"A minha crónica de hoje incide sobre o jogo Sp. Braga-Sporting, numa análise diferente dos casos, pois, na realidade, em termos técnicos, daqueles lances que realmente têm importância e são decisivos no jogo, tivemos apenas dois.
O primeiro foi ao minuto 11, tendo a equipa de arbitragem analisado de forma correcta a disputa de bola no interior da área “leonina”. Os bracarenses ficaram a pedir penálti, mas Luís Neto, ao esticar o seu pé, tocou claramente na bola. Posteriormente, há o contacto com Sequeira, que acaba por cair, mas isso foi fruto do movimento natural de ambos os jogadores, num lance confuso em que estavam envolvidos quatro jogadores, dois de cada equipa.
O segundo, de novo na área dos “leões”, ao minuto 55, quando Coates e Galeno, corpo a corpo, usaram os braços pela conquista do espaço e da bola, contacto normal sem que o jogador “leonino” tenha carregado, agarrado ou empurrado o seu adversário. Mais uma vez, leitura e análise correcta do árbitro, ao considerar que não tinha havido penálti.
Galeno deveria ter sido expulso
A partir daqui, grande parte dos problemas resume-se a questões de natureza disciplinar e à forma como a gestão do jogo foi feita. Foram dez os cartões amarelos exibidos a jogadores, sete dos quais à equipa do Sporting, sendo que cinco foram no primeiro tempo. Mas, destes, três foram por situações de protestos ou descordo. Ora, será que a culpa da contestação recorrente e sistemática tem a ver só com o árbitro e a forma como este se relacionou com os jogadores, ou este desequilíbrio emocional e comportamental não tem mais a ver com o momento que internamente esta equipa do Sporting está a viver, percebendo-se, claramente, que a liderança, a tranquilidade, a ponderação e a voz de comando necessária para pôr travão a estas posturas e comportamentos de forma clara não existe?
Na minha opinião, os dez cartões exibidos foram todos correctos e justificados. Falhou o árbitro na sua distribuição? Ou, dito de outra maneira, ficaram mais cartões por exibir? Claro que sim. O exemplo disso é o de Galeno, que deveria ter sido expulso, por amostragem do segundo cartão. E o árbitro teve duas situações quase seguidas para o fazer, primeiro quando Galeno, após ter sofrido uma falta de Borja, se mandou literalmente ao árbitro assistente e, já no intervalo, quando foi provocado por Luís Neto, e cresceu para ele reagindo de forma antidesportiva. O árbitro, aqui, errou claramente ao exibir apenas cartão ao jogador “leonino”, pois quando um jogador provoca e age e o outro reage, e daqui resulta um aglomerado de jogadores, as instruções são claras: devem ambos os jogadores ser advertidos por terem gerado um conflito generalizado.
Dentro das questões comportamentais, temos que falar de Wendell, que protagonizou uma vez mais uma situação usual e recorrente no Sporting desta época. Face ao descontentamento com uma decisão, correu para o árbitro, cresceu para ele e com gestos e palavras protestou de forma visível. A lei considera este acto como um comportamento antidesportivo penalizado com cartão amarelo, mas estas acções põem claramente a nu a liderança e autoridade do árbitro. Desafiá-lo, crescer para ele e, no limite, encostar a cabeça, devem ser enquadradas nas acções injuriosas, ofensivas ou grosseiras e, por todo o efeito que publicamente isto tem, deveriam ser sancionadas com a expulsão do jogo.
Depois o caso insólito, a substituição de Vietto, que ao entrar de forma muito evidente no terreno de jogo antes de o seu colega sair, teve como consequência a amostragem de mais um cartão amarelo. Ora, a pergunta que se coloca é: onde estava o delegado ou director desportivo que deveria estar a acompanhar o jogador neste momento e ter a calma, lucidez e capacidade de segurar o atleta e evitar o que aconteceu? A resposta é simples: esse elemento tinha sido expulso ao intervalo, no interior do túnel.
Sem tecer muitas mais considerações, digo apenas o seguinte: quem já andou muitos anos ao mais alto nível sabe que esta função é das mais importantes numa equipa de futebol, no que diz respeito à relação antes, durante e pós-jogo com o árbitro. Não pode ser desempenhada por um adepto, ou alguém que sofra emocionalmente com o jogo e as suas incidências. Esta função tem se ser desempenhada por alguém que ao nível da relação com o árbitro seja quase um psicólogo, alguém que quebra o gelo e que põe calma quando todos estão desorientados. É claro que o jogador também deve saber as regras. É claro que o 4.º árbitro poderia ter sido pró-activo e impedido, por antecipação, que tal tivesse acontecido, mas com um ambiente tão revolto e hostil para com a equipa de arbitragem, obviamente que o desfecho só poderia ter sido este e assim vai continuar a ser, se não houver uma inversão nos comportamentos e atitudes para com as arbitragens."
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