segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Ventos de mudança a soprar no Minho

"Francisco Trincão e Edmond Tapsoba podem vir a ser lembrados pelas mudanças que ajudaram a alavancar no futebol português

As transferências de Francisco Trincão (para o Barcelona, recebendo o SC Braga, €31 milhões) e Edmond Tapsoba para o Leverkusen, recebendo o Vitória SC, €18 milhões) têm tudo para marcar um antes e um depois no futebol português. Face aos montantes envolvidos, estamos perante negócios que, se tiverem as mais-valias em reinvestidas, podem ser verdadeiros game changers, acelerando não só o processo de aproximação destes dois clubes de referência, aos três grandes do nosso desporto, mas também potenciado o seu afastamento dos que procuram estatuto semelhante.
Enquanto não foi implementada a centralização dos direitos televisivos, medida que em todos os países onde entrou em vigor significou um aumento significativo da receita a distribuir pelos clubes, a única forma de crescer é através da aposta na formação e na prospecção, coisas que guerreiros e conquistadores sabem fazer bem, estando, contudo, os bracarenses mais adiantados no que respeita a infraestruturas e organização. Mas as fronteiras que foram franqueadas por Trincão e Tapsoba apontam o caminho a seguir.

Muito se tem falado, a propósito de uma eventual perda do Sporting da maioria do capital da SAD, dos investidores que aterraram no futebol português. Vieram chineses, italianos, brasileiros, colombianos, peruanos, todos e cada um com um discurso moderno e ambicioso, virado para as maravilhas que novas formas de gerir podiam trazer. Infelizmente, sem cair na armadilha da generalização fácil, há que dizer que os resultados, numas circunstâncias, foram casos de polícia, e noutros tremendas desilusões, uns e outros sem projecto desportivo associado, apenas agindo como pragas de gafanhotos que só deixam desolação e destruição quando decidem partir para outras paragens. Há clubes na nossa Liga que mais não têm servido do que placas giratórias de jogadores, tratados como mercadoria para quem neles vê apenas lucro fácil. E quando a fonte seca, passam-na a patacos e vão explorar para outro lado.
Nada me move contra os investidores no futebol. Mas é preciso saber ao que vêm, escrutiná-los e exigir-lhes garantias que vão para além daquilo que tem sido a prática corrente entre nós.

Ás
Francisco Trincão
Um minuto depois do apito final de Jorge Jesus, ontem, em Braga, o golo de Trincão, que derrotou o Sporting, já estava em grande destaque nos sites dos jornais da Catalunha. O jovem internacional português tem condições físicas e técnicas para vingar em Camp Nou, assim a cabeça mantenha a serenidade...

Ás
Sérgio Conceição
Depois da tempestade de Braga, decidiu, sem mostrar a bandeira branca da rendição, não apagar o fogo com gasolina e as duas vitórias, a primeira mais sofrida, com a do Gil Vicente, e a segunda confortável, em Setúbal, permitem-lhe preparar a mata-mata com o Benfica com tranquilidade. Não foi uma semana nada má...

Ás
Ricardo Soares
A metáfora do CR7 no Mundial de 2010 aplicou-se ontem ao Moreirense. A equipa de Ricardo Soares, que andava com dificuldade em fazer o ketchup sair do frasco, inundou ontem o prato em Barcelos, goleando (5-1) onde FC Porto e Sporting tinham conhecido a derrota. Três pontos que sabem pela vida, na luta pela manutenção.

O regresso de José Mourinho às grandes vitórias
«Tenho sentimentos mais nobres em relação a Pep Guardiola do que vocês podem pensar. Trabalhámos juntos três anos»
José Mourinho, treinador do Tottenham
O special one, vencedor do Tottenham - Manchester City, aproveitou a ocasião para elogiar o trabalho de Pep Guardiola e lembrar que estiveram juntos três anos em Barcelona, Mourinho como treinador-adjunto (de Robson e Van Gaal) e Guardiola como jogador. Com menos nuvens no horizonte, apesar da lesão de Kane custar pontos aos spurs, o bom humor de Mou está de volta...

'Veni, Vidi, Non Vici'
A titularidade de Bruno Fernandes, no Manchester United - Wolverhampton, dois dias depois de ter aterrado em Inglaterra, deu bem nota do estado de necessidade em que os 'red devils' se encontram. E o facto do ex-capitão dos leões ter sido uma das unidades de melhor produção da equipa, revela quão precisado estava o United de quem lhe arrumasse a casa. Porém, como no futebol ninguém ganha nada sozinho, Bruno Fernandes teve de se contentar com um empate frente a um conjunto coerente e muito bem trabalhado por Nuno Espírito Santo. Já o holandês Bergwijn, que custou €35 milhões ao Tottenham, treinou-se na quarta e no domingo marcou o primeiro dos dois golos com que a equipa de José Mourinho venceu o Manchester City de Guardiola. Sem o impacto mediático de Bruno Fernandes ou Bergwijn, também ex-benfiquista Ljubomir Fejsa foi titular no Alavés, poucas horas depois de ter chegado a La Liga, a estreou-se com um empate a uma bola em casa do Sevilha. Coisas dos tempos modernos...

A noite mais longa (aqui) do desporto americano
Nos states a final do Superbowl coincide com o prime time televisivo (os minutos de publicidade mais caros do ano), mas deste lado do Atlântico é preciso muita coragem para ver o big show football até ao fim. Kansas City ou São Francisco, um deles levantou o 54.º troféu, já depois do fecho desta edição..."

José Manuel Delgado, in A Bola

O mercado de Janeiro

"Na Luz não se dormiu à sombra da vantagem; no Dragão preferiram hibernar com a anuência de Conceição. Em Alvalade... foi o que deu

Janeiro chegou ao fim e com ele terminou também a possibilidade de os clubes portugueses fazerem os reajustes que entendem necessários para concretizar objectivos - sejam aqueles que tinham traçado no início da temporada ou novas metas, ajustadas àquilo que conseguiram fazer nos meses que o antecederam. Costuma dizer-se, e com alguma propriedade - haverá excepções, mas por serem poucas servirão, como quase sempre, apenas para confirmar a regra -, que o mercado de inverno não faz campeões. E é, quase sempre, verdade. Mas pode, sem dúvida ajudar, embora sobre essas contas só possamos efectivamente falar lá mais para a frente. Ainda assim, a estratégia de ataque dos três grandes e este mercado de Janeiro permite-nos tirar algumas ilações importantes, nomeadamente sobre aquelas que serão as expectativas de Benfica, FC Porto e Sporting para o que falta jogar-se de 2019/2020.

Benfica. A águia chegou confortável ao final do mercado de Janeiro. Sete pontos de avanço sobre o FC Porto, excelente saúde financeira... Enfim, se o Benfica parecia estar, já, em vantagem sobre o único rival na corrida pelo título, essa posição saiu, é inegável, reforçada agora que findou o período de transferências. Luís Filipe Vieira não só conseguiu resolver alguns dos problemas relativos aos excedentários do plantel - faltou Zivkovic, sem dúvida um caso de contornos demasiado estranhos - como deu a Bruno Lage mais uma solução de 20 milhões de euros para o meio-campo e garantiu o empréstimo de Dyego Sousa para colmatar a saída de Raul de Tomas - que parece estar a provar, em Espanha, que o seu problema não é tanto técnico mas mais mental. Claro que é preciso esperar para confirmá-la, mas fica, claramente, a ideia de que o Benfica sai de Janeiro ainda mais forte, o que o torna - ainda mais do que era - no principal candidato à conquista do título. E talvez na cabeça de Vieira esteja, até, a possibilidade de um brilharete na Liga Europa...

FC Porto. A viver sob aperto financeiro e, talvez, preocupado com um clima nunca antes visto no seu consulado, Pinto da Costa e a SAD dos dragões optaram por hibernar no mercado de inverno. Não entrou ninguém - decisão publicamente assumida por Sérgio Conceição no início de Dezembro, quando o FC Porto estava a apenas dois pontos do Benfica... - mas também não saiu nenhuma das figuras importantes. O treinador garante que o plantel lhe dá garantias e a SAD lavou as mãos, deixando a Conceição o ónus de ter decidido assim, mesmo que, desde aquele tal 7 de Dezembro até ao final do mercado, as circunstâncias terem mudado de forma radical. Terá, portanto, o treinador de lidar com essa decisão, para o bem e para o mal. E pode nem demorar muito, dependerá do resultado do clássico, já no sábado...

Sporting. Foi, dos três grandes, daquele que, sem dúvida, saiu mais fraco do mercado de Janeiro. Bastava a confirmação da saída de Bruno Fernandes (inevitável, convenhamos, a todos os níveis) para se chegar a esta conclusão. Sporar, único reforço sonante que chegou a Alvalade, parecer ser, numa análise ainda muito incompleta, um avançado interessante, mas já não foi capaz o leão de colmatar a lesão de Luiz Phellype, como decerto pretenderia Silas. Terá, portanto, o treinador leonino de jogar com o que lhe resta, que não é muito. Ainda assim, a verdade é esta: afastado da luta pelo título e pela Taça de Portugal, poderia a SAD liderada por Frederico Varandas abordar o mercado de forma diferente? Para quê? Mais vale, se calhar, guardar balas (dinheiro, leia-se) para guerras por que valha a pena lutar..."

Ricardo Quaresma, in A Bola

Cadomblé do Vata (Vivo e a Gostar!!!)

""Estou Vivo". É o primeiro comentário que me apraz fazer após dois dias a digerir aqueles últimos 49 minutos da recepção à B. SAD. "Está Recuperado". É o primeiro comentário que quero fazer após 90 minutos a ver o Ferro aparar as vagas atacantes do FC Porto no clássico do próximo sábado. Francisco, aquele nó que levaste de um desconhecido iraniano na Catedral foi de facto humilhante, mas nada que deva marcar-te psicologicamente de forma tão ardente. Tira isso do sistema intelectual, esquece rapaz. Já foi, volta para nós. Mata duas no peito e mete-as de primeira no pé do Rafa em pelo meio campo defensivo andrade e mais ninguém vai querer saber o que o pobre Mohamadi te fez. Acalma-te Homem. Estás em priemiro, o gajo vai a caminho da 2ª Liga. Levanta-te e joga.
"Estou a Gostar". É o primeiro comentário que me sai da boca depois de ver mais uma Exibição (com letra maiúscula) do Vinicius. "Estou Apaixonado". É o primeiro comentário que quero fazer depois do tanque brasileiro bisar no Dragão e ver Fábio Veríssimo atribuir ao Pepe o tento que lhe valeria o hat trick, que não seria tão espectacular como obrigar o selvagem central andrade desviar para a sua rede. Carlitos não te acanhes meu puto. Cabecear à barra na direita e atravessar uma floresta de adversários, para ir fazer a recarga vitoriosa à esquerda é Gloriosamente inspirador. Quem conduz pelo relvado um camião de 1,90m com 86kg apenas pode temer ferir as viaturas ligeiras que por lá deambulam. Seve-te da "cardoziana" para festejares com semblante "mitroglouano". "A Vida é uma Festa" quando se decide um Clássico no Dragão. Se tiveres dúvidas, pergunta ao Lima que ele explica-te."

Os 5 melhores médios defensivos do SL Benfica no século XXI

"O mercado de transferências de Janeiro para o Sport Lisboa e Benfica ficou posicionalmente marcado pelas mexidas na posição 6.
Não só a grande contratação foi a de Julian Weigl por 20 milhões de euros ao Borussia Dortmund, como a principal saída acabou por ser a de um mítico ‘6’ encarnado. Apesar da venda de RDT, é o adeus (ou até já) de Fejsa que marca os adeptos do SL Benfica.
A contratação de um potencial craque alemão com tiques de Busquets e a saída do verdadeiro tractor papa-títulos do Sport Lisboa e Benfica vieram mexer com as emoções dos benfiquistas relativamente a esta posição tão fundamental.
E, como homenagem a quem chegou e principalmente a quem, por agora, nos largou, deixo aqui o meu top 5 de médios defensivos a envergar a camisola encarnada neste século 21.
1. Nemanja Matić O primeiro lugar não poderia ser de outro. A concorrência sérvia é intensa, mas Nemanja Matic não é só um enorme 6; Nemanja Matic é um fantástico médio seja em que zona for do campo, seja em que momento do jogo for.
Um 10 que rebentou a 6 com Jorge Jesus no Sport Lisboa e Benfica. As palavras para descrever Matic tornam-se quase inócuas. Sentido posicional, aliado a uma imensa qualidade de retenção da bola. Inteligência dos movimentos, aliada a uma enorme capacidade de construir jogo. Força no jogo aéreo, aliada a uma qualidade técnica capaz de concretizar os mais maravilhosos golos. Matic foi na Luz um médio total. Técnica, físico, inteligência e de um enorme sentido colectivo.
Foram três anos de um monstro na Luz, e saiu deixando o clube como campeão e vencedor da Taça e ainda com um segundo lugar no Prémio Puskas, com aquele seu espectacular golo marcado ao FC Porto.
2. Ljubomir FejsaSe há médio defensivo a quem o Sport Lisboa Benfica deve, em parte, muitos dos seus títulos mais recentes é Ljubomir Fejsa. Chegou à Luz em 2013 e foi obrigado a crescer na sombra do brilho de Matic. Quando se afirmou como titular, agarrou a posição com uma classe que permitia aos adeptos encarnados assistirem a qualquer jogo quase como que descansados da vida. É que todos sabíamos que, quando as coisas não estavam a correr bem, tínhamos sempre Fejsa para ir varrendo os ataques dos adversários e recuperando a bola para os seus colegas voltarem a tentar.
Foi demasiado afectado por lesões e nunca se adaptou a um meio-campo defensivo a dois. Mas, enquanto eixo defensivo do meio-campo, é praticamente sublime. Leitura de jogo, capacidade de antecipação, pulmão interminável e desarmes limpos.
Há um Tetra com o seu nome lá inscrito em dourado. Um gigante.
3. Javi GarcíaVindo do Real Madrid CF por 7 milhões, chegou o primeiro grande médio defensivo do legado de Jorge Jesus, do Sport Lisboa e Benfica moderno e vencedor. Javi García foi o principal equilíbrio daquela dream team encarnada que em 2009-10 desfilou de águia ao peito. Uma equipa com um poderosíssimo futebol ofensivo, sempre a contar com o posicional médio espanhol para garantir as costas de todos os criativos que se libertavam para o ataque.
Na Luz foi possivelmente o primeiro trinco a actuar enquanto central no momento de construção, colocando-se entre Luisão e David Luiz e dando assim uma maior segurança no primeiro momento da posse de bola.
Fortíssimo no jogo aéreo e nas compensações defensivas, actuou em 132 jogos pelos encarnados, tendo conseguido a marca de 14 golos e 5 assistências. Um verdadeiro 6.
4. Petit Foram seis anos de manto encarnado. Armando Teixeira, o Pitbull da Luz. Um dos mais carismáticos jogadores do Sport Lisboa e Benfica deste século. Já depois de ter ajudado o Boavista FC a sagrar-se campeão nacional, juntou-se aos encarnados em 2002 e logo agarrou com unhas e dentes aquele meio-campo. Está directamente ligado ao título conquistado em 2004-05 e à excelente campanha europeia que o SL Benfica protagonizou em 2005-06, eliminando o Manchester United FC e o Liverpool FC, e caindo perante o FC Barcelona.
Um jogador incansável, capaz de preencher todo o terreno com a sua disposição física. Garra, dureza, desarme e um fortíssimo pontapé canhão. Quando a equipa não conseguia criar, lá aparecia o Petit a encher o pé e a fazer bruar qualquer estádio onde estivesse.
174 jogos, 12 golos, 10 assistências e um enorme carimbo na posição 6 dos relvados da Luz.
5. Kostas Katsouranis Neste top nunca poderia faltar o grego. Actuou no Sport Lisboa e Benfica ainda numa altura em que o clube procurava o caminho da ribalta e, no meio de plantéis algo duvidosos, foi sendo um dos jogadores de destaque daquele Benfica. Foram três épocas, 116 jogos, 14 golos e 14 assistências.
Juntou-se à equipa de Karagounis e Fernando Santos e tornou-se o principal eixo daquele 4-4-2 losango aplicado pelo “Engenheiro”. Era um médio defensivo muito posicional e com enorme capacidade de antecipação, com uma boa leitura de jogo e, de cabeça, na área adversária, era um verdadeiro ponta de lança.
Katsouranis foi um farol num SL Benfica ainda à procura do seu rumo."

Os cartões amarelos no Sp. Braga-Sporting

"A minha crónica de hoje incide sobre o jogo Sp. Braga-Sporting, numa análise diferente dos casos, pois, na realidade, em termos técnicos, daqueles lances que realmente têm importância e são decisivos no jogo, tivemos apenas dois.
O primeiro foi ao minuto 11, tendo a equipa de arbitragem analisado de forma correcta a disputa de bola no interior da área “leonina”. Os bracarenses ficaram a pedir penálti, mas Luís Neto, ao esticar o seu pé, tocou claramente na bola. Posteriormente, há o contacto com Sequeira, que acaba por cair, mas isso foi fruto do movimento natural de ambos os jogadores, num lance confuso em que estavam envolvidos quatro jogadores, dois de cada equipa.
O segundo, de novo na área dos “leões”, ao minuto 55, quando Coates e Galeno, corpo a corpo, usaram os braços pela conquista do espaço e da bola, contacto normal sem que o jogador “leonino” tenha carregado, agarrado ou empurrado o seu adversário. Mais uma vez, leitura e análise correcta do árbitro, ao considerar que não tinha havido penálti.

Galeno deveria ter sido expulso
A partir daqui, grande parte dos problemas resume-se a questões de natureza disciplinar e à forma como a gestão do jogo foi feita. Foram dez os cartões amarelos exibidos a jogadores, sete dos quais à equipa do Sporting, sendo que cinco foram no primeiro tempo. Mas, destes, três foram por situações de protestos ou descordo. Ora, será que a culpa da contestação recorrente e sistemática tem a ver só com o árbitro e a forma como este se relacionou com os jogadores, ou este desequilíbrio emocional e comportamental não tem mais a ver com o momento que internamente esta equipa do Sporting está a viver, percebendo-se, claramente, que a liderança, a tranquilidade, a ponderação e a voz de comando necessária para pôr travão a estas posturas e comportamentos de forma clara não existe?
Na minha opinião, os dez cartões exibidos foram todos correctos e justificados. Falhou o árbitro na sua distribuição? Ou, dito de outra maneira, ficaram mais cartões por exibir? Claro que sim. O exemplo disso é o de Galeno, que deveria ter sido expulso, por amostragem do segundo cartão. E o árbitro teve duas situações quase seguidas para o fazer, primeiro quando Galeno, após ter sofrido uma falta de Borja, se mandou literalmente ao árbitro assistente e, já no intervalo, quando foi provocado por Luís Neto, e cresceu para ele reagindo de forma antidesportiva. O árbitro, aqui, errou claramente ao exibir apenas cartão ao jogador “leonino”, pois quando um jogador provoca e age e o outro reage, e daqui resulta um aglomerado de jogadores, as instruções são claras: devem ambos os jogadores ser advertidos por terem gerado um conflito generalizado.
Dentro das questões comportamentais, temos que falar de Wendell, que protagonizou uma vez mais uma situação usual e recorrente no Sporting desta época. Face ao descontentamento com uma decisão, correu para o árbitro, cresceu para ele e com gestos e palavras protestou de forma visível. A lei considera este acto como um comportamento antidesportivo penalizado com cartão amarelo, mas estas acções põem claramente a nu a liderança e autoridade do árbitro. Desafiá-lo, crescer para ele e, no limite, encostar a cabeça, devem ser enquadradas nas acções injuriosas, ofensivas ou grosseiras e, por todo o efeito que publicamente isto tem, deveriam ser sancionadas com a expulsão do jogo. 
Depois o caso insólito, a substituição de Vietto, que ao entrar de forma muito evidente no terreno de jogo antes de o seu colega sair, teve como consequência a amostragem de mais um cartão amarelo. Ora, a pergunta que se coloca é: onde estava o delegado ou director desportivo que deveria estar a acompanhar o jogador neste momento e ter a calma, lucidez e capacidade de segurar o atleta e evitar o que aconteceu? A resposta é simples: esse elemento tinha sido expulso ao intervalo, no interior do túnel.
Sem tecer muitas mais considerações, digo apenas o seguinte: quem já andou muitos anos ao mais alto nível sabe que esta função é das mais importantes numa equipa de futebol, no que diz respeito à relação antes, durante e pós-jogo com o árbitro. Não pode ser desempenhada por um adepto, ou alguém que sofra emocionalmente com o jogo e as suas incidências. Esta função tem se ser desempenhada por alguém que ao nível da relação com o árbitro seja quase um psicólogo, alguém que quebra o gelo e que põe calma quando todos estão desorientados. É claro que o jogador também deve saber as regras. É claro que o 4.º árbitro poderia ter sido pró-activo e impedido, por antecipação, que tal tivesse acontecido, mas com um ambiente tão revolto e hostil para com a equipa de arbitragem, obviamente que o desfecho só poderia ter sido este e assim vai continuar a ser, se não houver uma inversão nos comportamentos e atitudes para com as arbitragens."

Sporting: o pior é não haver esperança

"Onde se fala de um buraco sem fundo

O Sporting hoje mete dó.
Não há outra forma de o dizer: o Sporting mete dó. É uma equipa sem qualidade, sem um rasgo e sem futuro. O que acaba por ser normal, quando se olha à forma galopante como tem perdido talento desde que Frederico Varandas chegou à presidência do clube.
Bruno Fernandes, Bas Dost, Raphinha, Demiral, Nani, Fredy Montero, Matheus Pereira, enfim, vários jogadores de qualidade deixaram Alvalade no último ano e meio, jogadores que, por estes dias, provavelmente seriam figura de destaque se tivessem permanecido no clube.
E quem chegou? Vietto, sim, e quem mais?!
É curto e é mau sinal. Não será exagero dizer, aliás, que há nos teoricamente rivais na luta pelo título vários suplentes que em Alvalade, neste actual Sporting, seriam protagonistas principais.
Também por isso o Sporting vive hoje mergulhado numa guerra sem paralelo: um clube em permanente conflito, com uma direcção que está com a cabeça a prémio e, naturalmente, sem a tranquilidade necessária para construir uma equipa melhor.
O que se vê nos relvados (e, já agora, na classificação) é o reflexo disso. O que nos remete para o que é verdadeiramente pior no meio disto tudo: um futuro sem futuro.
Este é um Sporting sem uma luz ao fundo do túnel: sem capacidade de sonhar e sem esperança."

A transferência de Bruno Fernandes para um clubezeco inglês

"Na semana passada, quem lesse alguns comentários e avaliações da transferência de Bruno Fernandes pensaria que o talentoso médio tinha sido contratado por um desses clubes ingleses de meio da tabela subitamente insuflados pelos esteróides financeiros de um petro-empresário árabe ou de um milionário asiático. Um dos comentadores lamentava mesmo que o jogador tivesse ido para uma “equipa mediana”. O leitor incauto ficaria então surpreendido ao descobrir que Bruno Fernandes tinha assinado contrato com o Manchester United, ainda o clube mais poderoso de Inglaterra e um dos mais ricos e populares em todo o mundo.
Eu sei, eu sei. Há uma diferença entre equipa e clube. Mas, meus amigos, isto só se explica como uma tautologia: o Manchester United é o Manchester United. É certo que a equipa não atravessa um bom momento desportivo, que os anos pós-Ferguson têm vindo a dar um novo sentido à expressão “travessia do deserto” e que nenhum treinador, e o United tem experimentado fórmulas diversificadas, desde uma cópia barata de Ferguson ao estilo pírrico de Mourinho acabando, por agora, na aposta num santinho da casa, tem sido capaz de pegar no talento que todas as manhãs se junta para treinar no Aon Training Ground e torná-lo num grupo competitivo.
Pelos vistos, Bruno Fernandes e o seu agente deveriam ter olhado para este cenário de ruínas, vislumbrando entre as cinzas e o pó dos séculos a carcaça de um colosso anteriormente conhecido por Paul Pogba, e chegado à conclusão de que o jogador merecia uma montra mais condizente com o seu talento como, por exemplo, o Liverpool de Jürgen Klopp. Isso mesmo. Perante a proposta de um Manchester United desejoso de contar com o jogador, o empresário Miguel Pinho, de perna esticada sobre a secretária, deveria esboçar um gesto de enfado: “Então isto agora qualquer clubezeco de província acha que pode chegar aqui, acenar com uns milhões e contratar o médio recordista de golos numa só época?” E mandava a família Glazer, Ed Woodward e Ole Gunnar Solskjaer espreitar uns jogos do 1º de Dezembro ou do Canelas e procurar lá um jogador que lhes fizesse o favor de vestir a camisola do clube. Não foram eles que um dia contrataram um tal Bebé? Pois. Quod erat demonstrandum.
De seguida, ligaria para o telemóvel pessoal de Klopp e dir-lhe-ia: “Ouve uma coisa, Jürgen, tenho visto a tua equipa a jogar e vou ser muito sincero: se queres acabar o campeonato com trinta pontos de vantagem precisas mesmo de um jogador como o Bruno Fernandes. É pegar ou largar. Pensa nisso, mas não demores muito ou ponho o miúdo a jogar, pá, no maior clube da galáxia.”
Não dá para compreender certas coisas. Qualquer jogador que vá para um Southampton, um Sunderland, um Bournemouth ou mesmo para o campo de refugiados portugueses do Wolverhampton chega a Inglaterra e treme de emoção: “o meu sonho sempre foi jogar na liga inglesa, estádios cheios, a paixão dos adeptos, a intensidade, os árbitros, o clima, a gastronomia britânica” etc. No entanto, há quem ache que Bruno Fernandes fez a escolha errada. Deveria ter torcido o nariz e passar mais uns meses rodeado de Doumbias e Ristovskis, de Varandas, Vianas e Severos, conduzindo o Sporting na trepidante luta pelo terceiro lugar. No final da época, pegava nas malas e apresentava-se em Camp Nou ou no Bernabéu, mesmo que ninguém o tivesse chamado.
Vamos admitir que o Manchester United tem problemas e não apenas “problemas”. Em comparação com quase qualquer outro clube do mundo, são problemas como os que afligem certas famílias abastadas quando, por motivos de oportunidade, têm de adiar as obras numa mansão ou agendar a compra do iate lá mais para o verão. Lembremos que Bruno Fernandes estava num clube em que o dinheiro pode não chegar para pôr comida na mesa. Mas mesmo que estivesse num clube estável e a respirar saúde financeira, digamos, num clube que não fosse tão parecido com a Jugoslávia nas vésperas da guerra, o Manchester United é o Manchester United. É um dos poucos clubes do mundo de que um jogador pode dizer em futebolês fluente: “se o (inserir nome do clube) te chama, vais”. Como é compreensível, a não ser para algumas mentes preclaras e avançadíssimas, Bruno Fernandes foi.
Foi o ponto final na sua extraordinária história no Sporting. Não me lembro de um jogador num clube português tão decisivo, tão solitariamente decisivo, como Bruno Fernandes. Poder-se-ia pensar que o talento do jogador se destacou porque, à sua volta, o cenário era de miséria, mas não creio que essa avaliação seja justa. A excelência de Bruno Fernandes está intimamente ligada às circunstâncias caóticas no clube de Alvalade, mas a sua excelência não só foi absoluta como parece ter beneficiado daquelas circunstâncias. Quanto mais o Sporting se afundava, mais a qualidade de Bruno Fernandes emergia, mais golos ele marcava, mais assistências fazia. Se em terra de cegos quem tem olho é rei, imaginem o que é ser como Bruno Fernandes, um panóptico em forma de jogador. Já provou que a sua genialidade é capaz de prosperar (sobretudo) no caos. Terá agora de provar que também pode prosperar na calma relativa de Manchester."

Mais três pontos

"A recepção ao Belenenses, SAD resultou em mais um triunfo da nossa equipa, o 18.º em 19 jornadas, o 16.º consecutivo, e na preservação da distância pontual de sete pontos para o segundo classificado, o FC Porto. Conforme esperado, os comandados de Petit revelaram-se um obstáculo difícil de ultrapassar, comprovando que, especialmente nesta fase do campeonato em que se começam a perspectivar decisões, não há jogos fáceis.
Para a história fica o resultado, 3-2, a justiça do vencedor, mais um golo de Vinícius, que agora totaliza 13 na competição e lidera o ranking de goleadores, e as estreias a marcarem no campeonato, de águia ao peito, de Taarabt, considerado o homem do jogo, e Chiquinho.
Objectivo cumprido, novo objectivo definido. A cadência frenética de jogos assim o obriga. Será já amanhã, terça-feira, às 19h15, que a nossa equipa receberá o Famalicão, actual quinto classificado da Liga NOS a apenas um ponto do terceiro, o Braga, na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal.
O percurso dos famalicenses ao longo da temporada indicia a grandeza do desafio que se coloca ao Benfica em chegar à final. A qualidade do nosso oponente é indiscutível e as duas últimas décadas demonstram quão complicadas têm sido as nossas prestações na prova-rainha do futebol português, na qual disputámos somente cinco das últimas 20 finais, ganhando apenas três. Queremos mais, somos o clube com o maior palmarés na prova, já ganhámos 26 desde que tem a designação Taça de Portugal, e vencer a competição é um objectivo assumido desde o início da temporada.
Entretanto, o mercado de transferências fechou, deixando sinais muito positivos para o que resta da temporada.
Foi possível ajustar o plantel em função da visão do treinador, tornando-o mais curto e equilibrado. Entraram dois jogadores com qualidade e dimensão superior: Weigl e Dyego Sousa. E saíram Raul de Tomas, vendido ao Espanhol de Barcelona, e Caio Lucas, Conti, Fejsa, Gedson e Nuno Santos, todos por empréstimo.
Merece ainda uma referência a renovação contratual de Jota, o que significa que todos os jogadores estruturais do actual plantel têm vínculo até 2023 ou 2024.
É com confiança e ambição que a nossa equipa encara o que resta da temporada.
#PeloBenfica"

Margem de erro, exclusiva !!!

"Todos nós nos lembramos do golo do Maicon na Luz que decidiu o Campeonato 2012/2013. Na altura, dizia-se que “errar é humano” e que o VAR viria resolver este tipo de problemas.
Pois bem, estamos a meio da 3ª época com VAR, onde há tempo para decidir, imagens paradas, todas as condições para analisar os lances e mesmo assim este tipo de erros continuam a acontecer, invariavelmente em benefício dos mesmos. Sem esquecer a velocidade com que se "não" analisa estes lances do #PortoaoColo e se perdem largos minutos a analisar outros, como que à procura do “frame” certo para anular o lance (os 4cm e da linha em cima do pé do defesa na semana passada, falam por si). Porquê, perguntamos nós?
Ontem assistimos, infelizmente, ao 6º episódio da saga de golos em fora de jogo do #PortoaoColo na era VAR. Desta vez, como uma novidade, uma vez que no lance do 1º golo existem não 1, mas sim 2 foras de jogo. Sempre a inovar."

Goleada da eficácia...!!!

Benfica B 4 - 0 Vilafranquense


Resultado muito enganador! Hoje, as coisas correram bem... marcámos logo de entrada, num penalty, e depois o União teve quase a empatar várias vezes... nos últimos instantes da 1.ª parte, 'contra a corrente' marcamos mais dois golos!!! No arranque no 2.º tempo, grande jogada colectiva e 4-0!!!

A equipa continua com algumas ausências importantes, tivemos muitas dificuldades em 'segurar' o jogo no meio-campo, acabámos por fazer um jogo mais directo, no contra-ataque...

Esta opção do Gonçalo Ramos a jogar praticamente ao lado do 'trinco' e o Dantas encostado na esquerda, não é a melhor...

Quente Janeiro

"Jogo do Benfica com o Belenenses foi uma outra final, um bom alerta para uma equipa que vai iniciar um Fevereiro 'louco'

1. Sim, eu sei, foi um Janeiro frio e, até, chuvoso. Sim, eu sei, foi um Janeiro em que a União Europeia perdeu um relevante membro e, assim, o Brexit se concretizou. Para alegria de muitos e tristeza de muitos(as) outros. Mas com Londres a receber, em Julho próximo, as meias-finais e a final do Europeu de futebol! Sim, eu sei, foi um Janeiro em que o coronavírus se propagou rapidamente e determinou uma emergência global e, logo, uma séria preocupação geral. Sim, eu sei, foi um Janeiro, entre nós, com casos que fervem e com divulgações que geraram múltiplas inquietações. E múltiplas discussões e outras tantas proclamações. Mas o que sei mesmo é que foi, objectivamente, o mês de Janeiro mais quente do futebol português. Quente em receitas e quente em visibilidade externa. Sim foi um Janeiro que proporcionou a alguns clubes - em rigor às suas SAD's - um verdadeiro euromilhões! Foi, assim, um quente Janeiro para as tesourarias de algumas sociedades desportivas que, desta forma, ganham algum ar, pagam urgências/evidências e mostram que há talento e visão de prospecção no futebol português. No top das cinco maiores transferências deste quente Janeiro estão duas que envolvem jogadores portugueses: Bruno Fernandes e Trincão. No primeiro lugar o ex-capitão do Sporting e em terceiro o jovem talento do Sporting de Braga. E logo para dois dos grandes clubes do mundo, como o MU e o Barcelona. Com Trincão a ficar, resguardado em Braga até o pós Europeu de futebol, com uma cláusula de rescisão de 500 milhões de euros! Impressionante! E sabendo nós que a de Messi é de 700 milhões e a de Griezmann é de 800! Mas sem esquecermos jackpot que Tapsoba proporcionou ao Vitória de Guimarães! Que jackpot mas com a nota que foi o Hertha de Berlim o clube mais gastador desta janela, bem à frente no top-5 de Nápoles, Mónaco, Manchester United e Espanhol. Aqui com RdT, o ex-jogador do Benfica, a envolver metade dos cerca de quarenta milhões de euros gastos pelo outro clube de Barcelona neste mercado de Janeiro. Diria, em rigor, que esta janela de oportunidades não pode esquecer que estamos em ano de Europeu e de Jogos Olímpicos e vivemos este angustiante período de vírus da China que levou muitos jogadores que actuavam na liga chinesa a regressar, num instante, à Europa e, em regra, através da figura de empréstimo. E com Benfica e Manchester United, por mero exemplo, a receberem, respectivamente, Dyego Sousa - bom reforço! - e Odion Ighalo!

2. O Benfica venceu, num jogo bem sofrido, o B-i na passada sexta-feira. A noite estava chuvosa e, daí, a Luz não ter atingido os cinquenta mil espectadores. Mas ter mais de 47 mil evidencia bem a ligação forte entre bancadas e relvado, mesmo no final da tarde de uma sexta-feira em que o sofá era bem mais sugestivo do que a cadeira do estádio! E esta vivida ligação, que nunca se questiona, sabe bem que sofreu face à equipa bem liderada por Petit. Acho que foi um jogo difícil, diria que um jogo menos conseguido. O Benfica sofreu dois golos, o que, em termos internos, só tinha ocorrido em Agosto passado frente ao Porto. Foi um jogo em que Taarabt mostrou as suas imensas qualidades, Chiquinho evidenciou as suas potencialidades. Weigl justificou a sua aquisição e em que Vlachodimos confirmou que é um guarda-redes em que se confia! Mas o jogo, que de verdade foi uma outra final, foi um bom alerta para uma equipa que vai iniciar um Fevereiro louco. Com múltiplas finais e, logo, com jogos que determinam ou o acesso a uma final - Taça de Portugal - ou a ultrapassagem de mais um obstáculo no sonho de chegar, de novo, a outra final, a da Liga Europa. Na verdade, são sete os jogos do Benfica neste mês que ontem arrancou. Terça próxima, Famalicão na Luz e sábado Futebol Clube do Porto no Dragão. Depois segunda-mão em Famalicão e encontro na Luz face ao renovado Braga de Rúben Amorim. Depois os dois confrontos bem complexos, com o Shakhtar de Luís Castro e, no meio, a deslocação a Barcelos para uma outra final com o Gil Vicente de Vítor Oliveira! Sete jogos e sete finais na linguagem serena e realista de Bruno Lage. Que, sublinhe-se e realce-se, somou, na passada sexta-feira, quarenta e sete vitórias em sessenta e uma partidas na liderança técnica do Benfica! E nestas finais de Fevereiro exige-se, como sempre, vontade e concentração, humildade e disponibilidade.Tendo como prioridade - sim como prioridade, digo-o! - a conquista desta nossa Liga NOS. Determinante a todos os títulos. Sem prejuízo de uma larga presença europeia ser bem importante nos tempos próximos das novas competições europeias, e, por excelência, do, ainda em discussão, seu enquadramento de acesso.

3. (...)

4. (...)"

Fernando Seara, in A Bola

Do efeito Lage

"Poético e filosófico no elogio à importância da equipa acima das estrelas, Alfredo Di Stéfano disse-o, certa vez:
- No futebol, nenhum jogador é tão bom como todos juntos.
Melhor ainda é equipa que consegue ter treinador melhor do que todos os jogadores juntos. Mesmo tendo Pizzi ou Rafa, Vinícius ou Seferovic, Vlachodimos ou Taarabt a evitarem, aqui e ali, que o Benfica tropeçasse num grão de areia ou se amarrotasse num seu transtorno - é o que o Benfica vai tendo no Bruno Lage (e, esse é que é o maior problema do FC Porto, de Sérgio Conceição).
Sim, Bruno Lage tem sido melhor do que todos os jogadores juntos porque não deixa que eles se arrastem, confusos e baralhados, por labirintos sem fim, mortiços nas suas impaciências ou nas suas fraquezas - e porque, com ele, a equipa não deixa de ser o melhor que uma equipa pode ser: equipa inteira.
Bruno Lage tem sido melhor do que todos os jogadores juntos porque raramente se prende (ou se malogra) no jogo rotineiro que torna as equipas piores porque descobre depressa (no treino ou no banco) a forma de a ter com melhor defesa e acção, com mais dinâmica e baliza com mais furor e eficácia, com mais critério e movimento - e porque (além de outras coisas mais, claro) mesmo tendo o melhor plantel da Liga, gere-o (e aos seus egos e aos seus desconcertos) com argúcia - percebendo sempre o que é melhor para o jogo (e, sobretudo para a equipa), escapando a complexidades e azias, ratoeiras e abismos, que lhe poderiam roubar fé o destino, levar-lhe sonhos e sorrisos (a excepção que confirma a regra foi a derrota com o FC Porto).
Dir-me-ão: não viu a segunda parte contra o Belenenses! E eu respondo: vi! E por ter visto é que escrevi o que aqui escrevi. E escrevi-o porque, se Di Stéfano afirmou o que afirmou, eu acho o que Nélson Rodrigues sempre achou: que no futebol o pior cego é que só vê a bola - sobretudo a bola correr pela relva em instantes apenas ou sombras fugazes."

António Simões, in A Bola