quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

O desporto, as competências de vida e o futuro. Porque urgem medidas de atuação sólidas e concertadas?


"Nas últimas décadas os estudos têm apontado para a alteração de algumas características dos indivíduos que as sociedades têm vindo a “produzir” – por uma questão de propósito deste artigo, iremos refletir sobre uma ínfima parte.
Se, por um lado, temos gerações mais hábeis do ponto de vista tecnológico e até cognitivo pela natureza das tarefas a que se dedicam horas a fio – logo em contexto de “treino involuntário” de competências – como sejam os “e-games” ou a destreza em navegar na internet (se bem que, demasiadas vezes, em sites de qualidade científica duvidosa e/ou redes sociais), pelo oposto, assistimos também a um decréscimo assinalável no que respeita a competências de auto-consciência e auto-regulação emocionais e, consequentemente, na capacidade empática com o outro, diminuindo por isso mesmo a capacidade de cooperação e integração positiva em grupo de pares (ao “vivo e a cores” e não através de um ecrã”).
Em boa verdade, com esta “evolução” (não creio ser o melhor termo, mas enfim), estamos mais sedentários e deprimidos, logo com maior prevalência de um sem número de patologias físicas (ex: obesidade) ou de natureza psicossomática que agravam, naturalmente, não só a despesa pública (com a saúde) mas também os indicadores de eficiência, felicidade e comprometimento dos trabalhadores em horário laboral – afinal, mais um “daqueles” custos que em Portugal ninguém avalia e, por isso, “faz de conta” que não existe...
Poderíamos dizer, de grosso modo, que estamos a ficar com índices mais elevados em quociente cognitivo e, inversamente, índices deficitários em quociente emocional.
Tratando-se o contexto académico por ser, maioritariamente, um contexto formal de aprendizagem de conteúdos também eles iminentemente de natureza cognitiva ou, por outra, onde as aprendizagens de natureza cognitiva se fazem de forma sistematizada e planeada, mas as de natureza de consciência e regulação emocional, ficam a cargo de cada um dos indivíduos (em ensaios de tentativas e erro) e da capacidade dos seus próprios agregados familiares em poder integrar estas aprendizagens (na realidade, competências fundamentais de vida) no seu quotidiano, acredito poder ser legitima a questão:
Qual será, então, um dos contextos mais propícios à aprendizagem (mais sistematizada) de competências de vida, afinal, as que irão determinar no futuro a capacidade dos nossos jovens se transformarem em cidadãos com indicadores de saúde global (mental e física) mais elevados e, por isso mesmo, também mais capazes de se envolverem com a comunidade como exemplos positivos das mesmas?
O contexto Desportivo, claramente.
Podemos, com isto dizer que a mera exposição à prática desportiva eleva as competências de vida de quem a integra no seu estilo de vida?
Não necessariamente – ou seja, não existe uma causalidade direta comprovada (ou seja, não acontece a todos os sujeitos em todos os contextos), mas eleva de facto as oportunidades de os jovens experienciarem situações onde poderão ver as suas competências desenvolvidas.
Daqui decorre que, em larga medida, os jovens que se dedicam de forma sistematizada à prática desportiva, em contextos capacitados com técnicos dotados de competência específica para o efeito, onde as aprendizagens se encontram planeadas de acordo com o seu nível de maturação, tendem a exibir competências mais elevadas de, por exemplo, regulação emocional (porque necessitam fazer esta aprendizagem obrigatoriamente em interação com grupos de pares), de desenvolvimento de esforço em contextos de frustração onde, de forma prolongada, aprendem a manter o esforço sem retorno imediato evidente (logo, competências de superação), de disciplina e organização (inevitáveis para serem capazes de dar uma resposta positiva às tarefas académicas e desportivas em simultâneo), entre muitas muitas outras.
E como estas competências se transferem para a sua Vida (na realidade, para a “nossa” porque são estas gerações que irão ser responsáveis pelos desígnios da nossa Sociedade quando começarem a ocupar posições de poder)?
Alguns exemplos a título de curiosidade:
(...)
Por esta razão, em muitos contextos profissionais, se valoriza em situação de recrutamento, aquele candidato(a) que evidencia um passado desportivo sólido – antecipa-se que, à partida, terá mais probabilidade de vir mais bem preparado(a) com as competências necessárias ao sucesso em contexto profissional, uma vez que supostamente teve maior exposição a situações onde, necessariamente (e comparando com outros candidatos em passado desportivo) se viu “obrigado” a treinar essas mesmas competências.
Desporto de Formação e Futuro
Inúmeras seriam as razões que poderiam ser aqui apontadas para a urgência de uma valorização consciente do Desporto de Formação em Portugal – algumas foram já reportadas em artigos anteriores e, por essa razão, não voltaremos às mesmas.
Até porque, pelo anteriormente exposto, em boa verdade, não é o desporto de formação que necessita de uma intervenção urgente – Somos nós, do plano individual ao organizacional.
Somos nós que, de uma vez por todos, e aproveitando a crise instalada, precisamos rever a “pequenez” da gestão a curto-prazo instalada desde as nossas vidas privadas às mais altas instâncias, que nos faz saltitar de crise em crise sem aprendizagem alguma.
O que está em cima da mesa é o nosso futuro e não há nenhuma “magia” ou “regresso ao futuro” algum que nos salve, se não assumirmos de uma vez por todas a responsabilidade de tomarmos as decisões necessárias a curto-prazo (por vezes, nem sempre as mais “populares”) que potenciam as nossas possibilidades, qualidade de vida e bem estar global a médio longo prazo."

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