara e pessoas a gritarem "Andersson! Andersson!". Toda a gente sabia. Foi um pouco um choque cultural para mim. O meu agente tinha-me dito que ninguém sabia de nada, mas em Portugal as coisas são diferentes e aprendi logo isso.
Antes de ti, o Benfica teve o Magnusson, o Thern e o Schwarz, por isso talvez os adeptos estivessem ansiosos por te ver a jogar.
[Ri-se] Bom, não me podia comparar a eles, mas joguei quase 60 jogos pelo Benfica e tenho orgulho nisso. Tínhamos uma equipa boa o suficiente para ser capaz de vencer o campeonato. Estava a ser construída lentamente, mas senti que vinha aí alguma coisa. No meu último ano [2004] ganhámos a Taça de Portugal. Foi agradável ficar a conhecer a realidade de Portugal, eu e a minha mulher adoramos Portugal, até os meus filhos adoram e ainda nem tinham nascido quando vivíamos aí. Não é só uma coisa que digo da boca para fora, é a verdade. Apesar do facto de serem um país do sul da Europa, como Espanha, Itália e França, vocês têm uma mentalidade mais aberta e são mais humildes, não estão sempre a tentar gritar mais alto.
Como era um dia normal para ti em Lisboa?
Vivemos durante dois anos em Alcântara, era fantástico, numa rua praticamente debaixo da ponte. Era uma zona muito confortável e, mais ou menos nessa altura, começaram a construir uma sítio cultural, com restaurantes, bares e discotecas.
É o LX Factory.
Sim, exactamente, há um par de anos até fomos lá e fiquei surpreendido como tinha mudado tanto. Também havia as docas lá perto e não estávamos longe do centro de Lisboa. Caminhávamos muito, estávamos interessados na história e cultura da cidade. E, de repente, muitos amigos queriam visitar-nos em vez de irem a outros países [ri-se].
E fizeste um esforço para aprender português.
Sim, por isso é que estou um bocado desiludido, porque normalmente falo em português quando converso com jornalistas de Portugal, mas, como começámos por falar sobre o coronavírus, senti que era um tema demasiado importante. Quando cheguei ao Benfica, ao fim de uma semana fomos para Nyon, na Suíça, fazer um estágio de pré-época. Fiquei com o Miguel no quarto e foi fantástico porque ele não falava inglês [risos]. É um tipo muito simpático, as pessoas dizem que o futebol o salvou de problemas, mas sempre gostei muito dele. Era novo na altura e queria aprender inglês, portanto ensinámos um ao outro. Já tinha algumas verbos que a minha professora [diz em português] me tinha dado. Tive sorte porque uns amigos da Suécia têm uma tia que fundou uma escola em Carcavelos, nos anos 50 ou 60. Conheceu um marinheiro português em Gotemburgo e mudou-se para lá com ele. É uma mulher fantástica e foi ela que me ensinou. Ao fim de seis meses falei português pela primeira vez numa conferência de imprensa e fiquei orgulhoso. Também ajudou muito o facto de conviver com o Miguel e com outros jogadores que não falavam inglês, obrigavam-me a ouvir a aprender rapidamente.
Forçaste-te a falar português?
Só eu e o Tomo Sokota é que não falávamos, porque o Drulovic ou o Zahovic já estavam há anos em Portugal e sabiam falar.
Quando foste para o Belenenses jogaste com o Rúben Amorim, que na altura estava a começar a carreira e hoje é treinador do Sporting.
É incrível, como é possível? [ri-se] Ele era um grande talento, mas era estranho, porque não tinha corpo de jogador de futebol, mas era muito inteligente no campo e, normalmente, os jogadores inteligentes chegam longe ou tornam-se treinadores. Era um tipo simpático, engraçado e não levava a vida demasiado a sério, mas na altura era jovem.
E também apanhaste o Eliseu, que acabaria por ser campeão europeu com Portugal.
Vi-o a celebrar com a vespa no título com Benfica. Era maluco, mas na altura jogava a extremo. Por acaso, encontrei-o antes de um jogo da selecção portuguesa, não me lembro qual, mas estava lá a comentar para uma televisão sueca, ele apareceu, demos um abraço e conversámos um bocado. Acho que foi em França, no Europeu. Era um grande jogador, mas acho que os treinadores tiveram problemas para lidarem com ele. O Eliseu não era assim tão bom no Belenenses, sinceramente, mas depois foi para Espanha e evoluiu muito. Foi estranho. Dava para ver que tinha talento, mas o contexto, provavelmente, não era o certo para ele. Foi muito bom vê-lo a ganhar com o Benfica e com Portugal. Também falei com ele quando fui visitar o Benfica e o Lindelöf. Fui ao centro de treinos, falei com eles e também com o Luisão.
Continuas a acompanhar os jogos do Benfica?
Sim, claro, porque foram tempos muito bons para mim. Não há muitos clubes como o Benfica no mundo. Jogámos um amigável contra o Feyenoord, no Porto, e o estádio estava cheio porque o Benfica queria agradar aos adeptos que viviam no norte do país. É incrível como isso acontece. Na pré-época, quando fomos à Suíça, era igual. Há muitos adeptos emigrantes lá e só me apercebi quando chegámos ao aeroporto e estavam milhares de adeptos à nossa espera. Não nos esquecemos de coisas como estas.
O que achas do Benfica actual?
É impressionante ver tudo o que alcançaram, sem stress. Tiveram o Jorge Jesus, que esteve muito bem, e quando ele saiu não entraram em pânico, voltaram a ganhar com o Rui Vitória e as coisas têm corrido bem. Na minha altura, as coisas estavam a correr bem ao FC Porto, que tinha o Pinto da Costa há muito tempo, e agora, é o Luís Filipe Vieira que está há muito tempo no Benfica e ter continuidade ajuda. Não é fácil de alcançar, porque é stressante, mas é importante.
Conseguirias comentar um jogo em português?
[Ri-se e troca para português] Preciso de falar mais português no dia-a-dia para fazer isso. Mas sei que o Stefan Schwarz, de vez em quando, comentava na Benfica TV, mas não sei. Adoro Portugal e o Benfica, nunca se sabe, mas tenho de praticar mais."
O martelo de Nietzsche
"1- Parafraseando La Mettrie no Homem Máquina não é suficiente estudar a natureza das coisas na procura do conhecimento, deve-se ousar dizê-lo em honra do pequeno número daqueles que querem e são capazes de pensar. Quanto aos outros, que são voluntariamente escravos de preconceitos próprios da ignorância, é-lhes tão impossível procurar o conhecimento quanto é aos sapos voar
2- No passado dia 28 de Março faleceu Miranda Calha (1947-2020) que foi, certamente, o último Secretário de Estado do Desporto a promover políticas públicas a partir da base do Sistema Desportivo num país olimpicamente inculto. Até as lágrimas me veem aos olhos quando vejo quem hoje tutela o desporto.
3- O Comité Olímpico Internacional e o Governo Japonês (o Japão é o país com a mais elevada dívida do mundo: 240% do PIB anual) encontram-se nos cornos de um dilema. Se realizarem os Jogos Olímpicos em 2021 os prejuízos serão astronómicos, mas se não os realizarem os prejuízos serão igualmente astronómicos. O grande problema dos Jogos da XXXII Olimpíada a realizar em 2021 não é sanitário é económico e financeiro determinado pelo contencioso que já deve estar a ser desencadeado a nível mundial por todos aqueles que se sentem prejudicados pelo adiamento dos Jogos.
4- Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional procurou, tanto quanto possível, ilibar o COI do adiamento dos Jogos Olímpicos deixando tal decisão para o governo japonês. E, como refere a comunicação social, o COI e o Governo Japonês já estão de calores, não de amor mas de conflito desde logo, porque, à partida, o prejuízo do adiamento está calculado em 2,5 mil milhões de dólares não sendo de espantar que possa duplicar ou, até, triplicar independentemente dos Jogos se realizarem ou não.
5- Talvez seja bom os portugueses começarem a pensar que, à semelhança de Benito Mussolini com o seu “vençam ou morram”, sempre que os dirigentes políticos e desportivos resolvem determinar que o desporto é um desígnio nacional, regra geral, o que acontece é os países ficarem sem desígnio e os contribuintes sem dinheiro.
6- Infelizmente, liderar, hoje, muitas vezes, significa aderir festivamente ao hedonismo reinante sob pena de, se não se aderir, acabar-se só com a própria consciência. Só assim se percebe que existam pândegos que pretendem candidatar-se à organização dos Jogos Olímpicos da Península Ibérica. É o Theatrum Mundi do “dress code” das olímpicas festas e festarolas que acabam sempre no bolso do contribuinte, enquanto o contribuinte tiver bolso. Acontece é que o Mundo, como refere Nietzsche, é o jogo dos deuses e as regras do jogo determinam que o resultado será sempre maior do que a simples soma das partes. Quer dizer, cheio de surpresas.
7- O presidente do Sporting CP, Frederico Varandas alertou para o cenário "gravíssimo" devido à quebra de receitas por motivo do Covid-19. E disse: "Se não defendermos a indústria do futebol numa altura destas, não vamos cá estar muito tempo”. E propôs uma aliança entre os grandes para salvar o futebol português (2020-05-06). Não quero crer que a defesa da indústria do futebol possa ser conseguida por uma aliança entre três dos dezoito clubes que fazem parte da 1ª Liga. Para já não falar nos clubes da 2ª Liga. Defender a indústria do futebol é, antes de tudo, ser capaz de envolver todos os interessados num projecto realmente partilhado. Num projecto partilhado com o País o que implica capacidade para se pensar a doze, dezasseis, vinte anos. Quer dizer, em benefício até daqueles que ainda não estão entre nós. Não acredito que os actuais dirigentes estejam minimamente interessados numa perspectiva de médio e longo prazos. E quem tutela o desporto ainda menos.
8- A candidatura da deputada Cláudia Santos à presidência do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol parece estar a causar alguma celeuma entre os apaniguados da “bola política”. Esqueceram-se foi de Gilberto Madaíl e Hermínio Loureiro!!! E de outros deputados que durante o dia estão na Assembleia da República e à noite vão para as futeboladas nas televisões. Ou há moralidade ou… como diz o outro… Por isso, não se percebe o rasgar de vestes das novas virgens do futebol.
9- Toda a gente fala na necessidade de mudar o futebol. Todavia, a primeira pergunta que a inteligência do futebol tem de ser capaz de responder é a seguinte: Como é que um sistema darwinista a funcionar numa lógica de soma nula pode, de um momento para o outro, passar de uma cultura de liderança de tipo fratricida em que todos se odeiam cordialmente uns aos outros, para um modelo de gestão cooperativa em que os interesses passam a ser comuns? Enquanto não forem capazes de responder a esta questão e agir em conformidade só vão continuar a gerar entropia.
10- O problema é que todos falam na necessidade de mudar, mas, no fundo, ninguém quer mudar coisíssima nenhuma. Só se forem obrigados e, mesmo assim, podem os portugueses esperar sentados porque, a mudarem qualquer coisa, será certamente para melhorar aquilo que sempre fizeram no passado."
O regresso do telefutebol
"O regresso não é bem do futebol, é um desporto parecido. Mas aproxima a verdade desportiva e salva cofres vazios de clubes falidos
O Benfica, como a generalidade dos emblemas, regressou esta semana aos trabalhos. Parecem que os jogadores correm, parece que voltaram a pisar a relva, parece até que o futebol pode mesmo regressar. Assim seja, com segurança. O regresso não é bem de futebol, é um desporto parecido, chama-se telefutebol, não tem a mesma graça, mas é melhor que nada para quem gosta da modalidade. Aproxima a verdade desportiva e salva cofres vazios de clubes falidos.
Alemanha, Itália e Espanha parecem também seguir o modelo. Boa notícia para o Benfica ter Gabriel (e André Almeida) de regresso. Com eles em campo os números do Benfica são assustadoramente melhores. Desportivamente não duvido que estaremos fortes e competentes para 11 jogos que faltam para as 11 vitórias que ambicionamos.
Esta semana um grupo de vândalos de spray verde optou vandalizar algumas das glórias eternas que estavam pintadas na rotunda Cosme Damião. Marginais sem clube, têm cor verde no spray mas vivem tristes e numa escuridão interior muito grande. Fizemos bem em pintar no dia seguinte o mesmo mural ainda com mais glórias, ainda com mais brilho, ainda com mais peso histórico, e deixar o crime e os criminosos mais cegos na sua escuridão. Nenhum emblema é culpado de ter energúmenos que se dizem seus adeptos e só se enxovalham a si mesmos.
Já aqui escrevi que respeito as decisões tomadas pelas várias federações das modalidades de pavilhão, mesmo sendo o Benfica o clube mais prejudicado, pois tinha expectativas sérias de vencer vários dos títulos dessas modalidades. Penso ser correcto se disser que há até duas «injustiças desportivas» mais difíceis de diferir, a equipa de voleibol do Benfica e a de andebol do FC Porto seriam provavelmente das melhores equipas de sempre das duas modalidades a actuar em Portugal e ao não vencerem os títulos aceita-se que fique nos seus atletas um sentimento de amargura ainda maior. A equipa de voleibol do Benfica, preparava-se pelo segundo ano consecutivo, para vencer tudo o que havia para vencer. Foram momentos maravilhosos os que assistimos em alguns jogos da nossa equipa. Ficam adeptos agradecidos, ficam adeptos que não esquecem, ficam adeptos à espera duma próxima época."
Sílvio Cervan, in A Bola
Comunicado Benfica SGPS
"A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários notificou hoje a Sport Lisboa e Benfica, SGPS, S.A. do indeferimento do pedido de registo de oferta pública voluntária e parcial de aquisição de até 6.455.434 acções emitidas pela Sport Lisboa e Benfica – Futebol SAD, anunciada preliminarmente em 18 de Novembro de 2019.
A Sport Lisboa e Benfica, SGPS, S.A. manifesta a sua total discordância com a decisão tomada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e reitera a plena conformidade dos actos praticados com a lei, tal como confirmado pelos seus assessores jurídicos e por parecer jurídico emitido por um dos mais reputados professores de direito e demonstrado oportuna e detalhadamente à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
A Sport Lisboa e Benfica, SGPS, S.A. manifesta ainda a sua surpresa e discordância com a circunstância de a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários não se ter pronunciado, nos termos que eram legalmente aplicáveis, sobre o pedido para autorização da revogação da oferta, que foi apresentado com base em factos públicos, notórios e indesmentíveis e que deveria logicamente ter precedido qualquer decisão sobre o registo da oferta.
A Sport Lisboa e Benfica, SGPS, S.A. reitera que sempre pautou a sua actuação, no âmbito deste procedimento como em geral na sua actividade, e na sua relação com as demais entidades do Grupo SLB, de acordo com os mais escrupulosos critérios de integridade e legalidade. Actuou sempre também com transparência junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários em todo este procedimento, não podendo deixar de lamentar um desfecho que, no seu firme entendimento e convicção, não foi o legalmente devido."
Fim da quarentena
"Todos estamos agradecidos aos benfiquistas que há uns poucos meses dedicaram parte do seu esforço para homenagearem vinte glórias do Benfica através da aplicação de stencils do rosto dessas glórias do Benfica na Rotunda Cosme Damião, acompanhados da inscrição: 'Ousem um lugar na nossa história' e do emblema do Sport Lisboa e Benfica. Não sabemos quem são, pois, muito bem, entendem que o destaque deve ser dado aos homenageados, e não a quem os homenageia. Na terça-feira de manhã, acordámos com a notícia de que este magnífico exemplar de arte urbana e benfiquismo havia sido vandalizado por uns energúmenos que se julgam adeptos do Sporting. Ainda durante essa manhã houve benfiquistas que se mobilizaram e limparam as paredes, preservando os stencils. E, no dia seguinte, foram contempladas mais glórias. Perante o desalento da constatação de mais um acto aviltante, esses benfiquistas, ao invés de alimentarem o ódio com mais ódio, responderam com amor redobrado ao Benfica. Em suma, à Benfica!
Entretanto, depois de panaceia da dita legalização de claques, o secretário de Estado do Desporto voltou a insistir, em entrevistas, nos supostos méritos do famigerado cartão de adepto. Vá lá que não se tenha lembrado de obrigar esses adeptos a usarem uma estrela de David ao peito...
O que João Paulo Rebelo parece não querer entender é o seguinte: Há adeptos que, como é o caso destes benfiquistas, a terem algo que os identifique, seria uma medalha de mérito. E há outros, como os palermas que, mal terminou o confinamento obrigatório, se focaram imediatamente numa tentativa de agressão ao Benfica, têm de ser afastados do futebol. Tão simples quanto isto. Sem cartões patéticos, nem legalizações-fantoche!"
João Tomaz, in O Benfica
Desinfectante mental
"Nesta semana já tivemos um cheirinho de como será o regresso do futebol da primeira divisão. Não vou aqui discutir se a decisão é certa ou errada, cada pessoa terá a sua opinião. E há bons argumentos de ambos os lados desta discussão. Digo-vos apenas que é com grande orgulho que vejo jogadores, equipa técnica, staff e adeptos do Sport Lisboa e Benfica a cumprirem todas as regras. Não são só as máscaras, o gel desinfectante, as luvas ou os treinos condicionados, é a atitude. É o grau de responsabilidade, o profissionalismo e o desejo de enfrentar os novos tempos com o mesmo discurso do passado recente: vencer, pelo Benfica.
Logo na segunda-feita percebemos que há coisas que nunca vão mudar no futebol português. Viu-se num centro de estágio alugado, nos arredores da cidade do Porto. Cerca de 20 elementos de uma claque organizada mostraram como se vive em terra sem lei. Distanciamento físico? Esqueçam lá isso, foram todos juntinhos para uma bancada gritar e fazer fumo. Tarjas ofensivas? Claro que sim, então, se já insultaram ministros e juízes deste país, não haveria se ser pintada mais uma daquelas tarjas contra o seu ódio visceral? Nada de novo. Coisa parecida aconteceu, também nesta semana, na Rotunda Cosme Damião, junto à Catedral - um bando de mentecaptos resolveu vandalizar a homenagem aos grandes nomes do Glorioso. Parece que, 18 anos depois, continuam a não conseguir encontrar motivos para festejar. E assim será por muito tempo. O mundo pode mudar - e como mudou! -, e pede ser pedido a cada ser humano que encontre os melhores sentimentos em si e nos seus, mas há sempre quem não consiga reinventar-se. Pela cegueira clubística ou política, pela ignorância ou simplesmente por terem mau fundo. Fazem lembrar aqueles pobres coitados que se foram injectar com desinfectante porque ouviram um 'iluminado' a dizer que, se calhar, matava o vírus. Dá demasiado trabalho pensar pela própria cabeça, não é?"
Ricardo Santos, in O Benfica
Fejsa, o sérvio apaixonado
"Talvez o leitor não tenha conhecimento, mas posso garantir que conheço mais da sua vida do que possa imaginar. Sei, por exemplo, que no dia 22 de Maio de 2005 estava com o coração a mil perto das 19h50, antes de o Simão bater o penálti no Bessa. Sei também que em 10 de Fevereiro de 2019 teve de agendar uma consulta de fisioterapia para recuperar de um estiramento muscular na coxa depois de se levantar pela décima vez naqueles 10-0 ao Nacional. Sei ainda o suficiente para poder assegurar que o leitor já leu uma ou outra declaração de amor, mas nunca leu uma carta de amor tão apaixonada como a carta que o Fejsa escreveu ao Benfica esta semana, partilhada pelo Record. 'O oceano não é tão grande como o nosso amor pelo Benfica. O cheiro a Portugal é o cheiro do Benfica' - Ljubomir Fejsa, 04-05-2020. Agora tenho mais dificuldade em olhar da mesma forma para Fernando Pessoa, José Saramago ou Eça de Queiroz. Estes autores, alegados génios da escrita, afinal seriam assim tão geniais? Têm várias obras publicadas, mas foi preciso aparecer um sérvio nascido a mais de 3000 km de distância para compor tão graciosa epígrafe. Espero que a Porto Editora inclua a carta na íntegra nos manuais escolares do próximo ano lectivo. Ao longo das afirmações,repartidas em diversos temas no artigo publicado, fica evidente o sentimento afectivo que liga o jogador ao Benfica. Não sei o amanhã, não se se voltarei a ver o Fejsa com o manto sagrado. Tenho uma certeza: estarei sempre grato aos milhares de quilómetros para impedir que eu e o leitor levássemos as mãos à cabeça, percorridos por um sérvio que é gigante dentro de campo e ainda maior fora dele."
Pedro Soares, in O Benfica
Muitas dúvidas
"Não creio que alguém possa garantir neste momento, a pés juntos, que o campeonato de futebol venha efectivamente a ser retomado no final do mês.
Seria muito bom que tal acontecesse, ainda haveria datas para o concluir até ao fim de Julho (eventualmente com uma ou duas jornadas a meio da semana), a calendarização da época seguinte não ficaria demasiado comprometida, e a nossa fome de bola poderia, em parte, ser saciada - embora à distância e via televisão. É preciso dizer que, a concretizar-se, tratar-se-á de um regresso... zinho. Será um futebol sem bancadas, sem chama, sem calor humano, a maioria das vezes em terreno neutro. Jogos meramente burocráticos, que visam assegurar as receitas televisivas e definir friamente uma classificação final. Melhor do que nada, mas muito diferente daquilo que gostaríamos de ter.
Talvez até opte por ouvir apenas os relatos radiofónicos, e assim ignorar que não há ninguém nas bancadas, imaginando estádios cheios e vibrantes. Cada um que se adapte como puder. E, como dizia, nem mesmo isso está assegurado. O vírus é imprevisível, colocando enormes reticências a qualquer planeamento que vá para além do próprio dia. Nunca foi tão certeira a afirmação segundo a qual o que hoje é verdade amanhã pode ser mentira. Neste contexto, no futebol, como nas nossas vidas, devemos estar preparados e mentalizados para todas as possibilidades.
Por agora, é preciso assegurar que a nossa equipa permaneça à margem das incertezas, e se prepare, com tudo, para ganhar.
Se, e quando, voltar o campeonato, teremos dez finais para conquistar o título. Não as podemos falhar."
Luís Fialho, in O Benfica
A retoma
"A decisão do Governo de autorizar o regresso do futebol profissional à competição foi arrojada, justa e sensata. A crise é profunda, vai continuar, e ninguém sabe como e quando vamos sair dela.
Pelo que o regresso da I Liga era a solução óbvia. A Federação Portuguesa de Futebol, a Liga de Clubes e os três grandes clubes deram uma bela defesa da indústria do futebol. Sem jogos, os clubes não têm receitas, e sem receitas, os clubes vão à falência e, neste caso, só há uma via - o encerramento. Esta é a cruel e dura realidade.
A partir do momento em que os clubes consigam apresentar um plano seguro às autoridades de saúde pública, as 10 jornadas serão disputadas com inusitada emoção e empenho de todos - jogadores, treinadores, árbitros, médicos fisioterapeutas, organizadores de jogos e dirigentes. À porta fechada, os adeptos assistirão às 10 etapas pela TV. Será um novo desafio para todos nós e vai exigir um sistema cardiovascular afinado. Serão cinco finais numa Luz despida e vazia da vibração da nossa incansável massa associativa. E mais outras tantas finais fora de portas. Bruno Lage prometeu-nos que tudo irá ser feito para o bicampeonato sem esquecer a Taça de Portugal. Esta promessa do nosso treinador assenta numa constatação evidente - a excelência da nossa estrutura, que tudo preparou para que nada falta aos nossos briosos profissionais. Sabemos que eles irão dar tudo. Sabemos que eles irão dar tudo. Sabemos que irão correr o dobro. Sabemos que irão suar o triplo. Sabemos que irão deixar a pele em campo para conquistar os 30 pontos em disputa, na Liga. Depois, a final do Jamor que atacarão com a bravura e a entrega habituais. E, assim, poderemos fechar esta década com 21 títulos conquistados, pois a seguir ao campeonato e à taça, venha a Supertaça."
Pedro Guerra, in O Benfica